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A gente segue o tempo, ano após ano. De criancinha à idade adulta, fazendo amigos, conhecendo novos lugares, experimentando emoções intensas, aprendendo e ensinando vida, do jeito mais simples e belo. A gente descobre coisas simples: melhor a chegada do que a partida, o abraço do que a despedida. O calor do colo materno, o primeiro olhar pro filho que acabou de nascer, as luzes coloridas das festas de Natal, a paixão que acelera o coração, o amigo que consola um momento de tristeza e celebra cada instante ao nosso lado. O livro que nos faz viajar na velocidade do pensamento, a música que nos leva a dançar. A brisa, o sol, o céu, as estrelas, o mar! E eu, que hoje completo mais um ano de vida, tenho muitas histórias que contei, outras tantas que espero ainda lhes contar.
Hoje, meu aniversário. Viver é compartilhar, ajudar, viver é amar e permitir-se ser amado. A você que torna meus dias, todos eles, uma imensa alegria em letrinhas que aqui publico, deixo de novo meu agradecimento. Meu leitor, minha leitora, este blog é um dos presentes mais bonitos que a vida me trouxe, pelas mãos de um irmão que partiu pro Céu, o Abílio. E é aqui que minhas lágrimas se tornam de alegria, diariamente. É aqui que as lágrimas que, ocasionalmente, choro de tristeza, eu transformo em prosa e versos.
Hoje, meu Natal, meu ano novo, afinal é meu aniversário. Deixo um abraço que abraça o mundo pra cada um de vocês. Meus leitores são o meu motivo, de vocês vem o incentivo pra que eu diariamente crie um novo texto.
Um beijo,
Cláudia ( Diva Latívia)
Deixo a música, Smile, de Charlie Chaplin. Aqui, na interpretação de Michael Jackson.
Foi a primeira vez que deixei o blog ligado no piloto automático. Explico: tirei uma semana de férias, junto com Divo embarquei em um cruzeiro rumo a Montevideo e Buenos Aires. Ainda escreverei algo sobre essa aventura, com momentos muitos, férteis ideias para novos textos. O frio cortante da região do Uruguai devolveu-me a já esquecida gripe. Febril, o corpo dolorido, levei os dois últimos dias de viagem meio na marra. Não havia o que fazer, o jeito era aproveitar o passeio, então aproveitei. Quem disse que caipirinha acaba com a gripe, errou!
Em casa, penso agora no dia de amanhã, meu aniversário. Pois é, Diva Latívia completará... Não deveria revelar mais a minha idade! Quem quisesse saber, teria que pesquisar no arquivo do blog o texto comemorativo do ano passado. Talvez, eu devesse estacionar minha idade em 41 anos. Não importaria se fossem 41 anos de vida, ou 41 anos de cara-de-pau, qualidade que a mim não falta, jamais.
Aniversário sempre teve um clima esquisito, ao menos pra mim. Feito uma marca invisível que foi alcançada, um passo a mais, talvez um passo a menos. Talvez, por isso, nunca gostei muito de fazer aniversário, o copo fica meio cheio, ou meio vazio. Mas, espero celebrar esta data com o delicioso vinho uruguaio, proveniente da bela vinícola que visitei. Se caipirinha não acaba com a gripe, quem sabe o vinho cumpra esse papel com eficiência, não é mesmo?
Creio, leitor, estou delirando. Coisas de quem atravessou a fronteira do Rio Grande do Sul usando apenas um biquininho. O frio soprava impiedosamente, apesar do sol brilhante. Coisas de quem quis abraçar o mar quando nele viu pousar um arco-íris. Coisas de Diva Latívia, em seu um ano pra lá do cinquentenário.
Da vida me resta aquilo o que traz alegria, aquilo o que pra mim é puro prazer. O sol, o céu, o mar, a flor, o sorriso, a lágrima, o abraço, o afeto, os versos, este texto. E pra quê mais? Que tudo o mais que me resta seja intenso e me faça me sentir viva, mais e mais. Este blog pra mim é isso, aqui eu me sinto feliz! Aqui a minha experiência é de pura celebração da vida!
E quem disse que o blog também não tem suas férias?
Voltarei em breve, com muito mais histórias para lhes contar! Aguardem!
Diva Latívia
Melhor da gripe, quero aqui agradecer a vocês que mandaram receitinhas caseiras e simpatias diversas para a minha recuperação.
O chá de gengibre com orégano, cascas de laranja e alho, esse foi sensacional para resolver aquele meu probleminha de prisão de ventre. Melhorei depois de três dias, depois de ir ao pronto-socorro e tomar soro na veia. Mesmo assim, a receita é ótima.
O chá de hortelã com limão, canela e cebola, esse me fez ficar enjoada, mas acabei dormindo depois de duas horas vendo tudo rodar. Portanto, muito bom esse chá.
Bom mesmo é o chá de alecrim com vick-vapo-rub. Esse me fez, literalmente, suar em bicas.
Agora, mais magrinha devido à desidratação causada pelo chá de gengibre, descansada devido à zoeira causada pelo chá de hortelã, desintoxicada devido à suadeira do chá de alecrim, sinto-me revigorada, pronta pra outra!
A simpatia do guarda-chuva foi ótima, realmente! Coloquei o guarda-chuva aberto na sala, com uma fitinha amarela amarrada em seu cabo. Dei sete voltinhas ao seu redor repetindo: “sai gripe, vai pra quem te merece!”. O único problema foi a vizinha do apartamento do bloco B, ela estava no terraço e, acho eu, filmou o ritual com o celular. Mas, isso é problema dela e do Youtube.
Mais uma vez, obrigada! O que seria de mim, não fossem meus leitores? Acho, sarei!
Foram horas a fio esperando que no painel eletrônico reluzisse, finalmente, o número da minha senha. Essas repartições públicas são mesmo caóticas!
Acho, cochilei durante alguns minutos, durante a infinita espera. Pudera, acordei às 05h00 pra chegar naquele local às 06h00. Meu número de chamada era 127! Muita gente deve ter dormido naquela fila, tinha uma senhora sentada em um banquinho. Teria trazido o banquinho de casa?
Acomodada em uma cadeira dessas com o assento bem duro e de plástico, a minha lombar doía impiedosamente. Descobri que meu celular tem um joguinho de paciência, perdi umas dez vezes. Por fim, desisti de jogar e comecei a fazer o que mais gosto: prestar atenção nas pessoas ao meu redor.
Um casalzinho parecia indiferente ao público e ao cenário frio do local. Beijava-se apaixonadamente, emitindo aqueles sons típicos dos beijos, os “shlpts” e “smacks” que provenientes de outros seres, que não nós mesmos, tornam-se um tanto repulsivos.
Duas crianças, premiadas com a lei da palmada, não obedeciam aos apelos inócuos da mãe. – Pedro Miguel, Paulo Olavo, voltem já aqui. E nada dos rebentos saltitantes voltarem. Deram várias voltas ao redor do imenso salão, uma brincadeira de bandido e mocinho, que rendeu tiros pra todo o lado.
Um homem parecia roncar. Ao seu lado uma senhora idosa fazia um barrado de crochê em um pano de prato. Finalmente encontrei uma boa distração. Duas mulheres sentadas na fila da frente falavam sobre a novela das 9. – Ai, eu odeio a Teresa Cristina, acho que aquela mulher é uma cobra! – É mesmo. Por falar em cobra, viu o tamanho da cobra que ela colocou no carro da Amália? – Vi sim, cobra venenosa! E eu, orelhas em pé, tentava acompanhar a conversa das duas. – Cida, se o Zé te traísse, do que você seria capaz? – Eu? Acho que eu dava o troco. E você, se o Tião te traísse, o que você faria? – Eu colocava remédio de prisão de ventre na cachaça dele, o vidro todo.
Comecei a rir. Imaginei alguém beber cachaça e depois ter um piriri irreparável. Boa vingança!
