
Primeiro encontro dá um nervoso que nem te conto. A gente fica na maior ansiedade. Tem que estar linda, sem ficar muito produzida. É preciso parecer naturalmente bela.
Abri o guarda-roupa. Adoro frio, mas quem merece 8 graus de temperatura? Escolhi uma saia de lã preta, meia-calça dessas fio 70, bota de cano alto. Camisetinha por baixo, por cima uma blusinha de lã, sobre tudo um casacão. Quando me olhei no espelho deu vontade de chorar de desgosto. Tirei aquilo tudo. Falei sozinha: - "eu me recuso a parecer um esquimó!". Peguei um vestidinho meia estação, por cima coloquei o casaquinho. Não tirei as botas, estão na moda.
Quando saí o frio cortava, parecia que vinha de cima e entrava por baixo. Sorri pro moço, tentando disfarçar. Acredita que ele não quis fechar a janela do carro? Disse que não conseguia dirigir de outra forma. Meus cabelos ao vento e eu me sentindo um pingüim no Pólo Norte.
Fomos a um restaurante, quando sentei a cadeira parecia um bloco de gelo. Nem preciso dizer o que ficou congelado. Primeiro brinde, com vinho tinto. Olhei pras minhas mãos: roxas contrastando com o esmalte vermelho das unhas. Algo digno de Mortícia Adams. Lamentei ter deixado em casa o casacão de lã.
Escolhemos o prato: linguado ao molho de uvas. Pensei em caldo de mandioquinha, mas não ficaria bem no primeiro encontro. Haja glamour. Ele longe, do outro lado da mesa. Meus pensamentos eram todos voltados pro aquecimento. Seria tão bom uma lareira, tão bom um abracinho. Ouvi tudo a respeito da seleção brasileira de futebol, sobre a eleição presidencial e a quantas anda a cotação da bolsa de Nova Iorque.
Entre uma garfada no peixe e um olho no gato, lá ia eu bebericando o vinho. Pedimos outra garrafa. Comecei a contar a vida. Os amores, os namoros, a falta de grana, chorei falando da saudade da infância e ri alto ao comentar a novela das oito. E ele escutou tudo e só fez uma interrupção quando me perguntou: - "você não está acostumada a beber tanto, não é?". Foi quando me toquei que já tinha bebido demais. Recusei a sobremesa, aceitei o café.
Quando fui entregue em casa eu me senti um pacote do Sedex. Estava errante e cambaleante. Ele deu a partida no carro e nem esperou eu subir as escadas do meu prédio. Ainda bem, não me viu tropeçar no último degrau, patinei tentando me equilibrar, me segurei na poltrona da hall de entrada e gritei um nome feio.
Entrei em casa, vesti meu pijaminha de flanela com o elástico frouxo na cintura, calcei as pantufinhas de lã e liguei o MSN. Lá estava minha amiga Alice. Contei tudinho: o encontro, o frio e o porre de vinho. Rimos sem parar.
Fui dormir abraçada no meu travesseiro e acordei no dia seguinte com a pior dor de cabeça que já tive na vida: ressaca. Prometo: daqui em diante beberei chocolate quente e nada mais.
(Texto de minha autoria, também publicado no blog Janela das Loucas).
2 comentários:
Já vi esse filme e bem de perto. Encontros assim nos fazem amar cada vez mais ficar em casa. Ainda mais no frio. O tal do cara perdeu não te fez falta (ainda mais ogro total, sem sequer te acompanhar até a porta! ARgh!), mas tenho certeza que a vida dele passou de raspão no que poderia ter sido um romance pra lá de colorido e divertido na vida dele. Paciência... e a vida segue... porque quando não orna, simplesmente não orna. Gosto do jeito como vc escreve, Diva! ;-)
Gladys, amiga querida!
Quanta honra receber aqui um comentário seu!
Realmente, não merecemos esses desmantelados, que surgem do nada e não honram nossa super produção para encontrá-los. Já passei sufoco, frio, fome, medo, calor, enfim... OGROS DOS INFERNOS!!! okkkk
Que bom saber que gosta do jeito que eu escrevo! Muito obrigada, viu?
Beijo e carinho de sua amiga,
Cláudia
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