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Só tenho uma reclamação a fazer quanto à minha idade, 49 anos: não terei outros filhos biológicos. Se assim fosse possível, eu trataria de assustar umas... dez? vinte pessoas no mínimo, a começar pelo meu alvo amoroso, Mr. Divo Latívio. Posso imaginar parentes pálidos de espanto. Já que adoro causar... Surpresaaaaa! Parabéns, você foi contemplado! Porém, 49 anos. Netinhos serão bem-vindos!
Mãe de um filho único, irmã mais velha de uma ninhada de quatro irmãos. Não consigo imaginar como seria a minha vida, não fossem os três garotos que, feito uma escadinha, nasceram ano após ano depois da minha estréia nesta vida. As lembranças são muitas, a infância tão bela! Dificuldades muitas nos uniram tanto que podemos dizer: somos um só! E, nesse inteiro, que ri, chora e até sente as mesmas dores um do outro, temos que dar a mão à palmatória: não é que nossos pais, com todas as confusões que sempre aprontaram, conseguiram deixar um legado incomparável? Um por todos, todos por um. Já ouvi isso em algum lugar.
Não pude ou poderei dar ao meu filho ( o garotão já tem 23 anos!), um irmãozinho ou uma irmãzinha. Eis o meu mais profundo arrependimento nesta vida. Crescer sem irmãos, isso não tem a menor graça.
Certa vez, creio que tínhamos respectivamente 4 e 5 anos de idade, meu irmão Zeca e eu acompanhamos a Mami ao dentista. Certamente naquele dia ela estava com o juízo imperfeito, talvez perfeito, mas decidiu levar-nos em sua companhia. Deixou-nos sozinhos na sala de espera do consultório e lá estava, com aquele aparelho que serve para tirar o molde dos dentes. O dentista ocupadíssimo, ela sentada na cadeira e de costas pra nós. Antes de tudo começar, lembro da recomendação: fiquem quietinhos. Ganhamos um brinquedinho, como se isso pudesse nos aquietar e distrair: uma pequena bandeira, com uma haste de madeira. Dando sopa pro azar, um aquário bem equipado e com muitos peixinhos ornamentais. Olhamos, olhamos. Escolhemos aquele que seria pescado. A vara escolhida, claro: foi a bandeirinha!
Lá pelas tantas eis o nosso peixe! Pulando no chão. Gritei qualquer coisa do tipo: alguém salve o peixinho! Estávamos em uma encrenca e o castigo estava estampado na raiva do dentista e no desespero da minha mãe. Mas que ideia, deixar duas crianças pequenas sozinhas! Porém, agora já está feito. O Zeca, que nunca foi bobo, correu porta afora e desapareceu. O lugar era um conjunto comercial em Moema. Vários andares, muitos escritórios e consultórios. Sumiu. O dentista largou minha mãe naquele estado, levei uns tapas no traseiro daquela criatura cheia de ferros na boca, parecendo Hannibal. Seu olhar era do Incrível Hulk em plena transformação.
Meu irmão foi encontrado por mim, que também caí fora. Sentado em uma alfaiataria, conversando animadamente com o alfaiate. Fomos capturados, presos e torturados. Calma, nada que valha ser hoje punido senão com a lei da palmada. Aliás, se naquele tempo a lei da palmada estivesse em vigor, hoje minha mãe mudaria de endereço. Moraria em algum presídio, porque palmadas não faltaram.
Ficamos de castigo. E tudo isso não teria acontecido se eu tivesse perdido a melhor parte da minha vida, quando pouco a pouco meus irmãos foram chegando a este mundo, pra se unirem a mim, em travessuras, em alegrias, tristezas.
Quase cinqüenta anos de idade. Todos senhores de meia-idade. Um deles mora em Santa Catarina, o outro descobriu que está com câncer, o mais novo tem uma deficiência neurológica e pra sempre foi e será uma criança de três anos de idade. Vida complicada esta. Manos, ainda bem que temos essas lembranças e muitas histórias pra contar. Sem vocês, a vida não teria a menor graça!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
19 de nov. de 2010
UM POR TODOS, TODOS POR UM!
Só tenho uma reclamação a fazer quanto à minha idade, 49 anos: não terei outros filhos biológicos. Se assim fosse possível, eu trataria de assustar umas... dez? vinte pessoas no mínimo, a começar pelo meu alvo amoroso, Mr. Divo Latívio. Posso imaginar parentes pálidos de espanto. Já que adoro causar... Surpresaaaaa! Parabéns, você foi contemplado! Porém, 49 anos. Netinhos serão bem-vindos!
Mãe de um filho único, irmã mais velha de uma ninhada de quatro irmãos. Não consigo imaginar como seria a minha vida, não fossem os três garotos que, feito uma escadinha, nasceram ano após ano depois da minha estréia nesta vida. As lembranças são muitas, a infância tão bela! Dificuldades muitas nos uniram tanto que podemos dizer: somos um só! E, nesse inteiro, que ri, chora e até sente as mesmas dores um do outro, temos que dar a mão à palmatória: não é que nossos pais, com todas as confusões que sempre aprontaram, conseguiram deixar um legado incomparável? Um por todos, todos por um. Já ouvi isso em algum lugar.
Não pude ou poderei dar ao meu filho ( o garotão já tem 23 anos!), um irmãozinho ou uma irmãzinha. Eis o meu mais profundo arrependimento nesta vida. Crescer sem irmãos, isso não tem a menor graça.
Certa vez, creio que tínhamos respectivamente 4 e 5 anos de idade, meu irmão Zeca e eu acompanhamos a Mami ao dentista. Certamente naquele dia ela estava com o juízo imperfeito, talvez perfeito, mas decidiu levar-nos em sua companhia. Deixou-nos sozinhos na sala de espera do consultório e lá estava, com aquele aparelho que serve para tirar o molde dos dentes. O dentista ocupadíssimo, ela sentada na cadeira e de costas pra nós. Antes de tudo começar, lembro da recomendação: fiquem quietinhos. Ganhamos um brinquedinho, como se isso pudesse nos aquietar e distrair: uma pequena bandeira, com uma haste de madeira. Dando sopa pro azar, um aquário bem equipado e com muitos peixinhos ornamentais. Olhamos, olhamos. Escolhemos aquele que seria pescado. A vara escolhida, claro: foi a bandeirinha!
Lá pelas tantas eis o nosso peixe! Pulando no chão. Gritei qualquer coisa do tipo: alguém salve o peixinho! Estávamos em uma encrenca e o castigo estava estampado na raiva do dentista e no desespero da minha mãe. Mas que ideia, deixar duas crianças pequenas sozinhas! Porém, agora já está feito. O Zeca, que nunca foi bobo, correu porta afora e desapareceu. O lugar era um conjunto comercial em Moema. Vários andares, muitos escritórios e consultórios. Sumiu. O dentista largou minha mãe naquele estado, levei uns tapas no traseiro daquela criatura cheia de ferros na boca, parecendo Hannibal. Seu olhar era do Incrível Hulk em plena transformação.
Meu irmão foi encontrado por mim, que também caí fora. Sentado em uma alfaiataria, conversando animadamente com o alfaiate. Fomos capturados, presos e torturados. Calma, nada que valha ser hoje punido senão com a lei da palmada. Aliás, se naquele tempo a lei da palmada estivesse em vigor, hoje minha mãe mudaria de endereço. Moraria em algum presídio, porque palmadas não faltaram.
Ficamos de castigo. E tudo isso não teria acontecido se eu tivesse perdido a melhor parte da minha vida, quando pouco a pouco meus irmãos foram chegando a este mundo, pra se unirem a mim, em travessuras, em alegrias, tristezas.
Quase cinqüenta anos de idade. Todos senhores de meia-idade. Um deles mora em Santa Catarina, o outro descobriu que está com câncer, o mais novo tem uma deficiência neurológica e pra sempre foi e será uma criança de três anos de idade. Vida complicada esta. Manos, ainda bem que temos essas lembranças e muitas histórias pra contar. Sem vocês, a vida não teria a menor graça!
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4 comentários:
Olha o saudosismo no ar...Tenho só uma irmã, e levanto as mãos pro céu por ela, sem ela não a vida não teria a menor graça. Dormimos no mesmo quarto, se nos separarem a gente até adoece, estudamos na mesma escola, até na faculdade o curso era o mesmo, um grude só ... família grande é muito bom, é muita história pra contar e muita gente pra dividir depois...
Lindo texto Diva, vc sempre maravilhosa...
beijoss
Irmãos nem sempre são assim. É uma dádiva ter tamanha união, tanto amor! É sim muita história pra contar, quem sabe um dia eu conte mais alguma coisa?
Você também é maravilhosa, obrigada pelo comentário, Glenda!
Beijo
Mana,
Hannibal? Incrível Hulk? Não é que é verdade!
Só uma correção, eu tinha 5 e você 6 anos. Ainda me lembro de diversas coisas daquele dia... daquele ano. Eu estava no jardim no Nossa Senhora, assistimos Fantasia e Bambi no cinema (onde passou a ser a Procópio), o Chico caiu do escorregador, fiz xixi nas panelas da cozinha, a mamãe comprou para mim os primeiros carrinhos da Matchbox, masquei chiclete de laranja que a Stella deu, apanhei do Fernando para defender a Cláudia (menino maluco do Nossa Senhora)... também fizeram uma “limpeza” na garagem e no quartinho de empregados e eu descobri um monte de velharias que viraram “meu tesouro” por alguns anos (fichas de pôquer, brinquedos do papai, objetos antigos). Eu e Cláudia fomos para Santos com a Vovó, o Vovô e o Edson (foi quando eu descobri como misturar as ideias). Eu entrava no quadrado para brincar com o Flávio e o Chico. Dormia na cama da Vovó e do Vovô. Tomava banho com o papai. Bebia Crush e 7UP. Comia pão com manteiga (manteiga mesmo). Dava milho para o pombos na praça. Sentava no escritório do Vovô e ficava “assistindo” ele atender os clientes. Assistia o programa do “Titio Molina” que tinha o Capitão Sete, também assistia o Zás Trás com a Tia Márcia. Zorro, Lassie, Rin Tin Tin, Nacional Kid, Batman e O Vigilante Rodoviário.
Vocês são a melhor parte de mim! São a melhor parte de minhas lembranças. Eu os amo muito.
Bjs
Mano,
Quanta honra, falar com o personagem do meu texto...rsss... Aprontamos muiiiiiito em parceria. Isso daria muitos textos, acho que um livro! Ainda contarei a história da fantasia de bruxa..rs
Bj, adorei seu comentário!
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