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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







26 de fev. de 2011

QUISERA


Quisera que os amores durassem pra sempre, fossem perenes e guardassem consigo o calor do sol, eternamente.
Quisera não mirar a tristeza em outro olhar, não ouvir incertezas, não ler reticências.
Quisera ter as palavras certas, gravadas em gestos e fortalecidas em esperança.
Quisera planejar os dias, sem contar nos dedos que sempre é tempo demais.
Quisera ter a juventude de outrora, os sonhos passados a limpo, em dueto, passo a passo.
Quisera ser amada, na justa medida do amor maior, de peito aberto, sem medo.
Quisera ser futuro, não somente ser alento, ser momento.
Quisera o aroma das primeiras flores, voar nas asas de um anjo, ter de volta os sonhos que agora se tornam delírios nos versos meus.

Há textos e também poesias que escrevo que, conforme o tempo passa, conforme a vida delineia meu destino, voltam a fazer sentido no meu instante. Eis Quisera... Ah, quisera...

O AVESSO DO DIREITO


Em pleno sábado, quase hora de mover-me para agitar o almoço, ele de repente disparou: - Vai ficar aqui? Vou sair, levar o carro pra trocar o óleo, o pino da rebimboca da parafuseta, vou depois comprar umas coisas e... E parou. O e... significava que ele encontraria os amigos pra tomar cerveja. Diante da minha inércia, insistiu: - Responde, vai ficar aqui? Se quiser pode ficar, não tem problema.
Já excluída de seus planos, limitei-me a responder: - Não, obrigada. Vou pra casa.
- Ah, não precisa, pode ficar se quiser.
Lançou um olhar furtivo pra máquina de lavar roupas a todo o vapor, lotada até a tampa.
- Pode deixar, querido. Quando você voltar é só estender as roupas no varal. Não esqueça, senão vai ficar tudo embolorado.
Peguei a sacolinha, que estava preparada pro final de semana. Despedi-me rapidamente, sob protestos: - Diva, espera, eu te levo em casa.
Saí apressada, desci um andar pela escada. A raiva estava misturada com o desgosto. É mole não avisar antes que iria sair no sábado?
Eu poderia ter marcado o cabeleireiro, combinado com alguma amiga pra ir ao shopping. Poderia estar até mesmo trabalhando. E fiquei lá, à deriva, sem saber ao certo se corria ou simplesmente caminhava com passos firmes rumo à porta. Corri. Mal dobrei a esquina ele surgiu, dirigindo seu carro.
- Entra, Diva.
Feito criança que não quer entrar na escola, meu ímpeto foi dizer: - Não! E novamente correr em direção a qualquer lado. Algo inexplicável fez com que eu me calasse e entrasse.
- Não precisava, não queria incomodar.
Olhou-me com olhos de pelotão de fuzilamento.
O caminho foi silencioso. À porta de casa, uma despedida fria da minha parte. Não contive a reclamação: - Na próxima vez, avise quando tiver outra programação no sábado. Assim, poderei agendar algo. A essa hora não tenho muito o que fazer, provavelmente ficarei sozinha em casa.
Ele riu. Juro, ele riu.


