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A prosa aconteceu no final do dia. Quando comentei que hoje seria o aniversário de casamento dos meus pais, já falecidos, minha amiga se surpreendeu. Eis aqui a nossa conversa:
- Peraí! Eles tinham qual idade?
- Ele tinha 19 e ela tinha 16.
- Que loucura! Como seus avós deixaram?
- Sei lá, acho que eu estava lá, dentro da barriga dela.
- Ela estava grávida?!
- Provavelmente, sim. Faça as contas: eles se casaram em 31 de maio de 1960 e eu nasci no dia 30 de janeiro de 1961. Nasci inteirinha, nada faltando, peso e altura normais. Portanto, somente havia passado oito meses desde o casamento deles dois.
- Deve ter sido um escândalo na época!
- Que nada, inventaram que nasci prematura.
- Você sempre apressadinha!
- Eu nasci em uma segunda-feira, às 16h15.
- É... De vez em quando você chega de surpresa.
- E eles dois, o que aconteceu depois com eles?
- Tiveram mais três filhos, uma escadinha, praticamente a cada ano nascia um.
- Vocês são quatro irmãos?
- Sim! Eu sou a mais velha.
- E eles dois estão casados até hoje?
- Não, ou sim, não sei dizer ao certo. Eles já foram embora pro Céu.
- Eles eram felizes juntos?
- Depende do conceito de felicidade. Eram dois gatos amarrados em um saco. Brigavam muito.
- Até o fim?
- Até o fim do casamento. Eles se separaram quando já tinham quatro netos.
- Caramba! Uma dupla explosiva! Eles morreram como?
- Morreram de saudade. Havia um forte sentimento, mas eles eram apenas aprendizes, não sabiam pilotar essa nave espacial que é o Amor.
- Eles dariam um filme.
- Talvez, estavam mais pra uma novela das oito.
- Eles tinham “a música deles”?
- The Platters, Only You. E tinha outra, acho que Great Pretender, algo assim.
- Que romântico! Espero que eles estejam juntinhos.
- Difícil imaginá-los em paz, mas muito fácil deduzir que estejam juntos, eles eram apaixonados.
- Quantos anos de casados eles completariam hoje?
- Cinquenta e um anos.
- Tomara que façam uma festa lá no céu.
- Tomara!
- De qualquer forma, parabéns pelo aniversário de casamento dos seus pais.
- Tive uma ideia! Vou escrever um texto falando dos dois. Pra que eles leiam sentados em alguma nuvem, juntos e celebrando o que vem depois da vida.
- Boa a sua ideia. Aproveite pra desejar aos dois paz lá no céu.
Eis o texto. É pra você, Mãe, e é pra você, Pai.
Desejo que vocês estejam bem, seguindo sua estrada, em harmonia. Amem-se, finalmente amem-se! Perdoem-se, afinal sem perdão não existe Amor. Que todas as dificuldades, limitações e erros que cometeram aqui na Terra sejam hoje um degrau a mais em sua evolução, em seu engrandecimento espiritual. Claro, sinto falta de vocês, dos tempos em que estávamos todos juntos, na nossa linda casa cor-de-rosa.
Aqui, neste mundo, tento resolver as confusões muitas que ficaram, o que herdei não foram apenas tijolos e vocês sabem disso. Não é fácil, mas tento todos os dias ser uma boa filha pra vocês. Torço pra que tenham aprendido tanto, aqui nesta vida, que hoje possam compreender o quanto seus filhos foram e são especiais, o quanto a sua família é abençoada.
Tomara que leiam, que algum Anjo imprima este texto e entregue em suas mãos. Saudade do que foi bom.
Um beijo de sua filha.
AS MÚSICAS QUE COMENTEI NESTE TEXTO: GREAT PRETENDER E ONLY YOU.
- Isso aqui está sem mouse!
- Notebook é assim mesmo.
- Como faço pra arrastar os ícones?
- Clique aqui, oh. Tá vendo?
- Pô, cliquei e saí da página!
- Tira o dedo daí!
- Qual dedo?
- O seu dedo!
- Daqui?
- Isso. Vou te ensinar, preste atenção. Tá vendo?
- Só isso?
- Só. Tente fazer.
- Não vai!
- Vai sim, você é que tem a mão pesada.
- Eu tenho o quê?
- Mãozona! Você clica com força, não pode.
- Desisto, deixa isso pra lá.
- Faço pra você. Viu? Tá feito.
- Colou no lugar errado, queria deixar a pasta com as fotos ali, no alto.
- Tá bom agora?
- Valeu, ficou bom.
- Quando precisar de novo, me chama, tá?
- Chamo sim, querida!
E foi assim que minha sobrinha, de apenas 9 anos, consertou os ícones da área de trabalho do meu notebook. E eu, com minha sapiência impaciente, até hoje não entendi como alguém consegue usar um computador sem mouse.
Ah, sua danada! Isso lá é hora de me chamar?
E foi assim que corri pro notebook, antes que ela fugisse novamente e me deixasse literalmente sem saber pra que lado ir, o que digitar neste teclado minúsculo.
Inspiração. É um sopro, um vento que refresca e apazigua meu espírito. Passa ligeira, sem deixar rastros, senão as sementes que lança adiante, em forma de textos que publico em instantes.
Ela se insinua,me provoca e rapidamente se esconde. Brinca com minhas lembranças, sugere exatamente o oposto daquilo o que eu pretendia. Toca a tristeza, mostra a graça e faz versos ao invés de prosa.
Onde nascem os personagens? Não sei dizer de onde tirei aquelas ideias todas! Tento agarrá-la do jeito que posso, prendê-la entre linhas. Palavras jorram feito um temporal para,em seguida, estiarem.
Não respeita dia, nem hora. Ela me acorda de madrugada. Para segurá-la escrevo em pedacinho de qualquer papel, em guardanapo de restaurante, já rabisquei frases com lápis de pintar os olhos e batom também. Ela acaba com a minha maquiagem quando choro e tudo se desfaz.
Traz a infância, abraça as lembranças, faz doce ou amargo o final de cada história. Tento terminar o texto mas, sem pedir licença, ela vai dormir novamente. E eu aqui, acordada e com as letrinhas nas pontas dos dedos. Improviso.
A inspiração é voluntariosa, me atiça e vai embora. Ah, sua fujona!
Estávamos reunidos em pleno almoço de domingo quando escutei algo sobre irmos ao show de Village People, aqui em São Paulo, no dia 27 de maio. Sei lá o que me dá, escutei, mas não assimilei a ideia. A surpresa aconteceu na noite em que Divo me entregou um envelope e, dentro dele, alguns pares de ingressos para o show. Coisa chique, acomodações em camarote.
