É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.

Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







30 de jun. de 2010

MÚSICA DE ABÍLIO MANOEL

Esta é a minha música preferida. Ele compôs tantas, mas Andréa é mesmo linda.
Pra vocês ouvirem comigo.

29 de jun. de 2010

MEU QUERIDO ABÍLIO MANOEL!


Começo o texto tentando enxergar o monitor do meu velho PC. Estou chorando. A dor no meu peito é a dor da saudade, da despedida. Meu amigo, o criador do meu pseudônimo Diva Latívia, aquele que tanto me ajudou a voltar a escrever, que é o meu webmaster – Abílio Manoel – faleceu.
Este um texto escrito de qualquer jeito, certamente ele o editaria, possivelmente o reprovaria. Mas, sob tamanha emoção e tomada de tristeza, restaram as palavras escritas, o jeito que tenho de extravazar tanta dor e tristeza.
No dia 28, véspera de sua morte, conversamos rapidamente no MSN. Ele estava em uma lan house em Itacaré e me disse que chegaria na quarta-feira à tarde. Despediu-se dizendo “boa sorte, até breve”. Algo atípico. Abilinho não era lá muito de dizer nada disso.
Passei o dia com o coração inquieto. Feito bicho esperando terremoto. Estava absurdamente impossível. Escrevi o texto falando da mudança antes de ter a notícia. Portanto, minha alma sentiu a partida do meu editor teimoso, amigo favorito, lusitano adorado, webmaster tão amado.
Que merda, Abílio! O que vou fazer agora sem você?

Da sua amiga e criatura,

Diva Latívia

MUDANÇA


Ela resolveu mudar de casa. Escolheu outro cantinho no mundo pra viver.
Abriu a porta do guarda-roupa e começou a dobrar camisetas, meias, casacos pesados de lã. Depois de muitas horas, havia juntado várias malas e até aqueles sacos de lixo de 100 litros, abarrotados de roupas e miudezas várias. Não imaginava que tivesse juntado tantas coisas ao longo de dois anos.
Encontrou a chave do quarto, há mais de um ano a procurava, estava dentro de uma caixinha de joias. Ficou estática em meio à exaustão. Tentou lembrar o dia em que sonhou mais alto, o momento em que prometeu que seria feliz. Chorou lágrimas sentidas, a sensação de fracasso a invadiu. Tanto esforço, tanto trabalho e lá estava ela: sozinha e se despedindo de mais um sonho. Malas, caixas, sacolas, papeis.
Mal podia caminhar naquele apartamento minúsculo. Abriu uma garrafa de vinho, sentou-se ao lado de uma caixa de papelão e recordou a última mudança que fez. Concluiu ser uma cigana, alguém itinerante, sem muitos laços, com o futuro cravado na palma de sua mão: solidão! Mudou de cenário e nada mais, a vida seguia um curso em círculos. Continuava sem ter com quem dividir a vida, os planos.
Mais velha, agora era experiente no transporte de malas e fardos diversos. Apagou as luzes quando saiu. Suspirou tentando esquecer que teria uma casa, mas lhe faltaria um lar.

21 de jun. de 2010

ALÔ?!