Tudo começou na véspera. Somos caseiros, seres que amam permanecer em casa, cercados de dvds, cds, preparando comidinhas deliciosas na cozinha. Porém, já que tudo enjoa, até mesmo as melhores coisas da vida podem tornar-se enfadonhas, sugeri que saíssemos na sexta-feira à noite, para tomarmos um choppinho. Um pouco de indecisão, terminou por aceitar.
Já era começo de noite quando ele telefonou: - Diva, estou quase chegando na sua casa. Está pronta? Não podemos demorar, o Mauricinho, meu amigo, está lá nos esperando.
- Mauricinho?
- É, aquele amigo do clube, coitadinho, ele adora conversar. Avisei que iríamos e, que bom, ele topou. Depressa, ele está lá sozinho, não podemos demorar.
O desgosto do sábado foi precedido pelo desgosto de sexta-feira à noite. Aquilo o que era pra ser um encontro a dois, romântico, a sós, era agora praticamente um mènage a trois. Ele, eu e... Mauricinho.
Produzida, saltão alto, cabelos esvoaçantes, maquiagem impecável. Ele, eu e... Mauricinho, que já tinha emborcado uma garrafa inteirinha de uísque.
- Muito prazer, como vai?
Essa foi minha última frase. Duas exatas horas se seguiram sem que eu abrisse a boca. O papo era comercial, trabalho e chateações incompreensíveis da dupla.
Eis que depois de mais uísque, emborcado por ambos, o assunto mudou. Eu ali, totalmente ignorada, tal e qual a mulher invisível.
O assunto agora eram as ex dele. A primeira, a segunda, a terceira... Histórias de arrepiar. E eu, pasma, danada da vida, calada. Quando fico quieta é sinal de perigo.
Contou detalhes pro Mauricinho que eu ignorava completamente. Confissões inconfessáveis, peças de um quebra-cabeças que toda mulher costuma tentar reunir. Estava tudo ali, sobre a mesa.
E eis que, lá pelas tantas, o já zoado Mauricinho exclamou: - "que legal, então voxes um dia vão xi casar?". "Quando vai xer o casório?".
Resposta que escutei com esses ouvidinhos que preferiam não funcionar: - Não quero casar.
E balançou a cabeça sinalizando um "não" tantas vezes que, creio, suas ideias ou voltaram pro lugar, ou embaralharam definitivamente.
Quase engasguei com o choppe. Precisei respirar fundo e olhar em direção à igreja defronte ao bar. - "Minha Santa Querida, amparai esta pecadora desvirtuada que tomou todas ao lado desses dois irmãos. Eles não sabem o que falam".
Fui despedida em casamento. Não quer casar. É a terceira vez que diz isso. Um bom número: 3!
Portanto, o sábado é a cereja do bolo. A sexta foi tão indigesta que só mesmo muito sal de frutas poderia me socorrer.
Ainda digerindo, nasceu o texto. Haverá protestos, mas garanto que não é vingança e sim mais um conto de Diva Latívia. Pra preencher a lacuna do sábado, vim fazer o que sei: escrever.

PINK FLOYD

Pra viajar sem sair do lugar, dar voltas ao redor da Terra ao som desses acordes maravilhosos. Com vocês, Pink Floyd, The Dark Side Of The Moon.

25 de fev. de 2011

AI, QUE CALOR!


Ai, que calor! Não aquele calor na bacurinha, cantado outrora por Maria Alcina. Calma, queridos leitores, bem sei que tenho quase a idade de Cleópatra, que vocês nem imaginam quem seja Maria Alcina e, talvez, estejam atribuindo esse meu calor, digno de um forno micro-ondas, ao climatério.
Pouco românticas as recentes noites paulistanas, dormir de conchinha é um feito heróico, digno de quem não vive longe do ser amado. Que atire a primeira pedrinha de gelo semi-derretida aquele que não sofreu com o calor!
Minha descendência germânico-cearense em nada colabora. Penso que a metade europeia protesta veementemente contra a temperatura elevada deste verão.
Há séculos as mulheres, vestidas com aquelas roupas rodadas, compridas e pesadíssimas, deveriam cozinhar ao vapor. Sabemos que banhos eram raros. Melhor não imaginar o odor. Abanavam-se com leques.
Diz a lenda que Cupido, deus do amor, babando por sua amada Psique, afanou uma asa de Zéfiro, deus do vento, para refrigerar o calor da garota. Nada melhor que uma abanadinha, foi assim que inventaram esse delicado abanador.
Hoje, ar condicionado, banhos diários, muito perfume, filtro solar e vestidinho leve, nem assim é possível enfrentar tamanho calorão! Eis que tive a ideia: um leque, esse tem sido meu jeito de amenizar a situação.
Termino o texto ao lado do ventilador. Ao meu lado, o leque, quedado silente, aguardando ansioso o seu momento de estrelato.

