
Ela resolveu mudar de casa. Escolheu outro cantinho no mundo pra viver.
Abriu a porta do guarda-roupa e começou a dobrar camisetas, meias, casacos pesados de lã. Depois de muitas horas, havia juntado várias malas e até aqueles sacos de lixo de 100 litros, abarrotados de roupas e miudezas várias. Não imaginava que tivesse juntado tantas coisas ao longo de dois anos.
Encontrou a chave do quarto, há mais de um ano a procurava, estava dentro de uma caixinha de joias. Ficou estática em meio à exaustão. Tentou lembrar o dia em que sonhou mais alto, o momento em que prometeu que seria feliz. Chorou lágrimas sentidas, a sensação de fracasso a invadiu. Tanto esforço, tanto trabalho e lá estava ela: sozinha e se despedindo de mais um sonho. Malas, caixas, sacolas, papeis.
Mal podia caminhar naquele apartamento minúsculo. Abriu uma garrafa de vinho, sentou-se ao lado de uma caixa de papelão e recordou a última mudança que fez. Concluiu ser uma cigana, alguém itinerante, sem muitos laços, com o futuro cravado na palma de sua mão: solidão! Mudou de cenário e nada mais, a vida seguia um curso em círculos. Continuava sem ter com quem dividir a vida, os planos.
Mais velha, agora era experiente no transporte de malas e fardos diversos. Apagou as luzes quando saiu. Suspirou tentando esquecer que teria uma casa, mas lhe faltaria um lar.
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