É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.

Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







27 de abr. de 2012

RITMO DA CHUVA

Ela chegou, justamente no final de semana! Promete fazer parte do feriado prolongado que nos aguarda. A trabalhadora chuva faz sua visita, em homenagem ao primeiro de maio. Deixo a música Ritmo da Chuva e desejo que o sol, acima das nuvens, brilhe para todos nós.
 


25 de abr. de 2012

OLHOS DE JAPONESA

Os olhos de Luana pareciam olhos de japonesa: puxadinhos. Não, ela não era descendente de orientais. Seus olhos estavam assim, quase fechados, de tanto chorar.  O namoro com o Zé Renato durou exatamente oito meses, dois dias e vinte e três horas. No calendário ela olhava a data que se conheceram, de modo compulsivo, quase obsessivo. Queria voltar no tempo, no exato momento em que se viram pela primeira vez no bar em frente à faculdade.  Ficaram. Depois da quinta ficadinha, transaram. E ela, romântica assumida, achou que estivessem namorando.  Digo achou, porque só ela pensou assim.
Namoro, pro Zé Renato, era coisa pra casar e ele, aos 23 anos de idade, sequer sonhava com casamento. Por isso, ele preferia ficar, sem compromisso. Nem por isso desgostava da Luana, uma garota que considerava bonita, inteligente e super boa gente.
O problema é que, na falta de compromisso, o Zé não viu mal algum em exercitar sua habilidade para conquistar outras garotas. Além da Luana, ele saía com a Juliana, a Manu e a Mariana. Problema algum, afinal era só amizade com beijinhos, ou mesmo uma transa aqui, outra ali. O descompasso aconteceu porque a Luana pareceu não entender que o bom da vida estava em aproveitar o momento, sem se atirar a um passo do dia de hoje. Fez planos, quis exclusividade, queria o rótulo de “namorada”. Quando descobriu que havia outras garotas, Luana se descontrolou, falou pro Zé que aquilo era traição. Zé Renato declarou: você estragou tudo, melhor a gente ser apenas amigos, sem beijos, nem pegadas. E assim, acabou-se o que era doce. Luana entendeu que estava namorando sozinha, namorando sem namorado.
Dois dias chorando sem parar, seus olhos verdes contrastavam com a palidez de sua face. Dois dias sem postar nada no Facebook, sem sair do quarto.  Jurou: “daqui pra frente, os homens vão comer na minha mão”. Foi assim que brotou a sementinha de outra Luana, uma garota avessa a compromissos amorosos, detonadora de corações incautos.  Zé ainda telefonou pra saber como ela estava,  mas ela não atendeu. Nunca mais se viram.
Três anos depois o Zé conheceu a Fernanda, um ano depois se casou. Luana ficou solteira, mas diz pro mundo que é feliz. Até hoje seus olhos, às vezes, adormecem e amanhecem fechadinhos, parecidos com olhos de japonesa.

23 de abr. de 2012

TEMPOS MODERNOS, TEMPOS DO GOOGLE


Porque eu sou do tempo da enciclopédia! Barsa, Delta Larousse, Enciclopédia Britânica com seus infindáveis volumes, todos enfileirados em prateleiras. Livros e mais livros, papel, muito papel! O aroma gostoso de uma biblioteca, afrodisíaco mental. Sou do tempo em que ninguém escrevia coisas assim: blz, abs, bj. Do tempo em que as cartas de amor eram escritas com a mais caprichada caligrafia. Eu colecionava papel de carta!  Sou do tempo em que alguém me contou que a NASA tinha computadores enormes, coisa fantástica, digna do seriado Perdidos no Espaço.  Pra sonhar com o futuro, assistia ao desenho dos Jetsons e imaginava o quanto deveria ser bom ter um telefone portátil, que poderia ser levado pra qualquer lugar. 
O dia de hoje nada mais é que o amanhã de ontem.  Na contramão, eu seria capaz de trocar o tablet e o IPad pela simplicidade dos anos 70, ao som de Donna Summer e Bee Gees, os Embalos de Sábado à Noite. Simples assim, sem a alta tecnologia, inocência quase artesanal.  
Hoje, minha caligrafia se transformou em garranchos assustadores, digito letrinhas em um notebook, a caneta restou para assinaturas ocasionais, ou breves anotações hieroglíficas. As enciclopédias deram lugar ao mundo digital. Estamos no Google, caros leitores, experimentem digitar seus nomes completos e terão gratas, ou ingratas surpresas. Nossas vidas cabem em pendrives, nossos sorrisos em flashes das câmeras fotográficas com sei lá quantos megapixels. Estamos no mundo e o mundo sabe muito sobre nós: Facebook, Orkut, blog, MSN e tudo o mais que vier por aí.
O mundo mudou, mas nada mudou ao mesmo tempo, afinal continuo sonhando com o futuro, um futuro de pés descalços, à beira de um riacho, plantando sementes e colhendo flores do campo.  É a fuga da modernidade, o merecido prêmio depois de mais de trinta anos dedicados ao trabalho diário, em meio ao trânsito, à poluição visual e sonora da grande cidade de São Paulo. Esse futuro, por mim idealizado, se parece muito mais com os episódios bucólicos de Os Waltons, outro seriado perdido no tempo, o mesmo tempo que me perdeu e se distancia,  em preto e branco, refugiado na minha memória. 

