
Todas as vezes que leio alguma notícia sobre o final do casamento-relâmpago de alguém famoso, começo a resmungar. Algo que me faz lembrar a sabedoria da minha avó. Sinal da idade, provavelmente.
Um dia aparece a notícia de que aquela mocinha famosa se casou de véu e grinalda. Mega show o casamento. Luzes, câmera e ação! Semanas, ou poucos meses depois, chega a notícia bombástica: estão separados.
É tão fácil casar, separar. Quem aí assiste novela? Eu não, mas às vezes leio algo sobre o desenrolar do dramalhão. Tem a jovenzinha que se acidentou e está na cadeira de rodas. O pai é um grande comilão, o lobo-mau, traça todas que pode. Traiu a mulher com alguém, outra mocinha bonitinha. Separou-se da mocinha e já pegou algumas outras. Dizem, vai reconciliar-se com a ex-mulher. É a banalização do casamento, a apologia à infidelidade.
Por aqui, terra tupiniquim, traição rima com sonho de felicidade. Tão fácil! Se o bonitão da novela fez, por que o telespectador não poderá fazer também? Se a mocinha bonitinha que interpreta a riquinha fez isso, por que a pobre garota em frente ao televisor não fará também?
A vida imita a ... Arte? Não, novela não é arte. Novela é pastelão televisivo. Eu não assisto novela. Ou melhor, assisti "O Bem Amado" há trocentos anos atrás. Dias Gomes, de saudosa memória!
Voltando ao "casa, separa, casa, separa", acho que, em breve, casamento não vai mais existir. As famílias estão modificadas, muita gente prefere morar junto sem assinar papel. E pra que papel? Vou aqui explicar porque penso diferente de você, talvez.
O papel existe pra formalizar a união. Nada a ver com romantismo, mas com a garantia de direitos. Vai que amanhã um dos dois vai atropelado e, feito a mocinha da novela, fica inválido? Ou pior, se amanhã um dos dois parte desta pra melhor? Até provar que focinho de porco não é tomada, ou melhor, que havia uma união informal do casal, lá se vai um dinheirão com advogado e muito tempo de luta na justiça. E não é só isso não, se resolverem separar-se, a briga é igual ou até pior do que a de quem casou formalmente e vai pedir a separação ou o divórcio.
Pra quem tem horror de assinar um simples papel, com direito à festa e padrinhos, imagine só quantos papéis terá então que assinar essa critura? Vai assinar uma citação judicial, em seguida vai assinar algo diante do juiz lá no fórum, depois vai ter que assinar um cheque pro advogado. E haja assinatura! Dá-lhe burocracia!
Isso de ter horror de casamento é coisa de quem não assume o que está fazendo. A fotografia da atualidade. Ninguém assume mais nada. Se der certo, bom. Se não der certo, tchau.
Se eu sou contra o divórcio e a separação? Absolutamente, há casos em que sou totalmente a favor. Porém, eu sou contrária à “esculhambação” que é casar-se como quem compra um saco de pipocas, como quem faz festinha de aniversário. Essa falta de seriedade e de compromisso atinge diretamente algo que considero sagrado: a família. Pra quem é mais velho e está nesse oba-oba do casamento fast food, acho que isso é meio-caminho pra terminar sozinho (a).
Casamento é uma das coisas mais bonitas que existe, desde que realizado em sã consciência, com os pés no chão e sabendo que as dificuldades serão muitas. Só vingará com uma super dose de tolerância, paciência e muita responsabilidade. Não é pra quem quer fazer experiência e nem pra quem tem medinho de assinar papel. É pra gente madura e que sabe o que está fazendo.
Nada parecido com o final feliz das novelas, o “felizes para sempre” só existe na cabeça oca de alguns. Se a arte (ou o pastelão) imitasse a vida, a mocinha estaria pagando o cartão de crédito, totalmente estourado no rotativo. O mocinho estaria trabalhando feito louco pra pagar as prestações da casa própria. Ninguém teria tempo pra pensar em bobagem e nada disso aconteceria ao redor de um jardim maravilhoso com uma piscina cinematográfica. E a novela não teria audiência nenhuma, certo? É por essas e outras que eu desligo a TV e vou cuidar da vida, isso sim vale a pena.
Esta é a minha opinião, possivelmente diferente da sua. Acredito que hoje as pessoas estão muito mais individualistas, apressadas e infelizes. Tão bom seria acreditar no "para sempre". Aliás, é comum também ouvir que "nada é para sempre". Realmente, assim caminha a humanidade.