-Amiga, eu acho que o Tião não me ama mais. – Jura, amiga? Por que? – Ele não me beija na boca mais. – Nossa, querida, isso é muito grave. Será que você está com mau hálito? – Ai, amiga, que ideia! – Ou então... – Então o quê? – Ele pode ter outra! Daquela frase em diante, só pude escutar a tal da Cida nervosa, depois chorando, algo um tanto patético. Notei que a amiga da Cida parecia contente com o resultado alcançado, ou seja, outra cobra, páreo pra tal da Teresa Cristina.
Finalmente, o painel eletrônico iluminou o número 127. Em dois minutos fui atendida, tudo de acordo com o que é informado na plaquinha da entrada da repartição: “atendimento rápido ao cidadão”. Esqueceram de informar o tempo de espera, isso sim um atendimento de quinta categoria, coisa que ninguém merece! Quando estava de saída, lancei um olhar na direção de Cida e sua amiga ofídia. Pareciam animadas, o papo estava rolando solto. Acho, voltaram a falar da novela e esqueceram do Zé e do Tião. Melhor a ficção que a realidade, ao menos ali cobras picam, mas não atravessam a telinha do televisor.
Pensei e pensei em um adjetivo que definisse meu estado matinal. Finalmente encontrei a palavra que expressa minha situação atual: zoada!
Amanheci zoada!
O clima do verão costumava ser quente, com chuvas que chegavam durante a tarde. À noite tudo voltava ao normal, noites dignas de passeios ao luar. No dia seguinte, lá estava o sol a brilhar novamente. Podíamos nos estender na areia da praia, para colorir a pele com o bronzeado da cor do pecado. Tudo isso sem protetor solar, sem manchas na pele, sem envelhecimento precoce. Nem celulite existia!
Agora tudo mudou. Tem a tal da La Niña, irmãzinha do El Niño. Os dias de verão são chuvosos, nuvens sem fim a esconder o azul do céu. Quando o sol ocasionalmente brilha, vem com força total e parece querer fritar de modo inclemente os terráqueos. E dá-lhe camadas e mais camadas de filtro solar, óculos escuros, alertas sobre o perigo de contrair câncer de pele.
Zoada, com dor de garganta, dor no corpo, nariz entupido, vontade de voltar pra cama e só sair de lá à noite, depois de tomar um chá quente com aspirina. Gripe em pleno verão! Mas, que verão? Verão com temperatura muito abaixo do esperado! O acessório indispensável é o guarda-chuva! Até hoje não usei as sandálias novas, nem os vestidinhos de tecido leve e alcinha!
Lembrei de Santa Clara: Santa Clara, clareai! Pensei em São Pedro: Meu santinho, tenha dó de nós, que de tanta chuva logo viraremos peixes, criaremos escamas sobre nossa humana epiderme!
E, enquanto isso, lá no guarda-roupa, jaz a coleção de verão que adquiri com tanta vontade de aproveitar as férias de janeiro. Dentro de poucos dias o Oceano Atlântico será o meu tapete, rumo ao sul, rumo à caliente Buenos Aires, à doce Montevideo. Divo e eu, algo romântico, um cruzeiro para celebrar a nossa recente união. Porém, diz aquela mocinha da previsão do tempo que não há o menor sinal de estiagem, isso de acordo com as imagens de um tal de satélite meteorológico. Começo a me preocupar!
Enquanto digito, meus dedos doem, a moleza no corpo me faz empurrar o notebook pra longe. Admiro o texto a certa distância, entre um gole e outro de suco de laranja. Febril, provavelmente. Aproveito o delírio gripal para planejar o que levarei na bagagem desse cruzeiro. Casaco, capa de chuva, botas, cachecol, luvas e não posso esquecer do já mencionado guarda-chuva! Biquini? Isso é coisa que não me pertence mais! Bermuda? Nem pensar, não pretendo congelar as pernas. Será que servirão vinho quente à bordo? Um cruzeiro na neve! Poderei fazer de conta que outra vez é Natal e cantarei qualquer coisa do tipo Jingle Bell, acabou papel!
Que o mau tempo vá embora. Merecemos dias ensolarados, alegria quente, coisas típicas do verão. Tomara! Espero que o Universo desculpe o meu delírio, que isso não atraia mais nuvens pra cima de nossas cabeças. Escrevo enrolada em uma mantinha quente, meus pés dentro de pantufinhas felpudas, usando pijaminha de cor lilás. A febre, já verifiquei, é de 38 graus. Acho, tenho que ir ao pediatra. Sim, ao pediatra, afinal na última vez que pensei em ir a um geriatra, o cara me receitou tanta vitamina, tanta bomba, que em um mês eu estava mais doida do que o habitual. Um pediatra poderá receitar um xarope pra minha tosse, verificar minha carteirinha de vacinação!
Entre um espirro aqui, uma tossidinha ali, termino o texto. Que o verão se apresente, que deixe de fazer graça e depressa se faça! Não, Senhor Rei Sol, isso não é um convite para vir nos visitar. Isso é uma intimação! Compareça com urgência, no prazo máximo de 24 horas e traga com você temperaturas quentes, azul anil para pintar o nosso céu. Não esqueça de amornar a água do mar. E, se você não vier, prometo me tornar adepta dos esportes de inverno, na costa brasileira. Essa será a sua pena, por ter descumprido o prometido e nos deixado trancados em casa, em pleno janeiro. Órfãos do verão!
Diva em pleno delírio febril se despede dos leitores. Até a próxima crônica! Atchim!
- Querida, vou preparar o nosso jantar, hoje eu quero que você descanse! Quer que eu te prepare um drink?
Fiquei lisonjeada, finalmente eu teria alguns momentos de folga, Divo assumiria a cozinha! Fui até o quarto, deitei confortavelmente na cama, peguei um creme hidratante, passei nos pés. Liguei o rádio na minha estação preferida, escutei música calma, relaxante. Quase tinha pegado no sono quando ele me chamou:- Diva, preciso que venha aqui!
Zoada, tonta de sono, entrei na cozinha que mais parecia um caos. Tinha cebola picada espalhada pela pia, em cima do fogão tinha pano de prato, em cima da mesa tinha pano de chão. Ele tinha usado o liquidificador, a batedeira, a torradeira, duas frigideiras, a panela de pressão. O pano de prato, tão lindo, com biquinho de crochê, estava todo sujo de molho de tomate!
-Diva, meu bem, eu estava ocupado pra levar seu drink.
Ofereceu uma bebida colorida, muito bonita, caprichada. O sorriso de expectativa parecia o de um garotinho que aguarda um elogio do adulto. Fiz de conta que não queria esganá-lo de tanta raiva, agradeci a bebida e voltei pro quarto.
Demorou mais de uma hora, quando ele me chamou pra jantar. Preferi não entrar de novo na cozinha, aliás, passei direto pela cozinha sem olhar em sua direção. O jantar estava ótimo, tinha bife acebolado, tinha macarronada, tinha bolinho de arroz, tinha salada com molho de mostarda, tinha até sobremesa caramelada. Creio, engordei uns dois quilos, pelo menos. Assim que terminei de comer, ele me disse: - agora, você lava a louça, certo?
Errado! Não lavei a louça. Uma coisa é lavar os pratos, copos e talheres do jantar. Outra coisa é ter que limpar o fogão, a pia, a parede, o chão. Acho que aquela mancha na parede era de molho rosé. Enfim, eu disse pro Divo um sonoro NÃO!
Fomos dormir, ele mal humorado. Quando acordei, a casa estava do mesmo jeito. A cozinha parecia o refeitório do inferno, a sala de jantar estava do jeito que a deixei. Tomei um banho, calcei meu par de tênis e fui caminhar no parque, tentando não pensar na situação, a cada volta na pista de cooper eu tentava exorcizar a ira que se apossava de mim. Quando cheguei em casa, Divo tinha acordado. Estava sentado na varanda da sala, olhando pro horizonte. Arrisquei dizer bom dia, ele me olhou de um jeito cortante e não respondeu.
