
Diante do espelho, sonolenta. Cabelos desalinhados, olhos inchados de tanto dormir. Tirei do armarinho a escova de dente e, enquanto fazia o ritual matinal, observei que havia uma ruguinha a mais no meu rosto. Conformada, caprichei no creme hidratante facial, prendi os cabelos e fui até à cozinha preparar meu café. A água da chaleira em ebulição e eu sentada à mesa, pensando na vida.
- Quer pão?
- Não, obrigada.
- Quer leite?
- Prefiro café puro.
A xícara de café forte, a torrada com manteiga. Ele sentado ao meu lado, nas mãos as palavras cruzadas do jornal.
- Qual palavra começa D, termina com O e o sinônimo é "monótono", "sem graça"?
- Desenxabido.
- Errou, desenxabido é com CH. Hahaha!
- ...
- Que foi?
- Nada.
Dizer “nada” é o mesmo que declarar guerra. Estava pensando na ruguinha. Por que ela apareceu de repente? Teria sido preocupação? Fila do banco, trânsito, trabalho, família, cachorro, papagaio. Adiantava saber a resposta? Não estava interessada.
Lavei a louça, varri o chão da cozinha. Abri a janela da sala.
- Hoje vou trabalhar.
- Mas hoje é sábado, Diva!
- Tenho que trabalhar.
- Legal, vou então jogar futebol com a turma. Voltarei à noite.
Quando saí disse tchau, nem escutou. Ele estava tentando adivinhar qual é a palavra de sete letras que começa com S e termina com O. Do elevador falei baixinho, quase sussurrei: SOLIDÃO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário