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Recebi um e-mail com uma piadinha que me fez parar o trabalho, ir tomar um café e afastar toda a criação de minhocas que circulam em minha cabeça. Muitas, muitas minhoquinhas.
A piadinha terminava da seguinte forma: quer terminar o seu namoro hoje? Peça ao seu namorado que mostre agora, já, entregue em sua mão o seu... celular. Se ele titubear, der qualquer desculpa, disser que está sem bateria, perguntar por que, então saiba que você está sendo traída por SMS, e-mail, Facebook, Orkut, MSN, Netlog, blog, PP, Match e sei lá mais quantas coisas por aí. Ainda arremataram: agora vai lá e pede!
As minhoquinhas até saltitaram. Vai lá, Diva! Vambora! Pede, pede, pede!
A princípio, meus pensamentos foram quase angelicais: Divo tem um tal de smartphone. O assobio de passarinhos é irritante, significa que ele ligou a parafernália. Daí pra frente, não sei de nada. Nunca tentei mexer no tal do smarphone do Divo. Pra quê? Se ele estivesse me traindo, seria por desamor. Se houvesse desamor, ele deixaria de ser Divo Latívio. Volta e meia um sinal sonoro avisa que chegou e-mail. Há outro sinal sonoro que avisa que chegou mensagem. Mais outro, alguém tentou ligar em vão.
Mulher desconfiada, proprietária de um minhocário fértil. E ainda enviaram essa metralhadora por e-mail. Quem disse que sei mexer no smarphone do Divo?! E o que tem a ver o Facebook com o celular? Achei que nada, mas já descobri que por e-mail chegam avisos de mensagens, comentários, fotos e tudo o mais. Terá ele acesso a esses recursos? Ah, por isso toda hora mexe no tal do smartphone! Começo a desejar um smartphone também, será a minha vingança. Ficarei pendurada horas por dia. Ele com os passarinhos, eu com um funk da pesada tocando a última parada. Vai cachorra, atende, au, au, au! Tchutchuca, atende o seu tigrão, grrrrraaaauuuu! Acho, seria uma bela estilingada naqueles passarinhos todos.
Já estava totalmente insana, caminhando no jardim em frente ao prédio onde trabalho, quando escutei a voz de uma colega me chamando: - Diva, o que aconteceu? Você está bem? O olhar da moça era de espanto. Posso imaginar o estado em que eu me encontrava. Descabelada, olhar esbugalhado, pálida, imaginando Divo teclando naquele tecladinho minúsculo frases picantes com aqueles dedinhos gorduchinhos que ocupam 3 teclas do smarphone, no mínimo. Ridículo isso tudo.
Respirei fundo, quase aliviada. E vim aqui compartilhar minha paranoia com você, cara leitora, querido leitor. Desejo morar no mato, sem sinal de celular, sem internet, sem televisão, acho que tudo isso vai evitar 50% das confusões que Divo e eu aprontamos. Divo, você está intimado a mudar-se pra Serra do Tereré comigo. Urgente. Você, eu e minhas minhoquinhas, todos felizes para sempre!
Quando me perguntam quantos idiomas falo, penso duas vezes antes de responder. Heresia maior seria dizer que falo português. Idioma difícil, por mais que eu tenha estudado. Erro feio, especialmente quando aqui escrevo. Movida pela pressa, esta aliada à emoção, mando bala no teclado e, sem meu saudoso editor – Abílio Manoel –, lusitano autêntico e que tão bem corrigia meus deslizes gramaticais, cometo desatinos dignos de levar o Pai dos Burros ( dicionário) na cabeça.
Deveria saber inglês. Anos a fio de estudos, mal consigo entender o noticiário internacional na TV a cabo. Idem francês, que aprendi no colégio onde estudei. Restou I miss you, je t´aime. Quanto ao alemão, ficou apenas no sangue germânico, herdado de Mami. Quase esqueço o espanhol, esse transformo em portunhol facilmente. Buenos dias, Buenos Aires.
Portanto, caro leitor, escrevo mal, muito mal. Falo pior ainda. O meu infinitivo deveria ganhar uma passagem de ida sem volta para o infinito. E é lá no infinito que reside o amor. Amado infinitivo. Cadê a concordância verbal? Tropeçou na vírgula, mal colocada. E aquele travessão então?
Difícil mesmo é pensar em um palavrão. Não posso escrever palavrões neste blog. O que pensariam meus leitores se eu escrevesse que a vida está uma merda? Aliás, palavrão leve esse, na minha opinião.
Pra constar, pra ilustrar o meu currículo, falo inglês, espanhol e francês. Quando desembarquei nos USA tive um ataque de riso. Travei, não conseguia dizer sequer “I do”. Por sorte, a cada esquina há um brasileiro, afinal batatas fritas e brasileiros a gente encontra em quase todos os lugares.
Comecei este texto com a intenção de falar da palavra “saudade”. O sentimento mais puro e impotente que um ser humano pode experimentar. Ausência permanente ou temporária de algo ou alguém. Volto o pensamento ao infinito, onde a saudade mata a sua sede de presença.
Não gosto do dia 29. Todo dia 29 é a anti-comemoração ( esse hífem existe ou já morreu?), a antítese da celebração ( melhor assim), da minha felicidade e vontade de viver. Mami morreu no dia 29 de novembro de 2009. Abílio morreu no dia 29 de junho de 2010. Cismei com o dia 29. Não sou beata, mas todo raiar dos dias 29, peço a Deus que me proteja e a todos aqueles que amo. Penso nas minhas duas estrelinhas que partiram pro céu, uma após a outra. Dia triste, dia 29.
Quanto ao infinitivo, estou sem editor. Se você se habilitar, o cargo será seu. Quanto aos demais idiomas, aprendi algo interessante em minhas viagens: mímica resolve quase tudo. Dinheiro então, nem se fala: resolve tudo e mais alguma coisa. How much? Os olhos do comerciante gringo chegam a brilhar de satisfação.
Eis mais um texto. Uma sopa de letrinhas com restos de memórias, saborosa e que, assim espero, cairá redondinha na tela do computador desses leitores anônimos, que acompanham as aventuras e desventuras de Diva Latívia.
Hoje estou especialmente triste. Difícil olhar ao redor, difícil olhar para as pessoas próximas e para as mais distantes, sem sentir-me desolada.
Mais e mais me convenço que, quem não tem dinheiro e poder, é peixinho fora d´água neste mundo de guerras e guerrilhas. Se você, que lê este texto, for alguém de classe média, um assalariado, ou profissional liberal, deve saber o quanto é difícil receber o suado dinheirinho, fruto de seu trabalho. A maioria de nós paga convênio médico. Já precisou desse convênio? Assisto ao drama de pessoas que, ao precisar de um determinado procedimento médico ou hospitalar, esbarra nas cláusulas dos contratos ( abusivos?), letrinhas miudinhas, itens que justificam a não prestação de um determinado serviço. Saúde versus doença, vida versus morte. Somos um número para alguns, somos apenas mais um.
São tantos os serviços, especialmente públicos, mal prestados! Para quê convênio médico, se pagamos altos impostos? Alguém já visitou o pronto-socorro de algum grande hospital público? Senhor, livre-nos de acidentes que exijam a internação em alguma dessas espeluncas, amém! Os pacientes ficam deitados em macas improvisadas, durante dias e dias, aguardando a possibilidade remota de serem transferidos para uma enfermaria ( lotada). Isso no corredor. Duvida? Faça uma visitinha a algum hospital público.