Tentei começar uma DR ( discussão da relação), para estabelecer os limites do relacionamento, tudo de acordo com o que aprendi em anos a fio de terapia: - Divo, quem cozinhar terá que limpar o que sujou. Não é justo me sobrecarregar com afazeres domésticos, sou uma mulher ocupada com o meu trabalho, minhas atividades sociais, não tenho energia, tempo e nem talento para trabalhos do lar. Além disso, fiz as unhas ontem, não pretendo estragá-las.
Divo se levantou da cadeira, foi pra cozinha, jogou o que tinha em cima do fogão pra cima da pia, resmungou qualquer coisa incompreensível em linguagem civilizada. Achou a cafeteira no armário em cima da geladeira, levou a cafeteira pra área de serviço, ligou a danada sobre a mesa de passar roupa e preparou um café, que bebeu sozinho sem me oferecer. Depois disso, saiu e só voltou duas horas depois, quando eu já tinha limpado toda a bagunça, inclusive lavado o tapete da cozinha e a toalha da mesa de jantar. Ainda perguntou o que teríamos pra almoçar, porque seria a minha vez de cozinhar. Eu, com o aventalzinho cor-de-rosa que ganhei, estava com perfume de Veja multiuso, cândida e pinho sol.
Ah, esses homens. O tempo passa, a tecnologia avança, mas Divo Latívio ainda pensa igualzinho ao meu avô! Pior que isso, acho que o tempo passa, a tecnologia avança, mas Diva Latívia é tão rainha do lar quanto a vovó! Anos a fio de terapia, nada disso adiantou para colocar os limites em Divo Latívio. Vontade de ir ao Procon, pedir meu dinheiro da terapia de volta!
Mais calma, resolvi preparar um chá de camomila. A cada gole, evitava admirar minhas mãos, com o esmalte das unhas descascado na pontinha. Tudo perfeito, não fosse eu ter cismado que meus cabelos estavam com perfume de bife à milanesa.
É o amor, fazer o quê? Amanhã ele irá de novo pra cozinha, domingo é dia de Divo preparar o almoço. Prefiro nem imaginar no que isso vai dar!
- Adivinha o que eu comprei?
Na hora preferi não arriscar palpites, mas pensei em um tablet, em passagens pra Paris, quem sabe uma garrafa de champagne do bom, para brindarmos? Ele continuava sorridente, ansioso pra que eu acertasse o que havia dentro daquela caixa.
- Vamos, meu bem, diga o que acha que comprei pra você?
Estava curiosa. Quem sabe, ele tivesse comprado aquela bolsa de grife que namorei na vitrine da loja? Talvez, o presente fosse apenas de valor sentimental: um quadro feito com nossas fotos!
A caixa era de tamanho médio, dessas de papelão de cor parda. Nada escrito que pudesse identificar seu conteúdo. Ousei balançá-la, estava levinha!
Depois de cinco minutos, enfrentei o receio de me desapontar e lancei a primeira pergunta: - é um presente pra mim, ou um presente pra nossa casa?
- Se eu disser você vai descobrir. É algo que você sonha em ganhar faz tempo!
Sempre sonhei com um par de alianças de ouro 18k. Algo simples, nossos nomes gravados e a data do nosso primeiro encontro ali, do jeito mais romântico possível. Será que ele saberia comprar aliança do tamanho certinho do meu dedo? Estava a admirar minha mão, a imaginar ali a bela aliança, quando ele me interrompeu. - E então? Quer que eu diga com que letra começa?
- Letra A!
A é uma letra muito bonita. Com A a gente escreve amigo, amor, alegria e azul! Mas, aliança também começa com A! Eu já estava com lágrimas de emoção a se derramarem dos meus olhos.
- Querido, você comprou aquilo o que eu mais sonhava em ter?
Abri a caixa de um jeito estabanado e, juro, não amasse o Divo tanto assim, eu teria feito as malas e partido pra sempre do nosso novo apartamento. O presente era um avental, desses de cozinha. Meu nome bordado com linha cor-de-rosa e uns lacinhos e babadinhos brancos a enfeitá-lo.
- Mas, querida, você é uma ótima dona de casa, sei que está de férias, mas que perfeição as camisas que você passou! E aquela carne assada que você preparou estava maravilhosa! O avental é uma homenagem pra minha rainha do lar!
Há momentos na vida em que agradeço aos Céus ter boa audição. Melhor ouvir do que ser surda!
Lembrei das revistas antigas de minha mãe, coisa de quando eu era criança. Aquelas dicas femininas para agarrar o marido: não reclame se ele chegar tarde, cale-se se ele falar, obedeça sem resmungar. Senti ódio de Divo, acho que me transformei em um monstro, uma bruxa, algo assim. Não disse mais nenhuma palavra, porque se eu falasse tudo aquilo o que pensava e sentia, eu o detonaria!
Dormir na sala de TV é algo desconfortável. Quando acordei, meu pescoço estalou. O restante do dia passei torta, acho que eu estava emperrada. Dois dias evitei cozinhar, limpar, passar, a casa se transformou em uma espécie de caos. Isso não se parecia com as férias que sonhei, não depois de um ano de trabalho duro no escritório!
Eis que ontem ele chegou em casa com um envelope, pediu que eu o abrisse. Sorriso meio apalermado a estampar o rosto. – Amor, seu presente começa com a letra V! Fui sarcástica: -Já sei o que tem aí dentro! É um vale-vassoura?
Abri. Eram vouchers de viagem de navio. De tão contente que fiquei, finalmente usei o avental e preparei um prato especial para jantarmos. Pudera, nada como um bom incentivo para que eu vá pra cozinha! Letra V, de vitória! Se eu soubesse que o remorso o faria correr pra uma agência de viagens, teria caprichado um pouco mais na greve doméstica que promovi. Por uma viagem à Polinésia eu ficaria contente ao receber um jogo de panelas! Quem sabe, seja esse o meu próximo presente?
Quantos carneirinhos podem ser contatos em uma noite? Não sei, perdi as contas. Na noite anterior, contei todos os carneirinhos, todas as formiguinhas que passeavam pelo gramado e, depois, comecei a contar de novo os carneirinhos. Insônia!
Há um mês, quando precisei do auxílio de uma escada para alcançar uma prateleira alta na cozinha, meus joelhos doeram e fizeram algo mais ou menos assim: créc! Logo pensei: artrose!
A barriguinha, que já foi cinturinha de pilão, transformou-se recentemente em cinturinha de barril. Nada de excessos, mas atrapalha, especialmente quando tento vestir aquela calça jeans novinha, que não fecha por mais que eu insista.
Noite amena, coberta com um lençol fininho. Divo, desde que compramos uma cama tamanho king size, tem espaço suficiente para dormir em sua posição preferida: X! Espaçoso, não tem mais incomodado meu saudoso sono. Mesmo assim, acordei às duas da manhã com um calor que vinha das minhas entranhas. Pude entender como um prato se sente dentro do forno micro-ondas. O calor vinha de dentro pra fora e cozinhava meu juízo. Eu transpirava e não conseguia raciocinar. Louca, talvez?
Logo cedo resolvi telefonar pro médico. – Doutor, acho que estou enlouquecendo. O riso do homem pareceu confirmar que, realmente, é por aí o diagnóstico.
Fui à consulta médica temendo o pior. Imaginei meus dias, até o fim da vida, amarrada a uma camisa de força e sem mais poder divagar neste blog. Loucura!
- Diva, há quanto tempo tem esses sintomas?
A memória horrível. Aliás, a falta de memória atingiu meus e-mails. Esqueci a senha e comecei a chorar compulsivamente, como se o mundo tivesse acabado.
- Não lembro, doutor.
- Suas articulações doem?
- Somente os joelhos, tornozelos, quadris, mãos, pulsos, pescoço e...
- Diva, como está a sua libido?
Libido é quase um palavrão, eita palavra feia para explicar algo tão simples: tesão!
- Morreu, doutor. A missa de sétimo dia da minha libido aconteceu não lembro quando.