DIVA E O ESPELHO


Shopping center, dizem as faladeiras línguas, é praia de paulista.
Diva Latívia, paulistana que sou, costumo dar minhas voltinhas entre corredores e vitrines de um shopping center tradicional da capital paulista.
Divo e eu combinamos comprar o presente de aniversário de um sobrinho, marcamos um lugarzinho perto da praça de alimentação no final do dia. Cheguei cedo e aproveitei o período de espera para visitar algumas lojas.
Verão, cerveja, cerveja e cerveja. Cinturinha de barril. Quem disse que o manequim habitual cabe confortavelmente em minhas dimensões? Não! O sujeito que inventou aquele espelho de provador de roupas não gostava de mulher. A denúncia foi quase policial, um flagrante delito cometido pelo tamanho extra adquirido na altura dos quadris. Bunduda! Quem diria? O vestidinho estampado, que criteriosamente escolhi, coube em minha lateralidade de modo tão justo que imaginei ter vestido uma capa de sombrinha. Quase histérica, provei o outro vestido, mais rodado. Lembrei as baianas das escolas de samba. Provei outro vestido e outro.
Eis que surgiu à porta do provador a vendedora. Naquele instante, com o esforço de uma malabarista que meteu-se em um minúsculo caixote, tentava desvencilhar-me de um vestido tubo, justo, que entalou e, praticamente, estrangulou-me.
Sorriso complacente, de quem assiste à mesma manobra trocentas vezes ao dia, ofereceu outra peça de roupa, um vestido leve, de cor neutra, delicado. Uma linha romântica, que nem sempre combina com minha personalidade. Não tinha mais nada a perder – senão quatro quilos extras-, aceitei a oferta. E eis que o espelho sorriu feliz pra mim. De tão feliz com o resultado de minha imagem ali refletida, afastei-me e dei uma voltinha. Sem modéstia exclamei: - Diva, você está linda!
Um número maior que o habitual, eis a questão. Linda e farta. Ainda bem que me amo! Durante a semana tentei uma dieta leve, à base de carnes grelhadas, frutas e legumes. A pressão caiu, o calor parece ter colaborado com esse resultado. Tudo melhorou quando Divo preparou um risoto de brócolis e queijo, acompanhado de generosos filés de peixe ao molho de cebola e tomate. Sã e salva! Nada melhor que um bom prato!
E o regime? Não sei. O vestidinho ficou tão lindo que, penso eu, adotarei o manequim 44.

18 de fev. de 2011

VESTIDINHO VERMELHO


Sexta-feira, aquele dia que dá uma vontade danada de jogar o trabalho pro alto e sair de baixo.
Quando voltei pra casa estava sonhando com um banho, hidratante, salto alto e maquiagem. Tudo pra esperar a chegada de Divo Latívio. Eis que encontrei minha auxiliar doméstica, Zezé. Parada na porta do meu quarto, sorriso bobo no rosto, parecia ter visto algum pardalzinho azul.
- Fala, Zezé, o que foi?
- Nada não senhora.
- Desembucha, Zezé!
- Sabe o Aparecido?
- Não sei. Quem é o Aparecido?
- Sabe sim! O vigia da rua de baixo.
- Hã... O que tem ele?
- Dona Divaaaaa! Nem te conto.
Entrou no meu quarto, deixou pra lá a cerimônia. Dando pulinhos de contentamento, puxou uma cadeira e continuou a história.
- Saiu comigo ontem.
- Xi...
- Xi nada, Dona Diva! Foi bom demais!
- Toma juízo, Zezé. O Aparecido não era casado com a faxineira da Dona Lenilda, da casa 72?
- Ué, uma “muié” moderna feito a senhora! Eles se “assepararam” faz tempo!
- Quanto tempo?
- Uns... uns... Sei "naum". Uns dois "meis".
- Afff...
- Dona Diva, que "ômi" é o Cido!
- Cido?
- É, o Aparecido, Cido.
- Então, tá feliz, Zezé?
- Si tô!
-...
- Tô com vergonha de "pedi" uma coisa pra senhora.
- Peça!
- A senhora tem algum vestido velho, que não serve mais? Pode me emprestar?

Nesse dia, saiu da minha casa Zezé, totalmente transformada. Um vestidinho vermelho de alcinha fininha, saia esvoaçante, abertura lateral. Sandália de salto altíssimo, brincos, perfume do bom e os cabelos com chapinha, que eu mesma arrumei.
Lá se foi minha top-model preferida, feliz de tão contente. Deve ter deixado o tal do Cido doidão.

Quando Divo chegou eu ainda não estava pronta, estava atrasada. Porém, desta vez foi por uma ótima causa.