Para evitarmos esse drama, já que pertencemos à chamada "elite", somos a afortunada classe média ( isso é piada!), pagamos as prestações elevadas dos convênios médicos. Quis marcar uma consulta com um oftalmologista. A resposta ao telefone que obtive, proveniente da voz esganiçada de uma atendente do doutor, foi que Dr. Oculista não tem espaço em sua agenda até julho de 2017. Contive as palavras, que se penduraram na ponta da minha língua. Alguns palavrões saltitavam esperançosos, queriam ser verbalizados. Cala-te boca, a infeliz é apenas empregada do sujeito.
Há alguns anos precisei submeter-me a uma cirurgia. Foi necessário pagar um valor considerável, porque o convênio médico não cobria aquele tipo de procedimento. Eu poderia ter ido à Justiça exigir os meus direitos. Sou cidadã, pago os tais dos impostos. Tenho direitos, portanto. Porém, quando lembrei que a Justiça tarda, tarda, tarda... Imaginei uma tartaruga carregando um caminhão em suas costas. Desisti, preferi pagar achando que, assim, não iria sofrer.
E tudo isso porque hoje vi um bando de garis varrendo as ruas do meu bairro. A cena, mais ou menos, era a seguinte: um varria, dois assistiam à operação de braços cruzados e outros dois tocavam a campainha das casas, para pedir a tal “caixinha”. E olhem que nem é Natal! A corrupção começa na sarjeta, segue pelas ruas, entra nos hospitais e prefiro parar por aqui, afinal em boca fechada não entra mosquito. E “teje dito”.
Estava sentada com meu notebook no colo. Minha intenção era a de escrever um texto, falando da minha revolta. Essa coisa de Facebook, Orkut, MSN e toda essa parafernália virtual está cansando a minha beleza ultimamente. Sem a menor vontade de fazer bonito socialmente, não mais tenho vontade de papear com os amigos, senão pessoalmente. Estava escolhendo palavras para começar a história quando ela falou comigo.
- Oi, Cláu, como vai a minha autora?
Fiquei admirada. Diva Latívia estava online!
- Oi, Diva! Há quanto tempo, garota! Trouxe alguma boa história para contarmos no blog?
- Sai dessa, Cláu. Hoje não estou com a menor vontade de escrever.
- Então, com licença. Preciso escrever sobre meu saco cheio do Facebook.
- O Facecoisa?
- Isso mesmo.
- Hã... Sei... Brigou de novo com o namorado por causa da internet?
- Não seja bisbilhoteira, Diva!
- Agora tenho certeza, brigou. E brigou por causa do Facecoisa!
- Diva, você está atrapalhando o meu raciocínio!
- Sem querer provocá-la, cara autora, mas você não raciocina quando o assunto é o seu relacionamento.
- Psssssiiiuuuuu! Fique quietinha, estou escrevendo!
- Cláu, escreva aí: o namorado ideal deveria somente saber usar aquelas planilhas do Excel, jamais usar a internet. O namorado ideal não deveria ter amigos de cerveja, nem amigos virtuais e muito menos estar cadastrado no Facecoisa. Que tal isso, gostou?
- Diva, ele vai ler isso tudo e quem vai se ferrar sou eu!
- Não senhora, quem vai se ferrar sou eu, Diva Latívia, afinal você assina meu nome nesses textos.
- Acho que vou desligar o computador.
- Não! Espera!
- Diga, Diva.
- Ele tá paquerando no Facecoisa, é?
- Não sei, Diva. Ele mexeu em algo na configuração do Facebook, só posso ver que ele existe, mas não posso ler o seu mural, nem mais ver sua lista de amigos.
- Péssimo isso. Você, minha autora, suspeite que possa existir alguma vaca pastando no Facecoisa dele.
- Diva, acho que mudei de ideia. Vou escrever sobre o outono.
- Tá fugindo da raia, hein Cláu?
- Vou escrever sobre as folhas secas que cobrem o chão, tal e qual um manto dourado. O que acha, Diva?
- Poético e piegas. Melhor descer o pau no Facecoisa do Divo.
- Mas, se eu descer o pau, depois vou ter que voltar ao blog e escrever sobre fidelidade, poesias dramáticas, falar do quando dói uma saudade. E você assinará ao final. Não será então melhor eu falar do outono?
- Pensando bem, fale do outono. Mas, não fale de tapete dourado. Fale de outras coisas, por exemplo conte como é essa gripe filha da mãe que você apanhou no último dia das suas férias.
- Pensarei no assunto. Agora, com licença, vou continuar meu texto.
- Sem reclamar do Facecoisa? Eu adoraria ver o circo pegar fogo!
- Sem reclamar.
- Cláu, você não é mais a mesma!
- Vivendo e aprendendo, Diva.
- Beijo, Cláu. Tô indo.
- Beijo, Diva Latívia. Tchau!
Existe a tradição, em algumas famílias, de dar a seus filhos o mesmo nome, geração após geração. Avô, pai, filho, todos se chamam Luís, João, Paulo, José, isso apenas pra exemplificar. No final do nome vem Júnior, Filho, Neto. Assim foi na minha família. Meus bisavós, os cearenses Theóphilo e Maria Luiza, a vó Badinha, escolheram para o pequeno que nasceu em 1915 o nome José. A tradição assim começou, com o José, meu avô. O filho de José também foi batizado José, o José Filho, que foi meu pai. O filho de José Filho chamou-se José Neto, meu irmão mais velho. A sequência de Josés continuou com o nascimento de meus outros dois irmãos: Flávio José e Francisco José. Criados nos princípios da Igreja Católica, tiveram como santo protetor o pai de Jesus Cristo, São José. Hoje, dia 19 de março, dia do santo padroeiro dos homens da minha família. Deixo a homenagem aos Josés de minha vida, com quem tive e tenho fortes laços de sangue e afeto. Deixo também a música de Rita Lee, bonita e simples, assim como é o nome José. E você, que talvez se chame José ou tenha em sua vida alguém assim chamado, sinta-se também homenageado.
Quero contar a todos que hoje é uma data muito especial. Hoje é aniversário do meu filho, um bebê que cresceu e chegou aos 24 anos de idade.
Ser mãe é muito mais que gerar, gestar, parir e amamentar alguém. Ser mãe é criar, cuidar, educar um filho. Quem me dera a vida tivesse sido mais sutil, mais leve, que os contos de fadas fossem reais e que em todos os dias amanhecesse um final feliz, só pra combinar com o brilho daqueles olhinhos verdes.
Ontem fui a um shopping center escolher o presente de aniversário do meu garoto. Nada que o dinheiro possa comprar expressaria o meu amor por essa criaturinha. Também não encontrei palavras pra escrever versos doces, com o açúcar do amor materno. Deixo, então, registrada aqui a minha força, a minha energia, o desejo imenso de que ele voe, voe alto, seja livre, sinta-se feliz e alcance o mais belo de todos os seus sonhos.
Meu filho, meu amor por você é aquele que mais se aproxima, neste mundo, do amor que Deus tem por todos nós. Minha vida por você, minha vida pra você. Viva, Gabriel! Viva e seja feliz, ainda que a vida tenha marcado seu olhar com mágoas, ainda que viver não seja o tempo todo um mar de risos e sorrisos. Viva e ame sempre, meu filho! Parabéns, você tem o coração maior que o mundo e isso é tudo o que pedi a Deus quando descobri que você estava pra chegar nesta Terra. Parabéns e obrigada. É uma honra ser sua mãe.
Quando voltei a escrever, isso há quase dois anos, não imaginava que me transformaria em uma blogueira. Portanto, a ideia ainda é um tanto estranha pra esta pretensa escritora. Abílio, meu amigo tão amado, incentivou esse retorno às tecladinhas, ao "trocadalho" que cometo vez ou outra. Eis os textos de Diva Latívia.
Meus leitores, povo que lê minhas histórias e estórias, chegamos aos 11.000 acessos. Menos de um ano de vida, este blog já começa a dar seus primeiros passinhos.