Sexta-feira, dia 27. Divo saiu de casa sem esquecer de um detalhe, especulou sobre eu ter escolhido a roupa que vestiria. Olhei pra malinha que comigo vai e volta diversas vezes durante a semana. Nada especial: jeans, moletons, bota, tênis. Entendi o recado: eu deveria mega-me-produzir!
Quando a noite chegou eu brilhava mais que as estrelas escondidas por detrás das muitas nuvens de frio e chuva do céu paulistano. Preto e lantejoulas, salto altíssimo, maquiagem caprichada. Afinal, tratava-se de um pedacinho da minha história, aquele grupo que embalou muitos bailinhos de garagem, muitos momentos felizes da adolescência e que me trazia lembranças adoráveis. Momento mágico requer alta produção, sempre!
Divo chegou em casa e sorriu contente. Lá estava a sua “garota”, tão enfeitada quanto sonhou encontrá-la. O que veio depois fez valer a minha estampa: uma das noites mais divertidas da minha vida.
Quando ali chegamos, encontramos os irmãos e cunhadas de Divo. Entramos. Tudo meio quieto, era cedo, o público ainda chegava aos pouquinhos. Pediram uma garrafa de vinho, outra de uísque, porçõezinhas para petiscar. Uma taça, duas taças. O calor me obrigou a permanecer sem o casaco e a echarpe de seda. Três taças e eis que começou o show. Macho Man! Fui puxada pela mão, sobre o saltão 10, scarpin de verniz preto, bico finíssimo. Divo, criatura tímida e reservada, era quem mais pulava. In The Navy! E nós dois lá, em meio a irmãos tão empolgados que pareciam ter, no máximo, 18 anos de idade.
Pra quem curtiu Village People na década de 70, algo imperdível. Viajei ao passado, pra antiga casa cor-de-rosa onde nasci e cresci, no bairro de Moema. Ali, meus irmãos e eu tínhamos um espaço reservado, um quarto no andar térreo do apartamento dos fundos do casarão, destinado à alegria: música, amigos e uma mesinha de bilhar. Ainda sonho que estamos ali, curtindo o presente e confiando no futuro. Village People saltou do aparelho de som 3 em 1, pulou do disco de vinil e deu um show ao vivo.
A magia fechou seu ciclo com Y.M.C.A. O índio, eu não podia tirar os olhos dele! Sempre foi o meu preferido! Quantas danceterias, bailinhos, momentos e histórias aquelas músicas me trazem à lembrança? Um elo entre o passado e o presente, momento inesquecível! Hoje, sábado, amanheci um tanto rouca, tal foi a cantoria de ontem. Os pés sobreviveram. Ainda na cama, despertando, ri ao calcular que somos tios na balada. Uma balada com décadas a mais, mas a alma ainda é de uma garota e assim sempre será.
Village People, vocês fazem parte de mim, da minha vida e da minha história! Corri até meus antigos LPS, as bolachonas de vinil. Falta aquele disco. Ah, os irmãos! Alguém levou embora a relíquia, mas a capa do disco não esqueci, ela ilustra este texto. Pedacinhos de lembranças, uma colcha de retalhos que dá sentido à vida. Ontem foi feito ponte, uma via que passou sobre toda minha vida e me tornou de novo adolescente.
- Ai que fofo! Você já pode até casar. Parabéns!
Amália quase soltou a forma de bolo no chão quando escutou a mãe de Luís Teodoro, seu namorado, falar assim. A palavra casamento lhe causava uma espécie de pânico. Apreciava a vida do jeito que era, cada um em sua casa, morando com seus respectivos pais. Nada de compromisso mais sério ou anel no anular esquerdo. Liberdade pra ela era sinônimo de solteirice.
Quando conheceu Luís, Amália ainda cursava o colégio de freiras. Ela usava uniforme, daqueles de sainha xadrez e blusa branca com o emblema da escola. E ele morava bem em frente ao lugar, seu hobby era assistir às idas e vindas das alunas, um deleite para o seu olhar.
No dia choveu tanto que o trânsito da cidade ficou parado, Amália precisou esperar mais de uma hora pela chegada de sua mãe, que costumava ser pontual nessa missão, mas quem pode com um engarrafamento? Assim, aproveitou o tempo de espera e junto com Lurdinha, sua melhor amiga, foi à doceria que ficava na esquina. Tortas de morango, sua constante perdição. Daquelas com creme no recheio e cobertura de chantilly. Irresistível! Lá estavam as duas amigas, fazendo hora enquanto chovia lá fora, quando Luís ingressou no local. Olhares trocados, sorrisos sincronizados. Paixão à primeira vista da parte dele, polimento na vaidade dela. Dias depois já eram namorados.
Cinco anos depois, na cozinha de Dona Élide, mãe do namorado e quase sogra. A forma de bolo ainda quente, preparado com o talento natural para elaborar pratos doces e salgados. Luís, que nem tanto apreciava doces, a tudo observava, especialmente a reação reiterada de sua amada, sempre avessa ao matrimônio.
Não era raro alguém especular a respeito de suas intenções futuras. Perguntas do tipo: quando vão se casar? Isso havia se tornado comum. Luís, há dois anos no dia dos namorados, deu-lhe um anel de compromisso. Usava de vez em quando, esquecia sobre a mesa, o criado-mudo e uma vez foi parar dentro do aspirador de pó, tal o seu relaxo com o objeto, que considerava antiquado e claustrofóbico.
Neste dia dos namorados, Luís Teodoro prepara para Amália uma surpresa. Incauto e romântico comprou um par de alianças em uma joalheria. Mandou gravar o nome de Amália e a data: 12.06.2011. Pretende na mesma oportunidade propor o noivado. Mal sabe que sua pretendida tem passagem somente de ida para Londres, onde fará um curso de inglês com duração de dois meses. Depois espera ganhar o mundo, sem pouso ou regresso.
O amor e seus desencontros. Uns oferecem muito, outros recebem além do necessário. E quem poderá entender os mistérios e caprichos do coração?
Ao amanhecer cobrei-me! Olhei este blog e, auto-zangada ( esta foi de doer, o Word grifou irritadíssimo), impus à autora deste blog ( Diva Latívia, ou seja, eu), que postasse mais textos.
Inspiração é artigo de primeira qualidade. Tal e qual em uma padaria é fundamental a qualidade da farinha de trigo, elemento básico para preparar pãezinhos. Pãozinho quente a toda hora. Textos de primeira qualidade todo o santo dia. Acho que nem mesmo Luís Fernando Veríssimo consegue tamanha façanha. Portanto, reles mortal que sou, ao amanhecer fiquei um tanto emburrada. Não tenho escrito com frequência, caro leitor.