AO MEU FRUTO


Já notaram que o tempo não passa mais? Não! Agora ele voa!
Pra lá da metade do mês de fevereiro, 1/6 do ano de 2011 passou, ou melhor, voou.
Meu filho parece que nasceu outro dia. Em uma manhã de sol do mês de março de 1987.
Veio ao mundo com olhinhos muito claros e fartos cabelinhos castanhos. Frágil, dócil.
Quando hoje eu o olhei, vi um homem de 1,90 de altura e quase 24 anos de idade. Nada disse, apenas me observou. A viagem que fiz foi ao passado. Uma viagem com solavancos, recordações boas e outras desagradáveis. Meu fruto me espreitava com seus belos olhos verdes.
Tive a oportunidade de ir outro dia a uma maternidade. Vi bebezinhos recém-nascidos. Um deles tinha acabado de nascer. Nas mãos da enfermeira, envolto em um lençol azul-escuro. Do lado de fora do berçário, parentes se amontoavam. Flashes de câmeras fotográficas registraram aquele momento único e inesquecível. Pensei: que seja bem-vindo, que tenha muita saúde!
Meu filho quando veio ao mundo, também foi apresentado à família envolto em um lençol muito azul. Perfeito, saudável. Lembro – jamais esquecerei- foi o momento mais feliz e importante da minha vida. Tão pequeno, tão bonito e tão amado!
Criar filhos não é uma tarefa fácil. Educá-los, protegê-los, ensinar-lhes a respeitar o mundo em que vivem. Porém, feito plantinha que recebe rega e cuidados constantes, eles crescem. Um dia, vão embora. Podem ir embora sem sair de perto, mas passam a cuidar da própria vida. Trabalho, faculdade, amigos, viagens, namoradas ou namorados. Os bebês podem se transformar em um homem de 1,90 de altura, assim como o meu bebê se transformou.
Nem sempre aquilo o que desejamos, aquilo o que nos empenhamos tanto pra realizar, acontece. Não está sob o controle materno ou paterno o destino de nossos filhos. Orientamos, cuidamos, mas a vida se encarrega de forjá-los. Vão cuidar da própria vida.
Sinto saudade do meu bebê aprendendo a caminhar, adormecido no meu colo. Saudade das festinhas na escola, dos aniversários com bolos de personagens infantis, das perguntas inocentes que ele fazia, dos risos e das brincadeiras.
Hoje, pouco posso fazer por ele. Posso amá-lo, recebê-lo em meus braços sempre abertos, ouvi-lo, aconselhá-lo. Não posso mais niná-lo, educá-lo.
Alguns dias não nos vemos, certos dias sequer falamos ao telefone. A vida mudou tanto! E nem sempre eu o vejo feliz. O ser humano parece não conseguir ser feliz 100% do tempo, esse voador apressado. Sequer aquele bebê que amamentei é totalmente feliz.
Deixo aqui o primeiro texto que escrevi pra você, Gabriel. Que a vida, por difícil que lhe pareça, faça sentido a cada tic-tac do relógio. Que aquilo o que hoje você não consegue fazer, seja amanhã o seu testemunho de coragem e superação. Não desista de sonhar, não desista de realizar os seus sonhos. Sonhe, ame, sorria e, sempre que quiser, corra pros braços desta mãe que te ama, sobre toda e qualquer circunstância.
Te amo, meu filho querido! Que você vença as dificuldades e, sim, cuide com muita determinação de sua vida!

16 de fev. de 2011

CRISE URBANA


Confesso minha falta de aptidão para lidar com eletrônicos, tomadas, fios e coisas desse tipo.
Quando ele entrou em casa trazendo a caixa enorme do televisor LED sei-lá-quantas-polegadas era um final de semana, um sábado ensolarado. Pude antever o resto do dia dentro do apartamento. O sorriso era de um caçador que trouxe pra cabana o almoço. Nada de alces ou coelhos, vida moderna. Triunfava o sonho de consumo do meu par.
Abriu a caixa, tocou o celular. Parecia de circo a manobra que fez: uma das mãos segurava o telefone, a outra tentava remover a fita adesiva da caixa do produto. Isso não podia dar certo, foi assim que pensei com meus botões. Dito e feito, a caixa bambeou e só não caiu porque foi amparada com seu joelho esquerdo, aquele que machucou jogando futebol há algumas semanas. Expressão de dor, situação esquisita.
A partir daquele momento, pude antever o inferno. O calor assombroso aliou-se à leitura do manual de instruções do produto. Apesar de escrito em português, tudo parecia incompreensível. Encaixes, detalhes, que confusão. Voltei a olhar pela janela, que vontade de mergulhar em uma piscina, tanque, balde. Qualquer coisa gelada que não fosse o refrigerador.
Buscou a caixa de ferramentas. Quedei-me desconsolada no sofá da sala. Vencida, afinal não havia esperança para o resto do meu dia.
Auxiliar de instalador de televisão. Essa idéia cresceu em minha cabeça. De amor de sua vida, tornei-me assistente-técnica e tradutora de um manual incompreensível.
Nem queira imaginar o que seja “AV1 e AV2”, afinal eu mesma não descobri. Creio, seja essa a explicação para a imagem distorcida do televisor.
Depois de muito tempo, irritado, visivelmente transtornado, abriu uma latinha de cerveja. Finalmente algo refrescante naquela manhã desperdiçada.
Som altíssimo. Trocou os canais diversas vezes. Futebol, programa infantil, notícias policiais, filme de terror. Isso me deixou tonta!
Quando peguei minha bolsa e caminhei em direção à porta ele gritou: - Meu bem, pega lá outra cerveja?
Foi a última frase que escutei. Quando cheguei ao andar térreo do prédio, senti alívio e arrependimento, tudo ao mesmo tempo. Diva bobalhona! Voltei ao apartamento.
- E a cerveja?
O resto do dia girou ao redor daquela parafernália eletrônica. Jurei que, de agora em diante, toda vez que ele chegar em casa trazendo alguma caixa, fugirei.
Diz a previsão do tempo que o final de semana será de muito sol. Mal posso esperar para me bronzear à beira da piscina. Isso se ele não comprar aquele suporte para TV, que viu anunciado na internet.
Tempos modernos, homens modernos. Feliz foi a vovó, que escutava valsinhas no rádio de válvula, sentada ao lado do vovô lendo jornal. Bons tempos!