Abílio, amigo amado, aí no Céu aceite meu beijo, meu abraço, meu carinho. Muito obrigada, querido!
Cláudia ( Diva Latívia)
Quem mora aqui, na cidade de São Paulo, está acostumado com a colônia japonesa. Integrou-se à nossa cultura, trazendo em troca o que há de bom: a culinária, a delicadeza de sua arte, de origamis a bonsais e aquele jeitinho nipônico de ser. Simpática a colônia japonesa. Tenho vários amigos descendentes de japoneses.
Li algo sobre apocalipse, em uma matéria na internet. Parece mesmo o final do mundo o terremoto, tsunami, os problemas na usina nuclear. Quantas vidas se foram, quanta devastação, quantas vítimas, entre mortos e feridos! Este é um momento de sofrimento, preocupação. Não sabemos ao certo dimensionar a gravidade do que ocorreu, do que ainda ocorrerá.
O ser humano é frágil. O planeta Terra é um grãozinho minúsculo no Universo. Cada ser humano é uma partícula desse minúsculo grão. Ainda assim, há a prepotência de alguns, aliada à ganância. Eis a destruição da natureza em prol de interesses mesquinhos. Chegou a resposta.
Deixo aqui o meu sincero sentimento. Não sei ao certo o que posso fazer para ajudar, mas acompanho com aflição o noticiário. A minha parte nesta vida, foi criar meu filho, em um bairro oriental desta cidade. Cresceu com amiguinhos nisseis, sanseis. Eu o ensinei que a origem das raças é algo divino, na aparência somos diferentes uns dos outros, mas aos olhos de Deus somos todos irmãos, somos todos iguais.
Que tudo se resolva pelo bem. Que o dia de amanhã seja abençoado e coberto de paz.
Dia desses, papeando no MSN com uma amiga, li o seguinte comentário: “Diva, você está em plena crise dos 50 anos”. Até outro dia, ou melhor, até outra década, as mulheres de 50 anos eram vovós gorduchinhas, cabelos grisalhos, óculos de grau na pontinha do nariz. Excelentes quituteiras e cheias de sabedoria. Hoje, em pleno século 21, sou um exemplar da nova cinquentona. Cinquentona? Deixe apagar isso, com licença. Melhor dizer: hoje, em pleno século 21, sou um exemplar da gata motor 5.0. Acho que essa última frase tem algo a ver com a tal da crise dos 50. Não acho que o RG esteja correto. Se nasci em 1961, isso aconteceu outro dia. Ainda tenho avó, portanto sou netinha, quase uma garotinha!
Dentro de poucos dias, meu filho completará 24 anos. Com essa idade, há... Há... trocentos anos, casei. O único casamento que tive, foi desfeito há... Há... Outros trocentos anos. Depois disso, feito solo ruim, nem mato nasceu em meu terreno. De namoro em namoro, de rolo em rolo, fiquei sozinha muito tempo. Eis que, um dia, miando em minha porta, apareceu um gato estilo Garfield, trazendo um buquê de flores do campo. Foi assim que comecei, aos 49 anos, a namorar o meu Divo Latívio.
Ambos em plena crise dos 50, ele mais sossegado, eu tão inquieta quanto um bando de passarinhos. Há complemento nisso, enquanto ele se cala, eu falo. Enquanto ele me observa, saio em disparada. Ele sério, eu fazendo piada. Já não vivo sem meu Divo. A recíproca parece ser verdadeira.
Quando a gente se casa, aos 20, 30 anos de idade, temos a vida inteira pra errar, voltar atrás, acertar. Aos 50 anos, olha a crise aí de novo, não há muito tempo a perder. E perdemos tempo com receio de perder o que ainda há de bom: a nossa liberdade. Eis a questão.
O espelho já não mais resmunga quando reflete a minha imagem. Diz: "tsc, Diva, você não tem remendo. Continue tomando cerveja, desisto de reclamar". Dou uma giradinha pra me certificar que estou linda e sigo adiante, feliz da vida. Deve ser a vantagem de ter chegado aos 50, não mais sou escrava da minha imagem refletida. Meu espelho é um olhar castanho, doce, que sorri ao me ver passar da sala pra cozinha. – "Anjo, você está lindinha!". Isso vale mais que mil elogios.
Aos 50 anos eu deveria saber pra onde estou caminhando. Não sei. Não consigo imaginar o que será da vida dentro de dois anos, por exemplo. Aposentada? Morando no campo? Casada? Terei viajado pra Europa? Nada sei, senão que aquilo o que trago no meu coração, continuará comigo. E é o que tenho em meu coração que me traz aqui, outro texto derramado sobre o teclado e publicado em um blog. Pra você, leitor, leitora desta senhora com mais de 49, menos de 51 e cheia de histórias e devaneios tantos.
Dizem que a dor mais dolorida de todas é a dor do coração. Essa, páreo pra dor de cotovelo, não encontra alento em palavras amigas, noites mal dormidas, trabalho ou outras ocupações pra ajudar a empurrar o tempo adiante. E sim, só o tempo consegue amenizar o peso enorme que é esse vazio de não mais ter ao lado alguém que era, ou é tão amado.
Não creio que atirar-se em outros braços, ir viajar, sair com os amigos ou acabar-se de tanto malhar na academia seja o ideal. Isso não mudará o rumo da história. Penso que, a cada relacionamento findo, seja necessário um período de isolamento e reflexão. Fechar-se para balanço. É aquela coisa do: onde foi que eu errei? Aliás, o erro é duplo, onde há duas pessoas esqueça a tolice de achar-se a vítima e atribuir ao seu ex-par o título de vilã ou vilão. Meio a meio, uma conta justa.
É preciso encerrar o ciclo do relacionamento anterior antes de sequer imaginar-se em mais outro relacionamento. Não é justo com um novo alguém, que pode chegar preparado pra relacionar-se, assistir às cenas de uma separação, às mágoas estampadas em um olhar, às situações muitas que acontecem ao redor do fim de um namoro ou casamento. Muitos erram ao atropelar o tempo, sair de um casamento direto pra um namoro. Isso, muito possivelmente, destruirá a base desse novo amor, que deveria ser protegido em uma espécie de redoma de vidro. É o mesmo que atirar pedras em uma plantinha que mal despontou da terra.
O dia ficou esquisito, quase tão esquisito quanto a primeira noite longe de Divo Latívio. A sensação é de que os segundos estão dobrados, as horas não passam. De férias, já arrumei papéis, troquei o cartucho de tinta da impressora, encontrei blusas de lã no fundo do guarda-roupa e decidi lavá-las. Reguei plantas, paguei contas no banco, fiz limpeza de pele, conversei com uma amiga. E as horas deste dia não passam. Algo mudou, tudo mudou.
Não sabemos por que acontecem esses episódios em nossas vidas. O sonho de ter um par, a paixão, o amor, a esperança de ter com quem dividir os dias e o resto da vida, isso tudo pode acabar com uma discussão, com traumas de ambos, medos, insegurança e também com a falta da reflexão ao encerrar o relacionamento anterior, aquilo o que escrevi sobre o ciclo.
Não creio que tão cedo eu sequer pense em ter um novo amor, até porque estou voltada hoje pra minha família e, pouco a pouco, reaprendendo a estar sozinha sem ser solitária. Um bom aprendizado esse.
Vez ou outra, olho pela janela do meu quarto. Uma vista rara da cidade de São Paulo, posso mirar o horizonte sem muitos edifícios à frente do céu. Saudade de quando eu era criança e meu maior sonho era crescer e ser parecida com a Barbie. Cresci, não me pareço com a Barbie, mas construí uma vida sólida, cercada de pessoas que amo. Criei um filho, tenho uma carreira longa na área jurídica e atribuo tudo isso a Deus, que jamais me abandonou.
