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Por que será que o ano novo não acontece na quarta-feira de cinzas? Nada mais justo, afinal a vida parece recomeçar apenas depois do carnaval!
Fui à repartição pública na terça-feira às duas horas da tarde. Uma fila dessas de fazer a coluna doer, o pé inchar, a paciência acabar! Finalmente consegui uma senha: número 236. Olhei ao redor, tinha gente pra todo o lado. O painel eletrônico marcava o número 179. Quis fazer as contas, para descobrir quantas criaturas desafortunadas estavam na minha frente, mas sou péssima em matemática. Preferi buscar um lugarzinho qualquer pra sentar. Ao meu lado, uma senhora de uns oitenta e muitos anos de idade, parecia mastigar a dentadura. E eu, sem mais o que fazer, tentei ensurdecer.
Eis que, depois de duas horas, finalmente apareceu “236” no painel. Levantei da cadeira, cheia de felicidade. Mal cheguei no balcão de atendimento, fui barrada. – Senhora, espere ao lado, vamos atender primeiro os deficientes, os idosos e as mulheres grávidas. Pensei depressa: não sou deficiente ( mentalmente, talvez), não sou idosa ( ai de quem disser o contrário). Então, encontrei a solução: - Estou grávida! A atendente me olhou e olhou. Pediu a papelada e meus documentos. – Senhora, sua data de nascimento é 30.01.1961? – Exatamente. – Cinquenta e um anos? – Sim. – E está grávida?! Lembrei-me daquela atriz que engravidou aos 54 anos. – Estou sim, por quê? Com ar de desconfiança, pareceu olhar pra minha barriguinha. Ainda bem, a barriguinha depois das férias está grandinha. – Trouxe o original do IPTU? Busquei na pasta e entreguei o tal do IPTU. – Trouxe o comprovante de residência? Saquei da pasta a conta de gás, luz e telefone. As três de uma vez, para evitar mais pedidos. – A cópia autenticada de sua certidão de casamento atualizada, a senhora trouxe? Francamente, a minha certidão de casamento, de tão extensa, parece uma daquelas capivaras policiais. Fui solteira, fui casada, separada, divorciada. Viúva ainda não fui! – Três xérox do RG, três xérox do título de eleitor e todos os comprovantes de votação das duas últimas eleições. Foi aí que meu sangue gelou. Comprovante do quê? Faltou o comprovante de um dos turnos da última eleição. Quis argumentar, explicar, retrucar. Não teve jeito, precisei voltar pra casa e me contentar com um novo agendamento, para daqui a um mês.
Ainda olhei pra funcionária atrás do balcão, entre papéis, grampeadores, carimbos e um ar sacana de quem se livrou de mais um que, no caso,era eu!
Nada funciona nesse país antes dos confetes virarem cinzas. É durante a quaresma que a engrenagem dessa engenhoca começa a girar. Porém, começa tão lentamente que, se duvidar, só pega no tranco pertinho do Natal. E começa tudo de novo, até depois do carnaval.
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
12 de fev. de 2012
PRA TUDO COMEÇAR NA QUARTA-FEIRA!
Por que será que o ano novo não acontece na quarta-feira de cinzas? Nada mais justo, afinal a vida parece recomeçar apenas depois do carnaval!
Fui à repartição pública na terça-feira às duas horas da tarde. Uma fila dessas de fazer a coluna doer, o pé inchar, a paciência acabar! Finalmente consegui uma senha: número 236. Olhei ao redor, tinha gente pra todo o lado. O painel eletrônico marcava o número 179. Quis fazer as contas, para descobrir quantas criaturas desafortunadas estavam na minha frente, mas sou péssima em matemática. Preferi buscar um lugarzinho qualquer pra sentar. Ao meu lado, uma senhora de uns oitenta e muitos anos de idade, parecia mastigar a dentadura. E eu, sem mais o que fazer, tentei ensurdecer.
Eis que, depois de duas horas, finalmente apareceu “236” no painel. Levantei da cadeira, cheia de felicidade. Mal cheguei no balcão de atendimento, fui barrada. – Senhora, espere ao lado, vamos atender primeiro os deficientes, os idosos e as mulheres grávidas. Pensei depressa: não sou deficiente ( mentalmente, talvez), não sou idosa ( ai de quem disser o contrário). Então, encontrei a solução: - Estou grávida! A atendente me olhou e olhou. Pediu a papelada e meus documentos. – Senhora, sua data de nascimento é 30.01.1961? – Exatamente. – Cinquenta e um anos? – Sim. – E está grávida?! Lembrei-me daquela atriz que engravidou aos 54 anos. – Estou sim, por quê? Com ar de desconfiança, pareceu olhar pra minha barriguinha. Ainda bem, a barriguinha depois das férias está grandinha. – Trouxe o original do IPTU? Busquei na pasta e entreguei o tal do IPTU. – Trouxe o comprovante de residência? Saquei da pasta a conta de gás, luz e telefone. As três de uma vez, para evitar mais pedidos. – A cópia autenticada de sua certidão de casamento atualizada, a senhora trouxe? Francamente, a minha certidão de casamento, de tão extensa, parece uma daquelas capivaras policiais. Fui solteira, fui casada, separada, divorciada. Viúva ainda não fui! – Três xérox do RG, três xérox do título de eleitor e todos os comprovantes de votação das duas últimas eleições. Foi aí que meu sangue gelou. Comprovante do quê? Faltou o comprovante de um dos turnos da última eleição. Quis argumentar, explicar, retrucar. Não teve jeito, precisei voltar pra casa e me contentar com um novo agendamento, para daqui a um mês.
Ainda olhei pra funcionária atrás do balcão, entre papéis, grampeadores, carimbos e um ar sacana de quem se livrou de mais um que, no caso,era eu!
Nada funciona nesse país antes dos confetes virarem cinzas. É durante a quaresma que a engrenagem dessa engenhoca começa a girar. Porém, começa tão lentamente que, se duvidar, só pega no tranco pertinho do Natal. E começa tudo de novo, até depois do carnaval.
Marcadores:
burocracia,
carnaval,
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