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Quando cheguei na casa dele, ansioso me esperava pra mostrar algo especial. Quando entrei no quarto, sobre a cama meu pijama estava passado e dobrado.
– Diva, isso daria um belo texto!
A faxineira é antiga, fui eu que recomendei. Das Dores é zelosa, caprichosa. Quando encontrou o pijama pendurado no varal, não posso imaginar o que concluiu. Dona Diva de caso com o Sr. Divo? Enfim, fomos flagrados. Esperta, deixou exatamente do lado que estou acostumada a dormir, lado direito da cama.
O namoro começou faz pouco tempo. Dois corações aos pedaços, entre muita cumplicidade e companheirismo, fizemos dos milhões de caquinhos um bonito vitral.
Ali sobre a cama, na metade que ocupo, o pijama parecia um troféu. A prova de que sobrevivemos às dificuldades do passado e tivemos a graça de encontrar alguém pra dividir não apenas a metade da cama, mas a vida.
Creio que, um dia, conseguirei um lugar na gaveta pra guardar alguns pertences. Quem sabe um cabide pra pendurar o meu casaco? Com jeitinho poderei alcançar metade do guarda-roupa. Que sininhos são esses tocando? Estarei ficando maluca?
Mr. Divo Latívio, você não perde por esperar!
Escrevi centenas de textos no blog Janela das Loucas e também aqui, no meu blog. Entre todos, este aqui é o meu preferido. Já publiquei anteriormente, desta vez dedico "Infinito Amor" aos Anjos. Se for amor, que seja vivido até o fim, sem fim!
Já fazia muitos anos que eles não se encontravam. A última lembrança que tinha era a porta da casa dele batendo atrás de si. Nunca mais se viram.
Quando ela foi ao seu encontro, tanto tempo depois, em uma fração de segundos toda a história passou. Parecia um lindo filme em preto-e-branco. O primeiro beijo, a primeira noite, os finais de semana juntos, os primeiros planos.
O encanto foi interrompido quando ela o viu à distância, onde marcaram o reencontro. O mesmo cenário de tantos anos atrás. Lembrou-se da ausência inesperada. Isso intercalado com o sorriso dele, as palavras inesquecíveis que fizeram seu coração bater tão forte de felicidade. A briga que tiveram e o estampido da porta quase arrebentando.
Quando ele chegou a dois metros de si, o sofrimento já tinha tomado conta do seu ser. Um mal-estar imenso a invadiu. A sintonia desapareceu, pairou no ar e se desfez nas primeiras frases que trocaram. O sangue esfriou. Tudo o que conseguia lembrar era do adeus. O adeus! A porta gritando ensurdecedora e ecoando em seus ouvidos. O sorriso lindo se desfez. Enrugou a testa, tornou-se formal. Olhou-se no brilho dos olhos dele, viu-se solitária e triste.
Era ele! Estavam a poucos centímetros um do outro! Mas ela não estava ali, tinha viajado ao passado. Na bagagem todas as lágrimas que chorou. E chorou... E chorou...
O adeus mora no infinito, onde somente as almas podem estar. Hoje, eles adormecem e se encontram em sonhos. Ali não há portas, apenas há prosa e versos. É lá que o amor se realiza. Enfim, sem fim.
Como diz a moçada, hoje está “a treva”! Explico: homens, todos iguais! Diz-se que nós, mulheres, somos lunáticas: cheias, minguantes, crescentes, novas. Conforme o calendário lunar, nosso humor oscila, tal e qual os nossos hormônios. Injusta a teoria, na minha opinião, afinal o que difere o ser masculino um do outro é a conta bancária, estatura e quantidade de neurônios. Feminista? Não sou. Apenas um pouco experiente. Deixe um homem com pouco dinheiro, chame-o de baixinho e tire um sarro de sua burrice, ganhará um inimigo.
Há outros quesitos que os difere uns dos outros: nome, endereço e RG. Quanto ao estado civil, algumas vezes oculto e bem dissimulado, melhor não incluir na listagem. E ainda há quem diga que nós, as mulheres, somos loucas. Eles são previsíveis, decifrá-los não requer prática e nem habilidade.
Ouvi outro dia algo muito interessante a respeito da escolha de um namorado ou marido: “Se ele te levar pra jantar, se ele dançar, então fique com ele. Melhor que isso não encontrará”.
Nos defeitos, todos iguais. Palitam os dentes; cutucam o ouvido; roncam; fazem xixi e esquecem a tampa do vaso sanitário levantada; mentem; têm pescoço de ventilador – olham pra direita e pra esquerda admirando a mulherada passar; adoram ser tratados feito bebês; não têm medo de barata, mas têm horror de ser pressionados. E que atire em Diva Latívia a primeira pedra aquela que não concordou com a minha declaração. Deixo aqui o vídeo divertido, afinal rir ainda é o melhor remédio.
Alice no MSN é sempre uma aventura online.
- Diva, pode falar?
- Oi!
- Adivinha onde fui no sábado?
- Nem imagino.
- Baile da pesada, amiga. Tinha até striper.
- Strip tease?
- Pros homens tinha mulher fazendo strip, pras mulheres tinha os homens.
- Pode me poupar dos detalhes sórdidos, Alice?
- Deixa de ser moralista, a gente se matou de rir.
- Riram do quê? Uma zorra dessas!
- Tinha tudo a ver, era um baile dos anos 70!
- Nos anos 70 os bailes eram assim?
- Não, né. Contrataram os stripers pra animar o baile.
- E seu marido estava com você?
- Claro! Ele adorou.
- Posso imaginar.
- Na próxima te chamo e você traz seu namorado, tá?
- Nem morta.
- Tem ciúme, é?
- Lógico que sim!
- Que bobagem! Que tem demais ele olhar?
- Alice, preciso terminar um relatório de trabalho.
- Diva, você já foi traída?
Larguei o relatório. A vontade era entrar pela tela do computador e esganar a Alice.
- Se eu disser que não sei, qual será sua resposta?
- Normal, eu acho normal. Ninguém é dono de ninguém.
- Pois eu acho anormal. Aliás, por falar em anormal, vou desligar o MSN. Boa noite, Alice. Beijo.
- Possessivaaaaa!
- Bye.
Falar com a Alice no MSN pode tornar-se uma desventura online. O relatório ficou sobre a mesa por tempo indeterminado. Ciumenta? Possessiva? Não soube dizer. Perdi a concentração, estava atrasada.
Diante do espelho, sonolenta. Cabelos desalinhados, olhos inchados de tanto dormir. Tirei do armarinho a escova de dente e, enquanto fazia o ritual matinal, observei que havia uma ruguinha a mais no meu rosto. Conformada, caprichei no creme hidratante facial, prendi os cabelos e fui até à cozinha preparar meu café. A água da chaleira em ebulição e eu sentada à mesa, pensando na vida.
- Quer pão?
- Não, obrigada.
- Quer leite?
- Prefiro café puro.
A xícara de café forte, a torrada com manteiga. Ele sentado ao meu lado, nas mãos as palavras cruzadas do jornal.
- Qual palavra começa D, termina com O e o sinônimo é "monótono", "sem graça"?
- Desenxabido.
- Errou, desenxabido é com CH. Hahaha!
- ...
- Que foi?
- Nada.
Dizer “nada” é o mesmo que declarar guerra. Estava pensando na ruguinha. Por que ela apareceu de repente? Teria sido preocupação? Fila do banco, trânsito, trabalho, família, cachorro, papagaio. Adiantava saber a resposta? Não estava interessada.
Lavei a louça, varri o chão da cozinha. Abri a janela da sala.
- Hoje vou trabalhar.
- Mas hoje é sábado, Diva!
- Tenho que trabalhar.
- Legal, vou então jogar futebol com a turma. Voltarei à noite.
Quando saí disse tchau, nem escutou. Ele estava tentando adivinhar qual é a palavra de sete letras que começa com S e termina com O. Do elevador falei baixinho, quase sussurrei: SOLIDÃO.