Os amores chegam e vão embora. Nem sempre deve ser assim, afinal toda panela tem a sua tampa. Um dia, quem sabe, eu encontre a minha. E você, que leu isso tudo, talvez tenha compreendido o quanto estou triste, mas a superação fala mais alto sempre!
Eles dois brigavam a cada dois dias, esse era o prazo máximo. Ele dizia que a culpa era dela. Ela dizia que a culpa era dele. Sem razão e sem noção, isso em dueto, de novo brigaram. A causa da discussão, pontilhada de mágoa, foi o cadastro secreto que ele tinha em um site de namoro.
Perfil caprichado, sem foto. Dizia procurar uma mulher que fosse acima de tudo uma grande amiga. Poderia ser baixa ou alta, contanto que fosse jovem e magra. Deveria ser solteira, esse o estado civil que declarou descaradamente.
Furiosa, seu cérebro fundiu-se ao teclado do computador quando decidiu revidar. Criou um perfil falso, de uma loira gostosona, longos cabelos platinados e sem chapinha. Musa Dourada, esse o nome com o qual batizou a fraude. Mandou mensagem. Sem resposta durante duas horas, resolveu desabafar. Assim que ele chegou em casa, desatou a discursar. De nomes feios até verdades que atirou em sua cara, deixou pouco por dizer. Esvaziou o peso que carregava na alma.
Sem ter muito o que fazer, ele alegou ter se equivocado. Aquele perfil disse ser muito antigo, dos bons tempos de solteirice. Feito milho de pipoca, a coisa entalou em sua garganta, ela simplesmente não engoliu o esfarrapado. Pensando no carnaval por vir, decidiu se acalmar. Viajaram. A cada quinze minutos ela se lembrava do mal feito. Incrível, aquele ser com olhar angelical era um traidor virtual diabólico. Pensou em todas as vinganças possíveis, chegou a imaginar o que ele faria se a flagrasse fazendo algo equivalente.
Nova discussão, dessa vez queria saber quantas foram as eleitas pra tomar café, aquele primeiro encontro encenado em algum shopping center. Ele nervoso, dirigindo na Marginal. – Diz Astolfo, quantas? Loiras? Qual idade? Elas têm silicone? Botóx? Bundão? E ele irritadíssimo, mais e mais.
Por fim, depois de quase se matarem debaixo de um caminhão de Coca-Lola, parado na pista da direita, ele decidiu parar o carro. – Desce, Eunice. Sai do carro, fora! Ela mal podia acreditar, aquele anjinho, olhar mais doce que uma cocada preta, parecia o demônio.
A chuva caía fininha. A sombrinha se recusava a abrir. Os motoboys passavam equivocados e buzinavam pra celebrar a cena. Resolveu atravessar a pista local, tirou a sandália de salto alto e, descalça, chegou ao outro lado. Um ponto de ônibus pareceu a luz no final do túnel. No primeiro ônibus que passou, Jardim do Brejo, ela entrou. Vazio e com destino a uma estação do metrô. Aliviada, acomodou-se em uma poltrona, pertinho da janela.
Quinze minutos de trajeto, o ônibus passou ao lado do estádio do Sapo Feio Futebol Clube, aquele time de futebol que é o de maior torcida nacional. Entraram uns cinquenta torcedores, todos uniformizados, suados e cantando o hino do time. Entre uma batucada e outra, sentou-se ao seu lado um sujeito gordo, com dentes a menos e o desodorante vencido. Espremida entre a criatura e a janelinha, Eunice mal podia respirar.
O samba rolava solto, aquele sapão obeso praticamente a devorava com o olhar. Eis que chegou o ponto final. Levantou-se sem ter lado pra esconder o traseiro, admirado por cinquenta pares de olhos futebolísticos. Já no metrô, suspirou aliviada. Jurou nunca mais discutir com Astolfo, pra quem voltaria correndo, sã e salva. Eis que, assim distraída e planejando o que fazer, escutou uma voz sussurrar pertinho de si: - Ô gata, tu tá indo pro mesmo lado que nóis! Lá na laje tem churrasco e pagode. Tu é bem-vinda, loirinha!
Era o sapão. O pesadelo só terminou na estação Sé, onde Eunice desembarcou rumo à linha Norte-Sul e a torcida do Sapo Feio Futebol Clube pegou a linha Leste-Oeste.
Essa foi a última briga feia do casal. Por coincidência, Astolfo convidou Eunice pra assistir, no próximo domingo, a um clássico de futebol: Sapo Feio X União do Brejo. Pra não haver nenhuma discussão, ela aceitou, mas irão na numerada, lugar onde ela espera não encontrar aquela turma do busão.
Quanta dificuldade para encontrar marchinhas carnavalescas para embalar a festinha da família dentro de poucos dias!
Não estão na moda. De “Mamãe Eu Quero” até a “Cabeleira do Zezé”, foi um custo imenso encontrar algo que lembrasse os pulinhos que eu dava no salão do clube, isso há três décadas.
Ao invés disso, aquelas coisas ao estilo funk das cachorras e poposudas.
Façam-me um favor, se isso for tocar avisem-me a tempo de tampar os ouvidos. Em minha opinião, não é música!
Voltei no tempo mais uma vez. A Mami comprava confetes e serpentinas, que restavam espalhados por toda a casa. Era o bailinho de carnaval da criançada. Anos mais tarde, encontramos confetes em um lustre imenso da sala de jantar. Pedacinhos de saudade!
Os garotos adoravam aquelas bisnaguinhas contendo água, para jogar em quem passava. Tanto tempo depois, a moda foi o spray de espuma. Coisa cara.
As fantasias eram inocentes. Havaiana, pirata, odalisca. Tudo comportadinho. Em 1978 fantasiei-me de Frenética. Bonita, mas evitava ser gostosa. Não consegui, penso eu, porque o coraçãozinho bordado em lugar estratégico rendeu muitas piadinhas e um coro que cantava pra mim: “você tem que me dar seu coração”. Taí... O tempo passou!
Carnaval virou uma bagunça. Não gosto muito dos desfiles das escolas de samba. Fui muito bonita um dia, mas sempre apreciei escutar um elogio ao estilo: você é inteligente. Torço o nariz pra mulherada quase nua ( ou nua mesmo!), pulando sobre um salto altíssimo. Sempre fui assim.
Difícil estudar, difícil acordar cedo e ir trabalhar. Difícil ganhar pouquinho, ir juntando um dinheirinho. Viver não é fácil. Ganhar a vida mostrando o traseiro e áreas adjacentes, parece um atalho pra vencer na vida. Sem méritos, acho isso.
De novo é carnaval. Meu sonho é não escutar um só tambor batendo, não parar diante do televisor e assistir à mesma cena, músicas quase iguais, comentários jocosos dos narradores. Festejar à moda antiga, com simplicidade e respeito. Resgatar a brincadeira, a alegria, sem rasgar a fantasia. É possível ser feliz sem render-se à baixaria.
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
30 de mar. de 2011
UM MINHOCÁRIO DE IDEIAS
Recebi um e-mail com uma piadinha que me fez parar o trabalho, ir tomar um café e afastar toda a criação de minhocas que circulam em minha cabeça. Muitas, muitas minhoquinhas.
A piadinha terminava da seguinte forma: quer terminar o seu namoro hoje? Peça ao seu namorado que mostre agora, já, entregue em sua mão o seu... celular. Se ele titubear, der qualquer desculpa, disser que está sem bateria, perguntar por que, então saiba que você está sendo traída por SMS, e-mail, Facebook, Orkut, MSN, Netlog, blog, PP, Match e sei lá mais quantas coisas por aí. Ainda arremataram: agora vai lá e pede!