Ainda vou conseguir compreender por que as pessoas estão começando a se relacionar e já querem descobrir se a criatura-alvo é fiel ou infiel. Foi assim que a Isabel pegou a agenda telefônica do José Alberto, que conheceu no Brejo Perfeito.
Ele ainda dormindo. A agenda de papel sobre a mesa lateral da sala. Depressa, olhou todos os nomes de mulheres começados com a letra M, afinal, calculou, M é de Maria e metade das mulheres do Brasil tem Maria no nome.
Então viu lá: Mariana. Pensou: “desgraçada, pra essa eu vou ligar agora!”. E discou. Atendeu uma telefonista e disse: - “Colégio Nossa Senhora do Perdão, boa tarde”. Sem saber o que fazer, desligou.
Viu então o nome Maria Assunta. Falou em alto e bom som: “achei a filha da mãe!”. Ligou. Atendeu uma criança, o barulho era de TV ligada, tinha um cachorro latindo. Conseguiu dizer: - “garoto, chama a Maria Assunta pra mim”. O menino do outro lado berrou: - “vó, telefone pra senhora!”. Desligou depressa.
Resolveu mudar de letra. Escolheu A, porque toda Ana começa com A. E lá estava o nome Aline. Atendeu uma voz doce e jovial. Com ódio, perguntou se ela era a Aline. Resposta: - “sim”. Trêmula e quase aos prantos, perguntou se ela conhecia o José Alberto, seu namorado. Resposta: - " ele é o meu pai”. Desligou o telefone e pensou: “cruzes, me ferrei, o que faço agora?".
Em seguida o telefone tocou. Era a Aline querendo saber cadê o pai dela. Fez a voz fanhosa e disse: - “eu sou a faxineira, meu nome é Edilaine, seu pai liga pra você quando acordar”.
Ficou tentando imaginar o que fazer pra apagar os traços de todos os telefonemas que fez. Foi deletando as ligações feitas, mas o aparelho apitava a cada apagão bem sucedido. Com receio de acordar José Alberto, teve uma ideia: pegou o telefone sem fio e jogou dentro do vaso sanitário.
Quando o incauto pretendente acordou, ela esboçou um sorriso e disse: - “Benzinho, você nem imagina que tragédia aconteceu. Eu estava falando com a minha mãe no seu telefone e sem querer ele caiu dentro da privada”.
Meia hora depois tocou o celular do José Alberto. Era a filha, Aline, querendo saber se a Edilaine faxineira deu pra ele o recado.
Foi assim que o José Alberto terminou o quase-futuro-namoro com a Isabel. Já comprou um novo telefone sem fio e agora só faz agenda telefônica no celular, que ele não solta nem mesmo pra dormir.
(Texto de minha autoria, publicado no blog Janela das Loucas).

QUISERA


Quisera eu que os amores durassem pra sempre, fossem perenes e guardassem consigo o calor do sol, eternamente.
Quisera não mirar a tristeza em outro olhar, não ouvir incertezas, não ler reticências.
Quisera ter as palavras certas, gravadas em gestos e fortalecidas em esperança.
Quisera planejar os dias, sem contar nos dedos que sempre é tempo demais.
Quisera ter a juventude de outrora, os sonhos passados a limpo, em dueto, passo a passo.
Quisera ser amada, na justa medida do amor maior, de peito aberto, sem medo.
Quisera ser futuro, não somente ser alento, ser momento.
Quisera o aroma das primeiras flores, voar nas asas de um anjo, ter de volta os sonhos que agora se tornam delírios nos versos meus.

18 de jun. de 2010

JOSÉ SARAMAGO

O escritor e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, José Saramago, faleceu nesta data. Ele nos deixou a obra vasta e espetacular. Disse uma frase, para lembrarmos neste momento: "no final, descobrimos que a única condição para a vida existir é a morte".

NÃO ME PEÇAM RAZÕES ( José Saramago)



16 de jun. de 2010

GELADA!


