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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







23 de jul. de 2012

TEMPOS DE ESCOLA


Sentei-me à sombra da jabuticabeira e viajei ao passado. O final de semana ensolarado espantou pra longe a chuva e o frio. Observei o passeio das formigas no gramado, a cantoria dos pássaros, senti a brisa morna soprar meus cabelos. Há quanto tempo eu não me deliciava com aquelas frutinhas doces?
Viajei ao passado. Jabuticaba era sinônimo de geleia preparada por minha mãe. Mal podia esperar o doce esfriar, ficava a saltitar feliz pela cozinha aguardando as torradas a tostar no forno. Torradas e geleia de jabuticaba, isso lembra lanchinho para saborear na hora do recreio. Ah, os tempos de escola...
Dentro da lancheira não podia faltar o suco de frutas, acondicionado em uma garrafinha plástica. A tampa dessa garrafa cismava em abrir durante o trajeto de casa para o colégio. Vazava e molhava o lanchinho embrulhado em guardanapo de pano. Por fim, o resultado era uma iguaria inusitada: torradas com geleia de jabuticaba ao molho de groselha, de suco de maracujá, de guaraná. De vez em quando minha mãe tentava me incentivar a comer frutas. Maçã, pera, banana. Claro, também ao molho do suco vazado na lancheira. Jamais esquecerei a recomendação materna: - Menina,  vá pra escola sem sacudir sua lancheira! Era natural que eu pulasse pelas calçadas, que tocasse a campainha das casas vizinhas e saísse correndo. O mais interessante é que eu carregava um peso enorme, não dentro da lancheira, mas em uma maleta de couro de cor preta. Ainda assim, conseguia pular e correr ligeiro.
A mala escolar continha de tudo um pouco. Cadernos caprichosamente encapados com plástico colorido e etiquetados com a caligrafia de minha mãe. Estojo de madeira contendo: borracha, apontador de lápis, canetas esferográficas  BIC nas cores azul, vermelha, verde e preta. Lápis número 2. Lápis de todas as cores. Lembrei-me dos moldes com o mapa do Brasil e do estado de São Paulo.  
Quem foi criança na década de 60, 70, usava em suas aulas o Desenho Copy, que nada mais era do que um caderno espiral com desenhos que podiam ser transferidos para o papel, pra isso bastava seguir o contorno dos desenhos com um lápis. As canetinhas Sylvapen!  Os decalques, ou decalque-mania, isso era moda entre as garotas. Eram adesivos com estampas delicadas, flores, corações e personagens infantis. A cada lição de casa caprichada eu colava um decalque no rodapé da página do caderno.
Certa vez, em uma quermesse, comprei a rifa de uma lapiseira que tinha pontinhas de lápis de todas as cores. Belíssima! Comprei e fiquei atenta ao sorteio, na torcida para ganhar aquela prenda. Não ganhei. Aliás, quem ganhou foi uma garota que sequer me deixou admirar de perto o pequeno tesouro.  Chata!
Naquela época havia uma exigência: a caligrafia dos alunos devia se aproximar da perfeição. Nada de garranchos, de erros gramaticais, de borrões nas lições de casa. Quem acertasse a tabuada, ganhava uma estrelinha dourada. Estrelinha de papel laminado. Sempre fui péssima em matemática. Que sufoco aprender quanto é 9 x 8! Eis que, um dia, deparei-me com a solução: um lápis com toda a tabuada nele desenhada. Fui flagrada durante uma prova por uma professora. O resultado? Uma advertência  aos meus pais, escrita com caneta-tinteiro em meu boletim. O castigo que recebi de minha mãe, trancada no quarto até aprender as continhas, serviu para que eu decorasse toda a tabuada. Divisão não sei fazer, mas tabuada é comigo mesma!
O uniforme escolar era muito limpo, bem passado, engomado. Saia xadrez de preguinhas, na altura dos joelhos. Não podia ser mais curto o comprimento, mas algumas garotas enrolavam a saia na cintura, afinal estávamos em plena moda da minissaia. As meias eram brancas, ¾. Blusa de abotoar, branca e de manga curta, com o emblema do colégio no bolso. Ah que orgulho senti quando usei meu primeiro sutiã! Era possível visualizar o tom cor-de-rosa do meu primeiro sutiã pelo tecido branco da blusa do uniforme! Sapatos pretos engraxados, estilo boneca. Para os dias frios um casaquinho de lã azul-marinho. Quem chegasse ao colégio usando qualquer peça de roupa que não fosse do uniforme, não podia ingressar no recinto.  Outra recomendação de minha mãe: - Menina, não suje o uniforme. 
A hora do recreio era uma hora feliz. Correr, brincar, comer o lanche que àquela altura tinha se transformado em uma tremenda gororoba dentro da lancheira. Pega-pega, pular corda, esconde-esconde, jogar queimada. Eu voltava pra casa irreconhecível, o uniforme sujo e suado, o laço de fita que amarrava meus longos cabelos restava torto, ou desfeito.
Guardo lembrança e algumas fotografias amareladas pelo tempo. Onde estarão as garotinhas de uniforme, flagradas pelo clique em preto e branco? Hoje, todas senhoras de meia-idade. Terão se casado? Será que se divorciaram? Terão filhos, netos? Quais profissões terão escolhido?
Passei em frente ao antigo colégio,  está totalmente modificada a sua arquitetura. O tempo passou, o uniforme agora é diferente, as meninas calçam tênis. As mochilas estão cada dia mais leves, os garotos de hoje não sabem o que seja decalque-mania, Desenho Copy ou canetinhas Sylvapen. Outro tempo, outro século! Temos o Google com o mapa do Brasil.
Voltei da minha viagem ao passado com a ideia de preparar geleia de jabuticaba. Colhi as frutinhas, preparei o doce e não resisti: despejei um pouquinho de suco de maracujá sobre a minha torrada. Uma espécie de brinde à infância feliz, com tantas lembranças, tantas boas recordações. Um brinde à vida!







4 comentários:

Unknown disse...

Nossa me emocionei com esse texto!!
Peguei um pouquinho dessa fase das lancheiras, canetinhas e uniformes limpinhos na década de 90, rs...e sinto saudade também!
Perfeito o modo como você escreve! Sou sua fã número 2, pois minha mãe é a número 1, kkkk...abraços, Tainah.

Cláudia Cavalcanti disse...

Tainah,

Começo pelo fim: que gostoso ter um dom emprestado por Deus ( escrever) e chegar aos olhares que passam pelo meu blog, alcançar o coração de mais alguém, ser compreendida em linhas e entrelinhas.
Gratificante pra mim. MUITOOOO!!!

Um beijo e o meu carinho.

Anônimo disse...

desenho copy varios na vida canetas sylvapen tempos de salão da criança, isso nao tem preço.

Cláudia Cavalcanti disse...

Olá, Anônimo!

Somos da mesma época, ou da mesma geração? Afinal você se lembrou do Salão da Criança, algo pra mim também inesquecível.
Valeu... Adorei a lembrança. Volte sempre!