As minhoquinhas até saltitaram. Vai lá, Diva! Vambora! Pede, pede, pede!
A princípio, meus pensamentos foram quase angelicais: Divo tem um tal de smartphone. O assobio de passarinhos é irritante, significa que ele ligou a parafernália. Daí pra frente, não sei de nada. Nunca tentei mexer no tal do smarphone do Divo. Pra quê? Se ele estivesse me traindo, seria por desamor. Se houvesse desamor, ele deixaria de ser Divo Latívio. Volta e meia um sinal sonoro avisa que chegou e-mail. Há outro sinal sonoro que avisa que chegou mensagem. Mais outro, alguém tentou ligar em vão.
Mulher desconfiada, proprietária de um minhocário fértil. E ainda enviaram essa metralhadora por e-mail. Quem disse que sei mexer no smarphone do Divo?! E o que tem a ver o Facebook com o celular? Achei que nada, mas já descobri que por e-mail chegam avisos de mensagens, comentários, fotos e tudo o mais. Terá ele acesso a esses recursos? Ah, por isso toda hora mexe no tal do smartphone! Começo a desejar um smartphone também, será a minha vingança. Ficarei pendurada horas por dia. Ele com os passarinhos, eu com um funk da pesada tocando a última parada. Vai cachorra, atende, au, au, au! Tchutchuca, atende o seu tigrão, grrrrraaaauuuu! Acho, seria uma bela estilingada naqueles passarinhos todos.
Já estava totalmente insana, caminhando no jardim em frente ao prédio onde trabalho, quando escutei a voz de uma colega me chamando: - Diva, o que aconteceu? Você está bem? O olhar da moça era de espanto. Posso imaginar o estado em que eu me encontrava. Descabelada, olhar esbugalhado, pálida, imaginando Divo teclando naquele tecladinho minúsculo frases picantes com aqueles dedinhos gorduchinhos que ocupam 3 teclas do smarphone, no mínimo. Ridículo isso tudo.
Respirei fundo, quase aliviada. E vim aqui compartilhar minha paranoia com você, cara leitora, querido leitor. Desejo morar no mato, sem sinal de celular, sem internet, sem televisão, acho que tudo isso vai evitar 50% das confusões que Divo e eu aprontamos. Divo, você está intimado a mudar-se pra Serra do Tereré comigo. Urgente. Você, eu e minhas minhoquinhas, todos felizes para sempre!
29 de mar. de 2011
OH, GRAMÁTICA!
Quando me perguntam quantos idiomas falo, penso duas vezes antes de responder. Heresia maior seria dizer que falo português. Idioma difícil, por mais que eu tenha estudado. Erro feio, especialmente quando aqui escrevo. Movida pela pressa, esta aliada à emoção, mando bala no teclado e, sem meu saudoso editor – Abílio Manoel –, lusitano autêntico e que tão bem corrigia meus deslizes gramaticais, cometo desatinos dignos de levar o Pai dos Burros ( dicionário) na cabeça.
Deveria saber inglês. Anos a fio de estudos, mal consigo entender o noticiário internacional na TV a cabo. Idem francês, que aprendi no colégio onde estudei. Restou I miss you, je t´aime. Quanto ao alemão, ficou apenas no sangue germânico, herdado de Mami. Quase esqueço o espanhol, esse transformo em portunhol facilmente. Buenos dias, Buenos Aires.
Portanto, caro leitor, escrevo mal, muito mal. Falo pior ainda. O meu infinitivo deveria ganhar uma passagem de ida sem volta para o infinito. E é lá no infinito que reside o amor. Amado infinitivo. Cadê a concordância verbal? Tropeçou na vírgula, mal colocada. E aquele travessão então?
Difícil mesmo é pensar em um palavrão. Não posso escrever palavrões neste blog. O que pensariam meus leitores se eu escrevesse que a vida está uma merda? Aliás, palavrão leve esse, na minha opinião.
Pra constar, pra ilustrar o meu currículo, falo inglês, espanhol e francês. Quando desembarquei nos USA tive um ataque de riso. Travei, não conseguia dizer sequer “I do”. Por sorte, a cada esquina há um brasileiro, afinal batatas fritas e brasileiros a gente encontra em quase todos os lugares.
Comecei este texto com a intenção de falar da palavra “saudade”. O sentimento mais puro e impotente que um ser humano pode experimentar. Ausência permanente ou temporária de algo ou alguém. Volto o pensamento ao infinito, onde a saudade mata a sua sede de presença.
Não gosto do dia 29. Todo dia 29 é a anti-comemoração ( esse hífem existe ou já morreu?), a antítese da celebração ( melhor assim), da minha felicidade e vontade de viver. Mami morreu no dia 29 de novembro de 2009. Abílio morreu no dia 29 de junho de 2010. Cismei com o dia 29. Não sou beata, mas todo raiar dos dias 29, peço a Deus que me proteja e a todos aqueles que amo. Penso nas minhas duas estrelinhas que partiram pro céu, uma após a outra. Dia triste, dia 29.
Quanto ao infinitivo, estou sem editor. Se você se habilitar, o cargo será seu. Quanto aos demais idiomas, aprendi algo interessante em minhas viagens: mímica resolve quase tudo. Dinheiro então, nem se fala: resolve tudo e mais alguma coisa. How much? Os olhos do comerciante gringo chegam a brilhar de satisfação.
Eis mais um texto. Uma sopa de letrinhas com restos de memórias, saborosa e que, assim espero, cairá redondinha na tela do computador desses leitores anônimos, que acompanham as aventuras e desventuras de Diva Latívia.
28 de mar. de 2011
A SARJETA E O CIDADÃO
Hoje estou especialmente triste. Difícil olhar ao redor, difícil olhar para as pessoas próximas e para as mais distantes, sem sentir-me desolada.
Mais e mais me convenço que, quem não tem dinheiro e poder, é peixinho fora d´água neste mundo de guerras e guerrilhas. Se você, que lê este texto, for alguém de classe média, um assalariado, ou profissional liberal, deve saber o quanto é difícil receber o suado dinheirinho, fruto de seu trabalho. A maioria de nós paga convênio médico. Já precisou desse convênio? Assisto ao drama de pessoas que, ao precisar de um determinado procedimento médico ou hospitalar, esbarra nas cláusulas dos contratos ( abusivos?), letrinhas miudinhas, itens que justificam a não prestação de um determinado serviço. Saúde versus doença, vida versus morte. Somos um número para alguns, somos apenas mais um.
São tantos os serviços, especialmente públicos, mal prestados! Para quê convênio médico, se pagamos altos impostos? Alguém já visitou o pronto-socorro de algum grande hospital público? Senhor, livre-nos de acidentes que exijam a internação em alguma dessas espeluncas, amém! Os pacientes ficam deitados em macas improvisadas, durante dias e dias, aguardando a possibilidade remota de serem transferidos para uma enfermaria ( lotada). Isso no corredor. Duvida? Faça uma visitinha a algum hospital público.
Para evitarmos esse drama, já que pertencemos à chamada "elite", somos a afortunada classe média ( isso é piada!), pagamos as prestações elevadas dos convênios médicos. Quis marcar uma consulta com um oftalmologista. A resposta ao telefone que obtive, proveniente da voz esganiçada de uma atendente do doutor, foi que Dr. Oculista não tem espaço em sua agenda até julho de 2017. Contive as palavras, que se penduraram na ponta da minha língua. Alguns palavrões saltitavam esperançosos, queriam ser verbalizados. Cala-te boca, a infeliz é apenas empregada do sujeito.