AUSÊNCIA


Depois de uma noite mal dormida, picotada por um pesadelo clássico e que, se caísse nos ouvidos de Freud se transformaria em longo estudo, amanheci esquisita. Esquisito pode ser sinônimo de inexplicável, penso assim.  Amanheci inexplicável, do tamanho da ausência daqueles que silenciaram, por um motivo, ou por outro.  Jururu, melancólica.  Admirei a serra, privilégio paulistano daqueles que residem no 16º andar de um edifício na área central da cidade.  Meu olhar pousado no horizonte, meu coração inquieto.  
A mim falta com quem dividir as alegrias e expectativas quanto ao blog, quem compreenda o que escrevo e vibre na mesma sintonia, com o mesmo entusiasmo que procura abraçar o olhar de leitores anônimos. Meu parceiro cibernético, meu webmaster e melhor amigo ( Abílio Manoel) deixou essa lacuna ao partir pro infinito. Ausência física que, pra mim, até aqui, se traduz de modo insuperável e insuportável.  Não há quem dê palpites no rascunho do que escrevi. Não há quem faça uma sugestão aqui, outra ali. Não há quem me diga que errei de novo a concordância verbal. O blog cresce e aparece, na mesma proporção da saudade que sinto, da teimosia ao postar um novo texto. Passos solitários estes meus. Logo passa, sempre passa.

20 de abr. de 2012

SONHO SONHADO


“Dizem que quando você não consegue dormir é porque você está acordado no sonho de alguém”. A frase, que compartilhei com os contatos do Facebook, foi curtida, comentada e me pôs a refletir.
Sonhar sonhos bons adormecido, ou sonhar acordado. Tirar o sono de alguém que está longe fisicamente, quem sabe alguém idealizado, ou alguém que está adormecido no adeus proferido no passado. Sonhos, às vezes, desrespeitam todas as regras do bom senso, as normas sociais, as leis humanas e universais. Neles voamos, respiramos debaixo d´água, voltamos à infância, viajamos pelo mundo sem precisar de passaporte.  Sonhos ou delírios? Sonhar de olhos abertos com o amor desejado, com o amor desfeito. Sonhar e suspirar, resignado, ou inconformado. Em pensamento sonhamos acordados, lembrando e imaginando, voando alto, muito alto.Nos sonhos o amor sempre é possível.
A energia do pensamento parece ser, de todas as forças energéticas, a mais forte que o ser humano pode experimentar. O pensamento tanto cria, tanto molda a projeção da realidade, que  o sonho  pode se tornar realidade. Água mole em pedra dura, bater na mesma tecla. Teimar com a vida, às vezes, modifica totalmente o rumo dos acontecimentos. Sonhos podem, até mesmo, trazer o amor de volta.
Alguém  fica acordado porque foi personagem de um sonho. Acordado porque entrou, ou saiu da vida de alguém. Acordado pela paixão alheia, ou pela paixão que brotou dentro de si, mas não é correspondida. Acordado pelas palavras que foram ditas, ou caladas. Insone, atribulado com o porvir.
Um sonho que abraçou o coração de alguém e o fez pensar, recordar, reviver o sentimento partido, deixado, talvez esquecido durante a vigília. Ideal amoroso satisfeito em pensamento, carinho no coração feito prêmio de consolação. Sentido real e inexplicável, tudo tão verdadeiro! No sonho o passado se torna presente, o futuro chega depressa, sem barreiras, nos tons escolhidos, no cenário ideal. Laços se refazem, se forma de novo a ciranda dos personagens. Aromas, calor, luminosidade, tudo de volta, tudo perfeito, do jeito que poderia ser de novo, talvez, outra vez. Sonho repousante e sonho da imaginação. Quem adormece pode sonhar, mas sonho profundo pra valer é o sonho do sonhador, aquele que, mesmo enquanto desperto, se põe a sonhar.
Somos feitos de sonhos. Sonhos sonhados no sonho de alguém. Sonhos que sonhamos também. Sonhar desperta o coração da gente e pode ser a semente: quem sonha acordado atrai pra si aquilo o que sonhou.
Sonhemos, então. Sonhemos que o amor é eterno, que a distância não existe. Sonhemos com o mais doce e sutil final feliz. Sem culpa, sem lógica, sem explicações. Porque sonhar alimenta a alma. Sonhar, às vezes, nos faz acordar e despertar outro alguém. Sonhe muito, sonhe sempre, acordado ou adormecido. E, se você perder o sono, saiba: você foi sonhado no sonho de outro alguém.

