
Antes de fechar a mala ele ainda disse: - "Diva, serão apenas alguns dias, sentir saudade é bom!".
Quando vi o carro dele fazer a curva e sumir no final da rua, entrei em casa e escutei o tic-tac do relógio. Silêncio! A cidade quase vazia, sem trânsito, o sol quente e a brisa morna. A sensação não era de solidão, mas de ingratidão. O que fazer em um feriado prolongado? Toda a família ausente, todos os amigos viajando. Entrei na livraria em busca de consolo e remanso.
A leitura é grande companheira. Livros não abandonam, não têm programação particular, não se escondem, são fiéis e assumem os leitores. Mergulhei em poesias de Pablo Neruda, escritas no original:
“Y yo, mínimo ser,
ebrio del gran vacío
constelado,
a semejanza, a imagen
del misterio,
me sentí parte pura
del abismo,
rodé con las estrellas,
mi corazón se desató en el viento”.
Meu coração, naquele instante desvalido, tentou conectar-se com o daquele ser viajante e indiferente à minha dor. Lembrei que levou consigo a mantinha vermelha xadrez, sem importar-se com o frio n´alma a mim relegado.
O celular tocou: - “Aqui está o maior barato, já almocei, fui passear, estamos todos juntos, fizemos churrasco. E você, tá bom seu feriado?”. Escutei cada palavra como quem leva uma surra de mãos amarradas. Claro que eu não estava bem, fui deixada pra trás feito peso morto.
Comprei o livro de poesias, caminhei pelos corredores do shopping center. Não senti vontade de almoçar, nem parei na frente da vitrine que exibia a coleção nova de sapatos. Péssimo sinal. E quem há de compreender? Não eu, não eu.
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