Há alguns anos precisei submeter-me a uma cirurgia. Foi necessário pagar um valor considerável, porque o convênio médico não cobria aquele tipo de procedimento. Eu poderia ter ido à Justiça exigir os meus direitos. Sou cidadã, pago os tais dos impostos. Tenho direitos, portanto. Porém, quando lembrei que a Justiça tarda, tarda, tarda... Imaginei uma tartaruga carregando um caminhão em suas costas. Desisti, preferi pagar achando que, assim, não iria sofrer.
E tudo isso porque hoje vi um bando de garis varrendo as ruas do meu bairro. A cena, mais ou menos, era a seguinte: um varria, dois assistiam à operação de braços cruzados e outros dois tocavam a campainha das casas, para pedir a tal “caixinha”. E olhem que nem é Natal! A corrupção começa na sarjeta, segue pelas ruas, entra nos hospitais e prefiro parar por aqui, afinal em boca fechada não entra mosquito. E “teje dito”.
25 de mar. de 2011
VOCÊ TEM MEDO DE DIZER EU TE AMO?
Não há muito o que dizer sobre este vídeo que deixo aqui pra vocês. A vida é dirigida por dois fortes sentimentos: amor e medo. Portanto, a escolha é de cada um. Que tal escolher o amor e sair dizendo por aí o quanto ama?
Assistam, é lindo e vale a pena!
Assistam, é lindo e vale a pena!
23 de mar. de 2011
DOIS DEDINHOS DE PROSA COM DIVA LATÍVIA
Estava sentada com meu notebook no colo. Minha intenção era a de escrever um texto, falando da minha revolta. Essa coisa de Facebook, Orkut, MSN e toda essa parafernália virtual está cansando a minha beleza ultimamente. Sem a menor vontade de fazer bonito socialmente, não mais tenho vontade de papear com os amigos, senão pessoalmente. Estava escolhendo palavras para começar a história quando ela falou comigo.
- Oi, Cláu, como vai a minha autora?
Fiquei admirada. Diva Latívia estava online!
- Oi, Diva! Há quanto tempo, garota! Trouxe alguma boa história para contarmos no blog?
- Sai dessa, Cláu. Hoje não estou com a menor vontade de escrever.
- Então, com licença. Preciso escrever sobre meu saco cheio do Facebook.
- O Facecoisa?
- Isso mesmo.
- Hã... Sei... Brigou de novo com o namorado por causa da internet?
- Não seja bisbilhoteira, Diva!
- Agora tenho certeza, brigou. E brigou por causa do Facecoisa!
- Diva, você está atrapalhando o meu raciocínio!
- Sem querer provocá-la, cara autora, mas você não raciocina quando o assunto é o seu relacionamento.
- Psssssiiiuuuuu! Fique quietinha, estou escrevendo!
- Cláu, escreva aí: o namorado ideal deveria somente saber usar aquelas planilhas do Excel, jamais usar a internet. O namorado ideal não deveria ter amigos de cerveja, nem amigos virtuais e muito menos estar cadastrado no Facecoisa. Que tal isso, gostou?
- Diva, ele vai ler isso tudo e quem vai se ferrar sou eu!
- Não senhora, quem vai se ferrar sou eu, Diva Latívia, afinal você assina meu nome nesses textos.
- Acho que vou desligar o computador.
- Não! Espera!
- Diga, Diva.
- Ele tá paquerando no Facecoisa, é?
- Não sei, Diva. Ele mexeu em algo na configuração do Facebook, só posso ver que ele existe, mas não posso ler o seu mural, nem mais ver sua lista de amigos.
- Péssimo isso. Você, minha autora, suspeite que possa existir alguma vaca pastando no Facecoisa dele.
- Diva, acho que mudei de ideia. Vou escrever sobre o outono.
- Tá fugindo da raia, hein Cláu?
- Vou escrever sobre as folhas secas que cobrem o chão, tal e qual um manto dourado. O que acha, Diva?
- Poético e piegas. Melhor descer o pau no Facecoisa do Divo.
- Mas, se eu descer o pau, depois vou ter que voltar ao blog e escrever sobre fidelidade, poesias dramáticas, falar do quando dói uma saudade. E você assinará ao final. Não será então melhor eu falar do outono?
- Pensando bem, fale do outono. Mas, não fale de tapete dourado. Fale de outras coisas, por exemplo conte como é essa gripe filha da mãe que você apanhou no último dia das suas férias.
- Pensarei no assunto. Agora, com licença, vou continuar meu texto.
- Sem reclamar do Facecoisa? Eu adoraria ver o circo pegar fogo!
- Sem reclamar.
- Cláu, você não é mais a mesma!
- Vivendo e aprendendo, Diva.
- Beijo, Cláu. Tô indo.
- Beijo, Diva Latívia. Tchau!
19 de mar. de 2011
AOS JOSÉS
Existe a tradição, em algumas famílias, de dar a seus filhos o mesmo nome, geração após geração. Avô, pai, filho, todos se chamam Luís, João, Paulo, José, isso apenas pra exemplificar. No final do nome vem Júnior, Filho, Neto. Assim foi na minha família. Meus bisavós, os cearenses Theóphilo e Maria Luiza, a vó Badinha, escolheram para o pequeno que nasceu em 1915 o nome José. A tradição assim começou, com o José, meu avô. O filho de José também foi batizado José, o José Filho, que foi meu pai. O filho de José Filho chamou-se José Neto, meu irmão mais velho. A sequência de Josés continuou com o nascimento de meus outros dois irmãos: Flávio José e Francisco José. Criados nos princípios da Igreja Católica, tiveram como santo protetor o pai de Jesus Cristo, São José. Hoje, dia 19 de março, dia do santo padroeiro dos homens da minha família. Deixo a homenagem aos Josés de minha vida, com quem tive e tenho fortes laços de sangue e afeto. Deixo também a música de Rita Lee, bonita e simples, assim como é o nome José. E você, que talvez se chame José ou tenha em sua vida alguém assim chamado, sinta-se também homenageado.
17 de mar. de 2011
AO MEU GABRIEL
Quero contar a todos que hoje é uma data muito especial. Hoje é aniversário do meu filho, um bebê que cresceu e chegou aos 24 anos de idade.
Ser mãe é muito mais que gerar, gestar, parir e amamentar alguém. Ser mãe é criar, cuidar, educar um filho. Quem me dera a vida tivesse sido mais sutil, mais leve, que os contos de fadas fossem reais e que em todos os dias amanhecesse um final feliz, só pra combinar com o brilho daqueles olhinhos verdes.
Ontem fui a um shopping center escolher o presente de aniversário do meu garoto. Nada que o dinheiro possa comprar expressaria o meu amor por essa criaturinha. Também não encontrei palavras pra escrever versos doces, com o açúcar do amor materno. Deixo, então, registrada aqui a minha força, a minha energia, o desejo imenso de que ele voe, voe alto, seja livre, sinta-se feliz e alcance o mais belo de todos os seus sonhos.
Meu filho, meu amor por você é aquele que mais se aproxima, neste mundo, do amor que Deus tem por todos nós. Minha vida por você, minha vida pra você. Viva, Gabriel! Viva e seja feliz, ainda que a vida tenha marcado seu olhar com mágoas, ainda que viver não seja o tempo todo um mar de risos e sorrisos. Viva e ame sempre, meu filho! Parabéns, você tem o coração maior que o mundo e isso é tudo o que pedi a Deus quando descobri que você estava pra chegar nesta Terra. Parabéns e obrigada. É uma honra ser sua mãe.
16 de mar. de 2011
11.000!!!