Ser paulistana, ser dona de casa, ser profissional da área jurídica, ser mãe, irmã, ser o par de Divo Latívio. Corro pro trabalho, mas primeiro deixo duas casas em ordem: a minha e a casa 2, onde divido o espaço com meu par. Pago as minhas contas, enfrento aquela chatice que é o trânsito da cidade. Cumpro os prazos dos processos, sem esquecer de embelezar-me diante do espelho toda bendita manhã. Tempo, outro artigo fundamental, ingrediente que se torna mais raro a cada tic-tac do relógio.
Ontem, quando dei por mim, já passava das 19h00 e eu lá, trabalhando, sem ter notado o avanço das horas. Faltava muito pra finalizar o trabalho. Meu celular tocou, Divo já estava em casa. Suspirei resignada, não deu tempo. Quando cheguei em casa, depois de um beijo e abraço carinhosos, ele observou minhas olheiras. "Diva, que tal fazer uma compressa de chá de camomila?". Recusei, com os ossos e músculos doloridos devido ao corre-corre do dia. Em seguida, simpático, comentou algo sobre o cesto de roupas pra passar. Disse que seria ótimo passar ao menos as toalhas de banho e lençóis e poupar o trabalho da diarista, que viria amanhã, ou seja, hoje.
De vez em quando eu preciso ser de ferro. Não meus punhos, que se retesaram doidinhos pra esmurrar algum móvel, parede ou porta. Coisa de mulher das cavernas! Às vezes preciso engolir sapos ( não aqueles do Brejo Perfeito). Passar roupas depois de um dia que mais se pareceu com uma gincana, uma corrida maluca? Impossível. O bom senso, outro ítem raro em minha lista, falou mais alto. Contei até dois e desculpei-me: sorry, dear. I can´t. Traduzindo: nem morta, meu bem.
Ser mulher de mil e uma utilidades, tal e qual aquela propaganda da palhinha de aço, torna a fêmea parecida com Jeannie é Um Gênio, aquele antigo seriado televisivo. Bonitinha, moradora de uma garrafa, submissa ao amo a quem proporcionava bem estar total. Fosse o seriado atual, imaginem só o que mais faria Jeannie? Naquela época, anos 60, no seriado mostravam claramente que ela dormia dentro da garrafa e ele dormia sozinho, bem fechado em seu quarto. Quanto puritanismo, ainda bem que o tempo tem um lado bom: ele passa e modifica a mentalidade, varre pra longe a hipocrisia.
Não dormi dentro de uma garrafa esta noite. Dormi de conchinha, abraçada ao quentinho Divo Latívio. Cansada, um tanto acelerada pelo tal do stress, estresse, sei lá. O chá de camomila eu bebi. As olheiras estão melhores hoje, mas os ossos ainda reclamam, um tanto doloridos. Foi dada a largada para quarta-feira! Que o tempo passe, mas que dê tempo para completar a maratona do novo dia. E eis aqui o pãozinho saindo do forno, outro texto pra você!
O nosso brinde tilintou e no espaço o som do toque das taças de cristal fez com que eu lembrasse da cristaleira antiga, coisa do meu tempo de criança.
Jacarancá, árvore que hoje em dia está protegida das derrubadas. Ao menos na teoria, sim. Naquela época havia abastança e uma certa falta de precaução quanto ao futuro do planeta, pouco se falava sobre o bem do meio ambiente. Então, a cristaleira da sala de jantar era feita dessa árvore.
A altura da cristaleira, vista do solo por uma criança de cinco anos de idade, era gigantesca. Na parede de fundo do móvel havia um espelho, que refletia as muitas peças e também a minha presença a admirar as taças e jarras.
Havia uma poncheira, era de cristal murano. Coisa rara, que hoje em dia somente nas lojas e feiras de antiguidade é possível encontrar. Nas festas de final de ano o vermelho do ponche contrastava com o colorido azul de seu recipiente. Uma alegria para meus olhos, que assistia às bebericagens dos adultos.
As taças de champanhe! Não essas altinhas ou flute, como são chamadas. Eram taças largas, algumas bojudinhas. Vem daí a inspiração para o nome do modelo de sutiã: taça e meia-taça. Há sensualidade no fino toque do cristal.
As tacinhas de licor. Vermelhas, amarelas, verdes. Pequenos e doces brindes. E eu desfilava em frente a essa vitrine, incluída que estava nessa delicadeza e fragilidade da cristaleira.
- Vó, o que tá escrito nesse copo?
- Foi um presente de um cliente do vovô, querida.
- O que é isso que escreveram?
- É o nome do vovô e o nome da vovó, mas escreveram errado.
Lembro muito bem disso. Nosso sobrenome, Cavalcanti, escrito assim: “Calvacante”.
Valeu a intenção do tal cliente do vovô.
De todas aquelas maravilhas frágeis, uma delas era a minha preferida: rosa com filetinhos brancos, fosca. Era uma taça de vinho tinto. Algo que, em vão, já busquei em antiquários. Resta apenas a recordação.
Pedacinhos miúdos do meu quebra-cabeças de memórias, um mosaico cristalino que tilinta vez ou outra ao som de cristais.No ar um brinde e, a desfilar em minha lembrança, toda a minha vida.
Saúde!
Quanto tempo faz? Ele estava do outro lado da rua, parado na calçada. Quando desci a escadaria do prédio e caminhei na sua direção, pela primeira vez observei o seu olhar. Depressa tirei minhas conclusões: ele é doce, romântico e tímido. Tudo isso ao mesmo tempo!
Eu estava feliz, finalmente alguém parecido com o homem com quem eu tinha sonhado: jeito de bom moço, tranquilo, gestos calmos. Um cavalheiro que, ao abrir a porta do carro pra mim, reservava uma surpresa: um bouquet de flores do campo.
Não soube ao certo o que fazer, agradeci sem jeito. Pedi licença e voltei ao apartamento, deixei as flores sobre a mesa da cozinha. Quando voltei ao andar térreo o porteiro não se conteve: - Ganhou flores, né? Quem deu foi ele? E apontou na direção do carro estacionado a poucos metros do portão.
Fomos a um barzinho. A prosa estava tão boa que não notamos o tempo passar. Não lembro ao certo, acho que foram 8 horas sentados à mesa. O garçom praticamente nos pediu que fôssemos embora, ofereceu o último drink, avisou que o bar iria fechar. Quando nos levantamos pra ir embora, eu me senti vitoriosa. Tanto tempo procurando e lá estava o homem dos meus sonhos. Disfarcei o contentamento do jeito que pude.
