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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







18 de jun. de 2011

UM COMENTÁRIO QUE MERECEU TRANSFORMAR-SE EM TEXTO


Caro leitor,

Já deve ter observado que hoje o meu blog está agitado. No texto que escrevi abaixo, MEU QUERIDO DIÁRIO, recebi alguns comentários. Um deles maravilhoso. Não assinou, mas aos poucos, lendo uma frase após a outra, identifiquei o querido remetente: meu irmão, Flávio.
Tenho escrito sobre ele, cheguei a publicar uma foto nossa recentemente. Esse irmão, há quase um ano, teve o diagnóstico de um raro câncer folicular da tireóide, com metástases ósseas. De repente, sem esperar, apesar da vida saudável e da idade que não considero muita: 46 anos.
De lá pra cá, aconteceram muitas cirurgias, se não me engano foram cinco cirurgias ao todo. Sofrimento, dor, medo, hospitais, espetadas, agulhadas, muletas, muitos exames, internações e momentos em que todos nós perguntamos a Deus o motivo disso.
Hoje ele está internado em um hospital, isolado, não podemos visitá-lo pois recebeu iodo radioativo para o combate do câncer. É necessário isolamento por conta da radioatividade. De lá, munido de celular e notebook, sempre pode comunicar-se conosco. Ele leu meus últimos posts e comentou de modo maravilhoso algo que preciso compartilhar com todos. Flávio também tem um blog, lá muitas coisas interessantes ligadas à gastronomia e, ainda, o privilégio da leitura de divagações suas, eis o link: www.tropecosdeumgourmet.wordpress.com. Quanto ao comentário que recebi, aqui está, desejo-lhes boa leitura e a possibilidade de reflexão. Na ilustração está a plantinha que ele mencionou, o ruibarbo do deserto.

Diva,

Vou tentar postar o meu escrito em dois ou três comentários, pois o meu HTML não pode exceder a 4096 caracteres e não sei quantos ele terá, encherá o saco contar tudo. Assim, irei por partes.

Li o seu texto e não tenho como não falar o que acho dele. Imagino o seu sofrimento. Apenas imagino. Nunca passei pelo que você está passando, mas, claro, conheço quem já passou ou passa por essas aflições, assim como conheço quem acabou por encontrar soluções. Na verdade, pesquisando em meus arquivos mentais, todos encontraram soluções.

Os meus comentários poderiam ultrapassar as linhas de um post em seu blog, de dez posts, talvez coubessem em um livro. Não: um livro de vários volumes, ainda que o "publisher" não gostasse. Ou gostasse, sei lá, há tantos livros seriados por aí que vendem feito água... E é de água que falaremos mais adiante, já chegaremos lá. Mas o livro que eu dizia estará sempre inacabado por mais que se escreva, por mais que se esforce em terminá-lo, pois terá por objeto central o amor e o amor é inegostável, assim como todo o universo que o circunda. Mas chega de "divaneios". Vou sintetizar tudo em um comentário longo, mas, creia-me, o mais sintético que consigo por enquanto.

Todos os sentimentos humanos são complexos, possuem raízes que tocam solos de composições as mais diversas, raízes ora profundas, ora rasas e, quem diria, há também raízes aéreas, como recentemente me ensinou a minha Diva. O Amor, dentre todos os sentimentos, sobressai-se por sua complexidade e, paradoxo dos paradoxos, por sua singeleza. É uma planta única nessa floresta, imensa floresta, de esplendorosa e inigualável beleza e capacidade de sobrevivência. Mesmo quando aparentemente debilitada, doente ou morta, o amor é uma autêntica planta do deserto inserida em um intrincado ecossistema, ímpar em meio tantos de seus pares postos em corpo, mente, espírito, alma e personalidade humanos.