Quando voltei a escrever, isso há quase dois anos, não imaginava que me transformaria em uma blogueira. Portanto, a ideia ainda é um tanto estranha pra esta pretensa escritora. Abílio, meu amigo tão amado, incentivou esse retorno às tecladinhas, ao "trocadalho" que cometo vez ou outra. Eis os textos de Diva Latívia.
Meus leitores, povo que lê minhas histórias e estórias, chegamos aos 11.000 acessos. Menos de um ano de vida, este blog já começa a dar seus primeiros passinhos.
Abílio, amigo amado, aí no Céu aceite meu beijo, meu abraço, meu carinho. Muito obrigada, querido!
Cláudia ( Diva Latívia)
15 de mar. de 2011
JAPÃO
Quem mora aqui, na cidade de São Paulo, está acostumado com a colônia japonesa. Integrou-se à nossa cultura, trazendo em troca o que há de bom: a culinária, a delicadeza de sua arte, de origamis a bonsais e aquele jeitinho nipônico de ser. Simpática a colônia japonesa. Tenho vários amigos descendentes de japoneses.
Li algo sobre apocalipse, em uma matéria na internet. Parece mesmo o final do mundo o terremoto, tsunami, os problemas na usina nuclear. Quantas vidas se foram, quanta devastação, quantas vítimas, entre mortos e feridos! Este é um momento de sofrimento, preocupação. Não sabemos ao certo dimensionar a gravidade do que ocorreu, do que ainda ocorrerá.
O ser humano é frágil. O planeta Terra é um grãozinho minúsculo no Universo. Cada ser humano é uma partícula desse minúsculo grão. Ainda assim, há a prepotência de alguns, aliada à ganância. Eis a destruição da natureza em prol de interesses mesquinhos. Chegou a resposta.
Deixo aqui o meu sincero sentimento. Não sei ao certo o que posso fazer para ajudar, mas acompanho com aflição o noticiário. A minha parte nesta vida, foi criar meu filho, em um bairro oriental desta cidade. Cresceu com amiguinhos nisseis, sanseis. Eu o ensinei que a origem das raças é algo divino, na aparência somos diferentes uns dos outros, mas aos olhos de Deus somos todos irmãos, somos todos iguais.
Que tudo se resolva pelo bem. Que o dia de amanhã seja abençoado e coberto de paz.
11 de mar. de 2011
CINQUENTANDO
Dia desses, papeando no MSN com uma amiga, li o seguinte comentário: “Diva, você está em plena crise dos 50 anos”. Até outro dia, ou melhor, até outra década, as mulheres de 50 anos eram vovós gorduchinhas, cabelos grisalhos, óculos de grau na pontinha do nariz. Excelentes quituteiras e cheias de sabedoria. Hoje, em pleno século 21, sou um exemplar da nova cinquentona. Cinquentona? Deixe apagar isso, com licença. Melhor dizer: hoje, em pleno século 21, sou um exemplar da gata motor 5.0. Acho que essa última frase tem algo a ver com a tal da crise dos 50. Não acho que o RG esteja correto. Se nasci em 1961, isso aconteceu outro dia. Ainda tenho avó, portanto sou netinha, quase uma garotinha!
Dentro de poucos dias, meu filho completará 24 anos. Com essa idade, há... Há... trocentos anos, casei. O único casamento que tive, foi desfeito há... Há... Outros trocentos anos. Depois disso, feito solo ruim, nem mato nasceu em meu terreno. De namoro em namoro, de rolo em rolo, fiquei sozinha muito tempo. Eis que, um dia, miando em minha porta, apareceu um gato estilo Garfield, trazendo um buquê de flores do campo. Foi assim que comecei, aos 49 anos, a namorar o meu Divo Latívio.
Ambos em plena crise dos 50, ele mais sossegado, eu tão inquieta quanto um bando de passarinhos. Há complemento nisso, enquanto ele se cala, eu falo. Enquanto ele me observa, saio em disparada. Ele sério, eu fazendo piada. Já não vivo sem meu Divo. A recíproca parece ser verdadeira.
Quando a gente se casa, aos 20, 30 anos de idade, temos a vida inteira pra errar, voltar atrás, acertar. Aos 50 anos, olha a crise aí de novo, não há muito tempo a perder. E perdemos tempo com receio de perder o que ainda há de bom: a nossa liberdade. Eis a questão.
O espelho já não mais resmunga quando reflete a minha imagem. Diz: "tsc, Diva, você não tem remendo. Continue tomando cerveja, desisto de reclamar". Dou uma giradinha pra me certificar que estou linda e sigo adiante, feliz da vida. Deve ser a vantagem de ter chegado aos 50, não mais sou escrava da minha imagem refletida. Meu espelho é um olhar castanho, doce, que sorri ao me ver passar da sala pra cozinha. – "Anjo, você está lindinha!". Isso vale mais que mil elogios.
Aos 50 anos eu deveria saber pra onde estou caminhando. Não sei. Não consigo imaginar o que será da vida dentro de dois anos, por exemplo. Aposentada? Morando no campo? Casada? Terei viajado pra Europa? Nada sei, senão que aquilo o que trago no meu coração, continuará comigo. E é o que tenho em meu coração que me traz aqui, outro texto derramado sobre o teclado e publicado em um blog. Pra você, leitor, leitora desta senhora com mais de 49, menos de 51 e cheia de histórias e devaneios tantos.
10 de mar. de 2011
QUANDO O RELACIONAMENTO ACABA
Dizem que a dor mais dolorida de todas é a dor do coração. Essa, páreo pra dor de cotovelo, não encontra alento em palavras amigas, noites mal dormidas, trabalho ou outras ocupações pra ajudar a empurrar o tempo adiante. E sim, só o tempo consegue amenizar o peso enorme que é esse vazio de não mais ter ao lado alguém que era, ou é tão amado.
Não creio que atirar-se em outros braços, ir viajar, sair com os amigos ou acabar-se de tanto malhar na academia seja o ideal. Isso não mudará o rumo da história. Penso que, a cada relacionamento findo, seja necessário um período de isolamento e reflexão. Fechar-se para balanço. É aquela coisa do: onde foi que eu errei? Aliás, o erro é duplo, onde há duas pessoas esqueça a tolice de achar-se a vítima e atribuir ao seu ex-par o título de vilã ou vilão. Meio a meio, uma conta justa.
É preciso encerrar o ciclo do relacionamento anterior antes de sequer imaginar-se em mais outro relacionamento. Não é justo com um novo alguém, que pode chegar preparado pra relacionar-se, assistir às cenas de uma separação, às mágoas estampadas em um olhar, às situações muitas que acontecem ao redor do fim de um namoro ou casamento. Muitos erram ao atropelar o tempo, sair de um casamento direto pra um namoro. Isso, muito possivelmente, destruirá a base desse novo amor, que deveria ser protegido em uma espécie de redoma de vidro. É o mesmo que atirar pedras em uma plantinha que mal despontou da terra.
O dia ficou esquisito, quase tão esquisito quanto a primeira noite longe de Divo Latívio. A sensação é de que os segundos estão dobrados, as horas não passam. De férias, já arrumei papéis, troquei o cartucho de tinta da impressora, encontrei blusas de lã no fundo do guarda-roupa e decidi lavá-las. Reguei plantas, paguei contas no banco, fiz limpeza de pele, conversei com uma amiga. E as horas deste dia não passam. Algo mudou, tudo mudou.
Não sabemos por que acontecem esses episódios em nossas vidas. O sonho de ter um par, a paixão, o amor, a esperança de ter com quem dividir os dias e o resto da vida, isso tudo pode acabar com uma discussão, com traumas de ambos, medos, insegurança e também com a falta da reflexão ao encerrar o relacionamento anterior, aquilo o que escrevi sobre o ciclo.