Amanheci pensando nos tão comentados pézinhos de alface, que plantei há algum tempo. Algo a refletir: no quintal que foi da minha mãe - que faleceu -, na jardineira que ela comprou, plantei as sementes. O meu ninho!
Diariamente reguei as mudas, que estão crescidas, quase no ponto de irem pra travessa de salada. Enquanto isso pensei na vida. Nos temporais que destruíram planos, na esperança e todos os esforços que fiz pra chegar neste momento: o dia de hoje.
O casamento é feito de mútua colaboração, mesmos objetivos, mesma estrada. Ao longo do caminho alguém pode pegar um atalho, diminuir ou acelerar ritmo dos passos, desistir. Isso pode acontecer no primeiro momento, no meio do caminho ou até mesmo na época de comemorar bodas de prata, com netos ao redor. Não há como prever, mas há como prevenir isso. Dividir o mesmo teto com alguém, participar da rotina, dos dias. Sentar à mesa da família do par, ter cunhados, sogro, sogra, talvez enteados. É mais gente, quem sabe mais problemas. Não necessariamente.
As contas chegam, as despesas existem. Toda noite voltar pro lar, encontrar aquele ser que pode ter tido um péssimo dia, ou então estar a fim de assistir TV enquanto você queria ir dançar. Respeito, compreensão, diálogo, abrir mão de algo em prol do casal. Não é fácil! Tanta gente sozinha, tantos casamentos desfeitos, inclusive o meu.
Conheci um casal que comemorou 54 anos de união. Idade avançada, lá estavam. Ele falava, ela ao lado, sorria com docilidade. Uma cumplicidade que tem registrada as dificuldades que a vida lhes impôs, a vitória de se manterem juntos. Quanta sabedoria há, conduziram a vida sem soltarem as mãos, sem desviarem a rota. Apaixonante esse casal. Ele disse o seguinte: - “ela é o tesão da minha vida”. Admirada, segurei as lágrimas. Nem mesmo o mais romântico filme hollywoodiano causaria tamanha emoção. Já imaginaram ouvir isso do marido depois de 54 anos de casamento? Invejável, sinceramente. Lindo, com certeza!
De vez em quando acredito que a causa de tantas separações é o imediatismo das pessoas. Não deu certo? Procure um advogado e busque o divórcio. Vapt e vupt. É cada um pro seu lado, com direito a encontrar um novo alguém. E começa tudo de novo. Tem gente sozinha em todos os lugares possíveis, basta querer encontrar. Alguns casam pensando assim, portanto o que esperar?
Por outro lado, não é mais preciso aturar alguém que se mostrou incompatível. A velha hipocrisia: infeliz, mas mantendo a aparência de falsa felicidade. Antigamente era preciso tolerar alguém inadequado, tudo em prol da família e da sociedade. Quase uma condenação, mutilação.
Olhei novamente pros pés de alface. Plantei sementes que ganhei do meu novo par. Sementes de verdura e de esperança. Um recomeço. Não tenho mais 54 anos de expectativa de vida, creio que não. Porém, espero um dia lembrar deste momento e celebrar alguma boda, quem sabe de prata? Ter aquele casal maravilhoso como exemplo. Lições que a vida, ainda que de modo severo, soube ensinar. Enfrentar as dificuldades sem soltar as mãos, sem hipocrisia, lado a lado, amando a vida e o homem que me acompanha. Por livre escolha, sem jogar apenas pra torcida, sem falsos laços. Escolha lúcida e diária. E que seja assim, com muita fé e colhendo do passado não as larvas, as pragas, mas os bons frutos das lições de vida.
Faz alguns dias que venho tramando um texto em homenagem à chegada da estação florida: a primavera.Várias vezes perdi o fio da meada. Entre prosa e poesia, vídeo com o Tim Maia cantando “Primavera”, acabei não escrevendo a crônica.
O clima mundial anda imprevisível, provável resposta da Mãe-Natureza às atitudes impensadas do ser humano. Assim, precisamos estar prevenidos para enfrentarmos as quatro estações do ano, isso tudo em um só dia. Se amanhecer um dia ensolarado, quem garante que na hora do almoço não teremos um frio de congelar esquimó?
Hoje saí de casa levando comigo meu guarda-chuva, óculos de sol, protetor solar e um casaco. Tanta tralha! Por fim, continua ensolarado o dia. Quem sabe à noite chova granizo?
Meus planos pro final de ano incluem férias do trabalho. Não ousei, ainda, comprar um pacotinho de viagens rumo à praia. Quem garante que o verão será de calor e muito sol? Ultimamente tem chovido durante janeiro e, ouso dizer: faz frio no começo do ano! O verão tem acontecido no outono. Estaremos agora no inverno? Mais branca que o Gasparzinho, estou quase translúcida.
Voltando ao tema, espero que as chuvas venham moderadas e com regularidade – jamais nos finais de semana-, que a temperatura seja amena e que floresça o jardim que cuidadosamente cultivei durante o ano inteiro.
O romantismo está no ar, basta observar os passarinhos, estão namorando, fazendo seus ninhos. Um bom exemplo a ser seguido: amar, porque é primavera!
Acomodei-me na cadeira, o computador diante de mim. Tirei os óculos, estiquei o corpo. Falei sozinha: - ai, vida!
Estive relendo no histórico do MSN a longa troca de mensagens com meu amigo Abílio.
Anos de amizade, dois blogs - entre eles este aqui. Muitos planos, muitos sonhos, cumplicidade, carinho, respeito. E ele, sem aviso prévio, morreu.
Reli a nossa última conversa, ele em "lua-de-papel" em Itacaré. Tinha encontrado a Geanni, com quem pretendia viver um longo e feliz relacionamento. Voltariam dentro de dois dias. Abílio não voltou.
Lembrei do nosso último abraço, na porta da minha casa. Disse o seguinte: - Vamos nos encontrar muitas vezes ainda.
Sinceramente, minha fé passou por uma prova de fogo após esse episódio. Durante algum tempo eu me recusei a entrar na igreja que frequento. Olhei muitas vezes pro céu, tentando dimensionar o tamanho do infinito. Não mais depositei flores no túmulo da minha mãe, não mais fiz o sinal da cruz. Nada. Prepotência de minha parte, provavelmente.
Assim prossegui até o dia que meu namorado me pegou pelas mãos e me conduziu até à igreja. Lá a emoção tomou conta de mim, estava na casa do Cara, aquele que conhece todas as minhas tristezas, medos, esperanças. O mesmo que levou embora o Abílio pra algum lugar. Foi nesse dia que sepultei meu amigo, finalmente. Eu o deixei ir.
Morte física, fragilidade, finitude. É por isso que decidi escrever mais, amar de peito aberto, cortei os cabelos, passei a andar descalça mais vezes, rir muito de mim mesma e me esforço pra perdoar os erros meus e alheios.
Não há tempo a perder. Vida breve!
Acordei muito cedo e fui até o quintal. São Paulo amanheceu fria. Derramei o olhar sobre a jardineira onde plantei sementes de alface. Incrédula, achei que não vingariam as sementes. Hoje fiquei admirada. Os pézinhos de alface estão quase no ponto de se transformarem em deliciosa salada. Cresceram depressa.
Meus cuidados se limitam a espantar os sabiás - que se deliciam sem a menor cerimônia - e às regas constantes. Valentes, as alfacinhas não se intimidaram com a secura do ar, o sol inclemente, meus lapsos de memória e ausência ocasional de água.
Meu pensamento viajou até o amor. Dia após dia, dedicação, intempéries, crescimento, tempo de semeadura e, depois, colheita. Saborear os bons frutos de um relacionamento, algo delicioso e gratificante.