Deixe-me fazer um paralelo que facilitará, e muito, a minha formulação de hipótese - que poderá ter ou não a sua aceitação-, essa é uma outra hipótese, cuja variável principal é você mesma. Há uma planta conhecida como “ruibarbo do deserto”, localizável no deserto de Negev, em Israel, única em nosso planeta por deter a propriedade de irrigar a si mesma, utilizando-se de um eficaz sistema de retenção de água. Ela é extraordinária, loquaz em todo mundo conhecido! Ela consegue captar, veja só, até dezesseis vezes mais água do que as outras plantas de deserto existentes na Terra!!! Em toda Terra, eu digo, coloca aí a Amazônia, se quiser. Claro que ela tem um segredinho - pode contar para todo mundo, vai fazer bem a todos, inclusive a você. É que ao contrário das outras plantas desérticas, portadoras de folhas pequeninas, plantas consistentes às vezes apenas de espinhos, que visam não provocar a evaporação da água que entraria em contato com ela, usando-se de superfícies, as menores que conseguir de folhas, expondo-se assim o menos possível à torridez, à insolação, esse ruibarbo tem folhas grandes, enormes, rígidas, portadoras de canalículos impermeáveis que descem, como as cordilheiras onde residem geograficamente o ruibarbo, diretamente à raiz-mãe da planta, alimentando-a. Um complexo sistema de canalização de água que desafia o sistema de todas as outras plantas desérticas da Terra, cujas raízes se aproveitam diretamente da água que cai no chão, sem a ousadia da interferência de suas folhas.

O amor é assim. Em meio a tudo que o cerca, o amor é um sentimento que se autoirriga. Precisa apenas de água, um pouquinho que seja.

Sei, ou melhor, imagino as suas aflições, mas me parece pelos seus relatos que água não falta na sua planta do amor. Intrometo-me a achar que você deseja fazer "como" a água deve cair em suas folhas, sem aceitar outras formas de alimentação. Um sistema bastante arriscado de sobrevivência, ouso dizer, em um meio onde a seleção natural é absolutamente implacável e cruel com as eleições equivocadas dos seres vivos. Não preciso aqui cansar-lhe, ou os seus leitores, com Darwin, mesmo porque julgo pouco saber dele, mas de seleção natural acho que dá para arriscar.

A sua água é o Divo. Está escrito, você nos disse, você nos convenceu e se convenceu disso. Desculpe-me te dizer, mas estamos em um foro aberto de debates, não é mesmo? Pois bem, vou direto ao ponto, sem rodeios. Você quer - continue lendo, não tenha raiva de mim! - ou mais exatamente, você está exigindo que a água caia de uma determinada forma, qual seja, a do casamento, e não de outra forma. Você está impondo, com isso, para si, o fim da alimentação de sua planta que não seja pela sua forma. A água não pode vir na vertical, meio oblíqua, meio torta pelos ventos, circulares como em uma tormenta extra-tropical. A água precisa cair em suas folhas do seu jeito, senão nicas de pitibirebas.

Não sei se o casamento, nesse paralelo que traço, seria uma queda, um gotejamento, uma tempestade, um dilúvio, uma dispersão de gotículas pelo ar vindas de uma cachoeira ou o que nosso pensamento quiser traçar como forma da água cair nas folhas de sua planta. Digamos, ainda rabiscando paralelos, que você não quer apenas receber uma benção (pois o amor é uma benção, isso para mim é premissa de conversa), mas também eleger como essa benção deve se derramar sobre você.

É um tremendo risco, para ficarmos em um patamar mínimo de diálogo. É quase como pegar uma consequência (sem trema, mas com trama) como causa. É muito fácil daí inferir o enfraquecimento da sua planta na sua floresta de vida. Qualquer um pode ver, até você. Ou principalmente você. A sua planta desértica não vai morrer com isso. De forma alguma!!! Só irá se desidratar, enfraquecer-se, debilitar-se, mudar quem sabe de cor e de forma, esconder-se em sombras de outras plantas e árvores que se tornarão forçosamente mais formosas, não pelo embelezamento delas mesmas, mas pelo "jururuamento" do amor. Mas o amor permanecerá lá, ainda que feinho, esquelético, franzino, esperando que alguma água salvadora caia da forma que você elegeu como "ideal" (jamais esquecendo que ideal vem de ideia, do imaginário) para alimentar a sua raiz.

Cá entre nós, ou "psit"!, parafraseando o Didi Mocó aos seus colegas de trapalhadas: você não consegue enxergar a sua planta dizer daqui a algum tempo, talvez curto demais, ou comprido demais, mas em um momento cruel que fatalmente chegará, a sua planta implorar: "Uma gotinha só de água, Senhor das Chuvas!!! Uma gotinha apenas, mundo cruel e maldito!!! Por que, Senhor, por que judias tanto de mim, por que EU , logo euzinha, desta forma cruel, desértica, só, sozinha, sedenta de tudo de água???". Eu consigo. Faça um teste com os seus leitores (como é que chama isso mesmo? A minha memória anda que é só o pó).

Gostaria que você pensasse muito nisso, intrometido que sou. O amor é a planta mais rara, a mais cara, a mais esplendorosa de sua floresta humana. A planta se auto irriga, mas não se auto alimenta. É verdade que basta a ela um naco, um tiquinho só de um quase nada de água para viver, mas precisa de água. E há um momento na vida da planta em que a necessidade cresce, ô, se cresce... que se dane!!! Há muita água poluída, muita água fétida, muita sujeira que comporta uma diversidade de elementos quase mortais até, mas se contiver um microcomponente de água em sua sujidão, a sua raiz se regozijará se a suas folhas comportarem o pouso desse sólido imprestável para quaisquer fins de sobrevivência digna, não fossem as parcas moléculas aquosas que carrega em meio a si. Pense nisso, com o carinho que você e a sua planta desértica carecem.

Casamento pode ser até um dilúvio em sua floresta, se assim você acha que é, mas o casamento é apenas uma das formas de expressão do amor. Não é a única - longíssimo disso!!! - nem tampouco, muitas e muitas vezes, a melhor forma de veicular a tão sonhada, esperada, desejada e necessária água. Basta a água ser limpa para fazer bem a você, à sua planta. Se ela quiser encher você de orvalho, por que não? É preciso que seja em meio a uma torrente? Ou seja lá a forma de sua ideia de contato ("contrato"?) de suas folhas com a água?Pense nisso, acho que a sua querida mãe - desculpe-me dizer algo sobre ela, mas agora se torna inevitável - a sua melhor e insubstituível amiga que você teve nesse plano e nessa passagem, diria a você coisa assemelhada ao que eu digo a você agora. Vai por mim, atrevo-me a dizer que tenho certeza disso. Assim, eu e ela fazemos dois votos de peso para sua consciência.

Com o carinho que lhe dedica esse leitor assíduo, RaaaaaaaaaaadioooooooActiiiiiiiiiiiveee Maaaaaaaaaaaannnnnnnnnn em seu primeiro ataque, visando a defesa da humanidade, um por um de cada vez, por favor(calma que ainda tem um PS abaixo, porque um texto longo com PS insinua que ele não se esgota em si) PS: esse ruibarbo tem, ainda, uma bela flor vermelha em seu centro. Imagina só, aquelas folhas duras, proprietárias de veios, planaltos, planícies, altitudes e depressões, canalículos dirigidos à raiz, possuindo uma delicada flor vermelha bem no centro de si. O que será essa Flor Vermelha?

Beijos tão longos e dedicados quanto o texto de meus comentários.



Um comentário:

Anônimo disse...

Diva,o seu irmaõ foi mto feliz no texto que escreveu.Amor não pode estar vinculado a papel e 24 hrs juntos,nem a uma aliança.Se os dois se sentem casados e assim vivem,mesmo em casas diferentes,o amor é único.O que importa é o respeito,o sentimento verdadeiro,o se sentir confortável,um na companhia do outro e ter objetivos comuns.O resto é pura fantasia,miçangas,vidrilhos!Não perca seu Divo,que tanto lhe fez feliz.Por mais independentes que sejamos,ter um par que nos envolve faz toda a diferença.Bjs e corra para seu Divo.Aline