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Acordei durante a madrugada. Olhei pro relógio: 04h00. Um barulho estranho vinha do quintal da minha casa. Fui até à janela, cismada que os vizinhos estavam acordados e promovendo alguma festa. Notei tudo escuro na casa ao lado, mas o quartinho dos fundos da minha casa estava com a luz acesa. Zezé, minha inestimável auxiliar, estava acordada e o barulhinho que me despertou eu pude identificar: sons de mensagens de texto de seu celular. Fiquei em silêncio olhando na direção do quarto quando a escutei soltar um gritinho: iupiiiiiii!!!
Fiquei intrigada. Zezé não tem muitos amigos, não tem namorado. Iupi? Por que? Mais alguns instantes e decidi voltar pra cama. Acordei novamente com Zezé dentro do meu quarto: - Dona Diva! Dona Diva! Pelo amor de Deus, acorda! Ganhei! Ganhei!
Sem entender nada, precisei afastar-me para dar espaço à criatura já sentada em minha cama, dando pulinhos de felicidade.
- Que coisa, Zezé. Isso é hora de me acordar?
- Ai! Que alegria! Ganhei!
- Ganhou? O que você ganhou?
- Um carro zerinho na promoção do torpedo premiado.
- Calma! Deixa eu ler isso.
Estava assim escrito: cliente da operadora XXX, parabéns, você ganhou um carro zero km na promoção do torpedo-vencedor do “Programa Uau”. Entre em contato conosco, telefone XXX-XXXX.
Precisei ir até à cozinha oferecer-lhe água com açúcar. Feliz, começou a fazer planos: venderia o carro e compraria uma casinha em Santa Maria do Vai e Volta, sua terrinha natal.
Depois de alguns minutos, menos sonolenta, comecei a raciocinar. Seria verdade aquilo? Liguei o computador e fiz uma busca. A tal operadora de celular não tinha uma promoção com aquele nome: torpedo-vencedor. Decidi telefonar pro número informado. Atendeu um sujeito, com forte sotaque de outro Estado. – "Tá feliz? Aqui é da operadora XXX! Você ganhou um carro zerinho, basta transferir $$$ pra conta XXXXX do Banco do Brejo e entregaremos o seu carro aí, na sua porta. Qual é o seu endereço?".
Finalmente entendi que Zezé tinha sido vítima de um golpe. Não soube como contar a ela a verdade, mas com o jeito de quem comunica que o gato subiu no telhado, pedi que esperasse amanhecer e cuidaríamos do assunto.
Voltei a dormir, acordei tarde, perdi a hora. Zezé não estava em casa. Telefonei pro seu celular, ela estava no banco tentando transferir um valor pra aquela conta bancária. Precisei falar sério, até mesmo brava: - Não faça isso e volte imediatamente pra casa.
Minutos depois, chegou Zezé. Arzinho de choro, olhar triste. Expliquei a ela que, nesta vida, ninguém ganha um prêmio sem ao menos participar de uma promoção. Que bandidos estão dispostos a promover esse tipo de maldade e a vítima pode ser qualquer pessoa.
Ainda está jururu, seu sonho durou poucas horas. Prometi que, se eu ganhar na loteria, ela vai ganhar um carrão zero quilômetros. Mas, já que eu não costumo jogar na loteria, acho que a Zezé vai ter que participar de promoções reais, de empresas sérias. Arriscar a sorte, afinal alguém tem que ganhar.
Este texto foi baseado em um fato verídico. Presenciei a alegria seguida da decepção de alguém muito simples que, por muito pouco, não transferiu seu dinheiro pra uma conta qualquer. Um golpe muito antigo, que envolve de modo fraudulento o nome de uma emissora de televisão séria e operadoras de celular também sérias. Ou as leis se tornam mais rígidas, as penas muito mais severas, ou não sei lhes dizer em que mundo iremos parar. Merecemos PAZ, merecemos JUSTIÇA e merecemos RESPEITO. Sinto muito, “Zezé”.
