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Fui espetada e está doendo. Não tirei até agora aquele band-aid redondinho que deixaram no dorso da minha mão esquerda. Ainda lembro quando a enfermeira perguntou: - qual você prefere, a mão direita ou a esquerda? Não respondi, ela pegou a mão que estava mais perto e ... tóim! Doeu. Mas, mulher que é mulher suporta a dor do parto, a dor do sapato de salto alto, suporta depilar as pernas, suporta a cólica menstrual. Portanto, eu sequer disse “ai”. Ao meu lado a médica radiologista explanando a respeito do futuro procedimento, uma ressonância magnética das mamas: necessária, afinal fui rotulada, eu sou Bi-Rads 3. Bi, de bicho feio. Rads, de rads que o parta, como dói ser espetada! Nem escutei direito o que ela falou sobre a possibilidade de uma biópsia futura. E foi assim que, vestida com aquele avental ridículo, por baixo do avental apenas a calcinha (esqueça, eu não estava sexy...), fui conduzida à sala do exame. Fria. A maca tinha dois buracos, adivinhe pra encaixar o quê? Pediram que eu me deitasse de barriga pra baixo e encaixasse nos buracos os peitos, todos dois. Veio a pergunta: - você tem claustrofobia?
Claustrofobia começa com Clau. Toda Clau dá trabalho. Eu, Cláudia ( nome verdadeiro de Diva Latívia), sou claustrofóbica desde o útero materno. – Tive sim, moça, eu já tive síndrome do pâ.... Nem precisei dizer mais nada, me entregou uma campainha pra eu apertar em caso de emergência, colocou em mim fones de ouvido e disse:- faz barulho, mas qualquer coisa aperte a campainha. Explicou mais alguma coisa sobre a injeção de contraste.
Há vários dias, apreensiva com o tal do resultado Bi-Rads 3 da mamografia, venho tirando o sono de Divo Latívio, estou abatida, olheiras profundas e até andei tomando um porre no final de semana, coisa que costumo evitar fazer. Mas, diz o meu médico que é apenas excesso de zelo, melhor tirar qualquer dúvida, afinal 98% de chance de ser benigno é quase 100% de chance. Legal... Quase não é algo total. Bateu na trave!
A maca deslizou pra frente, eu não podia ver nada, minha cabeça voltada pro chão. – Não se mexa! Arrisquei uma perguntinha: - E se eu espirrar?
Começou o funk da ressonância magnética: kreu, kreu, kreu, kreu, kreu... Já tinha me acostumado, quando mudou a música: pidão,pidão,pidão,pidão,pidão.... E depois veio o próximo hit: voulá, voulá, voulá, voulá... TIIIIIIIIIIIIIBUUUUUUUMMMMM... tá,tá,tá,tá,tá... Imaginem isso, de barriga pra baixo, usando um avental hospitalar, os peitos encaixados em dois buracos e sem poder se mexer?
Já tinha perdido a noção do tempo e do espaço quando parou tudo e escutei uma voz masculina dizer: -tudo bem? Vontade de dizer que estava tudo uma merda... Mas, respondi educadamente que sim, estava tudo bem. Ai, quanta falsidade...- Então, continue quietinha e sem se mexer, agora vai ser injetado o contraste, ele é geladinho.
Mais de uma pessoa foi por mim abordada nos últimos dias, entre elas o próprio Divo Latívio, para me contar como foi a sua experiência em uma ressonância magnética. O que mais ouvi foi: é rápido, o contraste não dá efeito colateral nenhum. Todos deveriam me pagar indenização por dano moral, tá? Dói a injeção, a maca é dura, o túnel é gelado, o barulho é terrível e o contraste dá enjoo!
Quando terminou, eu comecei a chorar. A técnica de radiologia pareceu solidária ao meu sofrimento. - Calma, vai ficar tudo bem!
Encontrei Divo me esperando no corredor. Semblante aflito. Sabia o que eu tinha passado. Desmoronei, de tanto chorar eu até soluçava. Em um hospital isso é tão comum que ninguém observou, acho.
