Mergulhou no mar, sem se importar com o dia friozinho e
nublado. Mergulhou e segurou a respiração até sentir que seus pulmões
imploravam oxigênio. Emergiu e provou o sabor do sal misturado às lágrimas.
Deixou que todos seus pensamentos fossem levados pelas ondas agitadas, um
frenesi que denunciava temporal em alto mar.
Se pudesse, nadaria até o horizonte, se perderia naquela
linha sem fim. Deu algumas braçadas e uma gota de lucidez a deteve, poderia
afogar-se. Com dificuldade voltou à areia e deitou-se, sem se importar com os
grãos fininhos a pinicar a pele.
Admirou o céu, cinza com a tonalidade de final de outono. Sentiu
frio, observou suas mãos. Os dedos enrugados de tanta água, as unhas
arroxeadas. Melhor voltar! Caminhou suja de areia, despenteada, os cabelos a
escorrer água salgada. Chegou em casa e tentou despistar a ideia anterior:
vontade de enterrar seu coração no fundo do oceano. Amor, o amor a fez mudar de planos.
Adormeceu entre lembranças e esperança. Amanheceu ao
anoitecer, com a alma renovada, a cabeça mais leve, os pensamentos ensolarados.
Decidiu viver e amar.
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