Fui conduzida de volta à minha casa. Observei seu olhar esticado pro meu prédio. Não, eu não o convidei pra subir. O que ele pensaria de mim, afinal? A despedida foi um abraço e um beijo no rosto. Não sabia dizer se voltaríamos a nos encontrar, ainda observei seu carro sumir na curva à direita.
Esse foi o nosso primeiro encontro, quando fui convidada para sairmos juntos. Quanto tempo faz? Perdi as contas. Faz tanto tempo que não sei mais soletrar a palavra solidão. Ainda hoje conversamos sem perceber a passagem das horas. De vez em quando ele traz flores pra mim, mas guardei uma daquelas primeiras flores dentro de uma caixinha. Uma recordação bonita, um momento inesquecível.
Ser namorado é estado de alma. Não importa se está casado, se mora junto, se o relacionamento é novo ou antigo. Ser namorado é ter um compromisso com o próprio coração.
Há quanto tempo... Cegos que fomos, voltamos a enxergar e nos vimos, finalmente!
Vivo feliz ao seu lado. Vivo novamente. O sonho virou semente, enraizou-se a agora floriu. Vejo meu sorriso no brilho dos seus olhos. Pode ver-se nos olhos meus? Um amor tão grande que coube certinho dentro de dois corações. Nós dois, feitos sob medida um pro outro. Sente o quanto estou feliz? Com você tudo mudou. Meu sorriso se casou com o seu olhar e nós dois fomos os convidados. Que festa se tornou a vida! Quanta vida ganhou a vida!
Depois de alguns anos descobri que aquele perfume suave e tão gostoso de sua pele era pó de arroz. Maquiagem leve, rostinho de menina. Lembro bem de um abraço que ofertei. Meus braços curtinhos, ela estava em pé. Abracei suas pernas. Estava vestida com uma saia de lãzinha, xadrez discreto, tons marfim e rosa. Brincar com suas bijuterias era mais do que diversão. Um aprendizado, foi isso. Aprendi a combinar pérolas com seda, a identificar pedras, metais. Calçar seus sapatos, aqueles scarpins de bico fino e, meio cambaleante, apresentar-me cheia de orgulho à minha doce protagonista: Mami. Com ela aprendi pontos de tricô. Ponto meia, ponto arroz, tranças. Aprendi a bordar, a pregar botões, vidrilhos, cristais delicados e miudinhos. Aprendi a preparar alguns pratos deliciosos, a usar talher de peixe. Mami tinha modos aristocráticos.
Quando escolhi as flores brancas para ornamentar a sua sepultura, o aroma que chegou na brisa foi de pó de arroz. Voltei no tempo, a saudade apertou tanto que precisei ajoelhar-me no gramado do cemitério do Morumbi e tentar me recompor. Estava coberto de razão quem primeiro disse que “mãe é mãe”. Pra mim, não importa o quanto ela possa ter errado, ela foi a minha mãe: Mami. Será o segundo ano sem a sua presença no Dia das Mães. Pra compensar, o destino me trouxe uma sogra que tem os olhinhos claros, que entende de alta costura, que foi criada ao modo europeu. Ela se parece muito com minha mãe. Acho, Deus quis amenizar a minha dor. E é pra ela que seguirá a minha homenagem nesse dia.
Mãe não é gente. Mãe é Anjo. Mãe arrisca a própria vida pra trazer um filho ao mundo. Mãe se desdobra, se desmancha e não se cansa. Também sou mãe, sei que o amor que tenho pelo meu filho se aproxima do Amor de Deus.
Saudade da minha querida. No Dia das Mães estarei ao lado da minha outra Mami, aquela que me recebeu de braços e coração abertos. A vida leva, a vida traz. Feito o aroma gostoso de pó de arroz, que sempre ficará na minha lembrança.
A você que é Mãe, parabéns pelo seu dia.
A você, que foi minha Mãe aqui na Terra, que está juntinho do Papai do Céu, segue a minha saudade, o meu Amor e mais este texto. Te amo, Mãe!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
31 de mai. de 2011
ANIVERSÁRIO DE CASAMENTO
A prosa aconteceu no final do dia. Quando comentei que hoje seria o aniversário de casamento dos meus pais, já falecidos, minha amiga se surpreendeu. Eis aqui a nossa conversa:
- Peraí! Eles tinham qual idade?
- Ele tinha 19 e ela tinha 16.
- Que loucura! Como seus avós deixaram?
- Sei lá, acho que eu estava lá, dentro da barriga dela.
- Ela estava grávida?!
- Provavelmente, sim. Faça as contas: eles se casaram em 31 de maio de 1960 e eu nasci no dia 30 de janeiro de 1961. Nasci inteirinha, nada faltando, peso e altura normais. Portanto, somente havia passado oito meses desde o casamento deles dois.
- Deve ter sido um escândalo na época!
- Que nada, inventaram que nasci prematura.
- Você sempre apressadinha!
- Eu nasci em uma segunda-feira, às 16h15.
- É... De vez em quando você chega de surpresa.
- E eles dois, o que aconteceu depois com eles?
- Tiveram mais três filhos, uma escadinha, praticamente a cada ano nascia um.
- Vocês são quatro irmãos?
- Sim! Eu sou a mais velha.
- E eles dois estão casados até hoje?
- Não, ou sim, não sei dizer ao certo. Eles já foram embora pro Céu.
- Eles eram felizes juntos?
- Depende do conceito de felicidade. Eram dois gatos amarrados em um saco. Brigavam muito.
- Até o fim?
- Até o fim do casamento. Eles se separaram quando já tinham quatro netos.
- Caramba! Uma dupla explosiva! Eles morreram como?
- Morreram de saudade. Havia um forte sentimento, mas eles eram apenas aprendizes, não sabiam pilotar essa nave espacial que é o Amor.
- Eles dariam um filme.
- Talvez, estavam mais pra uma novela das oito.
- Eles tinham “a música deles”?
- The Platters, Only You. E tinha outra, acho que Great Pretender, algo assim.
- Que romântico! Espero que eles estejam juntinhos.
- Difícil imaginá-los em paz, mas muito fácil deduzir que estejam juntos, eles eram apaixonados.
- Quantos anos de casados eles completariam hoje?
- Cinquenta e um anos.
- Tomara que façam uma festa lá no céu.
- Tomara!
- De qualquer forma, parabéns pelo aniversário de casamento dos seus pais.
- Tive uma ideia! Vou escrever um texto falando dos dois. Pra que eles leiam sentados em alguma nuvem, juntos e celebrando o que vem depois da vida.