Não creio que tão cedo eu sequer pense em ter um novo amor, até porque estou voltada hoje pra minha família e, pouco a pouco, reaprendendo a estar sozinha sem ser solitária. Um bom aprendizado esse.
Vez ou outra, olho pela janela do meu quarto. Uma vista rara da cidade de São Paulo, posso mirar o horizonte sem muitos edifícios à frente do céu. Saudade de quando eu era criança e meu maior sonho era crescer e ser parecida com a Barbie. Cresci, não me pareço com a Barbie, mas construí uma vida sólida, cercada de pessoas que amo. Criei um filho, tenho uma carreira longa na área jurídica e atribuo tudo isso a Deus, que jamais me abandonou.
Os amores chegam e vão embora. Nem sempre deve ser assim, afinal toda panela tem a sua tampa. Um dia, quem sabe, eu encontre a minha. E você, que leu isso tudo, talvez tenha compreendido o quanto estou triste, mas a superação fala mais alto sempre!
9 de mar. de 2011
DESVENTURA FUTEBOLÍSTICA
Eles dois brigavam a cada dois dias, esse era o prazo máximo. Ele dizia que a culpa era dela. Ela dizia que a culpa era dele. Sem razão e sem noção, isso em dueto, de novo brigaram. A causa da discussão, pontilhada de mágoa, foi o cadastro secreto que ele tinha em um site de namoro.
Perfil caprichado, sem foto. Dizia procurar uma mulher que fosse acima de tudo uma grande amiga. Poderia ser baixa ou alta, contanto que fosse jovem e magra. Deveria ser solteira, esse o estado civil que declarou descaradamente.
Furiosa, seu cérebro fundiu-se ao teclado do computador quando decidiu revidar. Criou um perfil falso, de uma loira gostosona, longos cabelos platinados e sem chapinha. Musa Dourada, esse o nome com o qual batizou a fraude. Mandou mensagem. Sem resposta durante duas horas, resolveu desabafar. Assim que ele chegou em casa, desatou a discursar. De nomes feios até verdades que atirou em sua cara, deixou pouco por dizer. Esvaziou o peso que carregava na alma.
Sem ter muito o que fazer, ele alegou ter se equivocado. Aquele perfil disse ser muito antigo, dos bons tempos de solteirice. Feito milho de pipoca, a coisa entalou em sua garganta, ela simplesmente não engoliu o esfarrapado. Pensando no carnaval por vir, decidiu se acalmar. Viajaram. A cada quinze minutos ela se lembrava do mal feito. Incrível, aquele ser com olhar angelical era um traidor virtual diabólico. Pensou em todas as vinganças possíveis, chegou a imaginar o que ele faria se a flagrasse fazendo algo equivalente.
Nova discussão, dessa vez queria saber quantas foram as eleitas pra tomar café, aquele primeiro encontro encenado em algum shopping center. Ele nervoso, dirigindo na Marginal. – Diz Astolfo, quantas? Loiras? Qual idade? Elas têm silicone? Botóx? Bundão? E ele irritadíssimo, mais e mais.
Por fim, depois de quase se matarem debaixo de um caminhão de Coca-Lola, parado na pista da direita, ele decidiu parar o carro. – Desce, Eunice. Sai do carro, fora! Ela mal podia acreditar, aquele anjinho, olhar mais doce que uma cocada preta, parecia o demônio.
A chuva caía fininha. A sombrinha se recusava a abrir. Os motoboys passavam equivocados e buzinavam pra celebrar a cena. Resolveu atravessar a pista local, tirou a sandália de salto alto e, descalça, chegou ao outro lado. Um ponto de ônibus pareceu a luz no final do túnel. No primeiro ônibus que passou, Jardim do Brejo, ela entrou. Vazio e com destino a uma estação do metrô. Aliviada, acomodou-se em uma poltrona, pertinho da janela.
Quinze minutos de trajeto, o ônibus passou ao lado do estádio do Sapo Feio Futebol Clube, aquele time de futebol que é o de maior torcida nacional. Entraram uns cinquenta torcedores, todos uniformizados, suados e cantando o hino do time. Entre uma batucada e outra, sentou-se ao seu lado um sujeito gordo, com dentes a menos e o desodorante vencido. Espremida entre a criatura e a janelinha, Eunice mal podia respirar.
O samba rolava solto, aquele sapão obeso praticamente a devorava com o olhar. Eis que chegou o ponto final. Levantou-se sem ter lado pra esconder o traseiro, admirado por cinquenta pares de olhos futebolísticos. Já no metrô, suspirou aliviada. Jurou nunca mais discutir com Astolfo, pra quem voltaria correndo, sã e salva. Eis que, assim distraída e planejando o que fazer, escutou uma voz sussurrar pertinho de si: - Ô gata, tu tá indo pro mesmo lado que nóis! Lá na laje tem churrasco e pagode. Tu é bem-vinda, loirinha!
Era o sapão. O pesadelo só terminou na estação Sé, onde Eunice desembarcou rumo à linha Norte-Sul e a torcida do Sapo Feio Futebol Clube pegou a linha Leste-Oeste.
Essa foi a última briga feia do casal. Por coincidência, Astolfo convidou Eunice pra assistir, no próximo domingo, a um clássico de futebol: Sapo Feio X União do Brejo. Pra não haver nenhuma discussão, ela aceitou, mas irão na numerada, lugar onde ela espera não encontrar aquela turma do busão.
1 de mar. de 2011
É CARNAVAL!
Quanta dificuldade para encontrar marchinhas carnavalescas para embalar a festinha da família dentro de poucos dias!
Não estão na moda. De “Mamãe Eu Quero” até a “Cabeleira do Zezé”, foi um custo imenso encontrar algo que lembrasse os pulinhos que eu dava no salão do clube, isso há três décadas.
Ao invés disso, aquelas coisas ao estilo funk das cachorras e poposudas.
Façam-me um favor, se isso for tocar avisem-me a tempo de tampar os ouvidos. Em minha opinião, não é música!
Voltei no tempo mais uma vez. A Mami comprava confetes e serpentinas, que restavam espalhados por toda a casa. Era o bailinho de carnaval da criançada. Anos mais tarde, encontramos confetes em um lustre imenso da sala de jantar. Pedacinhos de saudade!
Os garotos adoravam aquelas bisnaguinhas contendo água, para jogar em quem passava. Tanto tempo depois, a moda foi o spray de espuma. Coisa cara.
As fantasias eram inocentes. Havaiana, pirata, odalisca. Tudo comportadinho. Em 1978 fantasiei-me de Frenética. Bonita, mas evitava ser gostosa. Não consegui, penso eu, porque o coraçãozinho bordado em lugar estratégico rendeu muitas piadinhas e um coro que cantava pra mim: “você tem que me dar seu coração”. Taí... O tempo passou!
Carnaval virou uma bagunça. Não gosto muito dos desfiles das escolas de samba. Fui muito bonita um dia, mas sempre apreciei escutar um elogio ao estilo: você é inteligente. Torço o nariz pra mulherada quase nua ( ou nua mesmo!), pulando sobre um salto altíssimo. Sempre fui assim.
Difícil estudar, difícil acordar cedo e ir trabalhar. Difícil ganhar pouquinho, ir juntando um dinheirinho. Viver não é fácil. Ganhar a vida mostrando o traseiro e áreas adjacentes, parece um atalho pra vencer na vida. Sem méritos, acho isso.
De novo é carnaval. Meu sonho é não escutar um só tambor batendo, não parar diante do televisor e assistir à mesma cena, músicas quase iguais, comentários jocosos dos narradores. Festejar à moda antiga, com simplicidade e respeito. Resgatar a brincadeira, a alegria, sem rasgar a fantasia. É possível ser feliz sem render-se à baixaria.
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