Vim embora pra casa enjoada, o curativo na mão, a cabeça rodando. Bi- Rads 3. O resultado virá dentro de alguns dias. E ainda é preciso agradecer muito aos homens, máquinas e, principalmente a Deus, por existir a prevenção do câncer de mama. Amém!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
15 de mar. de 2012
MULHER DE PEITOS
Fui espetada e está doendo. Não tirei até agora aquele band-aid redondinho que deixaram no dorso da minha mão esquerda. Ainda lembro quando a enfermeira perguntou: - qual você prefere, a mão direita ou a esquerda? Não respondi, ela pegou a mão que estava mais perto e ... tóim! Doeu. Mas, mulher que é mulher suporta a dor do parto, a dor do sapato de salto alto, suporta depilar as pernas, suporta a cólica menstrual. Portanto, eu sequer disse “ai”. Ao meu lado a médica radiologista explanando a respeito do futuro procedimento, uma ressonância magnética das mamas: necessária, afinal fui rotulada, eu sou Bi-Rads 3. Bi, de bicho feio. Rads, de rads que o parta, como dói ser espetada! Nem escutei direito o que ela falou sobre a possibilidade de uma biópsia futura. E foi assim que, vestida com aquele avental ridículo, por baixo do avental apenas a calcinha (esqueça, eu não estava sexy...), fui conduzida à sala do exame. Fria. A maca tinha dois buracos, adivinhe pra encaixar o quê? Pediram que eu me deitasse de barriga pra baixo e encaixasse nos buracos os peitos, todos dois. Veio a pergunta: - você tem claustrofobia?
Claustrofobia começa com Clau. Toda Clau dá trabalho. Eu, Cláudia ( nome verdadeiro de Diva Latívia), sou claustrofóbica desde o útero materno. – Tive sim, moça, eu já tive síndrome do pâ.... Nem precisei dizer mais nada, me entregou uma campainha pra eu apertar em caso de emergência, colocou em mim fones de ouvido e disse:- faz barulho, mas qualquer coisa aperte a campainha. Explicou mais alguma coisa sobre a injeção de contraste.
Há vários dias, apreensiva com o tal do resultado Bi-Rads 3 da mamografia, venho tirando o sono de Divo Latívio, estou abatida, olheiras profundas e até andei tomando um porre no final de semana, coisa que costumo evitar fazer. Mas, diz o meu médico que é apenas excesso de zelo, melhor tirar qualquer dúvida, afinal 98% de chance de ser benigno é quase 100% de chance. Legal... Quase não é algo total. Bateu na trave!
A maca deslizou pra frente, eu não podia ver nada, minha cabeça voltada pro chão. – Não se mexa! Arrisquei uma perguntinha: - E se eu espirrar?
Começou o funk da ressonância magnética: kreu, kreu, kreu, kreu, kreu... Já tinha me acostumado, quando mudou a música: pidão,pidão,pidão,pidão,pidão.... E depois veio o próximo hit: voulá, voulá, voulá, voulá... TIIIIIIIIIIIIIBUUUUUUUMMMMM... tá,tá,tá,tá,tá... Imaginem isso, de barriga pra baixo, usando um avental hospitalar, os peitos encaixados em dois buracos e sem poder se mexer?
Já tinha perdido a noção do tempo e do espaço quando parou tudo e escutei uma voz masculina dizer: -tudo bem? Vontade de dizer que estava tudo uma merda... Mas, respondi educadamente que sim, estava tudo bem. Ai, quanta falsidade...- Então, continue quietinha e sem se mexer, agora vai ser injetado o contraste, ele é geladinho.
Mais de uma pessoa foi por mim abordada nos últimos dias, entre elas o próprio Divo Latívio, para me contar como foi a sua experiência em uma ressonância magnética. O que mais ouvi foi: é rápido, o contraste não dá efeito colateral nenhum. Todos deveriam me pagar indenização por dano moral, tá? Dói a injeção, a maca é dura, o túnel é gelado, o barulho é terrível e o contraste dá enjoo!
Quando terminou, eu comecei a chorar. A técnica de radiologia pareceu solidária ao meu sofrimento. - Calma, vai ficar tudo bem!
Encontrei Divo me esperando no corredor. Semblante aflito. Sabia o que eu tinha passado. Desmoronei, de tanto chorar eu até soluçava. Em um hospital isso é tão comum que ninguém observou, acho.
Vim embora pra casa enjoada, o curativo na mão, a cabeça rodando. Bi- Rads 3. O resultado virá dentro de alguns dias. E ainda é preciso agradecer muito aos homens, máquinas e, principalmente a Deus, por existir a prevenção do câncer de mama. Amém!
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