- Boa a sua ideia. Aproveite pra desejar aos dois paz lá no céu.
Eis o texto. É pra você, Mãe, e é pra você, Pai.
Desejo que vocês estejam bem, seguindo sua estrada, em harmonia. Amem-se, finalmente amem-se! Perdoem-se, afinal sem perdão não existe Amor. Que todas as dificuldades, limitações e erros que cometeram aqui na Terra sejam hoje um degrau a mais em sua evolução, em seu engrandecimento espiritual. Claro, sinto falta de vocês, dos tempos em que estávamos todos juntos, na nossa linda casa cor-de-rosa.
Aqui, neste mundo, tento resolver as confusões muitas que ficaram, o que herdei não foram apenas tijolos e vocês sabem disso. Não é fácil, mas tento todos os dias ser uma boa filha pra vocês. Torço pra que tenham aprendido tanto, aqui nesta vida, que hoje possam compreender o quanto seus filhos foram e são especiais, o quanto a sua família é abençoada.
Tomara que leiam, que algum Anjo imprima este texto e entregue em suas mãos. Saudade do que foi bom.
Um beijo de sua filha.
AS MÚSICAS QUE COMENTEI NESTE TEXTO: GREAT PRETENDER E ONLY YOU.
30 de mai. de 2011
CADÊ O MOUSE?!
- Isso aqui está sem mouse!
- Notebook é assim mesmo.
- Como faço pra arrastar os ícones?
- Clique aqui, oh. Tá vendo?
- Pô, cliquei e saí da página!
- Tira o dedo daí!
- Qual dedo?
- O seu dedo!
- Daqui?
- Isso. Vou te ensinar, preste atenção. Tá vendo?
- Só isso?
- Só. Tente fazer.
- Não vai!
- Vai sim, você é que tem a mão pesada.
- Eu tenho o quê?
- Mãozona! Você clica com força, não pode.
- Desisto, deixa isso pra lá.
- Faço pra você. Viu? Tá feito.
- Colou no lugar errado, queria deixar a pasta com as fotos ali, no alto.
- Tá bom agora?
- Valeu, ficou bom.
- Quando precisar de novo, me chama, tá?
- Chamo sim, querida!
E foi assim que minha sobrinha, de apenas 9 anos, consertou os ícones da área de trabalho do meu notebook. E eu, com minha sapiência impaciente, até hoje não entendi como alguém consegue usar um computador sem mouse.
29 de mai. de 2011
INSPIRE-ME!
Ah, sua danada! Isso lá é hora de me chamar?
E foi assim que corri pro notebook, antes que ela fugisse novamente e me deixasse literalmente sem saber pra que lado ir, o que digitar neste teclado minúsculo.
Inspiração. É um sopro, um vento que refresca e apazigua meu espírito. Passa ligeira, sem deixar rastros, senão as sementes que lança adiante, em forma de textos que publico em instantes.
Ela se insinua,me provoca e rapidamente se esconde. Brinca com minhas lembranças, sugere exatamente o oposto daquilo o que eu pretendia. Toca a tristeza, mostra a graça e faz versos ao invés de prosa.
Onde nascem os personagens? Não sei dizer de onde tirei aquelas ideias todas! Tento agarrá-la do jeito que posso, prendê-la entre linhas. Palavras jorram feito um temporal para,em seguida, estiarem.
Não respeita dia, nem hora. Ela me acorda de madrugada. Para segurá-la escrevo em pedacinho de qualquer papel, em guardanapo de restaurante, já rabisquei frases com lápis de pintar os olhos e batom também. Ela acaba com a minha maquiagem quando choro e tudo se desfaz.
Traz a infância, abraça as lembranças, faz doce ou amargo o final de cada história. Tento terminar o texto mas, sem pedir licença, ela vai dormir novamente. E eu aqui, acordada e com as letrinhas nas pontas dos dedos. Improviso.
A inspiração é voluntariosa, me atiça e vai embora. Ah, sua fujona!
28 de mai. de 2011
VILLAGE PEOPLE - Tios na Balada
Estávamos reunidos em pleno almoço de domingo quando escutei algo sobre irmos ao show de Village People, aqui em São Paulo, no dia 27 de maio. Sei lá o que me dá, escutei, mas não assimilei a ideia. A surpresa aconteceu na noite em que Divo me entregou um envelope e, dentro dele, alguns pares de ingressos para o show. Coisa chique, acomodações em camarote.
Sexta-feira, dia 27. Divo saiu de casa sem esquecer de um detalhe, especulou sobre eu ter escolhido a roupa que vestiria. Olhei pra malinha que comigo vai e volta diversas vezes durante a semana. Nada especial: jeans, moletons, bota, tênis. Entendi o recado: eu deveria mega-me-produzir!
Quando a noite chegou eu brilhava mais que as estrelas escondidas por detrás das muitas nuvens de frio e chuva do céu paulistano. Preto e lantejoulas, salto altíssimo, maquiagem caprichada. Afinal, tratava-se de um pedacinho da minha história, aquele grupo que embalou muitos bailinhos de garagem, muitos momentos felizes da adolescência e que me trazia lembranças adoráveis. Momento mágico requer alta produção, sempre!
Divo chegou em casa e sorriu contente. Lá estava a sua “garota”, tão enfeitada quanto sonhou encontrá-la. O que veio depois fez valer a minha estampa: uma das noites mais divertidas da minha vida.
Quando ali chegamos, encontramos os irmãos e cunhadas de Divo. Entramos. Tudo meio quieto, era cedo, o público ainda chegava aos pouquinhos. Pediram uma garrafa de vinho, outra de uísque, porçõezinhas para petiscar. Uma taça, duas taças. O calor me obrigou a permanecer sem o casaco e a echarpe de seda. Três taças e eis que começou o show. Macho Man! Fui puxada pela mão, sobre o saltão 10, scarpin de verniz preto, bico finíssimo. Divo, criatura tímida e reservada, era quem mais pulava. In The Navy! E nós dois lá, em meio a irmãos tão empolgados que pareciam ter, no máximo, 18 anos de idade.
Pra quem curtiu Village People na década de 70, algo imperdível. Viajei ao passado, pra antiga casa cor-de-rosa onde nasci e cresci, no bairro de Moema. Ali, meus irmãos e eu tínhamos um espaço reservado, um quarto no andar térreo do apartamento dos fundos do casarão, destinado à alegria: música, amigos e uma mesinha de bilhar. Ainda sonho que estamos ali, curtindo o presente e confiando no futuro. Village People saltou do aparelho de som 3 em 1, pulou do disco de vinil e deu um show ao vivo.