Primeiro encontro dá um nervoso que nem te conto. A gente fica na maior ansiedade. Tem que estar linda, sem ficar muito produzida. É preciso parecer naturalmente bela.
Abri o guarda-roupa. Adoro frio, mas quem merece 8 graus de temperatura? Escolhi uma saia de lã preta, meia-calça dessas fio 70, bota de cano alto. Camisetinha por baixo, por cima uma blusinha de lã, sobre tudo um casacão. Quando me olhei no espelho deu vontade de chorar de desgosto. Tirei aquilo tudo. Falei sozinha: - "eu me recuso a parecer um esquimó!". Peguei um vestidinho meia estação, por cima coloquei o casaquinho. Não tirei as botas, estão na moda.
Quando saí o frio cortava, parecia que vinha de cima e entrava por baixo. Sorri pro moço, tentando disfarçar. Acredita que ele não quis fechar a janela do carro? Disse que não conseguia dirigir de outra forma. Meus cabelos ao vento e eu me sentindo um pingüim no Pólo Norte.
Fomos a um restaurante, quando sentei a cadeira parecia um bloco de gelo. Nem preciso dizer o que ficou congelado. Primeiro brinde, com vinho tinto. Olhei pras minhas mãos: roxas contrastando com o esmalte vermelho das unhas. Algo digno de Mortícia Adams. Lamentei ter deixado em casa o casacão de lã.
Escolhemos o prato: linguado ao molho de uvas. Pensei em caldo de mandioquinha, mas não ficaria bem no primeiro encontro. Haja glamour. Ele longe, do outro lado da mesa. Meus pensamentos eram todos voltados pro aquecimento. Seria tão bom uma lareira, tão bom um abracinho. Ouvi tudo a respeito da seleção brasileira de futebol, sobre a eleição presidencial e a quantas anda a cotação da bolsa de Nova Iorque.
Entre uma garfada no peixe e um olho no gato, lá ia eu bebericando o vinho. Pedimos outra garrafa. Comecei a contar a vida. Os amores, os namoros, a falta de grana, chorei falando da saudade da infância e ri alto ao comentar a novela das oito. E ele escutou tudo e só fez uma interrupção quando me perguntou: - "você não está acostumada a beber tanto, não é?". Foi quando me toquei que já tinha bebido demais. Recusei a sobremesa, aceitei o café.
Quando fui entregue em casa eu me senti um pacote do Sedex. Estava errante e cambaleante. Ele deu a partida no carro e nem esperou eu subir as escadas do meu prédio. Ainda bem, não me viu tropeçar no último degrau, patinei tentando me equilibrar, me segurei na poltrona da hall de entrada e gritei um nome feio.
Entrei em casa, vesti meu pijaminha de flanela com o elástico frouxo na cintura, calcei as pantufinhas de lã e liguei o MSN. Lá estava minha amiga Alice. Contei tudinho: o encontro, o frio e o porre de vinho. Rimos sem parar.
Fui dormir abraçada no meu travesseiro e acordei no dia seguinte com a pior dor de cabeça que já tive na vida: ressaca. Prometo: daqui em diante beberei chocolate quente e nada mais.
(Texto de minha autoria, também publicado no blog Janela das Loucas).

10 de jun. de 2010

SANTO ANTÔNIO


13 de junho, dia de Santo Antônio. Mencionado em vários textos por mim publicados, merece ser lembrado no meu blog.


DIA DOS NAMORADOS


Amar é muito mais que sentar-se em um barzinho, que passear, ter momentos alegres. Amar é mais ouvir do que falar. Estender as mãos quando a barra pesar. Ser afeto, ser direto, ser companhia na estrada da vida.
Amar é mais do que dizer “EU TE AMO”. É secar as lágrimas, curar as feridas, reaprender a caminhar lado a lado. Oferecer o seu tempo, sonhar os mesmos sonhos, realizar os mesmos planos. Abrir-se pra aquilo o que há de vir, sem olhar pra trás, mas com a sabedoria de quem já caiu, já ralou e agora tem quem o ajude a levantar-se.
É ver-se no brilho de um olhar, na moldura de um sorriso, nas batidas fortes de um coração que pede felicidade. É renascer das cinzas recoberto de luz.
Eu te amo são palavras, AMOR é o mais belo sentimento que um ser pode oferecer ao outro. Conjuguemos, então, o verbo AMAR. Eu te amo, tu me amas, nós nos amamos.
Que seja de paz, harmonia, coragem e muita felicidade esse caminho iluminado.


Neste vídeo beijos de cinema ao som de Beija Eu, cantada por Marisa Monte.

PODEROSA ORAÇÃO DO DESENCALHE


Estava procurando no Google uma oração de Santo Antônio - que em breve publicarei - quando esbarrei na "oração do desencalhe". Desconheço a autoria e creio que seja concorrente de Santo Antônio, que tem sido mencionado em meus textos. Quero compartilhar com as moças solteiras, viúvas, separadas, enfim as tão encalhadas quanto Diva Latívia. Meninas, vamos rezar com fervor!