- Que horror, Diva. Por que não marcou logo a consulta comigo?
- É que eu perdi seu telefone, não lembrava seu sobrenome.
- Já tenho o diagnóstico.
- Eu me ajeitei na cadeira, minhas mãos suavam, tamanha era minha aflição. Teria que tomar algum remédio tarja preta, provavelmente.
- Menopausa.
- Quê?!
- Na sua idade, esses sintomas são muito normais. Vou receitar alguns remédios, um hormônio gel para você aplicar diariamente na pele, vou pedir alguns exames.
- Saí do consultório e entrei direto na farmácia. Quem disse que consegui lembrar a senha do cartão, na hora de pagar a conta? Tentei uma, duas, três vezes. O banco bloqueou meu cartão de débito, que por sinal tem dupla finalidade: débito e crédito.
Expliquei pra moça do caixa: - Moça, estou na menopausa, minha memória está sem libido.
Fui olhada com um misto de perplexidade e piedade.
- Podemos reservar os medicamentos para quando a senhora voltar aqui.
Eu já teria ido à farmácia buscar o que comprei, mas não levei. O problema é que eu tenho que ir primeiro ao chaveiro, mandar fazer cópias da chave de casa. Perdi as chaves, não sei onde.
E eu que imaginava que menopausa fosse apenas calores, coisas da vovó!
Tanta gente na ceia do ano novo, quando fiz a lista dos convidados da festa comecei a me preocupar, eu não daria conta dos preparativos sozinha. Pedi ajuda à Zezé, aquela que faz da minha casa um castelinho limpinho e bem organizado. Minha auxiliar chegou disposta a enfrentar dois dias na cozinha, vestida de branco, maquiada, uma verdadeira diva-ajudante!
A única recomendação que fiz, algo que pareceu muito natural, foi a seguinte: Zezé, sirva-se de tudo o que quiser, mas não beba nada alcoólico!
Conforme os convidados chegavam, serviam-se dos quitutes deliciosos preparados com carinho pela Zezé. Casquinha de siri, camarões empanados, canapés variados. A caipirinha, por ela preparada, fez tanto sucesso que diversas rodadas foram pedidas. Tudo perfeito, resolvi aproveitar a festa, sem muito me preocupar.
Lá pelas tantas, assim que a ceia foi servida, notei que a Zezé estava muito animada. Caiu na dança com dois sobrinhos de vinte e poucos anos de idade, até fotografei! Meia noite, entre abraços e cumprimentos felizes, Zezé estava em cima de uma cadeira, segurando uma garrafa do melhor champagne. Não se importou com meu chamado para que voltasse pro chão, ainda tentou subir na mesa. Tirou fotografia com todos os homens presentes à festa, dançou com todos eles e ainda quis beijar meu primo na marra. Minha velha Tia Julieta estava furiosa, Zezé tinha abraçado o Tio Sinésio, de noventa e dois anos de idade, com tamanha euforia, que causou na titia um ciúme irreparável. Tio Sinésio chacoalhava o esqueleto do jeito que podia, parecia feliz da vida.
Precisei pedir licença, pra que ela me devolvesse o Divo, que dançou duas músicas rápidas e outra lenta com a Zezé. Não gostei!
A festa se estendeu até o raiar do dia, comigo na cozinha, afinal alguém precisava dar conta da bagunça. Enquanto isso, Zezé praticamente sumiu. Já tinha amanhecido quando notei que ela tinha dormido no sofá, abraçada a uma almofada.
Decidi acordá-la: - Zezé, vou te levar pra casa, acorde! Tonta, ela se levantou cambaleante, deu um passo pra frente e caiu sentada no sofá. Duas tentativas em vão, resolvi deixá-la dormir ali mesmo. Onze horas da manhã, passei pela sala e ela continuava dormindo serenamente.
O almoço foi por mim servido às duas da tarde. Zezé, a essa altura acordada, já tinha tomado um remédio pra dor de cabeça e outro remédio pra dor de estômago. Resolvi não aliviar seu drama, afinal ela tinha assumido o compromisso de me ajudar. Deixei a pia cheia de louça e avisei: depois guarde tudo no lugar.
Quatro horas da tarde, encontrei Zezé sentada na cozinha, olhar perdido, ar de ressaca. Fui sarcástica: - Aceita uma taça de vinho, Zezé?
Hoje resolvi olhar as fotos na minha câmera fotográfica. Em mais da metade das fotos aparece a Zezé. Eu apareço apenas em uma, ao fundo, lavando pratos.
Já decidi: no próximo ano novo vou viajar, irei pra um hotel onde eu não precise fazer nada, senão aproveitar a festa. Quanto à Zezé, pediu que eu gravasse em DVD as fotos, para mostrar para seus amigos o quanto foi boa a festa na minha casa.
Zezé acabou de passar por mim. - Dona Diva, a senhora é uma santa! Foi o melhor "arreviom" da minha vida!
Bom pra uns, ruim pra outros. Pois é. Dizem que tudo aquilo o que fazemos no primeiro dia do ano levará consigo a energia que irá reger o ano todo. Eu trabalhei duro neste "arreviom", ou melhor, neste Réveillon. Acho, 2020 será, pra mim, um ano de esforço dobrado e resultados inesperados. E tudo isso eu devo a ninguém menos que Zezé, minha valiosa ajudante do lar.
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
30 de jan. de 2012
PARABÉNS PARA MIM, PARABÉNS PARA VOCÊS!
A gente segue o tempo, ano após ano. De criancinha à idade adulta, fazendo amigos, conhecendo novos lugares, experimentando emoções intensas, aprendendo e ensinando vida, do jeito mais simples e belo. A gente descobre coisas simples: melhor a chegada do que a partida, o abraço do que a despedida. O calor do colo materno, o primeiro olhar pro filho que acabou de nascer, as luzes coloridas das festas de Natal, a paixão que acelera o coração, o amigo que consola um momento de tristeza e celebra cada instante ao nosso lado. O livro que nos faz viajar na velocidade do pensamento, a música que nos leva a dançar. A brisa, o sol, o céu, as estrelas, o mar! E eu, que hoje completo mais um ano de vida, tenho muitas histórias que contei, outras tantas que espero ainda lhes contar.
Hoje, meu aniversário. Viver é compartilhar, ajudar, viver é amar e permitir-se ser amado. A você que torna meus dias, todos eles, uma imensa alegria em letrinhas que aqui publico, deixo de novo meu agradecimento. Meu leitor, minha leitora, este blog é um dos presentes mais bonitos que a vida me trouxe, pelas mãos de um irmão que partiu pro Céu, o Abílio. E é aqui que minhas lágrimas se tornam de alegria, diariamente. É aqui que as lágrimas que, ocasionalmente, choro de tristeza, eu transformo em prosa e versos.
Hoje, meu Natal, meu ano novo, afinal é meu aniversário. Deixo um abraço que abraça o mundo pra cada um de vocês. Meus leitores são o meu motivo, de vocês vem o incentivo pra que eu diariamente crie um novo texto.
Um beijo,
Cláudia ( Diva Latívia)
Deixo a música, Smile, de Charlie Chaplin. Aqui, na interpretação de Michael Jackson.
29 de jan. de 2012
UM ANO A MAIS (51)
Foi a primeira vez que deixei o blog ligado no piloto automático. Explico: tirei uma semana de férias, junto com Divo embarquei em um cruzeiro rumo a Montevideo e Buenos Aires. Ainda escreverei algo sobre essa aventura, com momentos muitos, férteis ideias para novos textos. O frio cortante da região do Uruguai devolveu-me a já esquecida gripe. Febril, o corpo dolorido, levei os dois últimos dias de viagem meio na marra. Não havia o que fazer, o jeito era aproveitar o passeio, então aproveitei. Quem disse que caipirinha acaba com a gripe, errou!
