O cúmulo da distração é cair dentro do lago do parque, ao se
afastar dois passinhos para tirar uma fotografia. Todo primeiro encontro
deveria ser perfeito, mas a vida real não tem ensaios, tudo é improvisado e
inclemente. Aconteceu, já era.
Zé Antônio conheceu Maria do Sol no forró. Baile bom aquele!
A morena dançou a noite toda, o suor dos dois misturado na mais perfeita química
e, não fosse o adiantado da hora, Zé não teria ido embora.
O único dia de folga do Zé era o domingo, quando largava o
caixa da loja de tecidos, onde trabalhava dez horas diárias, e voltava pro
quartinho alugado na pensão. Maria do Sol era manicure do salão de beleza de
uma dona que falava enrolado. Do Sol, como gostava de ser chamada, não sabia se
a patroa era japonesa, ou italiana.
O encontro no parque foi combinado pelo celular. Zé caprichou
na colônia após barba e no desodorante. Escolheu a melhor camisa, calça social
e tênis que comprou em dez suaves prestações. Do Sol vestiu um shortinho curto, da moda, aquele tecido com
lycra. A blusa com seu umbiguinho de fora.
Seus pés calçados nas botas de salto alto, que achou lindas. Isso tudo parecido
com o visual daquela personagem de novela .
O primeiro beijo teve sabor de algodão doce, comprado na
barraquinha do moço que não tirava os olhos dos pernões de Do Sol. A ideia da
foto foi do Zé, que sonhava em mostrar na loja onde trabalhava a formosura da
morena, seu troféu de “pegador”. Já imaginava a inveja que os colegas do
trabalho sentiriam de sua “irresistível pessoa”.
- Vai, bem, vai mais pra direita!
Esses celulares modernos, adquiridos nos grandes magazines,
tiram fotos quase tão boas quanto as melhores câmeras fotográficas digitais. Zé
comprou uma dessas com seu décimo-terceiro salário. Caprichou no ângulo, tratou
de enquadrar as pernas de Do Sol na foto.
- Isso, linda, mais pra trás. Só mais um pouquinho. Legal,
dá pra ver os patos nadando na água. Só mais um passinho. Aí!
E foi assim que, de modo estabanado, ela deu dois passos, ao
invés de só mais um passinho. Do Sol não sabia nadar, nem o Zé. Quem salvou
nossa personagem das águas profundas do
lago, foi o vendedor de algodão doce, aquele dos olhos compridos, um tal de
Edinaldo. Fez respiração boca a boca, agarrou os peitos da Do Sol, jurando que
era massagem cardíaca. Zé se sentiu um corno.
A confusão começou quando Zé descobriu que a Do Sol tinha
bebido muita água do lago, mas estava lúcida e nada afogada. De safada a mulher
à toa, proferiu diversos desaforos. Deixou Do Sol falando sozinha e foi embora,
resmungando que “mulher é bicho que não presta”.
Do Sol mudou pra casa do Edinaldo uma semana depois. Tudo
muito rápido e intenso, com incontáveis e quentes reprises da cena dos
primeiros socorros proferidos pelo Zé. Aconteceram
muitos beijos, mais doces que algodão doce, patrocinados por Cupido, aquele que
mira a flecha sem mandar o menor aviso.
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