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Em plena Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, meus passos apressados, entre rostos desconhecidos, automóveis, vultos acelerados. Saí da estação do metrô e alcancei a rua. Eu tinha apenas uma hora para resolver algo burocrático, chato, urgente. Todo documento é precedido de uma imensa amolação. Autorizações, arquivos, pendências, carimbos, grampos, papéis, assinaturas. E eu, com aquele papelzinho em mãos, só precisava encontrar quem recebesse o documento, pra resolver a questão e voltar ao escritório.
Já entrei estressada no edifício comercial. Santa paciência, ir de salto alto a uma avenida daquelas? Pensei em tirar os sapatos e andar descalça, ganharia tempo. Jurei que, na próxima vez, usaria tênis. Já vi isso por aí, mulheres vestidas de tailleur, roupa formal, e tênis nos pés. Deselegante, talvez, mas a solução pareceu inteligente naquele momento. Um lamento. Meus pés doíam.
Na recepção do prédio venci o primeiro obstáculo: - já tem cadastro conosco? Não, eu não tinha cadastro algum. - Seu RG, por favor. A mania de usar bolsa grande, isso também preciso rever. Dentro da minha bolsa tinha de tudo. Encontrei um grampeador de papel, escova de cabelo, a fatura do cartão de crédito, uma sombrinha ( isso é coisa do tempo da vovó). - Acho que esqueci o RG no escritório. Andar por aí sem documentos, querer ficar descalça. Onde estaria o meu juízo? Por falar em juízo, tentei argumentar com a recepcionista. - Meu bem, eu não trouxe o RG porque saí correndo do escritório. Por favor, me ajude, senão vou perder meu emprego.
Acho que ela sentiu peninha de mim, consegui o que pretendia. A foto, feita com aquela webcam, deve ter ficado horrorosa. - Olhe pra cá, por favor. Clic! Eu de óculos de grau, cabelos desalinhados, com cara de quem ia entregar um papel pra um tal de diretor financeiro de uma tal de instituição. Cruz, credo!
Crachá deveria ser aquela coisa pendurada no pescoço. Agora não é bem assim. A gente encosta o crachá em uma catraca eletrônica. Aparece uma setinha verde e pronto, pode passar. O crachá que estava comigo parecia ter entrado em greve, não funcionava. Uma, duas, três tentativas. Vontade de falar aquele palavrão bem cabeludo. Ao meu lado um segurança do tipo 3x4, fortão. – Mocinha, você precisa de ajuda? Sorrindo, o olhar brilhando, ele liberou a catraca, finalmente. E tem coisa melhor que encontrar um príncipe encantado em um momento de sufoco?
A mocinha aqui resolveu o problema burocrático, passou de novo pela catraca eletrônica e escutou algo assim: - Até logo, senhorita. Voltei pro escritório. Eu, dez quilos mais magra, dez anos mais jovem, dez vezes mais poderosa. Senhorita Mocinha! Pra quê mais?
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
23 de nov. de 2011
SENHORITA MOCINHA
Em plena Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, meus passos apressados, entre rostos desconhecidos, automóveis, vultos acelerados. Saí da estação do metrô e alcancei a rua. Eu tinha apenas uma hora para resolver algo burocrático, chato, urgente. Todo documento é precedido de uma imensa amolação. Autorizações, arquivos, pendências, carimbos, grampos, papéis, assinaturas. E eu, com aquele papelzinho em mãos, só precisava encontrar quem recebesse o documento, pra resolver a questão e voltar ao escritório.
Já entrei estressada no edifício comercial. Santa paciência, ir de salto alto a uma avenida daquelas? Pensei em tirar os sapatos e andar descalça, ganharia tempo. Jurei que, na próxima vez, usaria tênis. Já vi isso por aí, mulheres vestidas de tailleur, roupa formal, e tênis nos pés. Deselegante, talvez, mas a solução pareceu inteligente naquele momento. Um lamento. Meus pés doíam.
Na recepção do prédio venci o primeiro obstáculo: - já tem cadastro conosco? Não, eu não tinha cadastro algum. - Seu RG, por favor. A mania de usar bolsa grande, isso também preciso rever. Dentro da minha bolsa tinha de tudo. Encontrei um grampeador de papel, escova de cabelo, a fatura do cartão de crédito, uma sombrinha ( isso é coisa do tempo da vovó). - Acho que esqueci o RG no escritório. Andar por aí sem documentos, querer ficar descalça. Onde estaria o meu juízo? Por falar em juízo, tentei argumentar com a recepcionista. - Meu bem, eu não trouxe o RG porque saí correndo do escritório. Por favor, me ajude, senão vou perder meu emprego.
Acho que ela sentiu peninha de mim, consegui o que pretendia. A foto, feita com aquela webcam, deve ter ficado horrorosa. - Olhe pra cá, por favor. Clic! Eu de óculos de grau, cabelos desalinhados, com cara de quem ia entregar um papel pra um tal de diretor financeiro de uma tal de instituição. Cruz, credo!
Crachá deveria ser aquela coisa pendurada no pescoço. Agora não é bem assim. A gente encosta o crachá em uma catraca eletrônica. Aparece uma setinha verde e pronto, pode passar. O crachá que estava comigo parecia ter entrado em greve, não funcionava. Uma, duas, três tentativas. Vontade de falar aquele palavrão bem cabeludo. Ao meu lado um segurança do tipo 3x4, fortão. – Mocinha, você precisa de ajuda? Sorrindo, o olhar brilhando, ele liberou a catraca, finalmente. E tem coisa melhor que encontrar um príncipe encantado em um momento de sufoco?
A mocinha aqui resolveu o problema burocrático, passou de novo pela catraca eletrônica e escutou algo assim: - Até logo, senhorita. Voltei pro escritório. Eu, dez quilos mais magra, dez anos mais jovem, dez vezes mais poderosa. Senhorita Mocinha! Pra quê mais?
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