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Sem ter muito o que fazer naquela noite de quinta-feira, aceitei o convite de Pedro Ernesto e fomos juntos a um piano bar. O lugar é desses onde só vai quem pode gastar: chiquérrimo, caríssimo, no topo de um hotel cinco estrelas.
Quando ele pediu a carta de vinhos, lembrei que eu tinha tomado um leve tranquilizante pra combater a insônia da véspera. Porém, tão levinho o remedinho que depressa deixei isso pra lá. Aceitei brindar com um tinto italiano.
Provei um prato maravilhoso, entre uma garfada e outra, um golinho do saboroso vinho.
- “Diva, hoje você está linda! Isso merece um brinde especial”. Pediu uma daquelas garrafas de champanhe que custa o valor de uma compra de supermercado pro mês todinho. Eu não podia fazer desfeita, jamais recusaria a generosa oferta.
Brindamos e bebemos. Lá pela segunda taça, meu olhar foi de encontro à lua estampada na janela que exibia a cidade de São Paulo. Pois a lua andou, rodou, deu cambalhotas. Aliás, não era uma lua, eram duas luas dançando algo parecido com um bolero!
- “Querida, você está comovida? Não fique assim, apenas quis homenagear seus lindos olhos azuis. Não chore, Diva querida!”.
Não, eu não estava chorando, estava no maior pileque que já tomei em toda a minha vida. Acho que calmante não combina com álcool, ainda que da melhor qualidade.
- “Pedro Ernexxxxto, dexxxxculpe, axxxxxoooo que bebi demaixxxxx”.
Lembro que fui conduzida até o elevador, naquele estilo “nóis trupica, mas num cai”. Lembro também quando ele me deixou em casa e pediu ao porteiro que me ajudasse a subir até o apartamento. Dois meses mais tarde, descobri que Pedro Ernesto tinha consigo um anel de brilhantes, ia me pedir em casamento. Tinha reservado a suíte presidencial do hotel para comemorarmos. Achou o momento inoportuno, preferiu guardar suas intenções pra outra ocasião.
Nunca mais me convidou pra nada. Ele agora prefere as mulheres que brindam com suco de laranja sem gelo e sem açúcar. Está namorando a Cidinha, aquela que se entope de chá verde e granola, faz dieta da luz e não sai da academia.
Esse o preço da autenticidade, tivesse eu inventado que não bebo, estaria hoje casada com o presidente da Airlines Internacional e podre de rica!
Quanto à minha insônia, descobri que o problema era o antigo colchão, troquei por um ortopédico e nunca mais precisei tomar tranquilizante. Continuo solteira, nunca mais bebi champanhe e nem entrei em um piano bar. Quanto à lua, ainda estou zangada com ela. Aquilo era momento pra ela ficar bailando no firmamento?
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
5 de set. de 2010
DESVENTURA ENLUARADA
Sem ter muito o que fazer naquela noite de quinta-feira, aceitei o convite de Pedro Ernesto e fomos juntos a um piano bar. O lugar é desses onde só vai quem pode gastar: chiquérrimo, caríssimo, no topo de um hotel cinco estrelas.
Quando ele pediu a carta de vinhos, lembrei que eu tinha tomado um leve tranquilizante pra combater a insônia da véspera. Porém, tão levinho o remedinho que depressa deixei isso pra lá. Aceitei brindar com um tinto italiano.
Provei um prato maravilhoso, entre uma garfada e outra, um golinho do saboroso vinho.
- “Diva, hoje você está linda! Isso merece um brinde especial”. Pediu uma daquelas garrafas de champanhe que custa o valor de uma compra de supermercado pro mês todinho. Eu não podia fazer desfeita, jamais recusaria a generosa oferta.
Brindamos e bebemos. Lá pela segunda taça, meu olhar foi de encontro à lua estampada na janela que exibia a cidade de São Paulo. Pois a lua andou, rodou, deu cambalhotas. Aliás, não era uma lua, eram duas luas dançando algo parecido com um bolero!
- “Querida, você está comovida? Não fique assim, apenas quis homenagear seus lindos olhos azuis. Não chore, Diva querida!”.
Não, eu não estava chorando, estava no maior pileque que já tomei em toda a minha vida. Acho que calmante não combina com álcool, ainda que da melhor qualidade.
- “Pedro Ernexxxxto, dexxxxculpe, axxxxxoooo que bebi demaixxxxx”.
Lembro que fui conduzida até o elevador, naquele estilo “nóis trupica, mas num cai”. Lembro também quando ele me deixou em casa e pediu ao porteiro que me ajudasse a subir até o apartamento. Dois meses mais tarde, descobri que Pedro Ernesto tinha consigo um anel de brilhantes, ia me pedir em casamento. Tinha reservado a suíte presidencial do hotel para comemorarmos. Achou o momento inoportuno, preferiu guardar suas intenções pra outra ocasião.
Nunca mais me convidou pra nada. Ele agora prefere as mulheres que brindam com suco de laranja sem gelo e sem açúcar. Está namorando a Cidinha, aquela que se entope de chá verde e granola, faz dieta da luz e não sai da academia.
Esse o preço da autenticidade, tivesse eu inventado que não bebo, estaria hoje casada com o presidente da Airlines Internacional e podre de rica!
Quanto à minha insônia, descobri que o problema era o antigo colchão, troquei por um ortopédico e nunca mais precisei tomar tranquilizante. Continuo solteira, nunca mais bebi champanhe e nem entrei em um piano bar. Quanto à lua, ainda estou zangada com ela. Aquilo era momento pra ela ficar bailando no firmamento?
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