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Acordei sentada diante do computador. Ao meu lado um copinho de café com leite. Bebo café no copo, isso dá mais gosto. Primeira coisa que li: Morreu o ex-jogador Sócrates.
Quem perdeu alguém que amava para o alcoolismo chora aos pouquinhos, diariamente, indefinidamente. Pela perda, pela dor, pela impotência. Eu choro um pouquinho todos os dias.
Como se diz por aí, o que não mata, engorda. O álcool consegue fazer as duas coisas: engorda e mata também.
Beber pra comemorar, beber socialmente. Beber com os amigos. Beber naquele churrasco de final de semana. Beber pra afogar as mágoas. Beber pra esquecer. E então, um dia, alguém começa a beber muitas vezes, beber regularmente, beber e beber. Os danos não se limitam a si mesmo, extravasam o corpo e atingem a vida de quem está perto de si.
Para o alcoolismo perdi pessoas que eu amava profundamente. O alcoolismo dessas pessoas matou o brilho do meu olhar, quando eu ainda era jovem, muito jovem. O alcoolismo de quem estava muito perto de mim destruiu sonhos bonitos que eu plantava. O alcoolismo de quem estava ao meu lado tirou de mim a alegria dos finais de semana. Apagou as luzes de muitas festas de Natal em família. Arrancou de mim a paz.
Lamento pelo Doutor Sócrates. Lamento especialmente por sua família, pelos que tentaram ajudá-lo em vão. A dor de quem perde um parente, um amigo para o vício de uma droga qualquer, é dilacerante. Creio que se assemelha à dor de quem saltou na água para tentar salvar alguém se afogando, mas não conseguiu salvá-lo. Assim me senti quando enterrei quem amava: ineficaz. Não consegui.
Descanse em paz, Sócrates. Que pena, percorrer esse caminho do alcoolismo é caminhar na beirada do desfiladeiro. Adeus.
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
4 de dez. de 2011
A MORTE DO EX-JOGADOR SÓCRATES
Acordei sentada diante do computador. Ao meu lado um copinho de café com leite. Bebo café no copo, isso dá mais gosto. Primeira coisa que li: Morreu o ex-jogador Sócrates.
Quem perdeu alguém que amava para o alcoolismo chora aos pouquinhos, diariamente, indefinidamente. Pela perda, pela dor, pela impotência. Eu choro um pouquinho todos os dias.
Como se diz por aí, o que não mata, engorda. O álcool consegue fazer as duas coisas: engorda e mata também.
Beber pra comemorar, beber socialmente. Beber com os amigos. Beber naquele churrasco de final de semana. Beber pra afogar as mágoas. Beber pra esquecer. E então, um dia, alguém começa a beber muitas vezes, beber regularmente, beber e beber. Os danos não se limitam a si mesmo, extravasam o corpo e atingem a vida de quem está perto de si.
Para o alcoolismo perdi pessoas que eu amava profundamente. O alcoolismo dessas pessoas matou o brilho do meu olhar, quando eu ainda era jovem, muito jovem. O alcoolismo de quem estava muito perto de mim destruiu sonhos bonitos que eu plantava. O alcoolismo de quem estava ao meu lado tirou de mim a alegria dos finais de semana. Apagou as luzes de muitas festas de Natal em família. Arrancou de mim a paz.
Lamento pelo Doutor Sócrates. Lamento especialmente por sua família, pelos que tentaram ajudá-lo em vão. A dor de quem perde um parente, um amigo para o vício de uma droga qualquer, é dilacerante. Creio que se assemelha à dor de quem saltou na água para tentar salvar alguém se afogando, mas não conseguiu salvá-lo. Assim me senti quando enterrei quem amava: ineficaz. Não consegui.
Descanse em paz, Sócrates. Que pena, percorrer esse caminho do alcoolismo é caminhar na beirada do desfiladeiro. Adeus.
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4 comentários:
O Sócrates é meu maior ídolo que eu não vi jogar. Merece todas as homenagens pelo que fez dentro de campo.
Fora de campo, infelizmente, fez muito mal para ele mesmo. Muito bom o seu alerta. Não é só lembrar dele como um gênio dos gramados, mas como alguém que foi derrotado por um vício mais comum do que muita gente imagina.
Descanse em paz, Doutor.
Ulisses,
A vantagem de ser mais velha é ter assistido ao Sócrates jogar. Aliás, assisti a vários jogadores, várias seleções de futebol. Lembro da Copa de 70, eu ainda criança. Pelé, Rivelino, Tostão... O futebol, com certeza, acabou, é dinheiro, só isso. Não existe mesmo o tal do "amor pela camisa", que antigamente era a base, o fundamento de um time.
O alcoolismo marca profundamente a vida de quem enfrenta esse vício. Destrói não somente o corpo de quem é alcoólatra. O alcoolismo destrói os relacionamentos afetivos e sociais de quem bebe. Minha história é longa, triste, meu depoimento talvez ajude muitos que convivem com alcoólatras. Sofri muito, filha de alcoólatras. Talvez, um dia, eu consiga falar mais sobre isso.
Obrigada pelo comentário.
Cláudia,
Faz tempo que não a visitava e a propósito de Sócrates vim hoje olhar a sua bela prosa.
Espero que o seu alerta sirva para muitos dos que pensam conseguir parar sempre que querem e, por isso, bebem socialmente ou nas saídas de fim de semana tentando sarar as feridas que não sabem "lamber".
Admirava a elegância de Sócrates a jogar e não percebo como um homem com a sua formação, profissional e política, que devia ser exemplo para os mais jovens, se deixou enredar nas teias que o levaram por aquele caminho...
Paz à sua alma. Bjinho para vc.
Luís,
O caminho que ele escolheu causou o mal de muitas pessoas. A família, os amigos. Sim, ele era um exemplo! Uma pena imensa o que aconteceu.
Porém, os motivos, só ele mesmo poderia dizer. Assisti a uma entrevista dele na TV. Contou que começou a beber muito jovem, que era muito tímido e o álcool dava a falsa sensação de superação dessa timidez. Disse ainda que não era dependente do álcool, que bebia algumas vezes por semana, às vezes ficava longos períodos sem nada beber. Isso não mudou em nada o fato dele ter sido alcoólatra. Ele não se dava conta disso, algo muito comum e que muitas pessoas não percebem: basta beber com frequência.
Adoro uma cervejinha. Tenho medo do álcool. Acho, se todos tivessem suas vidas assim destroçadas, como tive a minha vida, saberiam o que o álcool pode causar.
Obrigada pelo seu comentário, volte sempre!
Um beijo.
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