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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







20 de jun. de 2012

INVENTARIANDO


Com todo respeito aos que portam o DNA semelhante ao meu, quando alguém quiser rogar uma praga em outrem, deseje-lhe que se transforme em ... Sapo? Não! Nada disso. Deseje-lhe que... Engorde! Também não. Tudo isso é pouco, muito pouco. Uma praga bem rogada é desejar que essa pessoa se transforme em inventariante!
Inventariante nada mais é do que  o representante do espólio de um finado alguém. É ele quem responde pela prestação de contas do patrimônio do de cujus. Pobre mamãe, virou “de cuja”. 
É o inventariante quem assina documentos, quem providencia outros tantos papéis. Quem enfrenta: filas, trânsito, carimbos, xérox, assinaturas, conversa com advogado, cara feia, mau-humor, quem consulta na internet todo o santo dia como vai o paralisado andamento processual. 
Inventariante, aquele autêntico, se pega com os santos, faz promessa,  acende velas, aprende a rezar o terço bizantino, começa a falar sozinho, ganha imensas olheiras, perde o sono e, quiçá, o juízo. Estou no final dessa etapa, afinal o meu juízo anda capenga.
Em suma, eu sou inventariante. Perder a mãe é terrível e, quem diria, depois de todas as lágrimas que chorei, recebi essa incumbência nobre, digna de me fazer resolver mudar em breve pra roça, um lugar sem telefone, sem televisão, computador, ficar incomunicável, papeando com grilos, galinhas, pererecas e muriçocas. As formigas, ainda bem, me compreendem!
Quantos anos demora a conclusão de um inventário, ainda que consensual? Sei lá!  É coisa a perder de vista. Tudo o que sei é que sinto saudade da minha infância, quando o aroma de papéis do escritório de advocacia do meu avô parecia delicioso. Mal sabia eu que, um dia, teria alergia à poeira fininha emanada dessa papelada. Bons tempos que jamais voltarão.
Por essas e outras, encontro meu ponto de equilíbrio no toque do teclado, nos textos que escrevo, no olhar sapeca do cãozinho Bono Latívio, no abraço carinhoso de Divo. Lá fora do meu mundo tudo parece frio e cinzento. Ser inventariante é gélido, burocrático, formal. Isso sim, não é nada normal.
Que o futuro seja breve, com seus registros, suas formalidades e resoluções. A essa altura, qualquer "teje dito" já estava bom. Fartei de tamanha complicação! Fico a imaginar o que fiz pra merecer essa missão! Ah, já sei:  na infância furtei docinhos ( bananinhas) da despensa de minha casa, não deixei uma só pro resto da turma. O castigo veio a cavalo, ou melhor, a passos de tartaruga. E eis que me transformei em um bicho esquisito, insone e que resmunga coisas ininteligíveis: eu, inventariante.



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