Nesse tempo de amar, no friozinho da manhã paulistana, de regador em punho e chinelinho de dedo nos pés, ergui meus olhos pro céu e agradeci a alguém, em algum lugar, aquele ser que chamamos de “Deus”. Obrigada, Senhor. Obrigada pelo alimento do meu corpo e pelo alimento da minha alma. Pelas boas sementes. Obrigada por ser amada e amar.
- Tia, vamos acampar?
Topei. Dentro da mochila guardei uma lanterna, lembrei também de um cantil, afinal em todo filme de aventura na selva tem gente carregando esse apetrecho.
- Tia, tem que levar um saco pra dormir.
Pensei: haja saco. Onde poderei comprar um saco pra dormir? Fui até o quartinho dos fundos e peguei um antigo colchonete, herança da minha mãe. Cobertor, travesseiro, repelente de insetos, protetor solar, caixinha com itens de primeiros socorros, boné, guarda-chuva.
O zíper da mochila mal fechava, soquei tudo do jeito que pude e ainda lembrei do carregador de celular. E lá fomos nós, a tia e cinco sobrinhos. Eles tão felizes e eu temerosa quanto ao porvir. O céu estava azul, mas no horizonte havia algumas nuvens de cor cinza chumbo.
Quando chegamos ao acampamento, que na verdade era um imenso bosque com alguns campistas, pensei em desistir e pegar carona na estrada. Sentei em uma pedra e observei a montagem dos abrigos. Pensei imediatamente no meu quarto tão confortável
A alegria reinava quase absoluta. Aventura pra uns, desventura pra outros: saudade da minha cama, do meu chuveiro. Acreditam que borrachudos picam durante a noite? Eram seis picadas ao todo, eu estava toda lambuzada de repelente, acho que pra eles aquilo era cobertura e eu o prato principal.
- Tia, você pode dormir aqui nesta barraca, não esqueça de fechar direitinho.
Pensei: pra quê fechar? Não fechei. A chuva era tamanha que entrava água por cima, por baixo, lembrei daquele filme: Náufrago. Por fim, adormeci e acordei lá pelas 2 da manhã com uma sensação esquisita. Um bafo quente pertinho do meu pé. Reclamei: - "crianças deixem a titia dormir!". Porém, o bafo ficou ainda mais quente e eu escutei algo assim: grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!!
Foi então que eu comecei a gritar por socorro. Peguei o guarda-chuva e mandei na direção daquele ser. Notei que havia um brilho sinistro em seus olhos, seria uma onça? Um urso? Um leão? Claro, estávamos na mata atlântica, mas poderia ser um tigre! Repeti em voz alta várias vezes: “não existe mula sem cabeça! Sai daqui saci!”.
Foi então que apareceu alguém e chamou: - “Tobby, vem!”. Um jacaré chamado Tobby, como poderia ser isso? Apareceu alguém e o monstro selvagem saiu da minha barraca. Trêmula, gaga, descontrolada, com o guarda-chuva aberto, coloquei o nariz pra fora. Pude ver um casal jovem e, ao lado deles, um cachorro labrador. Foi difícil eu acreditar, mas a fera era mesmo Tobby, um cãozinho de raça dócil, que tinha saído pra seu passeio noturno.
No dia seguinte pedi a um amigo que fosse me buscar. Tobby veio se despedir, abanando a cauda. Nunca mais acampei, mas já combinei com meus sobrinhos o churrasco do final de semana no quintal de casa, sem mosquitos e nem maiores surpresas.
Tentei lembrar detalhadamente o primeiro encontro. Ele telefonou pra mim avisando que tinha chegado. Não sabia ao certo se ele era alto ou baixo, gordo ou magro, feio ou bonito. Apenas a voz e o jeito carinhoso de conversar, as palavras todas. Era o suficiente pra mim, ali estava a beleza que eu procurava.
Quando desci o último degrau da escadaria do prédio, olhei pro lado oposto da rua. Ao lado do carro, ele em pé. O sorriso tímido iluminou aquela noite. Um homem simples, jeito calmo. Quando nos cumprimentamos ele tirou de dentro do carro um buquê de flores do campo. Margaridas e sempre-vivas, cores alegres, perfume tão bom. E foi assim que tudo começou.
Corri até o livro de Neruda que eu estava lendo. Dentro uma flor seca, que guardei de recordação. Os momentos vieram à tona, os finais de semana, os pratos que ele preparou, as músicas que escutamos, os lugares onde fomos.
Terminei o flashback admirando as orquídeas de cor arroxeada, último presente que ganhei. Voltei das lembranças quando a campainha tocou, era ele. Fomos jantar. Dia após dia, feito um belo tricô ponto a ponto, assim é feito um relacionamento.
- “Vocês dois são casados?”.
Por que será que casais de namorados, já na meia-idade, parecem ser casados?
- “Quase isso”. Evitamos encontrar nossos olhares. Isso é futuro, será que o futuro existe?
Pensamentos se traduzem em gestos, podem ser interpretados até mesmo a longa distância: afinidade, cumplicidade, conhecimento. O lado preferido na cama, o jeito de preparar o café, as manias, os modos, as revelações e o silêncio.
- “Quero conhecer sua mãe”.
- “É cedo, tenha calma”.
O medo de errar na escolha, repetir o engano, abrir a ferida. Confiança, um pôquer no escuro.
De flores secas e flores frescas. De bons e maus momentos. Dia após dia: mais um mês, outro mês! É uma arte que exige destreza, sensibilidade, agilidade e força: amar! Te amar!
Assim estava escrito no anúncio: “notebook com Windows 7”. O resto ela não leu. Clicou em “comprar”, escolheu pagar em 10 parcelas no cartão de crédito. Três dias mais tarde, a encomenda chegou dentro de uma caixa. Assinou o recibo de entrega e, ansiosa, desembrulhou a parafernália. A primeira coisa que sentiu foi a falta do mouse. Acostumada com o antigo PC, com Windows XP, achou o 7 pavoroso. Bonitinho, mas ordinário, como diria Nelson Rodrigues.
Telefonou pro amigo que era bom entendedor de assuntos informáticos. A sugestão pareceu, a princípio, desvantajosa: desinstalar o programa e instalar o Vista ou XP.
Encostou o danado em um canto, arrependida até não poder mais. Durante duas semanas não lançou um único olhar na direção do notebook, continuou usando o velho computador. Por fim, passou adiante a sua aquisição, vendeu pra uma amiga que estava escrevendo uma monografia.
Termino aqui o meu texto no meu velho e antigo PC, com Windows XP, um mouse que de vez em quando emperra, o tal do “cooler” fazendo barulho de turbina de avião. Feito chinelo velho, pode não ser moderno e nem atraente, mas é com ele que me sinto confortável e feliz.
Antes de fechar a mala ele ainda disse: - "Diva, serão apenas alguns dias, sentir saudade é bom!".
Quando vi o carro dele fazer a curva e sumir no final da rua, entrei em casa e escutei o tic-tac do relógio. Silêncio! A cidade quase vazia, sem trânsito, o sol quente e a brisa morna. A sensação não era de solidão, mas de ingratidão. O que fazer em um feriado prolongado? Toda a família ausente, todos os amigos viajando. Entrei na livraria em busca de consolo e remanso.
A leitura é grande companheira. Livros não abandonam, não têm programação particular, não se escondem, são fiéis e assumem os leitores. Mergulhei em poesias de Pablo Neruda, escritas no original:
“Y yo, mínimo ser,
ebrio del gran vacío
constelado,
a semejanza, a imagen
del misterio,
me sentí parte pura
del abismo,
rodé con las estrellas,
mi corazón se desató en el viento”.
Meu coração, naquele instante desvalido, tentou conectar-se com o daquele ser viajante e indiferente à minha dor. Lembrei que levou consigo a mantinha vermelha xadrez, sem importar-se com o frio n´alma a mim relegado.
O celular tocou: - “Aqui está o maior barato, já almocei, fui passear, estamos todos juntos, fizemos churrasco. E você, tá bom seu feriado?”. Escutei cada palavra como quem leva uma surra de mãos amarradas. Claro que eu não estava bem, fui deixada pra trás feito peso morto.
Comprei o livro de poesias, caminhei pelos corredores do shopping center. Não senti vontade de almoçar, nem parei na frente da vitrine que exibia a coleção nova de sapatos. Péssimo sinal. E quem há de compreender? Não eu, não eu.
Vocês sabem como que é mulher, não é mesmo? Adoramos nos produzir da cabeça aos pés. Apesar de eu já ter passado dos 30 anos... Tá, confesso... Dos 40 anos... Ah, vamos deixar isso pra lá, certo? Voltando ao assunto: eu adoro me produzir. Estava papeando no MSN com minha amiga Alice e comentando o que aquela gordinha de calça fuseau cometeu contra meu dedão do pé.
Estava eu no metrô, passando pela catraca, ia colocando o bilhete quando a poposuda deu marcha ré e pisou no meu dedão com aquele salto altíssimo. Acreditam que ela estava usando calça fuseau e scarpin de salto alto? Uma heresia, porém heresia pior foi esmigalhar o meu pé.
Falei uns nomes nada bonitos, desde a eliminação da seleção brasileira na última copa do mundo que eu não soltava o verbo dessa forma. Alice me pediu que contasse pra ela quais foram os nomes. Pra vocês poderia dizer, mas tem crianças aí na sala. Falei da senhora mãe dela, do pai que deve estar desaparecido, comentei qualquer coisa sobre seu modelito e sugeri que ela fosse viajar pra um lugar pouco recomendável. Não pediu desculpas, foi-se embora sem a menor dor na consciência. Dolorido ficou meu pé.
A unha está roxa, pra disfarçar passei esmalte vermelho. Apesar de contundido, meu pé ficou sexy, bonitinho. Está meio friozinho o tempo, mas estou usando sandália de salto alto, afinal não vou sair por aí de chinelo de dedo, certo? Pra formar um conjunto harmônico, escolhi uma calça jeans justinha, jaqueta e camisetinha branca.
Resolvi dar uma passadinha no cabeleireiro e na volta passei no shopping, comprei um colar de continhas douradas, a coisa mais linda do mundo. Não resisti à perfumaria, comprei aquele perfume dos meus sonhos e também um batom rosa daquela marca francesa. Já que vou continuar um tempo sem poder usar sapatos fechados, entrei naquela loja de calçados de grife e comprei oito – sim, oito – sandálias de cores e alturas diversas.Estou tão contente que até já perdoei a gordinha. Não fosse aquele desastre no metrô, eu não teria renovado meu guarda-roupa!
Viram só? Tudo na vida tem um lado positivo!
Sem ter muito o que fazer naquela noite de quinta-feira, aceitei o convite de Pedro Ernesto e fomos juntos a um piano bar. O lugar é desses onde só vai quem pode gastar: chiquérrimo, caríssimo, no topo de um hotel cinco estrelas.
Quando ele pediu a carta de vinhos, lembrei que eu tinha tomado um leve tranquilizante pra combater a insônia da véspera. Porém, tão levinho o remedinho que depressa deixei isso pra lá. Aceitei brindar com um tinto italiano.
Provei um prato maravilhoso, entre uma garfada e outra, um golinho do saboroso vinho.
- “Diva, hoje você está linda! Isso merece um brinde especial”. Pediu uma daquelas garrafas de champanhe que custa o valor de uma compra de supermercado pro mês todinho. Eu não podia fazer desfeita, jamais recusaria a generosa oferta.
Brindamos e bebemos. Lá pela segunda taça, meu olhar foi de encontro à lua estampada na janela que exibia a cidade de São Paulo. Pois a lua andou, rodou, deu cambalhotas. Aliás, não era uma lua, eram duas luas dançando algo parecido com um bolero!
- “Querida, você está comovida? Não fique assim, apenas quis homenagear seus lindos olhos azuis. Não chore, Diva querida!”.
Não, eu não estava chorando, estava no maior pileque que já tomei em toda a minha vida. Acho que calmante não combina com álcool, ainda que da melhor qualidade.
- “Pedro Ernexxxxto, dexxxxculpe, axxxxxoooo que bebi demaixxxxx”.
Lembro que fui conduzida até o elevador, naquele estilo “nóis trupica, mas num cai”. Lembro também quando ele me deixou em casa e pediu ao porteiro que me ajudasse a subir até o apartamento. Dois meses mais tarde, descobri que Pedro Ernesto tinha consigo um anel de brilhantes, ia me pedir em casamento. Tinha reservado a suíte presidencial do hotel para comemorarmos. Achou o momento inoportuno, preferiu guardar suas intenções pra outra ocasião.
Nunca mais me convidou pra nada. Ele agora prefere as mulheres que brindam com suco de laranja sem gelo e sem açúcar. Está namorando a Cidinha, aquela que se entope de chá verde e granola, faz dieta da luz e não sai da academia.
Esse o preço da autenticidade, tivesse eu inventado que não bebo, estaria hoje casada com o presidente da Airlines Internacional e podre de rica!
Quanto à minha insônia, descobri que o problema era o antigo colchão, troquei por um ortopédico e nunca mais precisei tomar tranquilizante. Continuo solteira, nunca mais bebi champanhe e nem entrei em um piano bar. Quanto à lua, ainda estou zangada com ela. Aquilo era momento pra ela ficar bailando no firmamento?
Ela foi fazer as unhas no cabeleireiro quando viu ao seu lado a fulana que namorava seu ex. Sentou-se na cadeira ao lado, fingindo não vê-la. Seu coração pareceu querer sair pela boca, seus olhos ficaram turvos de ódio. Pensou no quanto aquela sujeitinha era cara-de-pau, afinal escolheu justamente o salão que ela freqüentava há anos.Tentou acalmar-se, mas chegou a sentir nojo de respirar o mesmo ar que sua sucessora.
Pra tentar descobrir mais a respeito, decidiu fazer hora e também arrumar os cabelos. Enquanto isso, a substituta pediu uma hidratação nas madeixas, depois fez uma escova. Incrível, os cabelos ficaram parecidos com os dela.
Percebeu então que ela estava usando um vestidinho floral muito parecido com os que costumava usar. Sandália rasteira de tirinha, colares de continhas coloridas e até passou um batonzinho cor de boca. Entendeu, então, que a tal estava imitando o seu layout. Concluiu que era um golpe baixo, provavelmente uma tática pra conquistar o seu ex-marido.
Saiu do salão antes da dita cuja terminar a tentativa de copiá-la no quesito formosura. Atravessou a rua falando sozinha: “coitada, quer se parecer comigo. Só conseguirá se morrer e reencarnar filha do meu pai com minha mãe”.
Uma semana depois, voltou ao cabeleireiro e mandou cortar os cabelos. Nunca mais usou franjinha e decidiu domar seus lindos cachos cor de fogo. Valeu tudo pra mudar o visual. Chegou a se desfazer de todos os seus vestidos esvoaçantes e doou os adereços de miçangas.
Outro dia encontrou o ex em uma agência bancária. Não estava de vestidinho estampado, nem usava mais o mesmo penteado. Ele não desgrudou o olhar. Resta agora saber quanto tempo vai demorar pra fulana, a atual, também cortar os cabelos e passar a vestir-se de um jeito moderninho.
Sábio aquele dizer: “nesta vida nada se cria, tudo se copia”. Haja falta de imaginação!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
30 de set. de 2010
AO LADO SEU
Quando cheguei na casa dele, ansioso me esperava pra mostrar algo especial. Quando entrei no quarto, sobre a cama meu pijama estava passado e dobrado.
– Diva, isso daria um belo texto!
A faxineira é antiga, fui eu que recomendei. Das Dores é zelosa, caprichosa. Quando encontrou o pijama pendurado no varal, não posso imaginar o que concluiu. Dona Diva de caso com o Sr. Divo? Enfim, fomos flagrados. Esperta, deixou exatamente do lado que estou acostumada a dormir, lado direito da cama.
O namoro começou faz pouco tempo. Dois corações aos pedaços, entre muita cumplicidade e companheirismo, fizemos dos milhões de caquinhos um bonito vitral.
Ali sobre a cama, na metade que ocupo, o pijama parecia um troféu. A prova de que sobrevivemos às dificuldades do passado e tivemos a graça de encontrar alguém pra dividir não apenas a metade da cama, mas a vida.
Creio que, um dia, conseguirei um lugar na gaveta pra guardar alguns pertences. Quem sabe um cabide pra pendurar o meu casaco? Com jeitinho poderei alcançar metade do guarda-roupa. Que sininhos são esses tocando? Estarei ficando maluca?
Mr. Divo Latívio, você não perde por esperar!
29 de set. de 2010
INFINITO AMOR
Escrevi centenas de textos no blog Janela das Loucas e também aqui, no meu blog. Entre todos, este aqui é o meu preferido. Já publiquei anteriormente, desta vez dedico "Infinito Amor" aos Anjos. Se for amor, que seja vivido até o fim, sem fim!
Já fazia muitos anos que eles não se encontravam. A última lembrança que tinha era a porta da casa dele batendo atrás de si. Nunca mais se viram.
Quando ela foi ao seu encontro, tanto tempo depois, em uma fração de segundos toda a história passou. Parecia um lindo filme em preto-e-branco. O primeiro beijo, a primeira noite, os finais de semana juntos, os primeiros planos.
O encanto foi interrompido quando ela o viu à distância, onde marcaram o reencontro. O mesmo cenário de tantos anos atrás. Lembrou-se da ausência inesperada. Isso intercalado com o sorriso dele, as palavras inesquecíveis que fizeram seu coração bater tão forte de felicidade. A briga que tiveram e o estampido da porta quase arrebentando.
Quando ele chegou a dois metros de si, o sofrimento já tinha tomado conta do seu ser. Um mal-estar imenso a invadiu. A sintonia desapareceu, pairou no ar e se desfez nas primeiras frases que trocaram. O sangue esfriou. Tudo o que conseguia lembrar era do adeus. O adeus! A porta gritando ensurdecedora e ecoando em seus ouvidos. O sorriso lindo se desfez. Enrugou a testa, tornou-se formal. Olhou-se no brilho dos olhos dele, viu-se solitária e triste.
Era ele! Estavam a poucos centímetros um do outro! Mas ela não estava ali, tinha viajado ao passado. Na bagagem todas as lágrimas que chorou. E chorou... E chorou...
O adeus mora no infinito, onde somente as almas podem estar. Hoje, eles adormecem e se encontram em sonhos. Ali não há portas, apenas há prosa e versos. É lá que o amor se realiza. Enfim, sem fim.
HOMENS X MULHERES
Como diz a moçada, hoje está “a treva”! Explico: homens, todos iguais! Diz-se que nós, mulheres, somos lunáticas: cheias, minguantes, crescentes, novas. Conforme o calendário lunar, nosso humor oscila, tal e qual os nossos hormônios. Injusta a teoria, na minha opinião, afinal o que difere o ser masculino um do outro é a conta bancária, estatura e quantidade de neurônios. Feminista? Não sou. Apenas um pouco experiente. Deixe um homem com pouco dinheiro, chame-o de baixinho e tire um sarro de sua burrice, ganhará um inimigo.
Há outros quesitos que os difere uns dos outros: nome, endereço e RG. Quanto ao estado civil, algumas vezes oculto e bem dissimulado, melhor não incluir na listagem. E ainda há quem diga que nós, as mulheres, somos loucas. Eles são previsíveis, decifrá-los não requer prática e nem habilidade.
Ouvi outro dia algo muito interessante a respeito da escolha de um namorado ou marido: “Se ele te levar pra jantar, se ele dançar, então fique com ele. Melhor que isso não encontrará”.
Nos defeitos, todos iguais. Palitam os dentes; cutucam o ouvido; roncam; fazem xixi e esquecem a tampa do vaso sanitário levantada; mentem; têm pescoço de ventilador – olham pra direita e pra esquerda admirando a mulherada passar; adoram ser tratados feito bebês; não têm medo de barata, mas têm horror de ser pressionados. E que atire em Diva Latívia a primeira pedra aquela que não concordou com a minha declaração. Deixo aqui o vídeo divertido, afinal rir ainda é o melhor remédio.
27 de set. de 2010
DESNUDANDO
Alice no MSN é sempre uma aventura online.
- Diva, pode falar?
- Oi!
- Adivinha onde fui no sábado?
- Nem imagino.
- Baile da pesada, amiga. Tinha até striper.
- Strip tease?
- Pros homens tinha mulher fazendo strip, pras mulheres tinha os homens.
- Pode me poupar dos detalhes sórdidos, Alice?
- Deixa de ser moralista, a gente se matou de rir.
- Riram do quê? Uma zorra dessas!
- Tinha tudo a ver, era um baile dos anos 70!
- Nos anos 70 os bailes eram assim?
- Não, né. Contrataram os stripers pra animar o baile.
- E seu marido estava com você?
- Claro! Ele adorou.
- Posso imaginar.
- Na próxima te chamo e você traz seu namorado, tá?
- Nem morta.
- Tem ciúme, é?
- Lógico que sim!
- Que bobagem! Que tem demais ele olhar?
- Alice, preciso terminar um relatório de trabalho.
- Diva, você já foi traída?
Larguei o relatório. A vontade era entrar pela tela do computador e esganar a Alice.
- Se eu disser que não sei, qual será sua resposta?
- Normal, eu acho normal. Ninguém é dono de ninguém.
- Pois eu acho anormal. Aliás, por falar em anormal, vou desligar o MSN. Boa noite, Alice. Beijo.
- Possessivaaaaa!
- Bye.
Falar com a Alice no MSN pode tornar-se uma desventura online. O relatório ficou sobre a mesa por tempo indeterminado. Ciumenta? Possessiva? Não soube dizer. Perdi a concentração, estava atrasada.
PALAVRAS CRUZADAS
Diante do espelho, sonolenta. Cabelos desalinhados, olhos inchados de tanto dormir. Tirei do armarinho a escova de dente e, enquanto fazia o ritual matinal, observei que havia uma ruguinha a mais no meu rosto. Conformada, caprichei no creme hidratante facial, prendi os cabelos e fui até à cozinha preparar meu café. A água da chaleira em ebulição e eu sentada à mesa, pensando na vida.
- Quer pão?
- Não, obrigada.
- Quer leite?
- Prefiro café puro.
A xícara de café forte, a torrada com manteiga. Ele sentado ao meu lado, nas mãos as palavras cruzadas do jornal.
- Qual palavra começa D, termina com O e o sinônimo é "monótono", "sem graça"?
- Desenxabido.
- Errou, desenxabido é com CH. Hahaha!
- ...
- Que foi?
- Nada.
Dizer “nada” é o mesmo que declarar guerra. Estava pensando na ruguinha. Por que ela apareceu de repente? Teria sido preocupação? Fila do banco, trânsito, trabalho, família, cachorro, papagaio. Adiantava saber a resposta? Não estava interessada.
Lavei a louça, varri o chão da cozinha. Abri a janela da sala.
- Hoje vou trabalhar.
- Mas hoje é sábado, Diva!
- Tenho que trabalhar.
- Legal, vou então jogar futebol com a turma. Voltarei à noite.
Quando saí disse tchau, nem escutou. Ele estava tentando adivinhar qual é a palavra de sete letras que começa com S e termina com O. Do elevador falei baixinho, quase sussurrei: SOLIDÃO.
24 de set. de 2010
RECOMEÇO
Amanheci pensando nos tão comentados pézinhos de alface, que plantei há algum tempo. Algo a refletir: no quintal que foi da minha mãe - que faleceu -, na jardineira que ela comprou, plantei as sementes. O meu ninho!
