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Cheguei em casa depois de um dia longo, cansativo, uma quarta-feira dessas que parecem infindáveis. Meu desejo era básico: um banho. Coloquei a chave na porta de casa, a sensação era de entrar no meu refúgio. Lar, doce lar!
Não deu tempo de suspirar feliz. Dei de cara com minha valiosa ajudante, a Zezé.
- Ô, dona Diva, a senhora sabe o que foi que aconteceu?
Minha vontade de abstrair aquelas palavras foi imediata. Preferia não ter ouvido nada.
Praticamente me joguei sobre o sofá. Exausta, uma guerreira de volta ao quartel-general.
- Pode dizer, Zezé.
- Eu abri aquela sua gaveta sem querer.
Tentei imaginar qual gaveta ela abriu. Gaveta de calcinhas? De remédios? De documentos? Essa terceira hipótese me afligiu.
- Qual gaveta?
- Tinha umas fotografias.
Era o que eu temia.
- A senhora usava franjinha quando era criança, né?
Eu me senti nua. Zezé pegou as minhas fotografias de infância. Naquela gaveta estavam as fotos de toda minha vida. Meus pais, meus avós, meus bisavós. Meu casamento, meu sorriso de felicidade. Amigos de outrora, gente que foi embora. Fotos em branco e preto, fotos que nem lembro mais. Minha vida retratada. E Zezé abriu a gaveta.
- O que mais você viu, Zezé?
- Vi a senhora feliz.
Isso foi o meu sinal de alerta. Eu já fui feliz. Não que eu não seja feliz, não é isso. Mas, olhando as fotos eu pareço ter sido muito mais feliz. Uma criança com o olhar inocente, uma adolescente sorridente. Quando será que a vida me pegou de surpresa e me chacoalhou assim? Quando será que perdi aquele mesmo sorriso, aquele brilho que eu tinha no meu olhar? Sei lá quanto tempo fiquei assim, a pensar na vida.
Fui pro banho e resolvi não jantar. Eu me tranquei no quarto e espalhei muitas fotos sobre a cama. Adormeci tarde, os álbuns antigos ao meu redor. E sonhei que ainda era criança, abraçada aos meus irmãos. Um sonho que se tornou colorido, mais e mais. Um jardim florido, cercada da proteção de meus super-heróis. Não sei explicar, não sei! Minha vida inteira coube dentro de uma gaveta!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
9 de nov. de 2011
FOTOGRAFIAS DE MIM
Cheguei em casa depois de um dia longo, cansativo, uma quarta-feira dessas que parecem infindáveis. Meu desejo era básico: um banho. Coloquei a chave na porta de casa, a sensação era de entrar no meu refúgio. Lar, doce lar!
Não deu tempo de suspirar feliz. Dei de cara com minha valiosa ajudante, a Zezé.
- Ô, dona Diva, a senhora sabe o que foi que aconteceu?
Minha vontade de abstrair aquelas palavras foi imediata. Preferia não ter ouvido nada.
Praticamente me joguei sobre o sofá. Exausta, uma guerreira de volta ao quartel-general.
- Pode dizer, Zezé.
- Eu abri aquela sua gaveta sem querer.
Tentei imaginar qual gaveta ela abriu. Gaveta de calcinhas? De remédios? De documentos? Essa terceira hipótese me afligiu.
- Qual gaveta?
- Tinha umas fotografias.
Era o que eu temia.
- A senhora usava franjinha quando era criança, né?
Eu me senti nua. Zezé pegou as minhas fotografias de infância. Naquela gaveta estavam as fotos de toda minha vida. Meus pais, meus avós, meus bisavós. Meu casamento, meu sorriso de felicidade. Amigos de outrora, gente que foi embora. Fotos em branco e preto, fotos que nem lembro mais. Minha vida retratada. E Zezé abriu a gaveta.
- O que mais você viu, Zezé?
- Vi a senhora feliz.
Isso foi o meu sinal de alerta. Eu já fui feliz. Não que eu não seja feliz, não é isso. Mas, olhando as fotos eu pareço ter sido muito mais feliz. Uma criança com o olhar inocente, uma adolescente sorridente. Quando será que a vida me pegou de surpresa e me chacoalhou assim? Quando será que perdi aquele mesmo sorriso, aquele brilho que eu tinha no meu olhar? Sei lá quanto tempo fiquei assim, a pensar na vida.
Fui pro banho e resolvi não jantar. Eu me tranquei no quarto e espalhei muitas fotos sobre a cama. Adormeci tarde, os álbuns antigos ao meu redor. E sonhei que ainda era criança, abraçada aos meus irmãos. Um sonho que se tornou colorido, mais e mais. Um jardim florido, cercada da proteção de meus super-heróis. Não sei explicar, não sei! Minha vida inteira coube dentro de uma gaveta!
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