
- Tia, vamos acampar?
Topei. Dentro da mochila guardei uma lanterna, lembrei também de um cantil, afinal em todo filme de aventura na selva tem gente carregando esse apetrecho.
- Tia, tem que levar um saco pra dormir.
Pensei: haja saco. Onde poderei comprar um saco pra dormir? Fui até o quartinho dos fundos e peguei um antigo colchonete, herança da minha mãe. Cobertor, travesseiro, repelente de insetos, protetor solar, caixinha com itens de primeiros socorros, boné, guarda-chuva.
O zíper da mochila mal fechava, soquei tudo do jeito que pude e ainda lembrei do carregador de celular. E lá fomos nós, a tia e cinco sobrinhos. Eles tão felizes e eu temerosa quanto ao porvir. O céu estava azul, mas no horizonte havia algumas nuvens de cor cinza chumbo.
Quando chegamos ao acampamento, que na verdade era um imenso bosque com alguns campistas, pensei em desistir e pegar carona na estrada. Sentei em uma pedra e observei a montagem dos abrigos. Pensei imediatamente no meu quarto tão confortável
A alegria reinava quase absoluta. Aventura pra uns, desventura pra outros: saudade da minha cama, do meu chuveiro. Acreditam que borrachudos picam durante a noite? Eram seis picadas ao todo, eu estava toda lambuzada de repelente, acho que pra eles aquilo era cobertura e eu o prato principal.
- Tia, você pode dormir aqui nesta barraca, não esqueça de fechar direitinho.
Pensei: pra quê fechar? Não fechei. A chuva era tamanha que entrava água por cima, por baixo, lembrei daquele filme: Náufrago. Por fim, adormeci e acordei lá pelas 2 da manhã com uma sensação esquisita. Um bafo quente pertinho do meu pé. Reclamei: - "crianças deixem a titia dormir!". Porém, o bafo ficou ainda mais quente e eu escutei algo assim: grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!!
Foi então que eu comecei a gritar por socorro. Peguei o guarda-chuva e mandei na direção daquele ser. Notei que havia um brilho sinistro em seus olhos, seria uma onça? Um urso? Um leão? Claro, estávamos na mata atlântica, mas poderia ser um tigre! Repeti em voz alta várias vezes: “não existe mula sem cabeça! Sai daqui saci!”.
Foi então que apareceu alguém e chamou: - “Tobby, vem!”. Um jacaré chamado Tobby, como poderia ser isso? Apareceu alguém e o monstro selvagem saiu da minha barraca. Trêmula, gaga, descontrolada, com o guarda-chuva aberto, coloquei o nariz pra fora. Pude ver um casal jovem e, ao lado deles, um cachorro labrador. Foi difícil eu acreditar, mas a fera era mesmo Tobby, um cãozinho de raça dócil, que tinha saído pra seu passeio noturno.
No dia seguinte pedi a um amigo que fosse me buscar. Tobby veio se despedir, abanando a cauda. Nunca mais acampei, mas já combinei com meus sobrinhos o churrasco do final de semana no quintal de casa, sem mosquitos e nem maiores surpresas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário