Apanhei uma gripe. Não, nada disso! Acho que ocorreu o
oposto: uma gripe me apanhou. Pensando bem, depois de vários rounds e um belo
nocaute, beijei a lona e joguei a toalha: uma gripe me derrubou impiedosamente. Lembro-me do último domingo, ao voltar pra
casa no final do dia pedi a Divo que olhasse minha garganta. Abri a boca emitindo
um AAAAA.
– Divo, minha garganta está vermelha?
– Claro,né? Queria
que estivesse de qual cor?
– Divo, vou perguntar
de novo: minha garganta está inflamada?
– Abra a boca.
– AAAAA.
– Toma uma com limão que você pegou gripe.
– Uma?
– É, uma branquinha.
– Leite?
– Diva, branquinha é cachaça!
– Divo, eu não bebo cachaça!
- Amor, faça um gargarejo com água morna e sal, tome uma
aspirina e um banho quente.
Tentei seguir as recomendações de Divo, exceto a branquinha,
e fui dormir cedo. Acordei no meio da noite com muita dor de garganta e o corpo
tão dolorido que parecia que eu tinha corrido alguma maratona. Procurei o
termômetro e depois de vasculhar duas gavetas, acordar Divo e também acordar o
cãozinho Bono, encontrei o termômetro na prateleira da cozinha. A febre me consumia, ou será que me
cozinhava? O termômetro marcava 38,5C.
Segunda-feira é dia de reunião, dia de correria, de muito
trânsito para temperar o começo da semana. Levantei às 07h00 praticamente me
arrastando pela casa. Meu nariz entupido e parecia que todos os meus ossinhos,
nervos e músculos tinham sido atropelados por uma jamanta. Olhei pela janela o
dia frio, chuvoso e cinzento. Mal conseguia caminhar, tudo o que eu mais queria
era voltar pra cama e me cobrir com o edredom.
-Diva, fique em casa hoje.
Pensei um pouco, mas não vi saída, eu precisava trabalhar.
Um banho quentinho, isso é sempre revigorante. Escolhi um casaco e uma echarpe
para aquecer meu pescoço. Assim que cheguei ao escritório eu me senti no
planetário! O mal estar era tamanho que eu jurei ver estrelinhas.
Minha voz estava rouca, meu nariz escorria, os olhos
lacrimejavam, eu estava com calafrio e todas as “ites” possíveis me acometiam:
otite, laringite, rinite e sinusite. Esqueci em casa a caixinha de lenços de
papel, providenciei um rolo de papel higiênico que carreguei feito um troféu
pra lá, pra cá.
As pessoas evitavam me cumprimentar: “- Oi, Diva, beijinho
de longe!”. Se eu estivesse com sarampo
causaria menor repugnância. Chegaram a
abrir as janelas do escritório naquele frio de rachar.
Era meio-dia quando meu chefe, Dr. Armando, me chamou. – Dona Diva, a senhora está gripada? Minha voz estava horrível! – Só um bouquinho,
eu tô um bouco congestionada, bor favor não rebare.
- Dona Diva, a senhora está dispensada. Vá pra casa, prepare
um chá, tome um remedinho, amanhã nos telefone para dar notícias.
Cheguei em casa, desviei de Bono que fazia festinha, deitei
na minha cama de roupa e tudo. Acordei quando Divo chegou em casa no começo da
noite. – Diva, vamos ao médico.
Pelo caminho fiz o diagnóstico: - Divo abosto que estou com
sinusite.
Sinusite dói. Sinusite faz a gente pensar em nariz quebrado,
cabeça prestes a explodir.
Medicada, voltei pra casa. Seis dias depois ainda gripada,
nariz entupido, a sinusite controlada, porém fortíssima.
Não tinha ninguém em casa quando tocou o telefone, eu estava
enroladinha na mantinha de lã xadrez, curtindo meu nariz entupido. Atendi sonolenta: - Alô. – Por favor, a
senhora Diva está? – Sim, é ela. – Senhora, aqui é do Banco que Pariu, sou
Fulano, o seu gerente.
Tentei imaginar se tinha passado um cheque sem fundos, se
tinha estourado o limite do cheque especial, ou do cartão de crédito.
- Bois não, é o Fulano gerente da binha conta?
- Senhora Diva, a senhora é nossa cliente especial master plus.
Por esse motivo gostaríamos de lhe oferecer um seguro gold sunshine para o seu
automóvel.
Eu não podia acreditar: o mala do Banco que Pariu tinha me
acordado, eu com sinusite, e queria me vender um seguro para o meu automóvel.
Detalhe: eu não dirijo, portanto eu não tenho carro.
- Fulano, bor favor, desculbe interrombê-lo. Eu estou com
sinusite.( E tossi).
- Oh, Senhora Diva, peço desculpas pelo inconveniente. Posso ligar em outro horário. Qual é o melhor
horário para a senhora?
Tentei imaginar em qual horário a sinusite iria me deixar.
Resolvi então papear, tem coisa melhor para combater um chato?
- Fulano, eu beguei sinusite. Bedi pro beu barido olhar
binha garganta e ele disse que estaba bermelha. Fobos pro hosbital e o bédico
disse que era sinusite. Eu tobei antibiótico e não bassou. Beu barido disse pra
eu tobar uba branquinha que bassa.
- Pois não, senhora. Nós, do Banco que Pariu estamos à sua
disposição, assim que se recuperar telefone para nós. Desejamos a sua pronta
recuperação.
- Esbera, Fulano! Quanto custa o seguro?
O sujeito se animou.
- Qual é o modelo e ano do seu carro?
- Quanto custa o seguro de um Bercedes 2012?
- Mercedes?- Qual modelo do Mercedes?
- Não sei, berguntei só bra saber.
Notei a irritação de Fulano.
- Senhora, infelizmente preciso desligar, aguardaremos a sua
ligação para fazermos uma cotação para o melhor seguro para o seu Mercedes.
- Esbera, Fulano!
- ...
- Eu não tenho um Bercedes.
- Já imaginava, senhora.
-Beu carro é uba Ferrari.
Fulano desligou confuso, sem saber se eu estava falando sério, ou não.
Nem sempre sou vingativa, mas tenho meus dias de "Carminha". É justo estar com
sinusite, cheia de antibiótico, dormindo enrolada em um cobertor e atender ao
telefone para ouvir proposta de seguro do gerente do banco?
Dois dias depois chegou um envelope do Banco que Pariu na
minha casa. Fulano havia aumentado o meu limite de financiamento, o limite do
meu cheque especial e do meu cartão de crédito. Creio, ele acreditou que eu
tenho uma Ferrari, ou algo assim.
Ainda com sinusite, termino o texto rindo à beça. Ferrari?
Eu tenho o chaveirinho, será que serve?
2 comentários:
Oi Diva! Faz um tempo voce visitou meu blog e deixou um comentario super simpatico e seu endereço. Soh agora passei por aqui e adorei! Virei mais vezes.
Grande abraço, Juliana.
p.s: Desejo de que as ites e os gerentes de banco te esqueçam por um bom periodo...
Oi, Juliana!
Seja bem-vinda sempre! Já estou melhorzinha da sinusite, mas gerente de banco é algo crônico.
Um beijo!
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