Em casa, penso agora no dia de amanhã, meu aniversário. Pois é, Diva Latívia completará... Não deveria revelar mais a minha idade! Quem quisesse saber, teria que pesquisar no arquivo do blog o texto comemorativo do ano passado. Talvez, eu devesse estacionar minha idade em 41 anos. Não importaria se fossem 41 anos de vida, ou 41 anos de cara-de-pau, qualidade que a mim não falta, jamais.
Aniversário sempre teve um clima esquisito, ao menos pra mim. Feito uma marca invisível que foi alcançada, um passo a mais, talvez um passo a menos. Talvez, por isso, nunca gostei muito de fazer aniversário, o copo fica meio cheio, ou meio vazio. Mas, espero celebrar esta data com o delicioso vinho uruguaio, proveniente da bela vinícola que visitei. Se caipirinha não acaba com a gripe, quem sabe o vinho cumpra esse papel com eficiência, não é mesmo?
Creio, leitor, estou delirando. Coisas de quem atravessou a fronteira do Rio Grande do Sul usando apenas um biquininho. O frio soprava impiedosamente, apesar do sol brilhante. Coisas de quem quis abraçar o mar quando nele viu pousar um arco-íris. Coisas de Diva Latívia, em seu um ano pra lá do cinquentenário.
Da vida me resta aquilo o que traz alegria, aquilo o que pra mim é puro prazer. O sol, o céu, o mar, a flor, o sorriso, a lágrima, o abraço, o afeto, os versos, este texto. E pra quê mais? Que tudo o mais que me resta seja intenso e me faça me sentir viva, mais e mais. Este blog pra mim é isso, aqui eu me sinto feliz! Aqui a minha experiência é de pura celebração da vida!
20 de jan. de 2012
AT LAST
Era o mês do aniversário dela. Olhou o calendário no momento em que ia saindo pra caminhar no parque. Desistiu de sair, tirou dos pés o par de tênis e da cabeça o boné.
O tempo passava depressa, ela ainda sozinha. Tantos pretendentes, tudo por conta daquele amor mal resolvido, do amor não correspondido. Pra tentar esquecê-lo foi capaz de se atirar em braços e abraços de mais de um alguém.
Sentou-se diante do computador e releu todas as mensagens que um dia ele enviou pra ela. Uma a uma. Da primeira, quando mandou um arquivo mp3 com a música “At Last”, até aquela da noite anterior, quando ela recusou um convite pra dançar. Sem ânimo pra mais nada, escutou a música.
At Last, my love has come alone, my lonely days are over, and life is like a song.
Depois resolveu olhar as fotos todas. Ele pequenininho, usando gravatinha borboleta e calça curta. A outra, diante de um bolo de aniversário, já adolescente. Uma em que parecia um rebelde do final dos anos 70, magro e cabeludo. E a última, já grisalho e usando óculos de grau.
Pegou o telefone e discou os primeiros três números do celular dele. Parou. Lembrou-se das palavras que ele um dia disse, indiferente à dor que ela sentia: “me compreenda ou me espere, tanto faz”. Lembrou dos seus acessos reiterados ao mesmo site de relacionamentos onde se conheceram. Desligou.
Começou, então, a escrever um e-mail que começava com: “At Last”. Achou ridículo, afinal ele jamais iria ler justamente em um final de semana. Se lesse poderia ser irônico, ou fingir que nem leu. Deletou.
Acabou indo parar na barraquinha de pastel, onde os dois já estiveram juntos, rindo e falando da vida. E o resto do dia foi de lembranças do passado recente. Um dia em que ela dimensionou sua falta de sorte no amor. Seus dias de solidão não terminaram.
I found a dream, that I could speak to. A dream that I can call my own.
Pegou o boné, calçou o tênis. Foi fazer a caminhada tentando parar de cantarolar “At Last”. Não foi sozinha, dentro de si estava a solidão e o amor que não podia apagar, deletar ou desligar. At Last!
(Texto de minha autoria, anteriormente publicado no blog Janela das Loucas e também neste blog. Uma homenagem que presto à cantora Etta James, que faleceu nesta data).
O tempo passava depressa, ela ainda sozinha. Tantos pretendentes, tudo por conta daquele amor mal resolvido, do amor não correspondido. Pra tentar esquecê-lo foi capaz de se atirar em braços e abraços de mais de um alguém.
Sentou-se diante do computador e releu todas as mensagens que um dia ele enviou pra ela. Uma a uma. Da primeira, quando mandou um arquivo mp3 com a música “At Last”, até aquela da noite anterior, quando ela recusou um convite pra dançar. Sem ânimo pra mais nada, escutou a música.
At Last, my love has come alone, my lonely days are over, and life is like a song.
Depois resolveu olhar as fotos todas. Ele pequenininho, usando gravatinha borboleta e calça curta. A outra, diante de um bolo de aniversário, já adolescente. Uma em que parecia um rebelde do final dos anos 70, magro e cabeludo. E a última, já grisalho e usando óculos de grau.
Pegou o telefone e discou os primeiros três números do celular dele. Parou. Lembrou-se das palavras que ele um dia disse, indiferente à dor que ela sentia: “me compreenda ou me espere, tanto faz”. Lembrou dos seus acessos reiterados ao mesmo site de relacionamentos onde se conheceram. Desligou.
Começou, então, a escrever um e-mail que começava com: “At Last”. Achou ridículo, afinal ele jamais iria ler justamente em um final de semana. Se lesse poderia ser irônico, ou fingir que nem leu. Deletou.
Acabou indo parar na barraquinha de pastel, onde os dois já estiveram juntos, rindo e falando da vida. E o resto do dia foi de lembranças do passado recente. Um dia em que ela dimensionou sua falta de sorte no amor. Seus dias de solidão não terminaram.
I found a dream, that I could speak to. A dream that I can call my own.
Pegou o boné, calçou o tênis. Foi fazer a caminhada tentando parar de cantarolar “At Last”. Não foi sozinha, dentro de si estava a solidão e o amor que não podia apagar, deletar ou desligar. At Last!
(Texto de minha autoria, anteriormente publicado no blog Janela das Loucas e também neste blog. Uma homenagem que presto à cantora Etta James, que faleceu nesta data).
19 de jan. de 2012
FÉRIAS DE DIVA LATÍVIA!
E quem disse que o blog também não tem suas férias?
Voltarei em breve, com muito mais histórias para lhes contar! Aguardem!
Diva Latívia
CHÁ! CHÁ! CHÁ!
Melhor da gripe, quero aqui agradecer a vocês que mandaram receitinhas caseiras e simpatias diversas para a minha recuperação.
O chá de gengibre com orégano, cascas de laranja e alho, esse foi sensacional para resolver aquele meu probleminha de prisão de ventre. Melhorei depois de três dias, depois de ir ao pronto-socorro e tomar soro na veia. Mesmo assim, a receita é ótima.
O chá de hortelã com limão, canela e cebola, esse me fez ficar enjoada, mas acabei dormindo depois de duas horas vendo tudo rodar. Portanto, muito bom esse chá.
Bom mesmo é o chá de alecrim com vick-vapo-rub. Esse me fez, literalmente, suar em bicas.
Agora, mais magrinha devido à desidratação causada pelo chá de gengibre, descansada devido à zoeira causada pelo chá de hortelã, desintoxicada devido à suadeira do chá de alecrim, sinto-me revigorada, pronta pra outra!
A simpatia do guarda-chuva foi ótima, realmente! Coloquei o guarda-chuva aberto na sala, com uma fitinha amarela amarrada em seu cabo. Dei sete voltinhas ao seu redor repetindo: “sai gripe, vai pra quem te merece!”. O único problema foi a vizinha do apartamento do bloco B, ela estava no terraço e, acho eu, filmou o ritual com o celular. Mas, isso é problema dela e do Youtube.
Mais uma vez, obrigada! O que seria de mim, não fossem meus leitores? Acho, sarei!
13 de jan. de 2012
FICÇÃO x REALIDADE
Foram horas a fio esperando que no painel eletrônico reluzisse, finalmente, o número da minha senha. Essas repartições públicas são mesmo caóticas!