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
30 de nov. de 2010
O GOLPE DO FALSO TORPEDO PREMIADO
Acordei durante a madrugada. Olhei pro relógio: 04h00. Um barulho estranho vinha do quintal da minha casa. Fui até à janela, cismada que os vizinhos estavam acordados e promovendo alguma festa. Notei tudo escuro na casa ao lado, mas o quartinho dos fundos da minha casa estava com a luz acesa. Zezé, minha inestimável auxiliar, estava acordada e o barulhinho que me despertou eu pude identificar: sons de mensagens de texto de seu celular. Fiquei em silêncio olhando na direção do quarto quando a escutei soltar um gritinho: iupiiiiiii!!!
Fiquei intrigada. Zezé não tem muitos amigos, não tem namorado. Iupi? Por que? Mais alguns instantes e decidi voltar pra cama. Acordei novamente com Zezé dentro do meu quarto: - Dona Diva! Dona Diva! Pelo amor de Deus, acorda! Ganhei! Ganhei!
Sem entender nada, precisei afastar-me para dar espaço à criatura já sentada em minha cama, dando pulinhos de felicidade.
- Que coisa, Zezé. Isso é hora de me acordar?
- Ai! Que alegria! Ganhei!
- Ganhou? O que você ganhou?
- Um carro zerinho na promoção do torpedo premiado.
- Calma! Deixa eu ler isso.
Estava assim escrito: cliente da operadora XXX, parabéns, você ganhou um carro zero km na promoção do torpedo-vencedor do “Programa Uau”. Entre em contato conosco, telefone XXX-XXXX.
Precisei ir até à cozinha oferecer-lhe água com açúcar. Feliz, começou a fazer planos: venderia o carro e compraria uma casinha em Santa Maria do Vai e Volta, sua terrinha natal.
Depois de alguns minutos, menos sonolenta, comecei a raciocinar. Seria verdade aquilo? Liguei o computador e fiz uma busca. A tal operadora de celular não tinha uma promoção com aquele nome: torpedo-vencedor. Decidi telefonar pro número informado. Atendeu um sujeito, com forte sotaque de outro Estado. – "Tá feliz? Aqui é da operadora XXX! Você ganhou um carro zerinho, basta transferir $$$ pra conta XXXXX do Banco do Brejo e entregaremos o seu carro aí, na sua porta. Qual é o seu endereço?".
Finalmente entendi que Zezé tinha sido vítima de um golpe. Não soube como contar a ela a verdade, mas com o jeito de quem comunica que o gato subiu no telhado, pedi que esperasse amanhecer e cuidaríamos do assunto.
Voltei a dormir, acordei tarde, perdi a hora. Zezé não estava em casa. Telefonei pro seu celular, ela estava no banco tentando transferir um valor pra aquela conta bancária. Precisei falar sério, até mesmo brava: - Não faça isso e volte imediatamente pra casa.
Minutos depois, chegou Zezé. Arzinho de choro, olhar triste. Expliquei a ela que, nesta vida, ninguém ganha um prêmio sem ao menos participar de uma promoção. Que bandidos estão dispostos a promover esse tipo de maldade e a vítima pode ser qualquer pessoa.
Ainda está jururu, seu sonho durou poucas horas. Prometi que, se eu ganhar na loteria, ela vai ganhar um carrão zero quilômetros. Mas, já que eu não costumo jogar na loteria, acho que a Zezé vai ter que participar de promoções reais, de empresas sérias. Arriscar a sorte, afinal alguém tem que ganhar.
Este texto foi baseado em um fato verídico. Presenciei a alegria seguida da decepção de alguém muito simples que, por muito pouco, não transferiu seu dinheiro pra uma conta qualquer. Um golpe muito antigo, que envolve de modo fraudulento o nome de uma emissora de televisão séria e operadoras de celular também sérias. Ou as leis se tornam mais rígidas, as penas muito mais severas, ou não sei lhes dizer em que mundo iremos parar. Merecemos PAZ, merecemos JUSTIÇA e merecemos RESPEITO. Sinto muito, “Zezé”.
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