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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







4 de nov. de 2011

AOS BAILINHOS DE GARAGEM


Meu vestido era azul com a estampa de flores miudinhas de cor branca. Na barra havia um babado e na cintura um laço. Minissaia. O salto da sandália que eu usava não era muito alto, acho que tinha uns sete centímetros. Nos meus lábios, brilho “love in gloss”. O perfume era "Charlie", da Revlon. Em pleno verão, bronzeada. Nada de protetor solar, na década de 70 usávamos bronzeador, de preferência caseiro e feito com ingredientes que hoje em dia são considerados um atentado ao bom senso de qualquer um. Cabelos longos e esvoaçantes, as garotas copiavam o corte do cabelo de Farrah Fawcett, atriz protagonista do seriado televisivo As Panteras.
Bailinhos de garagem, eram assim chamadas as festinhas com música, luz negra e cuba libre. Ao som de Bee Gees, Donna Summer, Elton John, dançávamos soltos, ou de rostinho colado. Músicas lentas, ou músicas rápidas. Sempre tinha aquele garoto que a gente tinha paquerado o ano todo, sem muito resultado. Diferente do tempo atual, nenhuma menina “de família” ficava com este ou aquele. Um beijo na boca era sinal de namoro iniciado. Ele me beijou, estamos namorando! E chegar ao beijo era uma longa história, que às vezes começava no primeiro dia de aula, com a troca de olhares pelos corredores do colégio. Seguia lentamente até o dia do bailinho, com a presença de ambos e a sorte de tocar aquela música, o fundo musical ideal para tornar real o sonho sonhado durante longos meses. Quer dançar comigo?
Voltei no tempo, parece que estou escutando How Deep is Your Love. Amor intenso, ligeiro, inesquecível. Resolvi procurar no Facebook o meu primeiro amor. Certa de que visualizaria um senhor gordinho, grisalho e irreconhecível, digitei seu nome e, que surpresa, ele tem perfil no Facebook e está ótimo, o tempo lhe caiu bem! Eu me contive, não enviei um convite. Veterinário, mora longe da minha cidade, tem filhos, uma longa história que desconheço, afinal perdemos o contato há mais de trinta anos. O perfume que ele usava pareceu ter saltado do computador. Como pude me lembrar disso? Era colônia após barba, talvez emprestada do pai, ou de um irmão mais velho. Fomos namorados de meia dúzia de beijos e só isso. Ele se mudou, foi cursar a faculdade em outra cidade. Lembro que chorei durante um mês, sem parar.
Eu me casei com um, ele se casou com outra. E lá está a criatura no Facebook. E foi assim que vim pro Word, eu saí da internet por precaução. Melhor não mexer com o passado. Será? Possivelmente, sim. Depressa despertei das lembranças. Viajante do tempo, recém-chegada na estação do presente, uma viagem com duração de três décadas. Aqui desembarquei com ruguinhas ao redor dos olhos, mas o mesmo ideal romântico de sempre. O meu coração ainda é o de uma garota.
Deixo pra vocês a música que embalou aquele instante: How Deep is Your Love, da trilha sonora de um filme de enorme sucesso naquela época, Saturday Night Fever, estrelado por John Travolta.

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