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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







21 de mai. de 2011

LEMBRANÇAS DE CRISTAL


O nosso brinde tilintou e no espaço o som do toque das taças de cristal fez com que eu lembrasse da cristaleira antiga, coisa do meu tempo de criança.
Jacarancá, árvore que hoje em dia está protegida das derrubadas. Ao menos na teoria, sim. Naquela época havia abastança e uma certa falta de precaução quanto ao futuro do planeta, pouco se falava sobre o bem do meio ambiente. Então, a cristaleira da sala de jantar era feita dessa árvore.
A altura da cristaleira, vista do solo por uma criança de cinco anos de idade, era gigantesca. Na parede de fundo do móvel havia um espelho, que refletia as muitas peças e também a minha presença a admirar as taças e jarras.
Havia uma poncheira, era de cristal murano. Coisa rara, que hoje em dia somente nas lojas e feiras de antiguidade é possível encontrar. Nas festas de final de ano o vermelho do ponche contrastava com o colorido azul de seu recipiente. Uma alegria para meus olhos, que assistia às bebericagens dos adultos.
As taças de champanhe! Não essas altinhas ou flute, como são chamadas. Eram taças largas, algumas bojudinhas. Vem daí a inspiração para o nome do modelo de sutiã: taça e meia-taça. Há sensualidade no fino toque do cristal.
As tacinhas de licor. Vermelhas, amarelas, verdes. Pequenos e doces brindes. E eu desfilava em frente a essa vitrine, incluída que estava nessa delicadeza e fragilidade da cristaleira.
- Vó, o que tá escrito nesse copo?
- Foi um presente de um cliente do vovô, querida.
- O que é isso que escreveram?
- É o nome do vovô e o nome da vovó, mas escreveram errado.
Lembro muito bem disso. Nosso sobrenome, Cavalcanti, escrito assim: “Calvacante”.
Valeu a intenção do tal cliente do vovô.
De todas aquelas maravilhas frágeis, uma delas era a minha preferida: rosa com filetinhos brancos, fosca. Era uma taça de vinho tinto. Algo que, em vão, já busquei em antiquários. Resta apenas a recordação.
Pedacinhos miúdos do meu quebra-cabeças de memórias, um mosaico cristalino que tilinta vez ou outra ao som de cristais.No ar um brinde e, a desfilar em minha lembrança, toda a minha vida.
Saúde!

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando olhamos as peças isoladamente o quebra-cabeças não faz sentido, mas ao juntarmos o "mosaico, a magia se faz! Cheiros, imagens, sons... sons de risadas, imagens de festas e cheiros de casa. Assim foi nossa infância. Aquilo que não era “cor de rosa” a nossa inocência transformava em “rosa chá”. Saudade e uma palavra genuinamente portuguesa. O único idioma a exprimir algo que é quase inexplicável. Algo que só aumenta com o passar dos anos e mais doce me parece.
Beijos, amor e saudade de você.
Sei irmão mais distante (mas não ausente... rsrsrs).

Cláudia Cavalcanti disse...

É na infância, com todos os sentidos guardados na lembrança e gravados na alma, que nos refugiamos. Meus irmãos,coadjuvantes da minha história!
Amo você, Zeca!

Beijo da irmãzinha!