13 de fev. de 2011

JANELA DAS LOUCAS

Leitores, leitoras:

Muito antes de ganhar este blog de presente, do querido e saudoso amigo Abílio Manoel, eu escrevia no Janela das Loucas. Esse blog, o Janela, ficou órfão quando Abílio faleceu no ano passado. Já que sou a principal autora do Janela, tornei-me uma espécie de "guardiã" daquele espaço querido, que traz tantas lembranças boas do meu amigo, irmãozinho de coração.
O Janela está hoje atravessando um problema grave. Recursos gráficos, pra mim incompreensíveis, sairam do ar. Entrei em contato com a Manuela, filha do Abílio. Ela explicou que isso será em breve corrigido.
Vida injusta, com esse problema técnico, as visitas ao Janela caíram vertiginosamente.
Hoje publiquei um novo texto. Conto com a sua visita, colaboração e participação no Janela. Não vamos deixar que esse blog, tão bom e divertido, caia no esquecimento.
Deixo aqui o link e espero sua visita!

http://janeladasloucas.blogspot.com/2011/02/de-derreter-os-miolos.html

11 de fev. de 2011

HUMM!!! É MESMO???


Homens, esses seres alienígenas que chegaram ao nosso planeta sem manual de instruções! Devem ter algum tipo de termostato que, ao escutar a terceira ou quarta frase que proferimos, desligam-se automaticamente. Já que discutir a relação, vulgo D.R., nem sempre traz bons resultados, esbarrei em uma técnica divertidíssima indicada aos marmanjos. Humm!!! É mesmo???
A minha experiência diz que isso pode não funcionar, afinal as mulheres, incluindo Diva Latívia, gostam muito de ser ouvidas e ter suas palavras discutidas exaustivamente. Isso cansa? Mas, somos assim. Faz parte do pacote que inclui embalagem. Sinto em informá-los, também nos falta o manual de instruções.
Aprender a ouvir mais e falar menos, acho mais fácil aprender física e matemática. Detalhe: ainda não sei fazer continhas de divisão e o que seria de mim sem uma calculadora?
Divirtam-se com a tal técnica, ensinada em um dos episódios da série televisiva My Wife And Kids. Assistam e aprendam!

10 de fev. de 2011

SOLIDÃO, VELHA COMPANHEIRA


Olá, leitor(a). Estou procurando letrinhas no teclado.
Não sei o que houve comigo, o que há com a minha inspiração. Aliás, acho que eu sei: estou sofrendo. É a minha mania de querer fazer da propaganda de margarina o meu ideal de felicidade.
Dia ensolarado, mesinha bem posta na cozinha. A família grande e feliz sorrindo de contentamento. Nenhum problema, nenhuma discussão acalorada, ninguém mandando ninguém ir se f...
Não sou casada, mas quando eu era casada nunca tive uma manhã assim. Experimentei instantes mágicos há algum tempo, sentada à mesa ensolarada de uma família. Emprestaram felicidade momentânea a mim.
Ando me sentindo órfã. Sem lar. Lar é isso: a mesinha ensolarada, ainda que pra alguns falte a mesa, pra outros o pão ou a margarina. Ter as pessoas amadas ao redor é fundamental, viver em harmonia é essencial. Casa eu tenho, mas queria tanto ter meu lar!
Meu coração hoje está aos pedacinhos, mas eu sorri enquanto escrevia este texto. Eu tenho esperança, acredito que, um dia, escreverei muitas histórias sentada em alguma varanda, um cãozinho dorminhoco deitado ao meu lado e alguém perto, cheio de carinho e orgulho de mim, aguardando a última linha pra ser o primeiro a ler e comentar. Esse será o meu lar!

Solidão, você chegou de novo sem pedir licença.

8 de fev. de 2011

MANINHO


Você acompanha minhas histórias e estórias. Talvez, acompanhe minha história desde a infância. Você pode me ver diariamente, pessoalmente. Talvez, seja anônimo, seja meu leitor.
Já pedi preces, já escrevi desabafos. Os textos estão chegando aos borbotões, é minha forma de extravazar, de rir de mim ou de chorar.
Meu irmão, Flávio, está novamente no hospital. A doença teima em maltratá-lo, mas há tratamento, há medicação pra dor, há recursos médicos diversos. A dor... Essa dor dói muito em mim! Não compreendo, por que não posso, mais esta vez, compartilhar o que ele sente, ainda que seja fisicamente? Queria tanto dividir com ele o medo, a dúvida, ir em seu lugar pra mesa de cirurgia. Livrá-lo disso, a qualquer custo! Substituí-lo no pior momento.
Mais que quatro irmãos, somos o guardião um do outro. Desde muito pequenos precisou ser assim, nós aprendemos a nos proteger. A vida de um está ligada à vida do outro, isso vai muito além da fraternidade. Se um sofre, o outro sofre, a dor física chega a doer em mim também! Dói!
Enquanto isso, os textos não param de brotar, feito um rio que desagua no mar, não posso contê-los! Compensação, desabafo.
Hoje não estou nada bem. O fio da meada escapou entre meus dedos, perdeu-se no teclado do computador. Estou na mesa de cirurgia, isso pra me livrar da dor. Ao lado do Flávio, preciso da cura pra viver e ser feliz novamente.
Maninho, querido, minha vida em seu corpinho. Deus, amado, cure meu irmão!


ABAIXO O MACHÃO!

Aos vinte anos de idade, a autora de Diva Latívia, assim como a maioria de todas as garotas dessa idade, tinha um corpo escultural. Sem pelanquinhas, sem celulite, sem estrias. Manequim 40.
Aos trinta anos de idade, assim como a maioria das garotas dessa idade, eu já tinha tido um filho. Corpo bonito, sem pelanquinhas, sem celulite, mas surgiram algumas estrias devido à gravidez. Manequim 42.
Aos quarenta anos, assim como a maioria das garotas dessa idade, eu já tinha corrido pra academia de ginástica e me tornado adepta de dietas da lua, do sol, do chá verde, azul e amarelo. Manequim 42.
Aos cinqüenta anos, assim com o a maioria das garotas dessa idade, meus hormônios entraram em parafuso. Rebeldes, promoveram uma rebelião. Fiozinhos de cabelos brancos resolveram dar as caras e, certamente, foram apagados com o auxílio da L´Óreal. Manequim 44.
Recebi, pela enésima vez, a mesma piada. Um velho, casado com uma garota de seus 40 ou 50 anos, acabou com a criatura, ao insinuar que ela está velha e cansada. Certamente, sim! Afinal, até mesmo um bebê que nasceu ontem, está hoje um dia mais velho. Estamos todos envelhecendo a cada segundo. Sinto muito, você que está lendo também está mais velho(a) agora. Porém, voltando ao tema, os homens costumam não se cuidar. Entram na meia-idade sem se dar conta da queda hormonal. Menos testosterona, o resultado disso já sabemos. Barriguinha, carequinha, menos gás. Normal, faz parte. Aliás, quem procura um homem de verdade, não repara tanto nesses detalhes. O problema é que eles querem uma garota de 40, 50, 60 ou mais, com o corpinho da garota de 20. E dá-lhe piadinhas machistas sem pé e nem cabeça. E dá-lhe absurdos diversos que eles comentem, muitas vezes em turma, pra superar esse peso etário.
Não, ninguém cabe no vestido de noiva de 30 anos atrás. A cinturinha era de quem não pariu o filho deles! Não, a não ser que seja por ordem genética, nenhuma de nós traz o corpo de uma menina para a quarta, quinta década de vida.
Porém, temos a academia, as massagens, os cremes, os choquinhos que eliminam celulite, temos os recursos das cirurgias plásticas e tudo o mais pra que a gente se olhe no espelho e diga todos os dias: - uau, eu sou gostosaaaa!
Se um homem, ao lado de uma mulher, acha que ela não está com o corpo legal, pois que coloque a mão no bolso – tire de lá o escorpião- e pague o conserto daquela que o acompanhou, puxou, empurrou e aturou durante tantos anos. Bolso, o segundo órgão sensível masculino.
E mais, olhe-se no espelho. É possível, homem, comparar-se com um garotão de 20 anos? Claro que não. Nem por isso nós, mulheres, ficamos vendo homens pelados na internet, nem por isso aderimos aos e-mails com aquele dizer patético “CUIDADO AO ABRIR!”. Não costumamos fazer piadas que os deprecia, não os comparamos jamais com quem é jovem ou saradão. Não comentamos nossas conquistas, não os trocamos em miúdos por dois de 25. Damos valor a quem está ao nosso lado, não interessa o seu estado físico de conservação. Assim é a mulher de verdade, apesar de existir alguma exceção.
É por essas e outras que considero as mulheres infinitamente melhores que os homens. Somos sensíveis, belas por dentro e por fora. Aliás, nós nos cuidamos e cuidamos de tudo e todos ao mesmo tempo. Somos sensacionais em qualquer idade!
Repugnante a velha piadinha. Detestável. Além de barangado, o autor disso deve ser mal amado. Homem de verdade, admira a mulher e a ajuda a ser feliz, por dentro e por fora. Deixo aqui o meu protesto: abaixo o machão! Século 21 já chegou e nem todos foram avisados, só pode ser.
E que “ teje dito”! Nada pessoal, mas a bronca é geral!

5 de fev. de 2011

SAILING


Diante das dificuldades que a vida apresenta, algumas parecem nos chacoalhar, feito um despertador que toca de madrugada. Acordar...
Quantas ondas teremos que pular, quantos mares bravios a enfrentar?
Mar, amar...
Quando li o texto que meu irmão, Flávio, publicou em seu blog, viajei no tempo. A emoção a milhão.
Eis o blog, que recomendo a todos vocês: www.tropecosdeumgourmet.wordpress.com
Melhor escritor que eu, assim considero. O último texto, Sailing, feito sob medida para todos nós. Saboreiem! Sorvam! É oxigênio neste mar da internet!

Deixo a música, antiga e bela.


POR UM TRIZ



Eu te desejo a sorte de quem escapou por um triz,
Que os arranhões profundos sejam apenas cicatriz.
Eu te desejo o suspiro de quem despertou de um pesadelo,
Que as lembranças sejam sinais, e não tormentos.
Eu te desejo todos os movimentos, sem dor ou lamentos.
Que o brilho do seu olhar não traga lágrimas, senão as de contentamento.
Eu te desejo saúde, pra começar e recomeçar.
Que o momento seja breve e o futuro se faça alento.
Eu te desejo a sorte de quem não tem tormentos.
Que os sinais comecem neste momento.
Eu te desejo que o seu olhar não deixe cicatriz, que sua saúde se faça alento.
Que o suspiro seja um brilho de contentamento.
Eu te desejo saúde, que os arranhões profundos sejam um pesadelo.
Que as lembranças sejam um triz, que o momento deixe apenas a cicatriz.

