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Ela estava na rua indo a pé pro trabalho. Dia ensolarado, um calor danado. Tocou o celular, pensou naquele com quem sempre falava no MSN. Falou sozinha: - “Será ele?”. Sentiu uma sensação estranha! Algo do tipo um calafrio, quase um soquinho na altura do estômago. Atendeu, era a empregada pra lembrá-la que precisava comprar pão de forma no supermercado.
Continuou caminhando e com a mesma sensação inexplicável. “Será que estou doente?”. “Devo estar com febre!”. Parou na farmácia e comprou um termômetro. Não, não estava com febre, mas toda vez que pensava nele voltavam os sintomas esquisitos. Lembrou então de quando tinha 12 anos de idade e conheceu um moreninho que se mudou pra casa ao lado da sua. Sentia a mesma coisa quando o via. Lembrou do primeiro beijo que trocou com um colega de escola, a sensação foi igual. Lembrou de um ex- amor quando a pediu em casamento, também sentiu algo parecido.
Foi então que começou a entender que não era doença o que tinha e sim paixão. Aquela coisa inexplicável que desregula os sentidos, tira a concentração de coisas importantes, faz com que alguém adulto volte a ser adolescente.
Resolveu sentar-se no banco da pracinha pra colocar as ideias no lugar. Ficou observando as árvores, os velhinhos jogando gamão, as crianças brincando no playground. Incrédula! Como podia ter ocorrido isso com ela, alguém experiente e pós-graduada em se ferrar nos relacionamentos amorosos? Apaixonada por alguém estranho, que surgiu em uma conversa em um site de relacionamentos! E se ele sumisse? Se ele tivesse um grande amor do qual nunca falou? Se ele resolvesse mudar-se pra Austrália ou pra outro planeta de repente? E se? E se? E se? Pensou em todas as possibilidades fatídicas, um jeito de arrancar de dentro de si aquilo o que já tinha se enraizado em seu coração. Perdeu a noção do tempo, perdeu a hora.
Entrou na igreja e ajoelhou-se em frente à imagem de uma santinha cercada de flores e velas deixadas pelos devotos. Não era lá muito de rezar, mas algo lhe dizia que aquele era um momento digno de oração e pedido de proteção. Atrasada, caminhou arrastando-se até o trabalho.
Passou o dia distraída, calada. Quando chegou em casa não teve ânimo pra ligar o computador, desligou o celular, tirou o som do telefone fixo. Tomou um banho demorado, não jantou, não ligou o televisor. Sob a luz do abajur ficou sentada na sala paralisada e pensando no que o destino havia lhe aprontado. Inconformada! Demorou naquela noite a dormir.
No dia seguinte acordou com a decisão tomada: enterrar o passado, virar a mais triste página de sua existência, aceitar o que estava sentindo de bom, dar-se a chance de amar novamente. Abriu a janela e deixou entrar a brisa da manhã em sua casa e em sua vida. Sem medo de ser feliz.
(Texto de minha autoria, publicado no blog Janela das Loucas).
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
23 de mai. de 2010
VIRANDO A PÁGINA
Ela estava na rua indo a pé pro trabalho. Dia ensolarado, um calor danado. Tocou o celular, pensou naquele com quem sempre falava no MSN. Falou sozinha: - “Será ele?”. Sentiu uma sensação estranha! Algo do tipo um calafrio, quase um soquinho na altura do estômago. Atendeu, era a empregada pra lembrá-la que precisava comprar pão de forma no supermercado.
Continuou caminhando e com a mesma sensação inexplicável. “Será que estou doente?”. “Devo estar com febre!”. Parou na farmácia e comprou um termômetro. Não, não estava com febre, mas toda vez que pensava nele voltavam os sintomas esquisitos. Lembrou então de quando tinha 12 anos de idade e conheceu um moreninho que se mudou pra casa ao lado da sua. Sentia a mesma coisa quando o via. Lembrou do primeiro beijo que trocou com um colega de escola, a sensação foi igual. Lembrou de um ex- amor quando a pediu em casamento, também sentiu algo parecido.
Foi então que começou a entender que não era doença o que tinha e sim paixão. Aquela coisa inexplicável que desregula os sentidos, tira a concentração de coisas importantes, faz com que alguém adulto volte a ser adolescente.
Resolveu sentar-se no banco da pracinha pra colocar as ideias no lugar. Ficou observando as árvores, os velhinhos jogando gamão, as crianças brincando no playground. Incrédula! Como podia ter ocorrido isso com ela, alguém experiente e pós-graduada em se ferrar nos relacionamentos amorosos? Apaixonada por alguém estranho, que surgiu em uma conversa em um site de relacionamentos! E se ele sumisse? Se ele tivesse um grande amor do qual nunca falou? Se ele resolvesse mudar-se pra Austrália ou pra outro planeta de repente? E se? E se? E se? Pensou em todas as possibilidades fatídicas, um jeito de arrancar de dentro de si aquilo o que já tinha se enraizado em seu coração. Perdeu a noção do tempo, perdeu a hora.
Entrou na igreja e ajoelhou-se em frente à imagem de uma santinha cercada de flores e velas deixadas pelos devotos. Não era lá muito de rezar, mas algo lhe dizia que aquele era um momento digno de oração e pedido de proteção. Atrasada, caminhou arrastando-se até o trabalho.
Passou o dia distraída, calada. Quando chegou em casa não teve ânimo pra ligar o computador, desligou o celular, tirou o som do telefone fixo. Tomou um banho demorado, não jantou, não ligou o televisor. Sob a luz do abajur ficou sentada na sala paralisada e pensando no que o destino havia lhe aprontado. Inconformada! Demorou naquela noite a dormir.
No dia seguinte acordou com a decisão tomada: enterrar o passado, virar a mais triste página de sua existência, aceitar o que estava sentindo de bom, dar-se a chance de amar novamente. Abriu a janela e deixou entrar a brisa da manhã em sua casa e em sua vida. Sem medo de ser feliz.
(Texto de minha autoria, publicado no blog Janela das Loucas).
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