Poderosa Oração do Desencalhe

Oh Chiquérrima Deusa do Desencalhe!
Vós que sois a solução de todas as encalhadas, intercedei junto ao destino e não nos deixe ficar para titia, muito menos para tia-avó.
Oh grande batalhadora das baladas, reuniões e festas, concedei-me esta graça:
(diga em voz alta) UM MARIDO,
(mais alto) UM MARIDO,
(grite) UM MARIDO!
E que ele nunca tenha olhos para qualquer baranga ou mal amada.
Ajudai-me a conquistar um bom partido e afastai de mim os galinhas e os sem dinheiro.
Atendei ao meu pedido com urgência. Serei grata pelo resto da minha vida e levarei seu nome a todas que tenham fé!

Aleluia! Aleluia! Aleluia!

5 de jun. de 2010

AMO TE AMAR


Amo seu jeito de me olhar,
Seu sorriso ao me admirar,
Seus braços a me rodear,
Os beijos que me fazem sonhar.

Amo sua voz a sussurrar,
O desejo que nos faz flutuar,
Seu perfume ao me tocar,
Suas palavras a me confortar.

Amo seu sono que passei a vigiar,
Os planos que fazemos ao brindar,
Os anos a nos esperar,
A vida a nos contemplar.

Amo a certeza de amar,
Ouvir seu coração a pulsar,
Sentir seu calor ao amar,
Amo o homem predestinado a ser meu par.

Para combinar com meus versos, You Are So Beautiful, cantada por Joe Cocker, com uma bela visão do mar.

4 de jun. de 2010

1 + 1 = 2


Tem gente que passa a vida inteira sem encontrar alguém que forme com ele um par que realmente valha a pena. Não existe amor pela metade. Chegam as dificuldades, vai cada um pra um lado e adeus. A vida não é feita apenas de momentos felizes, existem os problemas. Par é pra colaborar, ajudar um ao outro.
Após uma certa idade, já tivemos alguns relacionamentos. Sabemos o que queremos e, especialmente, aquilo o que não queremos mais. Alguns de nós já passou por um casamento, uma separação. Difícil refazer a vida amorosa. Pessoalmente, sempre encontrei essa dificuldade. Em meus textos mais leves eu brinco falando de Santo Antônio, da procura do Mr. Divo Latívio. Alguém real, mas que custou quase meio século pra ser por mim encontrado.
Dizem que é preciso ter sorte no amor. Acho que a sorte depende de encontrar a pessoa, tudo o mais é questão de força de vontade, de ter aprendido algo positivo com as experiências anteriores e estar disposto não apenas a ser feliz, mas levar a outro alguém a felicidade. Quem muito sofreu, entende bem o que escrevi aqui. A gente aprende muito com a solidão, aprende muito com o erro nas escolhas. Encontrar esse alguém tem sabor de milagre, se bem que esperar milagre parece ser típico dos que não acreditam que são capazes de, por si sós, realizar essa obra maravilhosa que é construir, passo a passo, o amor ao lado de alguém.
Conservar a presença de alguém, alimentar o amor, isso é difícil, não é fácil não! Temos hábitos antigos, parentes, experiências que nos marcaram profundamente, carências, medos, uma longa história. Namorar é quase matar um leão por dia, porque se descuidar vem a solidão e nos traga novamente.
Tão bom olhar pra vida, por mais dura que tenha sido, e entender que nada aconteceu por acaso. Que de todas as provas que foram apresentadas, mesmo a pior delas, restou capacidade de amar e ser amado.
Pode demorar, afinal eu mesma falei aqui que comigo demorou quase meio século, mas quando isso acontece a vida muda pra melhor, completamente. As alegrias são multiplicadas; a tristeza é subtraída; o peso dos problemas é dividido. Pessoas novas chegam, são os amigos e a família de ambos, uma adição. Feliz merecimento, alguns parecem vir ao mundo aptos pra compreender e receber o amor desde cedo, outros na idade madura. Doce se torna a vida quando olhamos pra alguém e o coração se aquieta, finalmente!
Um mais um: dois.