2 de fev. de 2011

MICOS, CADA UM COM OS SEUS


Outro dia estava lendo sobre "micos" que, vez ou outra, pagamos. A matéria da revista contava episódios engraçados, narrados por gente anônima, com o nome trocado ou apenas iniciais de nomes. Micos anônimos.
Lembrei algo que ocorreu há muitos anos. Fui convidada para um casamento, a igreja suntuosa, em um bairro nobre da cidade de São Paulo. Toda produzida, lá fui eu. Cheguei no horário marcado no convite, procurei sentar-me em um lugar que permitisse assistir a tudo de modo confortável. O tempo foi passando, não conseguia encontrar pessoas conhecidas. Gente estranha.
Sozinha, não tinha sequer com quem desabafar as minhas muitas dúvidas. Quem era aquele noivo, de fraque, esperando a Laurinha, a noiva que foi minha colega de escola? Lembrava do Renan, aquele não se parecia nada com ele. Pior, eu conhecia os pais da Laurinha e aquele casal de meia idade não eram seus pais. Eis que veio o soar dos clarins. A porta da igreja abriu-se e, ao som da marcha nupcial, entrou uma noiva que eu jamais tinha visto em minha vida. Não era a Laurinha.
Esperei até o final da cerimônia, quem sabe o casamento da minha amiga fosse o próximo? Ledo engano. Quando terminou, a muvuca instalou-se. Todos se dirigiram para o salão de festas da igreja, eu praticamente fui carregada de modo involuntário, a igreja estava lotadíssima. Cumprimentei os noivos, acho que a noiva imaginou que eu fosse amiga do noivo. O noivo imaginou que eu fosse amiga da noiva. Uma sensação indescritível. Peruérrima, de vestido longo, tentei não perder a elegância. Sorrindo a cada cumprimento estranho, dei uma escapadinha e liguei pra minha casa. Pedi à minha mãe que olhasse mais uma vez o que estava escrito no convite de casamento. Foi então que descobri que a Laurinha se casaria no dia 02 de março e não no dia 02 de fevereiro. Já que estava ali, saboreei um pedacinho de bolo.
Tudo parecia perfeito quando escutei: - “Diva? O que você está fazendo aqui?”. Era a minha vizinha, Leninha. Eu não sabia o que responder. Dei uma desculpa e sumi do lugar o mais depressa que pude.
No dia seguinte, não teve jeito. Leninha parou na porta da minha casa e perguntou: - “e aí? Ontem você estava linda! Diz uma coisa, você é amiga da Iara ou do Beto?”. Eu respondi que era amiga da Iara. Pra quê? Iara era amiga da Leninha. Desse dia em diante, fugi da vizinha sempre que a via passar na frente da minha casa.
Tantos anos depois, lembrei do meu último "mico": caí no porto. Sim, caí de um ônibus no porto de Santos. Eram tantas sacolas em minhas mãos. Não estava usando óculos, não notei o último degrau do busão. Feito jaca madura, lá estava eu esborrachada entre passageiros e navegantes em geral. Nenhum marinheiro me socorreu! Até hoje não posso usar salto 15.
Micos... Quem nunca teve os seus?

1 de fev. de 2011

VIDA REAL


Quem me conhece sabe que, quando estou sentada à frente do televisor, não assisto à programação. Um ritual de relaxamento, talvez. A oportunidade de pensar em uma série de situações, tomar algumas decisões. Uso a TV para me desligar. Não adianta me perguntar quem matou Salomão Ayala, quem casou com quem no final da novela. Apenas sei que tem novelas no ar.
Por falar em ar, dá vontade de prender a respiração até ficar roxa quando volto à realidade e percebo que estão, novamente, transmitindo aquele tal de Big B... Brasil. B? B pode ser brother, bonde, burro ou aquela outra coisa que começa com B, mas considero deselegante aqui escrever. Que bosta!
O meu programa favorito na TV saiu do ar. Será que continua sendo transmitido em algum canal fechado? Peixinhos nadando em um aquário. Coloridos, tranquilos, nadando pra lá e pra cá, calmante. Durante minutos, talvez durante horas, lá ficava eu, telespectadora atenta, aguardando o desfecho da história. Um aquário televisivo. Nada melhor que isso pra refrigerar o calor do cérebro.
Ontem, mais uma vez desligada na frente do televisor, percebi que estão transmitindo uma novela diferente das anteriores. Nessa, a mocinha caiu do avião. Será que caiu no avião? Ou o avião caiu em sua cabeça? Não prestei atenção. Não sobreviveu, claro. Porém, o mocinho está vivo, não pode andar. Boa oportunidade para os direitos dos deficientes serem divulgados, mas sou capaz de jurar que, no final, o cara vai estar correndo, pulando, sem marcas ou consequências de tamanho desastre.
Nas novelas o final é feliz. Por vezes, o final é feliz até mesmo pro bandido, pra vilã. Na vida real o bicho pega pra valer. Sem trilha sonora, sem créditos com o nome dos personagens, sem direção. Assim é o dia-a-dia. Não há intervalo, nem muitos aplausos. É a realidade. Coisa boa que é sentar-se na sala, controle remoto em mãos, não saber o que está sendo transmitido e, pra completar, tramar um novo texto pra você ler.
Nesse avesso do faz de conta, o mocinho e a mocinha tecem o final feliz, que não acontece feito passe de mágica, afinal a vida real é feita de ações, decisões e resultados.
Cá deste lado não há fada madrinha, não há um justiceiro com o corpo sarado que chega em seu cavalo branco. A felicidade real depende de esforço, méritos e uma pitada de sorte. Desliguei o televisor e vim curtir a vida.