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Parei no caminho e dei meia-volta. Não fui ao cemitério depositar flores no túmulo de minha mãe. Em meu pensamento uma frase ecoava insistentemente, algo que ela dizia enquanto definhava gravemente enferma: viver é celebrar a vida. Confesso, nem todos os dias celebro a vida. Há dias nublados, apesar de o céu estar azul. Difícil o ensinamento generoso de minha mãe. Praticá-lo exige despojamento, generosidade, bondade.
Durante a última semana tive um sonho bonito. Ainda era criança e estava brincando no jardim com meus irmãos. Surgiu minha avó paterna e exclamou: “são tantos pra você cuidar!”. Então, perguntei: - “vó, por que eu?”. Ela respondeu: “por que não você?”.
E isso é a vida. Cuidar, enfrentar, assumir e não desanimar.
Hoje de manhã chorei. Senti saudade da infância povoada de adultos dignos de longas histórias, quase todos partiram nessa viagem misteriosa que é a morte física. Gente que veio do nordeste brasileiro e gente que veio da longínqua Europa. A mistura disso foi batizada pelo meu avô de “alemães paus-de-arara”. E é exatamente isso o que eu e meus irmãos somos: vira-latas. Aliás, aqui no Brasil, quase todos somos. Diz meu irmão, Flávio, que somos “baião de dois com chucrute”. Pois que seja, isso com farinha deve ser tudo de bom. Sim, leitor, ração nem pensar, vira-latas se satisfazem com “misturebas” inacreditáveis.
E o que tudo isso tem a ver com a data tão triste – Finados - que lembra as pessoas amadas que foram embora pro Céu? É uma homenagem, afinal estamos aqui, estamos vivos. Em um ano duas pessoas que eu amava profundamente faleceram: minha mãe e meu amigo Abílio. Enquanto a Mami piorava do câncer eu chorava no ombro do querido Abílio. Mal ela partiu, lá se foi meu amigo pras nuvens, de repente. Pensei que fosse enlouquecer de dor! O desespero uniu-se ao desamparo.
Eu poderia ter brigado com Deus, afinal a prepotência faz parte do pacote denominado “ser humano”. Quando voltei a me erguer, quando caiu a ficha e percebi o quanto era ridículo blasfemar e me revoltar, soube que alguém muito próximo de mim está doente. Nova revolta, novas blasfêmias. E eu não estava sozinha. Vocês estavam aqui, lendo meus textos. Fiz novos amigos, conheci meu namorado, não faltou pão em casa e eu não enxerguei azul por detrás das nuvens cinzentas. Errática, dramática, alguém que engatinha na estrada rumo à luz. Assim eu sou.
A beleza da vida está em nosso olhar. A felicidade, bem como a tristeza, é conseqüência de nossas atitudes. Ainda que a saudade dos que faleceram seja absurdamente dolorida. E que Deus tenha cada ser amado, os meus e os seus, no melhor lugar do Paraíso. Tenho certeza, um dia estaremos todos juntos novamente, sem dor e sem doenças.
A saudade me fez chorar, a esperança me fez escrever tudo isso pra você, leitor. Portanto, vamos tentar secar nossas lágrimas e seguir o valioso legado de minha mãe: celebremos a vida!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
2 de nov. de 2010
VIVER É CELEBRAR A VIDA ( frase de minha mãe)
Parei no caminho e dei meia-volta. Não fui ao cemitério depositar flores no túmulo de minha mãe. Em meu pensamento uma frase ecoava insistentemente, algo que ela dizia enquanto definhava gravemente enferma: viver é celebrar a vida. Confesso, nem todos os dias celebro a vida. Há dias nublados, apesar de o céu estar azul. Difícil o ensinamento generoso de minha mãe. Praticá-lo exige despojamento, generosidade, bondade.
Durante a última semana tive um sonho bonito. Ainda era criança e estava brincando no jardim com meus irmãos. Surgiu minha avó paterna e exclamou: “são tantos pra você cuidar!”. Então, perguntei: - “vó, por que eu?”. Ela respondeu: “por que não você?”.
E isso é a vida. Cuidar, enfrentar, assumir e não desanimar.
Hoje de manhã chorei. Senti saudade da infância povoada de adultos dignos de longas histórias, quase todos partiram nessa viagem misteriosa que é a morte física. Gente que veio do nordeste brasileiro e gente que veio da longínqua Europa. A mistura disso foi batizada pelo meu avô de “alemães paus-de-arara”. E é exatamente isso o que eu e meus irmãos somos: vira-latas. Aliás, aqui no Brasil, quase todos somos. Diz meu irmão, Flávio, que somos “baião de dois com chucrute”. Pois que seja, isso com farinha deve ser tudo de bom. Sim, leitor, ração nem pensar, vira-latas se satisfazem com “misturebas” inacreditáveis.
E o que tudo isso tem a ver com a data tão triste – Finados - que lembra as pessoas amadas que foram embora pro Céu? É uma homenagem, afinal estamos aqui, estamos vivos. Em um ano duas pessoas que eu amava profundamente faleceram: minha mãe e meu amigo Abílio. Enquanto a Mami piorava do câncer eu chorava no ombro do querido Abílio. Mal ela partiu, lá se foi meu amigo pras nuvens, de repente. Pensei que fosse enlouquecer de dor! O desespero uniu-se ao desamparo.
Eu poderia ter brigado com Deus, afinal a prepotência faz parte do pacote denominado “ser humano”. Quando voltei a me erguer, quando caiu a ficha e percebi o quanto era ridículo blasfemar e me revoltar, soube que alguém muito próximo de mim está doente. Nova revolta, novas blasfêmias. E eu não estava sozinha. Vocês estavam aqui, lendo meus textos. Fiz novos amigos, conheci meu namorado, não faltou pão em casa e eu não enxerguei azul por detrás das nuvens cinzentas. Errática, dramática, alguém que engatinha na estrada rumo à luz. Assim eu sou.
A beleza da vida está em nosso olhar. A felicidade, bem como a tristeza, é conseqüência de nossas atitudes. Ainda que a saudade dos que faleceram seja absurdamente dolorida. E que Deus tenha cada ser amado, os meus e os seus, no melhor lugar do Paraíso. Tenho certeza, um dia estaremos todos juntos novamente, sem dor e sem doenças.
A saudade me fez chorar, a esperança me fez escrever tudo isso pra você, leitor. Portanto, vamos tentar secar nossas lágrimas e seguir o valioso legado de minha mãe: celebremos a vida!
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2 comentários:
...só quem perde alguém que ama sabe realmemte a dor da saudade,não a saudade de alguém que demora...essa saudade de quem não irá voltar...tbm não levei flores p/ minha mãezinha,que tambem tinha dessas "pérolas" e frases que jamais vou me esquecer...
De tanto sofrer,por vezes evitamos...e o tumulo é frio...e triste,então fica aquela vontade de guardar a imagem dela feliz...rindo a toa,me ensinando a ser gente grande,confesso que nunca aprendi,talves por isso sofra tanto a sua ausencia...ficam as lembranças,que quase todos os dias eu borro em lágrimas...
Vanessa,
Comentário bonito o seu, tenho certeza que nossas Mamis receberam essa energia carinhosa e sincera que enviamos com nossas palavras. Sinto muito por sua Mami, entendo a sua dor.
Beijo
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