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Eles se conheram na praia, no verão de 2007. Ela, saindo do mar e ele jogando frescobol. A bolinha foi parar aos pés dela e, pela primeira vez, eles se viram e trocaram o primeiro sorriso. Pouco tempo depois veio o primeiro beijo, o segundo beijo e todos os outros beijos, até o final do verão. Ela contou que morava em uma rua perto da Avenida Paulista, ele contou que morava no interior de São Paulo. Ela contou que tinha conseguido uma bolsa de estudos, para cursar inglês em Londres . Ele contou que já sentia saudade dela. Ela se despediu, mas deixou o número do celular, que ele anotou no boné, com a caneta do vendedor de milho verde. Ela foi caminhando em direção ao calçadão, ele sentiu um aperto no coração.
O verão terminou, ele telefonou muitas vezes pro número que tinha anotado, mas uma gravação dizia que aquele número não mais existia. Ele resolveu tomar uma atitude, não podia deixar o amor de sua vida partir sem reagir, sem lutar. O nome da rua onde ela morava, era tudo o que ele tinha. Resolveu colocar faixas a cada quarteirão da rua, um gesto romântico e desesperado. Quem sabe assim ele a encontraria?
Lá estava uma faixa, em frente à casa dela, presa em dois postes. De ponta a ponta, não mais que poucos metros, estava escrito assim: “Juliana, volta pra mim”. De fato, não havia a vírgula, mas as quatro palavras pareciam dizer a angústia de alguém anônimo.
Durante meses a chuva, sol, poeira, passarinhos, vento, maltrataram os belos dizeres. De muito branca, a faixa com letras maiúsculas de cor vermelha, o “Juliana, volta pra mim” foi ficando apagadinho, encardidinho. Rasgos na altura das palavras “volta” e “mim” deixaram o texto confuso. Quem o lesse pela primeira vez poderia enganar-se ao ler: “Juliana, v pra mm”. E foi assim que alguém, em nome da moral e dos bons costumes daquela rua, promoveu um abaixo assinado contra a poluição visual. Mandar Juliana à mm, isso ofendia os preceitos morais de alguns. Foram arrancadas as faixas ao meio-dia de uma quarta-feira, sob os aplausos de senhoras, munidas de sombrinhas e sacolas de supermercado.
Uma semana depois, Juliana decidiu voltar pra casa dos pais, após seis meses em Londres. Triste, suspirava pelos cantos, torcendo pra que o Beto telefonasse. Não se desculpava por não ter anotado o número do telefone dele. Desolada, ia à janela e olhava na direção do lugar que ainda ostentava pedaços de corda que outrora amarraram as faixas removidas. Sequer desconfiava que seu sentimento era por ele correspondido. Procurou todos os Betos na internet. Falou com os Robertos, os Adalbertos, os Gilbertos, os Felisbertos e até com os Norbetos. Não conseguia encontrar o Beto! Por fim, desistiu, mas seu coração sempre nutriu uma pontinha inconfessável de esperança. Um dia, ela iria reencontrá-lo, claro que sim!
Há dois meses, no supermercado, mais exatamente no setor de vinhos, Juliana estava distraída, indecisa entre um vinho chileno e outro vinho. Beto, empurrando um carrinho de compras contendo iogurte, cerveja e pizza congelada, mal acreditou que diante de seus olhos estava o amor de sua vida. Todos os dias, durante mais de quatro anos, tentou encontrá-la em cada rosto desconhecido, em todos os lugares por onde andou. Procurou-a na internet, falou com todas as Julianas que encontrou e, então, se mudou pra São Paulo, afinal entre milhões de habitantes estava a sua amada e, certamente, o destino trataria de ajudá-lo.
Juliana, ao ver Beto, sentiu uma mescla de sentimentos bons com o alívio de quem não mais precisaria sofrer. Saíram juntos do supermercado, com os respectivos telefones anotados. Desse dia em diante, nunca mais se perderam um do outro. Sobre a mesa da sala, junto ao vasinho de flores, eu deixei o convite de casamento deles dois. No convite está assim escrito: "Juliana e Humberto, pra sempre, até o fim, sem fim!".