Acho, cochilei durante alguns minutos, durante a infinita espera. Pudera, acordei às 05h00 pra chegar naquele local às 06h00. Meu número de chamada era 127! Muita gente deve ter dormido naquela fila, tinha uma senhora sentada em um banquinho. Teria trazido o banquinho de casa?
Acomodada em uma cadeira dessas com o assento bem duro e de plástico, a minha lombar doía impiedosamente. Descobri que meu celular tem um joguinho de paciência, perdi umas dez vezes. Por fim, desisti de jogar e comecei a fazer o que mais gosto: prestar atenção nas pessoas ao meu redor.
Um casalzinho parecia indiferente ao público e ao cenário frio do local. Beijava-se apaixonadamente, emitindo aqueles sons típicos dos beijos, os “shlpts” e “smacks” que provenientes de outros seres, que não nós mesmos, tornam-se um tanto repulsivos.
Duas crianças, premiadas com a lei da palmada, não obedeciam aos apelos inócuos da mãe. – Pedro Miguel, Paulo Olavo, voltem já aqui. E nada dos rebentos saltitantes voltarem. Deram várias voltas ao redor do imenso salão, uma brincadeira de bandido e mocinho, que rendeu tiros pra todo o lado.
Um homem parecia roncar. Ao seu lado uma senhora idosa fazia um barrado de crochê em um pano de prato. Finalmente encontrei uma boa distração. Duas mulheres sentadas na fila da frente falavam sobre a novela das 9. – Ai, eu odeio a Teresa Cristina, acho que aquela mulher é uma cobra! – É mesmo. Por falar em cobra, viu o tamanho da cobra que ela colocou no carro da Amália? – Vi sim, cobra venenosa! E eu, orelhas em pé, tentava acompanhar a conversa das duas. – Cida, se o Zé te traísse, do que você seria capaz? – Eu? Acho que eu dava o troco. E você, se o Tião te traísse, o que você faria? – Eu colocava remédio de prisão de ventre na cachaça dele, o vidro todo.
Comecei a rir. Imaginei alguém beber cachaça e depois ter um piriri irreparável. Boa vingança!
-Amiga, eu acho que o Tião não me ama mais. – Jura, amiga? Por que? – Ele não me beija na boca mais. – Nossa, querida, isso é muito grave. Será que você está com mau hálito? – Ai, amiga, que ideia! – Ou então... – Então o quê? – Ele pode ter outra! Daquela frase em diante, só pude escutar a tal da Cida nervosa, depois chorando, algo um tanto patético. Notei que a amiga da Cida parecia contente com o resultado alcançado, ou seja, outra cobra, páreo pra tal da Teresa Cristina.
Finalmente, o painel eletrônico iluminou o número 127. Em dois minutos fui atendida, tudo de acordo com o que é informado na plaquinha da entrada da repartição: “atendimento rápido ao cidadão”. Esqueceram de informar o tempo de espera, isso sim um atendimento de quinta categoria, coisa que ninguém merece! Quando estava de saída, lancei um olhar na direção de Cida e sua amiga ofídia. Pareciam animadas, o papo estava rolando solto. Acho, voltaram a falar da novela e esqueceram do Zé e do Tião. Melhor a ficção que a realidade, ao menos ali cobras picam, mas não atravessam a telinha do televisor.
11 de jan. de 2012
VERÃO ZOADO!
Pensei e pensei em um adjetivo que definisse meu estado matinal. Finalmente encontrei a palavra que expressa minha situação atual: zoada!
Amanheci zoada!
O clima do verão costumava ser quente, com chuvas que chegavam durante a tarde. À noite tudo voltava ao normal, noites dignas de passeios ao luar. No dia seguinte, lá estava o sol a brilhar novamente. Podíamos nos estender na areia da praia, para colorir a pele com o bronzeado da cor do pecado. Tudo isso sem protetor solar, sem manchas na pele, sem envelhecimento precoce. Nem celulite existia!
Agora tudo mudou. Tem a tal da La Niña, irmãzinha do El Niño. Os dias de verão são chuvosos, nuvens sem fim a esconder o azul do céu. Quando o sol ocasionalmente brilha, vem com força total e parece querer fritar de modo inclemente os terráqueos. E dá-lhe camadas e mais camadas de filtro solar, óculos escuros, alertas sobre o perigo de contrair câncer de pele.
Zoada, com dor de garganta, dor no corpo, nariz entupido, vontade de voltar pra cama e só sair de lá à noite, depois de tomar um chá quente com aspirina. Gripe em pleno verão! Mas, que verão? Verão com temperatura muito abaixo do esperado! O acessório indispensável é o guarda-chuva! Até hoje não usei as sandálias novas, nem os vestidinhos de tecido leve e alcinha!
Lembrei de Santa Clara: Santa Clara, clareai! Pensei em São Pedro: Meu santinho, tenha dó de nós, que de tanta chuva logo viraremos peixes, criaremos escamas sobre nossa humana epiderme!
E, enquanto isso, lá no guarda-roupa, jaz a coleção de verão que adquiri com tanta vontade de aproveitar as férias de janeiro. Dentro de poucos dias o Oceano Atlântico será o meu tapete, rumo ao sul, rumo à caliente Buenos Aires, à doce Montevideo. Divo e eu, algo romântico, um cruzeiro para celebrar a nossa recente união. Porém, diz aquela mocinha da previsão do tempo que não há o menor sinal de estiagem, isso de acordo com as imagens de um tal de satélite meteorológico. Começo a me preocupar!
Enquanto digito, meus dedos doem, a moleza no corpo me faz empurrar o notebook pra longe. Admiro o texto a certa distância, entre um gole e outro de suco de laranja. Febril, provavelmente. Aproveito o delírio gripal para planejar o que levarei na bagagem desse cruzeiro. Casaco, capa de chuva, botas, cachecol, luvas e não posso esquecer do já mencionado guarda-chuva! Biquini? Isso é coisa que não me pertence mais! Bermuda? Nem pensar, não pretendo congelar as pernas. Será que servirão vinho quente à bordo? Um cruzeiro na neve! Poderei fazer de conta que outra vez é Natal e cantarei qualquer coisa do tipo Jingle Bell, acabou papel!
Que o mau tempo vá embora. Merecemos dias ensolarados, alegria quente, coisas típicas do verão. Tomara! Espero que o Universo desculpe o meu delírio, que isso não atraia mais nuvens pra cima de nossas cabeças. Escrevo enrolada em uma mantinha quente, meus pés dentro de pantufinhas felpudas, usando pijaminha de cor lilás. A febre, já verifiquei, é de 38 graus. Acho, tenho que ir ao pediatra. Sim, ao pediatra, afinal na última vez que pensei em ir a um geriatra, o cara me receitou tanta vitamina, tanta bomba, que em um mês eu estava mais doida do que o habitual. Um pediatra poderá receitar um xarope pra minha tosse, verificar minha carteirinha de vacinação!
Entre um espirro aqui, uma tossidinha ali, termino o texto. Que o verão se apresente, que deixe de fazer graça e depressa se faça! Não, Senhor Rei Sol, isso não é um convite para vir nos visitar. Isso é uma intimação! Compareça com urgência, no prazo máximo de 24 horas e traga com você temperaturas quentes, azul anil para pintar o nosso céu. Não esqueça de amornar a água do mar. E, se você não vier, prometo me tornar adepta dos esportes de inverno, na costa brasileira. Essa será a sua pena, por ter descumprido o prometido e nos deixado trancados em casa, em pleno janeiro. Órfãos do verão!
Diva em pleno delírio febril se despede dos leitores. Até a próxima crônica! Atchim!
7 de jan. de 2012
DIÁRIO DE BORDO: MINHA DESVENTURA NA COZINHA
- Querida, vou preparar o nosso jantar, hoje eu quero que você descanse! Quer que eu te prepare um drink?
Fiquei lisonjeada, finalmente eu teria alguns momentos de folga, Divo assumiria a cozinha! Fui até o quarto, deitei confortavelmente na cama, peguei um creme hidratante, passei nos pés. Liguei o rádio na minha estação preferida, escutei música calma, relaxante. Quase tinha pegado no sono quando ele me chamou:- Diva, preciso que venha aqui!
Zoada, tonta de sono, entrei na cozinha que mais parecia um caos. Tinha cebola picada espalhada pela pia, em cima do fogão tinha pano de prato, em cima da mesa tinha pano de chão. Ele tinha usado o liquidificador, a batedeira, a torradeira, duas frigideiras, a panela de pressão. O pano de prato, tão lindo, com biquinho de crochê, estava todo sujo de molho de tomate!
-Diva, meu bem, eu estava ocupado pra levar seu drink.
Ofereceu uma bebida colorida, muito bonita, caprichada. O sorriso de expectativa parecia o de um garotinho que aguarda um elogio do adulto. Fiz de conta que não queria esganá-lo de tanta raiva, agradeci a bebida e voltei pro quarto.
Demorou mais de uma hora, quando ele me chamou pra jantar. Preferi não entrar de novo na cozinha, aliás, passei direto pela cozinha sem olhar em sua direção. O jantar estava ótimo, tinha bife acebolado, tinha macarronada, tinha bolinho de arroz, tinha salada com molho de mostarda, tinha até sobremesa caramelada. Creio, engordei uns dois quilos, pelo menos. Assim que terminei de comer, ele me disse: - agora, você lava a louça, certo?
Errado! Não lavei a louça. Uma coisa é lavar os pratos, copos e talheres do jantar. Outra coisa é ter que limpar o fogão, a pia, a parede, o chão. Acho que aquela mancha na parede era de molho rosé. Enfim, eu disse pro Divo um sonoro NÃO!
Fomos dormir, ele mal humorado. Quando acordei, a casa estava do mesmo jeito. A cozinha parecia o refeitório do inferno, a sala de jantar estava do jeito que a deixei. Tomei um banho, calcei meu par de tênis e fui caminhar no parque, tentando não pensar na situação, a cada volta na pista de cooper eu tentava exorcizar a ira que se apossava de mim. Quando cheguei em casa, Divo tinha acordado. Estava sentado na varanda da sala, olhando pro horizonte. Arrisquei dizer bom dia, ele me olhou de um jeito cortante e não respondeu.
Tentei começar uma DR ( discussão da relação), para estabelecer os limites do relacionamento, tudo de acordo com o que aprendi em anos a fio de terapia: - Divo, quem cozinhar terá que limpar o que sujou. Não é justo me sobrecarregar com afazeres domésticos, sou uma mulher ocupada com o meu trabalho, minhas atividades sociais, não tenho energia, tempo e nem talento para trabalhos do lar. Além disso, fiz as unhas ontem, não pretendo estragá-las.
Divo se levantou da cadeira, foi pra cozinha, jogou o que tinha em cima do fogão pra cima da pia, resmungou qualquer coisa incompreensível em linguagem civilizada. Achou a cafeteira no armário em cima da geladeira, levou a cafeteira pra área de serviço, ligou a danada sobre a mesa de passar roupa e preparou um café, que bebeu sozinho sem me oferecer. Depois disso, saiu e só voltou duas horas depois, quando eu já tinha limpado toda a bagunça, inclusive lavado o tapete da cozinha e a toalha da mesa de jantar. Ainda perguntou o que teríamos pra almoçar, porque seria a minha vez de cozinhar. Eu, com o aventalzinho cor-de-rosa que ganhei, estava com perfume de Veja multiuso, cândida e pinho sol.
Ah, esses homens. O tempo passa, a tecnologia avança, mas Divo Latívio ainda pensa igualzinho ao meu avô! Pior que isso, acho que o tempo passa, a tecnologia avança, mas Diva Latívia é tão rainha do lar quanto a vovó! Anos a fio de terapia, nada disso adiantou para colocar os limites em Divo Latívio. Vontade de ir ao Procon, pedir meu dinheiro da terapia de volta!
Mais calma, resolvi preparar um chá de camomila. A cada gole, evitava admirar minhas mãos, com o esmalte das unhas descascado na pontinha. Tudo perfeito, não fosse eu ter cismado que meus cabelos estavam com perfume de bife à milanesa.
É o amor, fazer o quê? Amanhã ele irá de novo pra cozinha, domingo é dia de Divo preparar o almoço. Prefiro nem imaginar no que isso vai dar!
5 de jan. de 2012
V, de VITÓRIA!
- Adivinha o que eu comprei?
Na hora preferi não arriscar palpites, mas pensei em um tablet, em passagens pra Paris, quem sabe uma garrafa de champagne do bom, para brindarmos? Ele continuava sorridente, ansioso pra que eu acertasse o que havia dentro daquela caixa.
- Vamos, meu bem, diga o que acha que comprei pra você?
Estava curiosa. Quem sabe, ele tivesse comprado aquela bolsa de grife que namorei na vitrine da loja? Talvez, o presente fosse apenas de valor sentimental: um quadro feito com nossas fotos!
A caixa era de tamanho médio, dessas de papelão de cor parda. Nada escrito que pudesse identificar seu conteúdo. Ousei balançá-la, estava levinha!
Depois de cinco minutos, enfrentei o receio de me desapontar e lancei a primeira pergunta: - é um presente pra mim, ou um presente pra nossa casa?
- Se eu disser você vai descobrir. É algo que você sonha em ganhar faz tempo!
Sempre sonhei com um par de alianças de ouro 18k. Algo simples, nossos nomes gravados e a data do nosso primeiro encontro ali, do jeito mais romântico possível. Será que ele saberia comprar aliança do tamanho certinho do meu dedo? Estava a admirar minha mão, a imaginar ali a bela aliança, quando ele me interrompeu. - E então? Quer que eu diga com que letra começa?
- Letra A!
A é uma letra muito bonita. Com A a gente escreve amigo, amor, alegria e azul! Mas, aliança também começa com A! Eu já estava com lágrimas de emoção a se derramarem dos meus olhos.
- Querido, você comprou aquilo o que eu mais sonhava em ter?
Abri a caixa de um jeito estabanado e, juro, não amasse o Divo tanto assim, eu teria feito as malas e partido pra sempre do nosso novo apartamento. O presente era um avental, desses de cozinha. Meu nome bordado com linha cor-de-rosa e uns lacinhos e babadinhos brancos a enfeitá-lo.
- Mas, querida, você é uma ótima dona de casa, sei que está de férias, mas que perfeição as camisas que você passou! E aquela carne assada que você preparou estava maravilhosa! O avental é uma homenagem pra minha rainha do lar!
Há momentos na vida em que agradeço aos Céus ter boa audição. Melhor ouvir do que ser surda!
Lembrei das revistas antigas de minha mãe, coisa de quando eu era criança. Aquelas dicas femininas para agarrar o marido: não reclame se ele chegar tarde, cale-se se ele falar, obedeça sem resmungar. Senti ódio de Divo, acho que me transformei em um monstro, uma bruxa, algo assim. Não disse mais nenhuma palavra, porque se eu falasse tudo aquilo o que pensava e sentia, eu o detonaria!
Dormir na sala de TV é algo desconfortável. Quando acordei, meu pescoço estalou. O restante do dia passei torta, acho que eu estava emperrada. Dois dias evitei cozinhar, limpar, passar, a casa se transformou em uma espécie de caos. Isso não se parecia com as férias que sonhei, não depois de um ano de trabalho duro no escritório!
Eis que ontem ele chegou em casa com um envelope, pediu que eu o abrisse. Sorriso meio apalermado a estampar o rosto. – Amor, seu presente começa com a letra V! Fui sarcástica: -Já sei o que tem aí dentro! É um vale-vassoura?
Abri. Eram vouchers de viagem de navio. De tão contente que fiquei, finalmente usei o avental e preparei um prato especial para jantarmos. Pudera, nada como um bom incentivo para que eu vá pra cozinha! Letra V, de vitória! Se eu soubesse que o remorso o faria correr pra uma agência de viagens, teria caprichado um pouco mais na greve doméstica que promovi. Por uma viagem à Polinésia eu ficaria contente ao receber um jogo de panelas! Quem sabe, seja esse o meu próximo presente?