MR. DIVO LATÍVIO


Cansei de tentar ser o cupido dos meus amigos. Agora vou fazer o mesmo por mim, com licença!
Para ser dono do meu coração é preciso ter mais do que beleza física. Espero que vocês enviem a listinha por e-mail aos seus amigos e parentes. Vamos lá, seguem aqui os ítens, um a um.
1- Acreditar em Deus;

2- Ser bom filho e bom pai;

3- Ser honesto e generoso;

4- Já ter beijado o fundo do poço e, vitorioso, emergido são e salvo;

5- Ter consciência e praticado gestos de altruísmo;

6- Ser um bom cidadão, desses que pensam antes de votar;

7- Ser solidário, mesmo que isso signifique uma certa dose de sacrifício pessoal;

8- Apresentar-me à família e aos amigos;

9- Gostar da simplicidade, dos animais, da natureza, enfim, do planeta;

10- Já ter quebrado a cara algumas vezes, tentando encontrar alguém parecida comigo;

11- Saber me reconhecer, ainda que com certa dúvida a princípio, e sorrir de satisfação quando recordar minhas palavras, faladas ou escritas;

12- Ser responsável e carinhoso;

13- Se lembrar de mim algumas vezes ao dia;

14- Saber me surpreender com gestos simples, mas encantadores;

15- Corajoso, tem que querer se casar de novo, ou seja, não pode ser do tipo “cada um na sua casa pra sempre”;

16- Parar de coaxar no brejo. Isso é fundamental pra mim!

17- Ser fiel (homem fiel existe sim!);

18- Saber quem foi o Nacional Kid e ter assistido ”Jeannie é um Gênio” em televisor preto-e-branco e à válvula;

19- Ser trabalhador;

20- Ter defeitos porque ninguém é perfeito.

Como já disse, aparência não é o mais importante. Porém, eu tenho o meu tipo preferido e vocês bem sabem qual é.
Será que fui muito exigente? It´s now or never! Torçam divinamente por mim, mal vejo a hora de ser a namorada do Mr. Divo Latívio!

Texto de minha autoria, publicado em 24/11/2009 no blog Janela das Loucas

1 de jun. de 2010

SIMPATIA PRA ARRUMAR UM MARIDO


- Tia, arranjei uma simpatia infalível pra você arrumar um marido.
Quando eu li isso no Whatsapp comecei a rir, talvez um riso nervoso de quem já está em desespero de causa.
- Faz assim: pega um prato virgem.
- Prato virgem? Menina, neste mundo de hoje só tem virgem no horóscopo.
- Sei lá tia, tá escrito assim. Anota aí:
Uma fita amarela com 20 cm de comprimento.
- Pode ser azul?
- Não tia, tem que fazer o que manda a simpatia!
- O que mais?
- Uma imagem de Santo Antônio.
- Ah eu sabia, o santinho sempre participa dessas coisas.
- Essência de alfazema.
- Tenho aqui essência de baunilha.
- Tia, você quer arrumar um marido ou não?
- Quero!!!
- Então para de reclamar e vai anotando tudo.
- Uma vela branca.
- Isso eu tenho, mas preciso descobrir onde dona Marieta escondeu as velas. Ela esconde tudo, nunca encontro nada.
- Tia esquece a empregada, estou falando da simpatia.
- E agora, o que tenho que fazer?
- Hoje à noite você acende a vela e faz uma oração pra Santo Antônio pedindo um marido. Enquanto for rezando vai enrolando a imagem com a fita amarela. No final você coloca a vela no prato e borrifa a essência de alfazema. Deixa a vela queimar até o final e é só.
- E o que eu faço com o santo?
- Guarda na bolsa.
- Mas a imagem que tenho é muito grande, não cabe na bolsa.
- Então guarda em uma sacola, mas leve com você pra todos os lugares onde for, até a simpatia se realizar.
Nem queiram saber o trabalho imenso que deu encontrar esses ingredientes do ritual, ainda mais carregando a sacola com o santo amarrado em fita amarela. Prato virgem eu encontrei fácil, mas onde eu poderia encontrar essência de alfazema? Foi assim que tive a ideia de trocar a essência pelo meu perfume Dior. Fiz a simpatia, rezei com fervor.
Dois dias depois telefonou pra mim José Raylton, aquele sapo-pretê que desapareceu depois de sofrer uma diarréia incontrolável. Fez um convite pra irmos jantar. Acho que meu perfume atraiu alguém do passado, quem merece?
Resolvi encontrar a essência de alfazema e refazer a simpatia. Caminhamos duas horas no centro da cidade, eu e a imagem de Santo Antônio. Ele tem ido comigo ao trabalho, ao shopping, à feira, até ao cinema ele já foi.
Fiz tudo de novo ontem à noite, de joelhos. Vamos ver se agora a coisa funciona, se bem que usei o mesmo prato, mas está praticamente virgem, creio que o santo é moderno, não tem esse tipo de preconceito. O resultado contarei pra vocês no dia dos namorados. Cruzem os dedinhos e torçam por mim!