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
29 de mar. de 2012
ATÉ O FIM, SEM FIM
Eles se conheram na praia, no verão de 2007. Ela, saindo do mar e ele jogando frescobol. A bolinha foi parar aos pés dela e, pela primeira vez, eles se viram e trocaram o primeiro sorriso. Pouco tempo depois veio o primeiro beijo, o segundo beijo e todos os outros beijos, até o final do verão. Ela contou que morava em uma rua perto da Avenida Paulista, ele contou que morava no interior de São Paulo. Ela contou que tinha conseguido uma bolsa de estudos, para cursar inglês em Londres . Ele contou que já sentia saudade dela. Ela se despediu, mas deixou o número do celular, que ele anotou no boné, com a caneta do vendedor de milho verde. Ela foi caminhando em direção ao calçadão, ele sentiu um aperto no coração.
O verão terminou, ele telefonou muitas vezes pro número que tinha anotado, mas uma gravação dizia que aquele número não mais existia. Ele resolveu tomar uma atitude, não podia deixar o amor de sua vida partir sem reagir, sem lutar. O nome da rua onde ela morava, era tudo o que ele tinha. Resolveu colocar faixas a cada quarteirão da rua, um gesto romântico e desesperado. Quem sabe assim ele a encontraria?
Lá estava uma faixa, em frente à casa dela, presa em dois postes. De ponta a ponta, não mais que poucos metros, estava escrito assim: “Juliana, volta pra mim”. De fato, não havia a vírgula, mas as quatro palavras pareciam dizer a angústia de alguém anônimo.
Durante meses a chuva, sol, poeira, passarinhos, vento, maltrataram os belos dizeres. De muito branca, a faixa com letras maiúsculas de cor vermelha, o “Juliana, volta pra mim” foi ficando apagadinho, encardidinho. Rasgos na altura das palavras “volta” e “mim” deixaram o texto confuso. Quem o lesse pela primeira vez poderia enganar-se ao ler: “Juliana, v pra mm”. E foi assim que alguém, em nome da moral e dos bons costumes daquela rua, promoveu um abaixo assinado contra a poluição visual. Mandar Juliana à mm, isso ofendia os preceitos morais de alguns. Foram arrancadas as faixas ao meio-dia de uma quarta-feira, sob os aplausos de senhoras, munidas de sombrinhas e sacolas de supermercado.
Uma semana depois, Juliana decidiu voltar pra casa dos pais, após seis meses em Londres. Triste, suspirava pelos cantos, torcendo pra que o Beto telefonasse. Não se desculpava por não ter anotado o número do telefone dele. Desolada, ia à janela e olhava na direção do lugar que ainda ostentava pedaços de corda que outrora amarraram as faixas removidas. Sequer desconfiava que seu sentimento era por ele correspondido. Procurou todos os Betos na internet. Falou com os Robertos, os Adalbertos, os Gilbertos, os Felisbertos e até com os Norbetos. Não conseguia encontrar o Beto! Por fim, desistiu, mas seu coração sempre nutriu uma pontinha inconfessável de esperança. Um dia, ela iria reencontrá-lo, claro que sim!
Há dois meses, no supermercado, mais exatamente no setor de vinhos, Juliana estava distraída, indecisa entre um vinho chileno e outro vinho. Beto, empurrando um carrinho de compras contendo iogurte, cerveja e pizza congelada, mal acreditou que diante de seus olhos estava o amor de sua vida. Todos os dias, durante mais de quatro anos, tentou encontrá-la em cada rosto desconhecido, em todos os lugares por onde andou. Procurou-a na internet, falou com todas as Julianas que encontrou e, então, se mudou pra São Paulo, afinal entre milhões de habitantes estava a sua amada e, certamente, o destino trataria de ajudá-lo.
Juliana, ao ver Beto, sentiu uma mescla de sentimentos bons com o alívio de quem não mais precisaria sofrer. Saíram juntos do supermercado, com os respectivos telefones anotados. Desse dia em diante, nunca mais se perderam um do outro. Sobre a mesa da sala, junto ao vasinho de flores, eu deixei o convite de casamento deles dois. No convite está assim escrito: "Juliana e Humberto, pra sempre, até o fim, sem fim!".
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