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A ideia de minha amiga Cleusa pareceu sensacional! Mr. Divo Latívio deveria ser chipado, vigiado, seus passos rastreados por satélite. Desliguei o MSN entusiasmada.
Quarta-feira, 16h00. O celular tocou e, como diria a vovó: “do outro lado do aparelho” estava meu algoz, digo, Mr. Divo Latívio: - Oi Diva. Tudo bem, meu amor? Hoje à noite vou sair com uns amigos, mas vou te telefonar quando sair do trabalho.
Engoli cada palavra. Ele não telefonou, mas saiu com os amigos. Pra onde? Com quem?
Quarta-feira, 23h00: A esta altura eu já tinha enlouquecido a Cleusa que, possivelmente, pra livrar-se de minhas lamúrias, sugeriu essa ideia fantástica.
Dormi muito mal. O que teria Divo aprontado?
Quinta-feira, 08h00: Parei no pet shop ao lado de casa. A veterinária me atendeu.
- Bom dia. Em que posso ajudá-la?
- Doutora, sei que alguns animais de estimação recebem um chip de identificação. É possível rastrear o animalzinho via satélite?
- Para o caso dele se perder?
- Simmmmmm!
- Podemos ver isso. É um cachorrinho?
- Mais ou menos.
- Um gatinho?
- É...
- Então, traga o bichano e verei o que é possível fazer.
Quinta-feira, 09h00: O celular tocou novamente. Era ele, Mr. Divo Latívio. – Bom dia, meu amor. Ontem cheguei tão tarde, perdi a hora tomando cerveja com o Sinfrônio e o Simplício. Não quis telefonar e te acordar. Dormiu bem?
Fiz que engoli, a vontade era de cospir marimbondos furiosos.
Quinta-feira, 10h30: Voltei ao pet shop. – Doutora, meu cachorrinho, digo, meu gatinho tem medo de sair de casa, sabe? Quero apenas comprar o chip.
- Mas isso é irregular. Pra implantar o chip é preciso uma micro-cirurgia e eu não venderei o material sem ter toda a garantia de que será implantado por um colega veterinário.
- Não por isso, meu irmão é veterinário.
- É mesmo? Em qual universidade ele estudou?
- Havard ( cruzes!).
- Senhora, esse chip somente pode ser usado em animais, tem ciência disso?
- Claro...
- Venderei, mas terá que assinar um termo de responsabilidade.
Assinei e escutei várias recomendações. Não implantar nada sem ter ao lado um veterinário habilitado. E se usasse o produto em humanos poderia ser processada por crime de lesão corporal dolosa. Em suma, coisa feia de se fazer com seres de duas patas, digo, de duas pernas.
Agora estou à procura: alguém aí entende de bichos? Digo, alguém aí é veterinário? Vai que algo sai errado, um bom profissional poderá fazer respiração boca-a-boca!
Quinta-feira,14h00: Lembrei que está ocorrendo o Salão do Automóvel. Juro, ele me deixou em casa tossindo, com gripe, e foi ver as modelos pirulonas de 1,90 de altura ao lado daquelas Ferraris coloridas. Na próxima desculpa saberei exatamente onde ele está. Implantarei o chip enquanto ele estiver dormindo. Se acordar, direi que uma abelhinha entrou no quarto, mas já matei a coitadinha. E depois poderei segui-lo pra todo lado. Adeus dúvidas, agora terei certezas! E “teje dito”.
Acho que este texto merece uma nota da autora. Trata-se de uma caricatura do que ocorre entre alguns casais, fala sobre a insegurança feminina, a desconfiança. A maioria de nós, mulheres, não acredita nos homens. São tantas as desculpas esfarrapadas de alguns deles, as mentiras que eles contam, a falta de consciência ao trair fisica e moralmente a companheira, que aprendemos desde o berçário a não confiar em homem algum. O texto é irreal, mas a cisma feminina é real. Se você, homem, deseja ter ao seu lado uma mulher que confia em você, não minta pra ela. Seja sincero, por maior que seja a confusão que ocorrerá. Mil vezes a verdade mais dolorida do que a mais doce das mentiras. A nossa desconfiança é atávica, ou seja, deve ser proveniente do tempo em que os homens deixavam as mulheres em cabanas e cavernas, iam caçar e guerrear. Voltavam anos depois, isso quando voltavam. Existe uma piada antiga, que conta a história do - desculpem o termo - do idiota que saiu de casa dizendo pra esposa que ia comprar cigarros. Voltou anos e anos depois, quando ela o viu começou a falar, falar, falar. E ele, então, disse: - putz, preciso sair de novo. Esqueci de comprar os fósforos.
Homens que não compreendem a mulher, não entendem a alma feminina, causam estragos irreparáveis. Deveriam saber permanecer sozinhos.
Diva Latívia
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
4 de nov. de 2010
DESCONFIANÇA ATÁVICA
A ideia de minha amiga Cleusa pareceu sensacional! Mr. Divo Latívio deveria ser chipado, vigiado, seus passos rastreados por satélite. Desliguei o MSN entusiasmada.
Quarta-feira, 16h00. O celular tocou e, como diria a vovó: “do outro lado do aparelho” estava meu algoz, digo, Mr. Divo Latívio: - Oi Diva. Tudo bem, meu amor? Hoje à noite vou sair com uns amigos, mas vou te telefonar quando sair do trabalho.
Engoli cada palavra. Ele não telefonou, mas saiu com os amigos. Pra onde? Com quem?
Quarta-feira, 23h00: A esta altura eu já tinha enlouquecido a Cleusa que, possivelmente, pra livrar-se de minhas lamúrias, sugeriu essa ideia fantástica.
Dormi muito mal. O que teria Divo aprontado?
Quinta-feira, 08h00: Parei no pet shop ao lado de casa. A veterinária me atendeu.
- Bom dia. Em que posso ajudá-la?
- Doutora, sei que alguns animais de estimação recebem um chip de identificação. É possível rastrear o animalzinho via satélite?
- Para o caso dele se perder?
- Simmmmmm!
- Podemos ver isso. É um cachorrinho?
- Mais ou menos.
- Um gatinho?
- É...
- Então, traga o bichano e verei o que é possível fazer.
Quinta-feira, 09h00: O celular tocou novamente. Era ele, Mr. Divo Latívio. – Bom dia, meu amor. Ontem cheguei tão tarde, perdi a hora tomando cerveja com o Sinfrônio e o Simplício. Não quis telefonar e te acordar. Dormiu bem?
Fiz que engoli, a vontade era de cospir marimbondos furiosos.
Quinta-feira, 10h30: Voltei ao pet shop. – Doutora, meu cachorrinho, digo, meu gatinho tem medo de sair de casa, sabe? Quero apenas comprar o chip.
- Mas isso é irregular. Pra implantar o chip é preciso uma micro-cirurgia e eu não venderei o material sem ter toda a garantia de que será implantado por um colega veterinário.
- Não por isso, meu irmão é veterinário.
- É mesmo? Em qual universidade ele estudou?
- Havard ( cruzes!).
- Senhora, esse chip somente pode ser usado em animais, tem ciência disso?
- Claro...
- Venderei, mas terá que assinar um termo de responsabilidade.
Assinei e escutei várias recomendações. Não implantar nada sem ter ao lado um veterinário habilitado. E se usasse o produto em humanos poderia ser processada por crime de lesão corporal dolosa. Em suma, coisa feia de se fazer com seres de duas patas, digo, de duas pernas.
Agora estou à procura: alguém aí entende de bichos? Digo, alguém aí é veterinário? Vai que algo sai errado, um bom profissional poderá fazer respiração boca-a-boca!
Quinta-feira,14h00: Lembrei que está ocorrendo o Salão do Automóvel. Juro, ele me deixou em casa tossindo, com gripe, e foi ver as modelos pirulonas de 1,90 de altura ao lado daquelas Ferraris coloridas. Na próxima desculpa saberei exatamente onde ele está. Implantarei o chip enquanto ele estiver dormindo. Se acordar, direi que uma abelhinha entrou no quarto, mas já matei a coitadinha. E depois poderei segui-lo pra todo lado. Adeus dúvidas, agora terei certezas! E “teje dito”.
Acho que este texto merece uma nota da autora. Trata-se de uma caricatura do que ocorre entre alguns casais, fala sobre a insegurança feminina, a desconfiança. A maioria de nós, mulheres, não acredita nos homens. São tantas as desculpas esfarrapadas de alguns deles, as mentiras que eles contam, a falta de consciência ao trair fisica e moralmente a companheira, que aprendemos desde o berçário a não confiar em homem algum. O texto é irreal, mas a cisma feminina é real. Se você, homem, deseja ter ao seu lado uma mulher que confia em você, não minta pra ela. Seja sincero, por maior que seja a confusão que ocorrerá. Mil vezes a verdade mais dolorida do que a mais doce das mentiras. A nossa desconfiança é atávica, ou seja, deve ser proveniente do tempo em que os homens deixavam as mulheres em cabanas e cavernas, iam caçar e guerrear. Voltavam anos depois, isso quando voltavam. Existe uma piada antiga, que conta a história do - desculpem o termo - do idiota que saiu de casa dizendo pra esposa que ia comprar cigarros. Voltou anos e anos depois, quando ela o viu começou a falar, falar, falar. E ele, então, disse: - putz, preciso sair de novo. Esqueci de comprar os fósforos.
Homens que não compreendem a mulher, não entendem a alma feminina, causam estragos irreparáveis. Deveriam saber permanecer sozinhos.
Diva Latívia
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