A magia fechou seu ciclo com Y.M.C.A. O índio, eu não podia tirar os olhos dele! Sempre foi o meu preferido! Quantas danceterias, bailinhos, momentos e histórias aquelas músicas me trazem à lembrança? Um elo entre o passado e o presente, momento inesquecível! Hoje, sábado, amanheci um tanto rouca, tal foi a cantoria de ontem. Os pés sobreviveram. Ainda na cama, despertando, ri ao calcular que somos tios na balada. Uma balada com décadas a mais, mas a alma ainda é de uma garota e assim sempre será.
Village People, vocês fazem parte de mim, da minha vida e da minha história! Corri até meus antigos LPS, as bolachonas de vinil. Falta aquele disco. Ah, os irmãos! Alguém levou embora a relíquia, mas a capa do disco não esqueci, ela ilustra este texto. Pedacinhos de lembranças, uma colcha de retalhos que dá sentido à vida. Ontem foi feito ponte, uma via que passou sobre toda minha vida e me tornou de novo adolescente.
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25 de mai. de 2011
AMOR DESENCONTRADO
- Ai que fofo! Você já pode até casar. Parabéns!
Amália quase soltou a forma de bolo no chão quando escutou a mãe de Luís Teodoro, seu namorado, falar assim. A palavra casamento lhe causava uma espécie de pânico. Apreciava a vida do jeito que era, cada um em sua casa, morando com seus respectivos pais. Nada de compromisso mais sério ou anel no anular esquerdo. Liberdade pra ela era sinônimo de solteirice.
Quando conheceu Luís, Amália ainda cursava o colégio de freiras. Ela usava uniforme, daqueles de sainha xadrez e blusa branca com o emblema da escola. E ele morava bem em frente ao lugar, seu hobby era assistir às idas e vindas das alunas, um deleite para o seu olhar.
No dia choveu tanto que o trânsito da cidade ficou parado, Amália precisou esperar mais de uma hora pela chegada de sua mãe, que costumava ser pontual nessa missão, mas quem pode com um engarrafamento? Assim, aproveitou o tempo de espera e junto com Lurdinha, sua melhor amiga, foi à doceria que ficava na esquina. Tortas de morango, sua constante perdição. Daquelas com creme no recheio e cobertura de chantilly. Irresistível! Lá estavam as duas amigas, fazendo hora enquanto chovia lá fora, quando Luís ingressou no local. Olhares trocados, sorrisos sincronizados. Paixão à primeira vista da parte dele, polimento na vaidade dela. Dias depois já eram namorados.
Cinco anos depois, na cozinha de Dona Élide, mãe do namorado e quase sogra. A forma de bolo ainda quente, preparado com o talento natural para elaborar pratos doces e salgados. Luís, que nem tanto apreciava doces, a tudo observava, especialmente a reação reiterada de sua amada, sempre avessa ao matrimônio.
Não era raro alguém especular a respeito de suas intenções futuras. Perguntas do tipo: quando vão se casar? Isso havia se tornado comum. Luís, há dois anos no dia dos namorados, deu-lhe um anel de compromisso. Usava de vez em quando, esquecia sobre a mesa, o criado-mudo e uma vez foi parar dentro do aspirador de pó, tal o seu relaxo com o objeto, que considerava antiquado e claustrofóbico.
Neste dia dos namorados, Luís Teodoro prepara para Amália uma surpresa. Incauto e romântico comprou um par de alianças em uma joalheria. Mandou gravar o nome de Amália e a data: 12.06.2011. Pretende na mesma oportunidade propor o noivado. Mal sabe que sua pretendida tem passagem somente de ida para Londres, onde fará um curso de inglês com duração de dois meses. Depois espera ganhar o mundo, sem pouso ou regresso.
O amor e seus desencontros. Uns oferecem muito, outros recebem além do necessário. E quem poderá entender os mistérios e caprichos do coração?
CORRE-CORRE!
Ao amanhecer cobrei-me! Olhei este blog e, auto-zangada ( esta foi de doer, o Word grifou irritadíssimo), impus à autora deste blog ( Diva Latívia, ou seja, eu), que postasse mais textos.
Inspiração é artigo de primeira qualidade. Tal e qual em uma padaria é fundamental a qualidade da farinha de trigo, elemento básico para preparar pãezinhos. Pãozinho quente a toda hora. Textos de primeira qualidade todo o santo dia. Acho que nem mesmo Luís Fernando Veríssimo consegue tamanha façanha. Portanto, reles mortal que sou, ao amanhecer fiquei um tanto emburrada. Não tenho escrito com frequência, caro leitor.
Ser paulistana, ser dona de casa, ser profissional da área jurídica, ser mãe, irmã, ser o par de Divo Latívio. Corro pro trabalho, mas primeiro deixo duas casas em ordem: a minha e a casa 2, onde divido o espaço com meu par. Pago as minhas contas, enfrento aquela chatice que é o trânsito da cidade. Cumpro os prazos dos processos, sem esquecer de embelezar-me diante do espelho toda bendita manhã. Tempo, outro artigo fundamental, ingrediente que se torna mais raro a cada tic-tac do relógio.
Ontem, quando dei por mim, já passava das 19h00 e eu lá, trabalhando, sem ter notado o avanço das horas. Faltava muito pra finalizar o trabalho. Meu celular tocou, Divo já estava em casa. Suspirei resignada, não deu tempo. Quando cheguei em casa, depois de um beijo e abraço carinhosos, ele observou minhas olheiras. "Diva, que tal fazer uma compressa de chá de camomila?". Recusei, com os ossos e músculos doloridos devido ao corre-corre do dia. Em seguida, simpático, comentou algo sobre o cesto de roupas pra passar. Disse que seria ótimo passar ao menos as toalhas de banho e lençóis e poupar o trabalho da diarista, que viria amanhã, ou seja, hoje.
De vez em quando eu preciso ser de ferro. Não meus punhos, que se retesaram doidinhos pra esmurrar algum móvel, parede ou porta. Coisa de mulher das cavernas! Às vezes preciso engolir sapos ( não aqueles do Brejo Perfeito). Passar roupas depois de um dia que mais se pareceu com uma gincana, uma corrida maluca? Impossível. O bom senso, outro ítem raro em minha lista, falou mais alto. Contei até dois e desculpei-me: sorry, dear. I can´t. Traduzindo: nem morta, meu bem.