Diariamente reguei as mudas, que estão crescidas, quase no ponto de irem pra travessa de salada. Enquanto isso pensei na vida. Nos temporais que destruíram planos, na esperança e todos os esforços que fiz pra chegar neste momento: o dia de hoje.
O casamento é feito de mútua colaboração, mesmos objetivos, mesma estrada. Ao longo do caminho alguém pode pegar um atalho, diminuir ou acelerar ritmo dos passos, desistir. Isso pode acontecer no primeiro momento, no meio do caminho ou até mesmo na época de comemorar bodas de prata, com netos ao redor. Não há como prever, mas há como prevenir isso. Dividir o mesmo teto com alguém, participar da rotina, dos dias. Sentar à mesa da família do par, ter cunhados, sogro, sogra, talvez enteados. É mais gente, quem sabe mais problemas. Não necessariamente.
As contas chegam, as despesas existem. Toda noite voltar pro lar, encontrar aquele ser que pode ter tido um péssimo dia, ou então estar a fim de assistir TV enquanto você queria ir dançar. Respeito, compreensão, diálogo, abrir mão de algo em prol do casal. Não é fácil! Tanta gente sozinha, tantos casamentos desfeitos, inclusive o meu.
Conheci um casal que comemorou 54 anos de união. Idade avançada, lá estavam. Ele falava, ela ao lado, sorria com docilidade. Uma cumplicidade que tem registrada as dificuldades que a vida lhes impôs, a vitória de se manterem juntos. Quanta sabedoria há, conduziram a vida sem soltarem as mãos, sem desviarem a rota. Apaixonante esse casal. Ele disse o seguinte: - “ela é o tesão da minha vida”. Admirada, segurei as lágrimas. Nem mesmo o mais romântico filme hollywoodiano causaria tamanha emoção. Já imaginaram ouvir isso do marido depois de 54 anos de casamento? Invejável, sinceramente. Lindo, com certeza!
De vez em quando acredito que a causa de tantas separações é o imediatismo das pessoas. Não deu certo? Procure um advogado e busque o divórcio. Vapt e vupt. É cada um pro seu lado, com direito a encontrar um novo alguém. E começa tudo de novo. Tem gente sozinha em todos os lugares possíveis, basta querer encontrar. Alguns casam pensando assim, portanto o que esperar?
Por outro lado, não é mais preciso aturar alguém que se mostrou incompatível. A velha hipocrisia: infeliz, mas mantendo a aparência de falsa felicidade. Antigamente era preciso tolerar alguém inadequado, tudo em prol da família e da sociedade. Quase uma condenação, mutilação.
Olhei novamente pros pés de alface. Plantei sementes que ganhei do meu novo par. Sementes de verdura e de esperança. Um recomeço. Não tenho mais 54 anos de expectativa de vida, creio que não. Porém, espero um dia lembrar deste momento e celebrar alguma boda, quem sabe de prata? Ter aquele casal maravilhoso como exemplo. Lições que a vida, ainda que de modo severo, soube ensinar. Enfrentar as dificuldades sem soltar as mãos, sem hipocrisia, lado a lado, amando a vida e o homem que me acompanha. Por livre escolha, sem jogar apenas pra torcida, sem falsos laços. Escolha lúcida e diária. E que seja assim, com muita fé e colhendo do passado não as larvas, as pragas, mas os bons frutos das lições de vida.
22 de set. de 2010
QUE SEJA PRIMAVERA!
Faz alguns dias que venho tramando um texto em homenagem à chegada da estação florida: a primavera.Várias vezes perdi o fio da meada. Entre prosa e poesia, vídeo com o Tim Maia cantando “Primavera”, acabei não escrevendo a crônica.
O clima mundial anda imprevisível, provável resposta da Mãe-Natureza às atitudes impensadas do ser humano. Assim, precisamos estar prevenidos para enfrentarmos as quatro estações do ano, isso tudo em um só dia. Se amanhecer um dia ensolarado, quem garante que na hora do almoço não teremos um frio de congelar esquimó?
Hoje saí de casa levando comigo meu guarda-chuva, óculos de sol, protetor solar e um casaco. Tanta tralha! Por fim, continua ensolarado o dia. Quem sabe à noite chova granizo?
Meus planos pro final de ano incluem férias do trabalho. Não ousei, ainda, comprar um pacotinho de viagens rumo à praia. Quem garante que o verão será de calor e muito sol? Ultimamente tem chovido durante janeiro e, ouso dizer: faz frio no começo do ano! O verão tem acontecido no outono. Estaremos agora no inverno? Mais branca que o Gasparzinho, estou quase translúcida.
Voltando ao tema, espero que as chuvas venham moderadas e com regularidade – jamais nos finais de semana-, que a temperatura seja amena e que floresça o jardim que cuidadosamente cultivei durante o ano inteiro.
O romantismo está no ar, basta observar os passarinhos, estão namorando, fazendo seus ninhos. Um bom exemplo a ser seguido: amar, porque é primavera!
21 de set. de 2010
POEMINHA
18 de set. de 2010
BREVIDADE
Acomodei-me na cadeira, o computador diante de mim. Tirei os óculos, estiquei o corpo. Falei sozinha: - ai, vida!
Estive relendo no histórico do MSN a longa troca de mensagens com meu amigo Abílio.
Anos de amizade, dois blogs - entre eles este aqui. Muitos planos, muitos sonhos, cumplicidade, carinho, respeito. E ele, sem aviso prévio, morreu.
Reli a nossa última conversa, ele em "lua-de-papel" em Itacaré. Tinha encontrado a Geanni, com quem pretendia viver um longo e feliz relacionamento. Voltariam dentro de dois dias. Abílio não voltou.
Lembrei do nosso último abraço, na porta da minha casa. Disse o seguinte: - Vamos nos encontrar muitas vezes ainda.
Sinceramente, minha fé passou por uma prova de fogo após esse episódio. Durante algum tempo eu me recusei a entrar na igreja que frequento. Olhei muitas vezes pro céu, tentando dimensionar o tamanho do infinito. Não mais depositei flores no túmulo da minha mãe, não mais fiz o sinal da cruz. Nada. Prepotência de minha parte, provavelmente.
Assim prossegui até o dia que meu namorado me pegou pelas mãos e me conduziu até à igreja. Lá a emoção tomou conta de mim, estava na casa do Cara, aquele que conhece todas as minhas tristezas, medos, esperanças. O mesmo que levou embora o Abílio pra algum lugar. Foi nesse dia que sepultei meu amigo, finalmente. Eu o deixei ir.
Morte física, fragilidade, finitude. É por isso que decidi escrever mais, amar de peito aberto, cortei os cabelos, passei a andar descalça mais vezes, rir muito de mim mesma e me esforço pra perdoar os erros meus e alheios.
Não há tempo a perder. Vida breve!
17 de set. de 2010
TEMPO DE AMAR
Acordei muito cedo e fui até o quintal. São Paulo amanheceu fria. Derramei o olhar sobre a jardineira onde plantei sementes de alface. Incrédula, achei que não vingariam as sementes. Hoje fiquei admirada. Os pézinhos de alface estão quase no ponto de se transformarem em deliciosa salada. Cresceram depressa.
Meus cuidados se limitam a espantar os sabiás - que se deliciam sem a menor cerimônia - e às regas constantes. Valentes, as alfacinhas não se intimidaram com a secura do ar, o sol inclemente, meus lapsos de memória e ausência ocasional de água.
Meu pensamento viajou até o amor. Dia após dia, dedicação, intempéries, crescimento, tempo de semeadura e, depois, colheita. Saborear os bons frutos de um relacionamento, algo delicioso e gratificante.
