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Quando era menina escutava a história de seus avós, enquanto saboreava bolo de fubá e café com leite. Sentados à mesa, a viagem seguia rumo ao passado, início do século XX. Na distante cidadezinha de interior, mais precisamente em 1941, seu avô, Laércio, vestido de terno de linho branco e elegante chapéu, entoava serenatas sob a janela de sua avó, Amália. O coral de vozes era formado pelos colegas da faculdade de Direito, acompanhados no violão por Silas, o farmacêutico. O repertório era de modinhas, hoje fora de moda.
Ai, ioiô,
Eu nasci pra sofrer.
Foi olhar pra você,
Meus zoinho fechou.
E quando os óio eu abri
Quis gritar, quis fugir.
Mas você,
Eu não sei porquê,
Você me chamou.
A noite nem bem havia caído, sob a janela do quarto da mocinha a turma de amigos caprichava na afinação e desfiava o repertório musical. Assim foi durante muito tempo, todos os domingos, até que o Vô Laércio terminou a faculdade, se firmou na profissão e, finalmente, pediu pro pai da Vó Amália a sua mão em casamento.
Desde os tempos de menina, a cena que idealizava ao escutar aquela história atiçava a faísca romântica dentro de si. Sete décadas mais tarde, sentada na sala de seu apartamento. O notebook pertinho. Abriu os e-mails, entre as mensagens estava aquela que fez seu coração bater mais forte, mensagem dele. O título escrito apressadamente pelo remetente: pra vc. Assim estava escrita a mensagem: aceita uma serenata? Baixou o arquivo mp3 e ouviu a canção, entoada por um coral. Viajou ao passado, foi de encontro aos avós ainda jovens, foi à cidadezinha tão pequena, iluminada pelo luar.
Ai, ioiô,
Tenha pena de mim.
Meu senhor do Bonfim
Pode inté se zangar.
E se ele um dia souber
Que você é que é
O ioiô de iaiá.
Terminou de escutar a música e suspirou. Finalmente, a serenata a encontrou. Atravessou o tempo e chegou de modo inusitado, eletrônico. Sem terno branco, sem reverência. O mesmo amor, o mesmo gesto, de outra forma, em outra época. Gravou o arquivo em um pen drive com o seguinte título: serenata dele pra mim.
Chorei toda noite, pensei
Nos beijo de amor que te dei.
Ioiô, meu benzinho do meu coração,
Me leva pra casa, me deixa mais não.
Chorei toda noite, pensei
Nos beijo de amor que te dei.
Ioiô, meu benzinho do meu coração,
Me leva pra casa, me deixa mais não.
Na voz de Zélia Duncan, Linda Flor ( Ioiô de Iaiá).
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
12 de nov. de 2011
IOIÔ DE IAIÁ ( pra vc)
Quando era menina escutava a história de seus avós, enquanto saboreava bolo de fubá e café com leite. Sentados à mesa, a viagem seguia rumo ao passado, início do século XX. Na distante cidadezinha de interior, mais precisamente em 1941, seu avô, Laércio, vestido de terno de linho branco e elegante chapéu, entoava serenatas sob a janela de sua avó, Amália. O coral de vozes era formado pelos colegas da faculdade de Direito, acompanhados no violão por Silas, o farmacêutico. O repertório era de modinhas, hoje fora de moda.
Ai, ioiô,
Eu nasci pra sofrer.
Foi olhar pra você,
Meus zoinho fechou.
E quando os óio eu abri
Quis gritar, quis fugir.
Mas você,
Eu não sei porquê,
Você me chamou.
A noite nem bem havia caído, sob a janela do quarto da mocinha a turma de amigos caprichava na afinação e desfiava o repertório musical. Assim foi durante muito tempo, todos os domingos, até que o Vô Laércio terminou a faculdade, se firmou na profissão e, finalmente, pediu pro pai da Vó Amália a sua mão em casamento.
Desde os tempos de menina, a cena que idealizava ao escutar aquela história atiçava a faísca romântica dentro de si. Sete décadas mais tarde, sentada na sala de seu apartamento. O notebook pertinho. Abriu os e-mails, entre as mensagens estava aquela que fez seu coração bater mais forte, mensagem dele. O título escrito apressadamente pelo remetente: pra vc. Assim estava escrita a mensagem: aceita uma serenata? Baixou o arquivo mp3 e ouviu a canção, entoada por um coral. Viajou ao passado, foi de encontro aos avós ainda jovens, foi à cidadezinha tão pequena, iluminada pelo luar.
Ai, ioiô,
Tenha pena de mim.
Meu senhor do Bonfim
Pode inté se zangar.
E se ele um dia souber
Que você é que é
O ioiô de iaiá.
Terminou de escutar a música e suspirou. Finalmente, a serenata a encontrou. Atravessou o tempo e chegou de modo inusitado, eletrônico. Sem terno branco, sem reverência. O mesmo amor, o mesmo gesto, de outra forma, em outra época. Gravou o arquivo em um pen drive com o seguinte título: serenata dele pra mim.
Chorei toda noite, pensei
Nos beijo de amor que te dei.
Ioiô, meu benzinho do meu coração,
Me leva pra casa, me deixa mais não.
Chorei toda noite, pensei
Nos beijo de amor que te dei.
Ioiô, meu benzinho do meu coração,
Me leva pra casa, me deixa mais não.
Na voz de Zélia Duncan, Linda Flor ( Ioiô de Iaiá).
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