GOROROBA DA TIA DIVA


De uma família de mulheres que cozinham maravilhosamente bem, eu nasci ovelha negra. Não sei distinguir farinha de rosca de farinha de mandioca. Não me perguntem se aquele tempero é majericão ou orégano. Aviso logo ao príncipe encantado: se chegar em casa com fome, no máximo eu terei preparado miojo com muito amor e carinho. Com essa fama, jamais eu deveria ter sido convidada pra acampar com meus sobrinhos. Porém, o convite chegou. Comprei lanterna, pilhas, repelente pra mosquitos, protetor solar. Levei um daqueles sacos pra dormir e não esqueci o meu travesseiro. Pareceu tudo perfeito. Lá fomos nós, a tia com uma garotada que curte balada e já deu muitas histórias pra contar.
Lá chegando, a barraca arrumadinha, a moçada toda feliz, surgiu não sei de onde um fogareiro e uma panela, salsichas, um pacote de macarrão e umas latas de molho de tomate pronto. Olhei aquilo com dó da criançada. Isso lá era comida que se aproveitasse? Resolvi melhorar o rango.
– Pode deixar, pessoal, a tia vai preparar o almoço de vocês!
O que sei é que fiquei sozinha, ao meu redor apenas o mato, os mosquitos e o céu azul. Olhei pros ingredientes como quem olha pra um alienígena. Meu primeiro almoço, feito com minhas próprias mãos! Emocionante? Não, aquilo pareceu assustador. Pra acender o fogareiro eu risquei quase uma caixa toda de fósforos, com medo do pequenino botijão de gás explodir. Lasquei uma unha, sujei minha blusinha branca de molho, minhas costas começaram a doer, tamanha era a ansiedade. Dizem que o trabalho dignifica o ser humano, mas aquilo me pareceu uma tarefa semelhante a uma gincana. Cozinhar, muito mais fácil deve ser pilotar uma astronave rumo à Lua.
Primeira etapa vencida, fogo aceso, eu deixei aquilo cozinhar durante alguns minutos. Provei, estava horrível o sabor. Dentro joguei sal, as salsichas e o macarrão. Acho que eu deveria ter cozinhado o macarrão separado, mas achei que assim ficaria mais suculento. Quando começou tudo a grudar no fundo da panela, coloquei água. Mexi, remexi. Já viram papinha de bebê, aquelas com sabor cenoura? Não é que ficou parecido? O resultado foi que todos estavam tão famintos que adoraram. Agora o prato tem nome: “gororoba da Tia Diva”. A receita está aqui, é só copiar:
- 1 pacote de talharini;
- 2 embalagens de salsicha;
- 2 latas de molho de tomate pronto.
- Sal
Primeiro deixe ferver as latas de molho de tomate, jogue dentro da panela o sal, as salsichas e o macarrão. Começou a grudar, coloque água suficiente pra fazer com que se pareça uma sopa cozinhando. E mexa, mexa, mexa, até virar uma gororoba. Pronto.
P.S: Está vendo só querido Santo Antônio? Aprendi a cozinhar, agora eu já posso casar!