Nesse tempo de amar, no friozinho da manhã paulistana, de regador em punho e chinelinho de dedo nos pés, ergui meus olhos pro céu e agradeci a alguém, em algum lugar, aquele ser que chamamos de “Deus”. Obrigada, Senhor. Obrigada pelo alimento do meu corpo e pelo alimento da minha alma. Pelas boas sementes. Obrigada por ser amada e amar.
16 de set. de 2010
A TIA NO ACAMPAMENTO
- Tia, vamos acampar?
Topei. Dentro da mochila guardei uma lanterna, lembrei também de um cantil, afinal em todo filme de aventura na selva tem gente carregando esse apetrecho.
- Tia, tem que levar um saco pra dormir.
Pensei: haja saco. Onde poderei comprar um saco pra dormir? Fui até o quartinho dos fundos e peguei um antigo colchonete, herança da minha mãe. Cobertor, travesseiro, repelente de insetos, protetor solar, caixinha com itens de primeiros socorros, boné, guarda-chuva.
O zíper da mochila mal fechava, soquei tudo do jeito que pude e ainda lembrei do carregador de celular. E lá fomos nós, a tia e cinco sobrinhos. Eles tão felizes e eu temerosa quanto ao porvir. O céu estava azul, mas no horizonte havia algumas nuvens de cor cinza chumbo.
Quando chegamos ao acampamento, que na verdade era um imenso bosque com alguns campistas, pensei em desistir e pegar carona na estrada. Sentei em uma pedra e observei a montagem dos abrigos. Pensei imediatamente no meu quarto tão confortável
A alegria reinava quase absoluta. Aventura pra uns, desventura pra outros: saudade da minha cama, do meu chuveiro. Acreditam que borrachudos picam durante a noite? Eram seis picadas ao todo, eu estava toda lambuzada de repelente, acho que pra eles aquilo era cobertura e eu o prato principal.
- Tia, você pode dormir aqui nesta barraca, não esqueça de fechar direitinho.
Pensei: pra quê fechar? Não fechei. A chuva era tamanha que entrava água por cima, por baixo, lembrei daquele filme: Náufrago. Por fim, adormeci e acordei lá pelas 2 da manhã com uma sensação esquisita. Um bafo quente pertinho do meu pé. Reclamei: - "crianças deixem a titia dormir!". Porém, o bafo ficou ainda mais quente e eu escutei algo assim: grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!!
Foi então que eu comecei a gritar por socorro. Peguei o guarda-chuva e mandei na direção daquele ser. Notei que havia um brilho sinistro em seus olhos, seria uma onça? Um urso? Um leão? Claro, estávamos na mata atlântica, mas poderia ser um tigre! Repeti em voz alta várias vezes: “não existe mula sem cabeça! Sai daqui saci!”.
Foi então que apareceu alguém e chamou: - “Tobby, vem!”. Um jacaré chamado Tobby, como poderia ser isso? Apareceu alguém e o monstro selvagem saiu da minha barraca. Trêmula, gaga, descontrolada, com o guarda-chuva aberto, coloquei o nariz pra fora. Pude ver um casal jovem e, ao lado deles, um cachorro labrador. Foi difícil eu acreditar, mas a fera era mesmo Tobby, um cãozinho de raça dócil, que tinha saído pra seu passeio noturno.
No dia seguinte pedi a um amigo que fosse me buscar. Tobby veio se despedir, abanando a cauda. Nunca mais acampei, mas já combinei com meus sobrinhos o churrasco do final de semana no quintal de casa, sem mosquitos e nem maiores surpresas.
12 de set. de 2010
FLORES, RECORDAÇÕES E ESPERANÇA
Tentei lembrar detalhadamente o primeiro encontro. Ele telefonou pra mim avisando que tinha chegado. Não sabia ao certo se ele era alto ou baixo, gordo ou magro, feio ou bonito. Apenas a voz e o jeito carinhoso de conversar, as palavras todas. Era o suficiente pra mim, ali estava a beleza que eu procurava.
Quando desci o último degrau da escadaria do prédio, olhei pro lado oposto da rua. Ao lado do carro, ele em pé. O sorriso tímido iluminou aquela noite. Um homem simples, jeito calmo. Quando nos cumprimentamos ele tirou de dentro do carro um buquê de flores do campo. Margaridas e sempre-vivas, cores alegres, perfume tão bom. E foi assim que tudo começou.
Corri até o livro de Neruda que eu estava lendo. Dentro uma flor seca, que guardei de recordação. Os momentos vieram à tona, os finais de semana, os pratos que ele preparou, as músicas que escutamos, os lugares onde fomos.
Terminei o flashback admirando as orquídeas de cor arroxeada, último presente que ganhei. Voltei das lembranças quando a campainha tocou, era ele. Fomos jantar. Dia após dia, feito um belo tricô ponto a ponto, assim é feito um relacionamento.
- “Vocês dois são casados?”.
Por que será que casais de namorados, já na meia-idade, parecem ser casados?
- “Quase isso”. Evitamos encontrar nossos olhares. Isso é futuro, será que o futuro existe?
Pensamentos se traduzem em gestos, podem ser interpretados até mesmo a longa distância: afinidade, cumplicidade, conhecimento. O lado preferido na cama, o jeito de preparar o café, as manias, os modos, as revelações e o silêncio.
- “Quero conhecer sua mãe”.
- “É cedo, tenha calma”.
O medo de errar na escolha, repetir o engano, abrir a ferida. Confiança, um pôquer no escuro.
De flores secas e flores frescas. De bons e maus momentos. Dia após dia: mais um mês, outro mês! É uma arte que exige destreza, sensibilidade, agilidade e força: amar! Te amar!
8 de set. de 2010
PC: EU TE AMO!
Assim estava escrito no anúncio: “notebook com Windows 7”. O resto ela não leu. Clicou em “comprar”, escolheu pagar em 10 parcelas no cartão de crédito. Três dias mais tarde, a encomenda chegou dentro de uma caixa. Assinou o recibo de entrega e, ansiosa, desembrulhou a parafernália. A primeira coisa que sentiu foi a falta do mouse. Acostumada com o antigo PC, com Windows XP, achou o 7 pavoroso. Bonitinho, mas ordinário, como diria Nelson Rodrigues.
Telefonou pro amigo que era bom entendedor de assuntos informáticos. A sugestão pareceu, a princípio, desvantajosa: desinstalar o programa e instalar o Vista ou XP.
Encostou o danado em um canto, arrependida até não poder mais. Durante duas semanas não lançou um único olhar na direção do notebook, continuou usando o velho computador. Por fim, passou adiante a sua aquisição, vendeu pra uma amiga que estava escrevendo uma monografia.
Termino aqui o meu texto no meu velho e antigo PC, com Windows XP, um mouse que de vez em quando emperra, o tal do “cooler” fazendo barulho de turbina de avião. Feito chinelo velho, pode não ser moderno e nem atraente, mas é com ele que me sinto confortável e feliz.
7 de set. de 2010
NERUDA, MEU MUNDO E NADA MAIS
Antes de fechar a mala ele ainda disse: - "Diva, serão apenas alguns dias, sentir saudade é bom!".
Quando vi o carro dele fazer a curva e sumir no final da rua, entrei em casa e escutei o tic-tac do relógio. Silêncio! A cidade quase vazia, sem trânsito, o sol quente e a brisa morna. A sensação não era de solidão, mas de ingratidão. O que fazer em um feriado prolongado? Toda a família ausente, todos os amigos viajando. Entrei na livraria em busca de consolo e remanso.
A leitura é grande companheira. Livros não abandonam, não têm programação particular, não se escondem, são fiéis e assumem os leitores. Mergulhei em poesias de Pablo Neruda, escritas no original:
“Y yo, mínimo ser,
ebrio del gran vacío
constelado,
a semejanza, a imagen
del misterio,
me sentí parte pura
del abismo,
rodé con las estrellas,
mi corazón se desató en el viento”.