Ser mulher de mil e uma utilidades, tal e qual aquela propaganda da palhinha de aço, torna a fêmea parecida com Jeannie é Um Gênio, aquele antigo seriado televisivo. Bonitinha, moradora de uma garrafa, submissa ao amo a quem proporcionava bem estar total. Fosse o seriado atual, imaginem só o que mais faria Jeannie? Naquela época, anos 60, no seriado mostravam claramente que ela dormia dentro da garrafa e ele dormia sozinho, bem fechado em seu quarto. Quanto puritanismo, ainda bem que o tempo tem um lado bom: ele passa e modifica a mentalidade, varre pra longe a hipocrisia.
Não dormi dentro de uma garrafa esta noite. Dormi de conchinha, abraçada ao quentinho Divo Latívio. Cansada, um tanto acelerada pelo tal do stress, estresse, sei lá. O chá de camomila eu bebi. As olheiras estão melhores hoje, mas os ossos ainda reclamam, um tanto doloridos. Foi dada a largada para quarta-feira! Que o tempo passe, mas que dê tempo para completar a maratona do novo dia. E eis aqui o pãozinho saindo do forno, outro texto pra você!
21 de mai. de 2011
LEMBRANÇAS DE CRISTAL
O nosso brinde tilintou e no espaço o som do toque das taças de cristal fez com que eu lembrasse da cristaleira antiga, coisa do meu tempo de criança.
Jacarancá, árvore que hoje em dia está protegida das derrubadas. Ao menos na teoria, sim. Naquela época havia abastança e uma certa falta de precaução quanto ao futuro do planeta, pouco se falava sobre o bem do meio ambiente. Então, a cristaleira da sala de jantar era feita dessa árvore.
A altura da cristaleira, vista do solo por uma criança de cinco anos de idade, era gigantesca. Na parede de fundo do móvel havia um espelho, que refletia as muitas peças e também a minha presença a admirar as taças e jarras.
Havia uma poncheira, era de cristal murano. Coisa rara, que hoje em dia somente nas lojas e feiras de antiguidade é possível encontrar. Nas festas de final de ano o vermelho do ponche contrastava com o colorido azul de seu recipiente. Uma alegria para meus olhos, que assistia às bebericagens dos adultos.
As taças de champanhe! Não essas altinhas ou flute, como são chamadas. Eram taças largas, algumas bojudinhas. Vem daí a inspiração para o nome do modelo de sutiã: taça e meia-taça. Há sensualidade no fino toque do cristal.
As tacinhas de licor. Vermelhas, amarelas, verdes. Pequenos e doces brindes. E eu desfilava em frente a essa vitrine, incluída que estava nessa delicadeza e fragilidade da cristaleira.
- Vó, o que tá escrito nesse copo?
- Foi um presente de um cliente do vovô, querida.
- O que é isso que escreveram?
- É o nome do vovô e o nome da vovó, mas escreveram errado.
Lembro muito bem disso. Nosso sobrenome, Cavalcanti, escrito assim: “Calvacante”.
Valeu a intenção do tal cliente do vovô.
De todas aquelas maravilhas frágeis, uma delas era a minha preferida: rosa com filetinhos brancos, fosca. Era uma taça de vinho tinto. Algo que, em vão, já busquei em antiquários. Resta apenas a recordação.
Pedacinhos miúdos do meu quebra-cabeças de memórias, um mosaico cristalino que tilinta vez ou outra ao som de cristais.No ar um brinde e, a desfilar em minha lembrança, toda a minha vida.
Saúde!
19 de mai. de 2011
AMAR É UMA DELÍCIA!
Ontem à noite prometi ao Álvaro ( Divo Latívio) que escreveria esta crônica.
Faz algum tempo que recebi flores de quem sempre esperei. O Cara estava do outro lado da rua, sorrisinho satisfeito nos lábios. Naquela noite ele não usava óculos, acho que foi a única vez que usou lentes de contato. Espero que o grau das lentes seja ótimo, porque praticamente se derreteu ali, na calçada, quando me aproximei. Strangers in the Night poderia ser a nossa música. Praticamente éramos estranhos e como descobrir qual era a intenção do cavalheiro, ao praticamente babar ao me ver atravessar a rua?
O que aconteceu a seguir poderia entrar para o Guiness Book. Oito horas seguidas de conversa, sentados em um barzinho. Há quem jure de pés juntos que fomos ao motel. Nada disso, nos tornamos muito amigos, imediatamente. Entendemos nossas histórias e o envolvimento foi tanto que a paixão aconteceu muito depressa.
Quando ele me pediu em namoro não estávamos juntos. Ele estava em uma webcam. Notebook de um lado, um velho PC do outro lado. E eu, cara de pau que sempre fui, aceitei o pedido. Ainda demorou para nos reencontrarmos, isso aconteceu durante uma partida de futebol que assistimos em outro barzinho. E, de bar em bar, nos tornamos namorados. Torcemos para o mesmo time, perdemos o gol e a comemoração foi de termos finalmente nos acertado.
Desse dia em diante tudo mudou. Eu voltei a cozinhar, ele voltou a sonhar. Ganhei irmãos, mãe, sobrinhos. E, cá entre nós, não contem pra ele, muita gente pensa que somos casados. E eu? Ah, eu fico bem quietinha, porque está por um triz esse tal de casamento.
Parei aqui alguns instantes buscando o melhor adjetivo para traduzir o meu sentimento. A palavra “delícia” ficou pulando ao meu redor de modo insistente. Então, eis o que penso a respeito de tudo o que nos ocorre, meu querido Divo: é uma delícia!
Parabéns pra nós dois, que superamos muitas coisas para chegarmos aqui. Não vou ajoelhar no milho pra agradecer a Santo Antônio, mas agradeço muito a Deus a possibilidade de experimentar, finalmente, o que significa ser uma Mulher de Verdade!
Coisa boa que é ter com quem celebrar a vida!
Faz algum tempo que recebi flores de quem sempre esperei. O Cara estava do outro lado da rua, sorrisinho satisfeito nos lábios. Naquela noite ele não usava óculos, acho que foi a única vez que usou lentes de contato. Espero que o grau das lentes seja ótimo, porque praticamente se derreteu ali, na calçada, quando me aproximei. Strangers in the Night poderia ser a nossa música. Praticamente éramos estranhos e como descobrir qual era a intenção do cavalheiro, ao praticamente babar ao me ver atravessar a rua?
O que aconteceu a seguir poderia entrar para o Guiness Book. Oito horas seguidas de conversa, sentados em um barzinho. Há quem jure de pés juntos que fomos ao motel. Nada disso, nos tornamos muito amigos, imediatamente. Entendemos nossas histórias e o envolvimento foi tanto que a paixão aconteceu muito depressa.
