Que delícia refrescar-se em dias quentes! Vale quase tudo:
mar, rio, cachoeira, represa, piscina, ar condicionado, ventilador, leque e até
mesmo tina d´água. Esperem! Tina d´água?
Pois é. A Deuzinete não perdeu a chance de experimentar a água friazinha da
tina d´água.
Família tem de tudo. Família tradicional, à moda antiga, tem
costumes enraizados que, vez ou outra, desafiam o passar do tempo. O almoço da
família da Dona Judite, patroa da Deuzinete, foi pra lá de tradicional.
Enquanto a mulherada cozinhava e fofocava, os homens jogavam conversa fora e
bebericavam cachaça, a tal da água que passarinho não bebe. Reunidos em uma
mesa, lá estavam o avô, os tios avôs, o pai, os filhos homens, os primos, os irmãos,
sobrinhos e marido da Dona Judite.
O calor parecia uma fornalha. O fogão à lenha teimava em
piorar a situação. Feijão tropeiro, cordeiro, arroz branquinho e soltinho.
Deuzinete suava em bicas. A chance de refrigerar a situação aconteceu quando a
patroa pediu algo simples: - Pegue pra mim aqueles panos de prato com biquinho
de crochê.
Bem que a Deuzinete foi
procurar os tais panos de prato, mas o suor escorria pela cabeça,
percorria a nuca, desafiava a barreira de suas sobrancelhas. Pensou até no inferno!
Eis que, pelo caminho, no quintal, deu de cara com a tina d´água. Não se fez de
rogada. Primeiro, colocou a pontinha dos pés. Depois, recolheu a saia e
molhou-se até à altura dos joelhos. Molhou o rosto, os braços. Não resistiu e
sentou-se na tina. Chegou a esquecer da hora, totalmente envolvida com o
frescor.
Praticamente despertou com a voz da patroa: - Deuzinete,
cadê você?
Tentou levantar-se, mas parecia presa. Mexeu uma perna com
dificuldade, a outra perna estava dobrada e encaixada de modo justo no
recipiente. Forçou sua saída com os braços. Uma tentativa, duas, dez, vinte.
Nem se lembrava como entrou naquilo, a coisa parecia tão apertada! Deuzinete
estava entalada na tina d´água!
- Deuzinete, onde você está?
Pensou em mergulhar, pra se esconder. O corpo escorregou pra
baixo alguns milímetros. Notou que o braço esquerdo também estava preso.
Começou a chorar.
- Deuzinete, cadê meus panos?
Não tinha jeito. Pediu socorro: -
SOCORROOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!
Chegaram para socorrê-la: a patroa, o avô da patroa, o pai
da patroa, os filhos homens da patroa,
os primos da patroa, os irmãos da patroa, os sobrinhos da patroa e o
marido da Dona Judite!
Explicações inexplicáveis, não havia muito o que explicar!
Era caso de entalamento, se ela voltasse a se mexer, o certo mesmo seria chamar
os bombeiros.
– Deuzinete, estica a perna!
– Deuzinete, levanta o braço!
– Vem pra direita!
– Volta pra esquerda.
Por fim, a
Deuzinete desentalou da tina d´água! Ao levantar-se, ainda meio torta e atordoada, só não foi
aplaudida pelo bando de homens da família da Dona Judite porque a dita cuja era
brava até demais! Deuzinete, vestida com uma camiseta branca, justa e molhada
estava, por assim dizer, pelada! Dava
pra ver quase tudo, menos aquilo o que só mesmo um raio X é capaz de mostrar. Fresquinha, literalmente!
Dizem que, pra fazer sucesso, basta passar de calça jeans
fit, agarradinha, em frente a uma obra.
Qual o quê! Deuzinete não precisou de nada disso. A camisetinha branca, com
propaganda do mercadinho “Só Compre Aqui “ arrasou com a “homarada”!
Esse foi o último dia de trabalho da Deuzinete na casa da
Dona Judite. Foi demitida sem justa causa. Injusto, talvez, mas segundo a Dona
Judite isso aconteceu por uma boa causa. E só de pensar que tudo o que a
Deuzinete queria era se refrescar, dá dó!
Em homenagem ao meu saudoso amigo, editor e webmaster, Abílio Manoel.
Em homenagem ao meu saudoso amigo, editor e webmaster, Abílio Manoel.