Meu coração, naquele instante desvalido, tentou conectar-se com o daquele ser viajante e indiferente à minha dor. Lembrei que levou consigo a mantinha vermelha xadrez, sem importar-se com o frio n´alma a mim relegado.
O celular tocou: - “Aqui está o maior barato, já almocei, fui passear, estamos todos juntos, fizemos churrasco. E você, tá bom seu feriado?”. Escutei cada palavra como quem leva uma surra de mãos amarradas. Claro que eu não estava bem, fui deixada pra trás feito peso morto.
Comprei o livro de poesias, caminhei pelos corredores do shopping center. Não senti vontade de almoçar, nem parei na frente da vitrine que exibia a coleção nova de sapatos. Péssimo sinal. E quem há de compreender? Não eu, não eu.
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6 de set. de 2010
O DE BAIXO É MEU!
Vocês sabem como que é mulher, não é mesmo? Adoramos nos produzir da cabeça aos pés. Apesar de eu já ter passado dos 30 anos... Tá, confesso... Dos 40 anos... Ah, vamos deixar isso pra lá, certo? Voltando ao assunto: eu adoro me produzir. Estava papeando no MSN com minha amiga Alice e comentando o que aquela gordinha de calça fuseau cometeu contra meu dedão do pé.
Estava eu no metrô, passando pela catraca, ia colocando o bilhete quando a poposuda deu marcha ré e pisou no meu dedão com aquele salto altíssimo. Acreditam que ela estava usando calça fuseau e scarpin de salto alto? Uma heresia, porém heresia pior foi esmigalhar o meu pé.
Falei uns nomes nada bonitos, desde a eliminação da seleção brasileira na última copa do mundo que eu não soltava o verbo dessa forma. Alice me pediu que contasse pra ela quais foram os nomes. Pra vocês poderia dizer, mas tem crianças aí na sala. Falei da senhora mãe dela, do pai que deve estar desaparecido, comentei qualquer coisa sobre seu modelito e sugeri que ela fosse viajar pra um lugar pouco recomendável. Não pediu desculpas, foi-se embora sem a menor dor na consciência. Dolorido ficou meu pé.
A unha está roxa, pra disfarçar passei esmalte vermelho. Apesar de contundido, meu pé ficou sexy, bonitinho. Está meio friozinho o tempo, mas estou usando sandália de salto alto, afinal não vou sair por aí de chinelo de dedo, certo? Pra formar um conjunto harmônico, escolhi uma calça jeans justinha, jaqueta e camisetinha branca.
Resolvi dar uma passadinha no cabeleireiro e na volta passei no shopping, comprei um colar de continhas douradas, a coisa mais linda do mundo. Não resisti à perfumaria, comprei aquele perfume dos meus sonhos e também um batom rosa daquela marca francesa. Já que vou continuar um tempo sem poder usar sapatos fechados, entrei naquela loja de calçados de grife e comprei oito – sim, oito – sandálias de cores e alturas diversas.Estou tão contente que até já perdoei a gordinha. Não fosse aquele desastre no metrô, eu não teria renovado meu guarda-roupa!
Viram só? Tudo na vida tem um lado positivo!
5 de set. de 2010
DESVENTURA ENLUARADA
Sem ter muito o que fazer naquela noite de quinta-feira, aceitei o convite de Pedro Ernesto e fomos juntos a um piano bar. O lugar é desses onde só vai quem pode gastar: chiquérrimo, caríssimo, no topo de um hotel cinco estrelas.
Quando ele pediu a carta de vinhos, lembrei que eu tinha tomado um leve tranquilizante pra combater a insônia da véspera. Porém, tão levinho o remedinho que depressa deixei isso pra lá. Aceitei brindar com um tinto italiano.
Provei um prato maravilhoso, entre uma garfada e outra, um golinho do saboroso vinho.
- “Diva, hoje você está linda! Isso merece um brinde especial”. Pediu uma daquelas garrafas de champanhe que custa o valor de uma compra de supermercado pro mês todinho. Eu não podia fazer desfeita, jamais recusaria a generosa oferta.
Brindamos e bebemos. Lá pela segunda taça, meu olhar foi de encontro à lua estampada na janela que exibia a cidade de São Paulo. Pois a lua andou, rodou, deu cambalhotas. Aliás, não era uma lua, eram duas luas dançando algo parecido com um bolero!
- “Querida, você está comovida? Não fique assim, apenas quis homenagear seus lindos olhos azuis. Não chore, Diva querida!”.
Não, eu não estava chorando, estava no maior pileque que já tomei em toda a minha vida. Acho que calmante não combina com álcool, ainda que da melhor qualidade.
- “Pedro Ernexxxxto, dexxxxculpe, axxxxxoooo que bebi demaixxxxx”.
Lembro que fui conduzida até o elevador, naquele estilo “nóis trupica, mas num cai”. Lembro também quando ele me deixou em casa e pediu ao porteiro que me ajudasse a subir até o apartamento. Dois meses mais tarde, descobri que Pedro Ernesto tinha consigo um anel de brilhantes, ia me pedir em casamento. Tinha reservado a suíte presidencial do hotel para comemorarmos. Achou o momento inoportuno, preferiu guardar suas intenções pra outra ocasião.
Nunca mais me convidou pra nada. Ele agora prefere as mulheres que brindam com suco de laranja sem gelo e sem açúcar. Está namorando a Cidinha, aquela que se entope de chá verde e granola, faz dieta da luz e não sai da academia.
Esse o preço da autenticidade, tivesse eu inventado que não bebo, estaria hoje casada com o presidente da Airlines Internacional e podre de rica!
Quanto à minha insônia, descobri que o problema era o antigo colchão, troquei por um ortopédico e nunca mais precisei tomar tranquilizante. Continuo solteira, nunca mais bebi champanhe e nem entrei em um piano bar. Quanto à lua, ainda estou zangada com ela. Aquilo era momento pra ela ficar bailando no firmamento?
2 de set. de 2010
COPIANDO E COLANDO
Ela foi fazer as unhas no cabeleireiro quando viu ao seu lado a fulana que namorava seu ex. Sentou-se na cadeira ao lado, fingindo não vê-la. Seu coração pareceu querer sair pela boca, seus olhos ficaram turvos de ódio. Pensou no quanto aquela sujeitinha era cara-de-pau, afinal escolheu justamente o salão que ela freqüentava há anos.Tentou acalmar-se, mas chegou a sentir nojo de respirar o mesmo ar que sua sucessora.
Pra tentar descobrir mais a respeito, decidiu fazer hora e também arrumar os cabelos. Enquanto isso, a substituta pediu uma hidratação nas madeixas, depois fez uma escova. Incrível, os cabelos ficaram parecidos com os dela.
Percebeu então que ela estava usando um vestidinho floral muito parecido com os que costumava usar. Sandália rasteira de tirinha, colares de continhas coloridas e até passou um batonzinho cor de boca. Entendeu, então, que a tal estava imitando o seu layout. Concluiu que era um golpe baixo, provavelmente uma tática pra conquistar o seu ex-marido.
Saiu do salão antes da dita cuja terminar a tentativa de copiá-la no quesito formosura. Atravessou a rua falando sozinha: “coitada, quer se parecer comigo. Só conseguirá se morrer e reencarnar filha do meu pai com minha mãe”.
Uma semana depois, voltou ao cabeleireiro e mandou cortar os cabelos. Nunca mais usou franjinha e decidiu domar seus lindos cachos cor de fogo. Valeu tudo pra mudar o visual. Chegou a se desfazer de todos os seus vestidos esvoaçantes e doou os adereços de miçangas.
Outro dia encontrou o ex em uma agência bancária. Não estava de vestidinho estampado, nem usava mais o mesmo penteado. Ele não desgrudou o olhar. Resta agora saber quanto tempo vai demorar pra fulana, a atual, também cortar os cabelos e passar a vestir-se de um jeito moderninho.
Sábio aquele dizer: “nesta vida nada se cria, tudo se copia”. Haja falta de imaginação!
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