Quando ele me pediu em namoro não estávamos juntos. Ele estava em uma webcam. Notebook de um lado, um velho PC do outro lado. E eu, cara de pau que sempre fui, aceitei o pedido. Ainda demorou para nos reencontrarmos, isso aconteceu durante uma partida de futebol que assistimos em outro barzinho. E, de bar em bar, nos tornamos namorados. Torcemos para o mesmo time, perdemos o gol e a comemoração foi de termos finalmente nos acertado.
Desse dia em diante tudo mudou. Eu voltei a cozinhar, ele voltou a sonhar. Ganhei irmãos, mãe, sobrinhos. E, cá entre nós, não contem pra ele, muita gente pensa que somos casados. E eu? Ah, eu fico bem quietinha, porque está por um triz esse tal de casamento.
Parei aqui alguns instantes buscando o melhor adjetivo para traduzir o meu sentimento. A palavra “delícia” ficou pulando ao meu redor de modo insistente. Então, eis o que penso a respeito de tudo o que nos ocorre, meu querido Divo: é uma delícia!
Parabéns pra nós dois, que superamos muitas coisas para chegarmos aqui. Não vou ajoelhar no milho pra agradecer a Santo Antônio, mas agradeço muito a Deus a possibilidade de experimentar, finalmente, o que significa ser uma Mulher de Verdade!
Coisa boa que é ter com quem celebrar a vida!
10 de mai. de 2011
A CELEBRAÇÃO DO AMOR
Quanto tempo faz? Ele estava do outro lado da rua, parado na calçada. Quando desci a escadaria do prédio e caminhei na sua direção, pela primeira vez observei o seu olhar. Depressa tirei minhas conclusões: ele é doce, romântico e tímido. Tudo isso ao mesmo tempo!
Eu estava feliz, finalmente alguém parecido com o homem com quem eu tinha sonhado: jeito de bom moço, tranquilo, gestos calmos. Um cavalheiro que, ao abrir a porta do carro pra mim, reservava uma surpresa: um bouquet de flores do campo.
Não soube ao certo o que fazer, agradeci sem jeito. Pedi licença e voltei ao apartamento, deixei as flores sobre a mesa da cozinha. Quando voltei ao andar térreo o porteiro não se conteve: - Ganhou flores, né? Quem deu foi ele? E apontou na direção do carro estacionado a poucos metros do portão.
Fomos a um barzinho. A prosa estava tão boa que não notamos o tempo passar. Não lembro ao certo, acho que foram 8 horas sentados à mesa. O garçom praticamente nos pediu que fôssemos embora, ofereceu o último drink, avisou que o bar iria fechar. Quando nos levantamos pra ir embora, eu me senti vitoriosa. Tanto tempo procurando e lá estava o homem dos meus sonhos. Disfarcei o contentamento do jeito que pude.
Fui conduzida de volta à minha casa. Observei seu olhar esticado pro meu prédio. Não, eu não o convidei pra subir. O que ele pensaria de mim, afinal? A despedida foi um abraço e um beijo no rosto. Não sabia dizer se voltaríamos a nos encontrar, ainda observei seu carro sumir na curva à direita.
Esse foi o nosso primeiro encontro, quando fui convidada para sairmos juntos. Quanto tempo faz? Perdi as contas. Faz tanto tempo que não sei mais soletrar a palavra solidão. Ainda hoje conversamos sem perceber a passagem das horas. De vez em quando ele traz flores pra mim, mas guardei uma daquelas primeiras flores dentro de uma caixinha. Uma recordação bonita, um momento inesquecível.
Ser namorado é estado de alma. Não importa se está casado, se mora junto, se o relacionamento é novo ou antigo. Ser namorado é ter um compromisso com o próprio coração.
Há quanto tempo... Cegos que fomos, voltamos a enxergar e nos vimos, finalmente!
Vivo feliz ao seu lado. Vivo novamente. O sonho virou semente, enraizou-se a agora floriu. Vejo meu sorriso no brilho dos seus olhos. Pode ver-se nos olhos meus? Um amor tão grande que coube certinho dentro de dois corações. Nós dois, feitos sob medida um pro outro. Sente o quanto estou feliz? Com você tudo mudou. Meu sorriso se casou com o seu olhar e nós dois fomos os convidados. Que festa se tornou a vida! Quanta vida ganhou a vida!
2 de mai. de 2011
DIA DAS MÃES
Depois de alguns anos descobri que aquele perfume suave e tão gostoso de sua pele era pó de arroz. Maquiagem leve, rostinho de menina. Lembro bem de um abraço que ofertei. Meus braços curtinhos, ela estava em pé. Abracei suas pernas. Estava vestida com uma saia de lãzinha, xadrez discreto, tons marfim e rosa. Brincar com suas bijuterias era mais do que diversão. Um aprendizado, foi isso. Aprendi a combinar pérolas com seda, a identificar pedras, metais. Calçar seus sapatos, aqueles scarpins de bico fino e, meio cambaleante, apresentar-me cheia de orgulho à minha doce protagonista: Mami. Com ela aprendi pontos de tricô. Ponto meia, ponto arroz, tranças. Aprendi a bordar, a pregar botões, vidrilhos, cristais delicados e miudinhos. Aprendi a preparar alguns pratos deliciosos, a usar talher de peixe. Mami tinha modos aristocráticos.
Quando escolhi as flores brancas para ornamentar a sua sepultura, o aroma que chegou na brisa foi de pó de arroz. Voltei no tempo, a saudade apertou tanto que precisei ajoelhar-me no gramado do cemitério do Morumbi e tentar me recompor. Estava coberto de razão quem primeiro disse que “mãe é mãe”. Pra mim, não importa o quanto ela possa ter errado, ela foi a minha mãe: Mami. Será o segundo ano sem a sua presença no Dia das Mães. Pra compensar, o destino me trouxe uma sogra que tem os olhinhos claros, que entende de alta costura, que foi criada ao modo europeu. Ela se parece muito com minha mãe. Acho, Deus quis amenizar a minha dor. E é pra ela que seguirá a minha homenagem nesse dia.
Mãe não é gente. Mãe é Anjo. Mãe arrisca a própria vida pra trazer um filho ao mundo. Mãe se desdobra, se desmancha e não se cansa. Também sou mãe, sei que o amor que tenho pelo meu filho se aproxima do Amor de Deus.
Saudade da minha querida. No Dia das Mães estarei ao lado da minha outra Mami, aquela que me recebeu de braços e coração abertos. A vida leva, a vida traz. Feito o aroma gostoso de pó de arroz, que sempre ficará na minha lembrança.
A você que é Mãe, parabéns pelo seu dia.
A você, que foi minha Mãe aqui na Terra, que está juntinho do Papai do Céu, segue a minha saudade, o meu Amor e mais este texto. Te amo, Mãe!
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