Estávamos reunidos em pleno almoço de domingo quando escutei algo sobre irmos ao show de Village People, aqui em São Paulo, no dia 27 de maio. Sei lá o que me dá, escutei, mas não assimilei a ideia. A surpresa aconteceu na noite em que Divo me entregou um envelope e, dentro dele, alguns pares de ingressos para o show. Coisa chique, acomodações em camarote.
Sexta-feira, dia 27. Divo saiu de casa sem esquecer de um detalhe, especulou sobre eu ter escolhido a roupa que vestiria. Olhei pra malinha que comigo vai e volta diversas vezes durante a semana. Nada especial: jeans, moletons, bota, tênis. Entendi o recado: eu deveria mega-me-produzir!
Quando a noite chegou eu brilhava mais que as estrelas escondidas por detrás das muitas nuvens de frio e chuva do céu paulistano. Preto e lantejoulas, salto altíssimo, maquiagem caprichada. Afinal, tratava-se de um pedacinho da minha história, aquele grupo que embalou muitos bailinhos de garagem, muitos momentos felizes da adolescência e que me trazia lembranças adoráveis. Momento mágico requer alta produção, sempre!
Divo chegou em casa e sorriu contente. Lá estava a sua “garota”, tão enfeitada quanto sonhou encontrá-la. O que veio depois fez valer a minha estampa: uma das noites mais divertidas da minha vida.
Quando ali chegamos, encontramos os irmãos e cunhadas de Divo. Entramos. Tudo meio quieto, era cedo, o público ainda chegava aos pouquinhos. Pediram uma garrafa de vinho, outra de uísque, porçõezinhas para petiscar. Uma taça, duas taças. O calor me obrigou a permanecer sem o casaco e a echarpe de seda. Três taças e eis que começou o show. Macho Man! Fui puxada pela mão, sobre o saltão 10, scarpin de verniz preto, bico finíssimo. Divo, criatura tímida e reservada, era quem mais pulava. In The Navy! E nós dois lá, em meio a irmãos tão empolgados que pareciam ter, no máximo, 18 anos de idade.
Pra quem curtiu Village People na década de 70, algo imperdível. Viajei ao passado, pra antiga casa cor-de-rosa onde nasci e cresci, no bairro de Moema. Ali, meus irmãos e eu tínhamos um espaço reservado, um quarto no andar térreo do apartamento dos fundos do casarão, destinado à alegria: música, amigos e uma mesinha de bilhar. Ainda sonho que estamos ali, curtindo o presente e confiando no futuro. Village People saltou do aparelho de som 3 em 1, pulou do disco de vinil e deu um show ao vivo.
A magia fechou seu ciclo com Y.M.C.A. O índio, eu não podia tirar os olhos dele! Sempre foi o meu preferido! Quantas danceterias, bailinhos, momentos e histórias aquelas músicas me trazem à lembrança? Um elo entre o passado e o presente, momento inesquecível! Hoje, sábado, amanheci um tanto rouca, tal foi a cantoria de ontem. Os pés sobreviveram. Ainda na cama, despertando, ri ao calcular que somos tios na balada. Uma balada com décadas a mais, mas a alma ainda é de uma garota e assim sempre será.
Village People, vocês fazem parte de mim, da minha vida e da minha história! Corri até meus antigos LPS, as bolachonas de vinil. Falta aquele disco. Ah, os irmãos! Alguém levou embora a relíquia, mas a capa do disco não esqueci, ela ilustra este texto. Pedacinhos de lembranças, uma colcha de retalhos que dá sentido à vida. Ontem foi feito ponte, uma via que passou sobre toda minha vida e me tornou de novo adolescente.
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