4 de jan. de 2012
É A IDADE!
Quantos carneirinhos podem ser contatos em uma noite? Não sei, perdi as contas. Na noite anterior, contei todos os carneirinhos, todas as formiguinhas que passeavam pelo gramado e, depois, comecei a contar de novo os carneirinhos. Insônia!
Há um mês, quando precisei do auxílio de uma escada para alcançar uma prateleira alta na cozinha, meus joelhos doeram e fizeram algo mais ou menos assim: créc! Logo pensei: artrose!
A barriguinha, que já foi cinturinha de pilão, transformou-se recentemente em cinturinha de barril. Nada de excessos, mas atrapalha, especialmente quando tento vestir aquela calça jeans novinha, que não fecha por mais que eu insista.
Noite amena, coberta com um lençol fininho. Divo, desde que compramos uma cama tamanho king size, tem espaço suficiente para dormir em sua posição preferida: X! Espaçoso, não tem mais incomodado meu saudoso sono. Mesmo assim, acordei às duas da manhã com um calor que vinha das minhas entranhas. Pude entender como um prato se sente dentro do forno micro-ondas. O calor vinha de dentro pra fora e cozinhava meu juízo. Eu transpirava e não conseguia raciocinar. Louca, talvez?
Logo cedo resolvi telefonar pro médico. – Doutor, acho que estou enlouquecendo. O riso do homem pareceu confirmar que, realmente, é por aí o diagnóstico.
Fui à consulta médica temendo o pior. Imaginei meus dias, até o fim da vida, amarrada a uma camisa de força e sem mais poder divagar neste blog. Loucura!
- Diva, há quanto tempo tem esses sintomas?
A memória horrível. Aliás, a falta de memória atingiu meus e-mails. Esqueci a senha e comecei a chorar compulsivamente, como se o mundo tivesse acabado.
- Não lembro, doutor.
- Suas articulações doem?
- Somente os joelhos, tornozelos, quadris, mãos, pulsos, pescoço e...
- Diva, como está a sua libido?
Libido é quase um palavrão, eita palavra feia para explicar algo tão simples: tesão!
- Morreu, doutor. A missa de sétimo dia da minha libido aconteceu não lembro quando.
- Que horror, Diva. Por que não marcou logo a consulta comigo?
- É que eu perdi seu telefone, não lembrava seu sobrenome.
- Já tenho o diagnóstico.
- Eu me ajeitei na cadeira, minhas mãos suavam, tamanha era minha aflição. Teria que tomar algum remédio tarja preta, provavelmente.
- Menopausa.
- Quê?!
- Na sua idade, esses sintomas são muito normais. Vou receitar alguns remédios, um hormônio gel para você aplicar diariamente na pele, vou pedir alguns exames.
- Saí do consultório e entrei direto na farmácia. Quem disse que consegui lembrar a senha do cartão, na hora de pagar a conta? Tentei uma, duas, três vezes. O banco bloqueou meu cartão de débito, que por sinal tem dupla finalidade: débito e crédito.
Expliquei pra moça do caixa: - Moça, estou na menopausa, minha memória está sem libido.
Fui olhada com um misto de perplexidade e piedade.
- Podemos reservar os medicamentos para quando a senhora voltar aqui.
Eu já teria ido à farmácia buscar o que comprei, mas não levei. O problema é que eu tenho que ir primeiro ao chaveiro, mandar fazer cópias da chave de casa. Perdi as chaves, não sei onde.
E eu que imaginava que menopausa fosse apenas calores, coisas da vovó!
2 de jan. de 2012
A "NHACA" DO ANO NOVO
Tanta gente na ceia do ano novo, quando fiz a lista dos convidados da festa comecei a me preocupar, eu não daria conta dos preparativos sozinha. Pedi ajuda à Zezé, aquela que faz da minha casa um castelinho limpinho e bem organizado. Minha auxiliar chegou disposta a enfrentar dois dias na cozinha, vestida de branco, maquiada, uma verdadeira diva-ajudante!
A única recomendação que fiz, algo que pareceu muito natural, foi a seguinte: Zezé, sirva-se de tudo o que quiser, mas não beba nada alcoólico!
Conforme os convidados chegavam, serviam-se dos quitutes deliciosos preparados com carinho pela Zezé. Casquinha de siri, camarões empanados, canapés variados. A caipirinha, por ela preparada, fez tanto sucesso que diversas rodadas foram pedidas. Tudo perfeito, resolvi aproveitar a festa, sem muito me preocupar.
Lá pelas tantas, assim que a ceia foi servida, notei que a Zezé estava muito animada. Caiu na dança com dois sobrinhos de vinte e poucos anos de idade, até fotografei! Meia noite, entre abraços e cumprimentos felizes, Zezé estava em cima de uma cadeira, segurando uma garrafa do melhor champagne. Não se importou com meu chamado para que voltasse pro chão, ainda tentou subir na mesa. Tirou fotografia com todos os homens presentes à festa, dançou com todos eles e ainda quis beijar meu primo na marra. Minha velha Tia Julieta estava furiosa, Zezé tinha abraçado o Tio Sinésio, de noventa e dois anos de idade, com tamanha euforia, que causou na titia um ciúme irreparável. Tio Sinésio chacoalhava o esqueleto do jeito que podia, parecia feliz da vida.
Precisei pedir licença, pra que ela me devolvesse o Divo, que dançou duas músicas rápidas e outra lenta com a Zezé. Não gostei!
A festa se estendeu até o raiar do dia, comigo na cozinha, afinal alguém precisava dar conta da bagunça. Enquanto isso, Zezé praticamente sumiu. Já tinha amanhecido quando notei que ela tinha dormido no sofá, abraçada a uma almofada.
Decidi acordá-la: - Zezé, vou te levar pra casa, acorde! Tonta, ela se levantou cambaleante, deu um passo pra frente e caiu sentada no sofá. Duas tentativas em vão, resolvi deixá-la dormir ali mesmo. Onze horas da manhã, passei pela sala e ela continuava dormindo serenamente.
O almoço foi por mim servido às duas da tarde. Zezé, a essa altura acordada, já tinha tomado um remédio pra dor de cabeça e outro remédio pra dor de estômago. Resolvi não aliviar seu drama, afinal ela tinha assumido o compromisso de me ajudar. Deixei a pia cheia de louça e avisei: depois guarde tudo no lugar.
Quatro horas da tarde, encontrei Zezé sentada na cozinha, olhar perdido, ar de ressaca. Fui sarcástica: - Aceita uma taça de vinho, Zezé?
Hoje resolvi olhar as fotos na minha câmera fotográfica. Em mais da metade das fotos aparece a Zezé. Eu apareço apenas em uma, ao fundo, lavando pratos.
Já decidi: no próximo ano novo vou viajar, irei pra um hotel onde eu não precise fazer nada, senão aproveitar a festa. Quanto à Zezé, pediu que eu gravasse em DVD as fotos, para mostrar para seus amigos o quanto foi boa a festa na minha casa.
Zezé acabou de passar por mim. - Dona Diva, a senhora é uma santa! Foi o melhor "arreviom" da minha vida!
Bom pra uns, ruim pra outros. Pois é. Dizem que tudo aquilo o que fazemos no primeiro dia do ano levará consigo a energia que irá reger o ano todo. Eu trabalhei duro neste "arreviom", ou melhor, neste Réveillon. Acho, 2020 será, pra mim, um ano de esforço dobrado e resultados inesperados. E tudo isso eu devo a ninguém menos que Zezé, minha valiosa ajudante do lar.
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Etimologia – ou Etiologia, como queiram! - Dentre os meus interesses, digamos assim, intelectuais e totalmente descompromissados, aquém do que se pudesse chamar de amor ou paixão, mas à frente da si...