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Viajar para o exterior dá uma sensação de alegria, misturada com o profundo estresse da viagem. Viajar de excursão, dá uma sensação de riqueza misturada com pobreza, que só mesmo quem já passou por isso consegue compreender. O guia só falava espanhol. Ufa, ainda bem “yo sei hablar portunhol”! Passamos por edifícios que são velhos conhecidos dos brasileiros que assistem telejornais e novelas globais. Entendi o que o sujeito disse: “ esta é a Casa Rosada, a cor é rosada porque mataram um boi e usaram o sangue pra misturar com a tinta”. Senti nojo, senti pena do finado bichinho, mas senti forte emoção ao lembrar que ali Evita Peron entoou “Não Chore Por Mim, Argentina”. Divo me deu um cutucão na costela quando eu quis saber em qual janela aquela senhora tão afinada cantou para a população. – Diva, fique quieta! Ainda bem, o sujeito não entendeu uma só palavra que proferi. Descemos do ônibus para as fotos na Praça de Mayo. Curioso, parecia a Praça da Sé, a diferença é que ali não havia aqueles camelôs vendendo de tudo um pouco, mas havia outros protestando contra a guerra, pedindo paz e também exigindo algo que parecia passe de ônibus e metrô. Eu me senti em casa. – Divo, vamos tirar fotos? Pare ali, ao lado daquela tia. E Divo procurou a tia, deu até uma voltinha tentando entender quem poderia ser a criatura. Era um painel com a foto da presidenta da Argentina. – Pare aí, vai ficar legal a foto. – Diva, pelamordedeus! Ele nem teve tempo de resmungar mais nada, mais do que depressa, fiz o “clic” com a câmera digital. As demais fotos, a maioria tirada dentro do ônibus, retrataram avenidas, monumentos. Fomos a um show de tango. Divo chorou durante a bela apresentação de El Dia En Que Me Quieras. Disse que isso o fez lembrar-se de seu finado pai. Comecei também a chorar, creio eu que a culpa disso foi a garrafa de vinho que, juntos, bebemos inteirinha. Terminado o espetáculo, ainda emocionados e enxugando as lágrimas, fomos interrompidos pelo guia: - Todos os passarreros del ônibus nueve, bamos ir de vuelta ao nabio. Nabio era o navio e passarreros éramos nós. Vambora! As fotos que tiramos nesse regresso saíram cortadas, tremidas, coisas de quem sacolejava dentro do busão, movido a vinho tinto. Chegamos de volta ao porto, ríamos de tudo e de todos. A senhora gorda que tentava buscar o chapéu levado pelo vento; a família que carregava várias sacolas e caixas contendo compras de Calle Florida. Ríamos de nós, ríamos para nós, também carregados de compras.
Já fizemos a promessa de voltar a Buenos Aires por conta própria, sem tour, sem guia, sem pressa. Voltarmos e nos sentarmos em Porto Madero, com a calma e o prazer de quem sabe que viajar é renovar a alma!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
1 de fev. de 2012
VIAJANDO POR AÍ
Viajar para o exterior dá uma sensação de alegria, misturada com o profundo estresse da viagem. Viajar de excursão, dá uma sensação de riqueza misturada com pobreza, que só mesmo quem já passou por isso consegue compreender. O guia só falava espanhol. Ufa, ainda bem “yo sei hablar portunhol”! Passamos por edifícios que são velhos conhecidos dos brasileiros que assistem telejornais e novelas globais. Entendi o que o sujeito disse: “ esta é a Casa Rosada, a cor é rosada porque mataram um boi e usaram o sangue pra misturar com a tinta”. Senti nojo, senti pena do finado bichinho, mas senti forte emoção ao lembrar que ali Evita Peron entoou “Não Chore Por Mim, Argentina”. Divo me deu um cutucão na costela quando eu quis saber em qual janela aquela senhora tão afinada cantou para a população. – Diva, fique quieta! Ainda bem, o sujeito não entendeu uma só palavra que proferi. Descemos do ônibus para as fotos na Praça de Mayo. Curioso, parecia a Praça da Sé, a diferença é que ali não havia aqueles camelôs vendendo de tudo um pouco, mas havia outros protestando contra a guerra, pedindo paz e também exigindo algo que parecia passe de ônibus e metrô. Eu me senti em casa. – Divo, vamos tirar fotos? Pare ali, ao lado daquela tia. E Divo procurou a tia, deu até uma voltinha tentando entender quem poderia ser a criatura. Era um painel com a foto da presidenta da Argentina. – Pare aí, vai ficar legal a foto. – Diva, pelamordedeus! Ele nem teve tempo de resmungar mais nada, mais do que depressa, fiz o “clic” com a câmera digital. As demais fotos, a maioria tirada dentro do ônibus, retrataram avenidas, monumentos. Fomos a um show de tango. Divo chorou durante a bela apresentação de El Dia En Que Me Quieras. Disse que isso o fez lembrar-se de seu finado pai. Comecei também a chorar, creio eu que a culpa disso foi a garrafa de vinho que, juntos, bebemos inteirinha. Terminado o espetáculo, ainda emocionados e enxugando as lágrimas, fomos interrompidos pelo guia: - Todos os passarreros del ônibus nueve, bamos ir de vuelta ao nabio. Nabio era o navio e passarreros éramos nós. Vambora! As fotos que tiramos nesse regresso saíram cortadas, tremidas, coisas de quem sacolejava dentro do busão, movido a vinho tinto. Chegamos de volta ao porto, ríamos de tudo e de todos. A senhora gorda que tentava buscar o chapéu levado pelo vento; a família que carregava várias sacolas e caixas contendo compras de Calle Florida. Ríamos de nós, ríamos para nós, também carregados de compras.
Já fizemos a promessa de voltar a Buenos Aires por conta própria, sem tour, sem guia, sem pressa. Voltarmos e nos sentarmos em Porto Madero, com a calma e o prazer de quem sabe que viajar é renovar a alma!
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