19 de abr. de 2012

A EFICIENTE CLOTILDE


Clotilde, tão branquinha e gorduchinha, chegou em casa a prometer mil e uma maravilhas: lavaria toda a roupa, sem estragar nenhuma peça. Isso de modo rápido, com total eficiência e de modo econômico, prático, higiênico. Ainda havia um quesito que considero essencial: não faria muito barulho, o seu trabalho seria silencioso.
Fechei o negócio naquela loja que vende de tudo, de sofá a refrigerador. O vendedor pareceu satisfeito, sorria mostrando um pedaço de salsinha preso no molar. Sorriso largo e ecológico.  Dois dias úteis mais tarde, tocou o interfone e Serafim, o porteiro, avisou: - Dona Diva, os “homi” da loja estão aqui embaixo pra subir a máquina de lavar roupas.
Depressa, destranquei a porta de entrada de serviço e esperei tanto tempo que comecei a ficar preocupada. Cadê os “homi”? Chamei a portaria: - Serafim, está acontecendo algum problema? – É... É que... Dona Diva, a máquina não cabe no elevador.
Não pude acreditar no que ouvi. Como assim? Não cabia no elevador? Resolvi verificar com meus próprios olhos. No subsolo do prédio estavam dois entregadores da loja e o zelador. A caixa de papelão, embalagem da Clotilde, era enorme. Tive a ideia de tirar a máquina de dentro da caixa. – Ô dona, é melhor a senhora não fazer isso, porque se arranhar o gabinete a loja não vai aceitar de volta.
Ora, ora, ora... Eu teria mesmo que desembalar a máquina! Por isso, tentaram passar a Clotilde pra dentro do elevador desembalada. Puxa, empurra, mais pra lá, mais pra cá. E eis que Clotilde entrou no elevador. Começou então outro capítulo desse drama de lavanderia: a máquina não passou pela porta de entrada da área de serviço. – Só se a senhora mandar quebrar a parede!
Nem pensar. Jamais eu quebraria a parede por causa de uma máquina de lavar roupas. A solução foi içar a máquina pela janela da área de serviço do apartamento. Deixei a máquina no salão de festas do prédio, com um aviso de “NÃO MEXA” e contratei uma empresa especializada em içamento.
Clotilde veio subindo amarrada em cordas. De vez em quando o vento a balançava. Gordinha, rebolativa, chegou sã e salva. Desde então ela cumpriu tudo o que prometia seu manual de instruções: rapidez, qualidade incomparável aos produtos de outras marcas.  
Não sei o motivo disso, alguém resolveu tirar as meias sociais de cor preta e jogar na máquina, junto com a cueca de cor branca, a camisa de cor azul clara e duas toalhas de banho felpudas, que eu já tinha deixado anteriormente na máquina. É essa mania que tenho de fazer da máquina um cesto de roupas sujas. E esse alguém colocou sabão em pó no compartimento de amaciante e colocou amaciante no compartimento de sabão em pó. Ligou a máquina e foi ser feliz, assistindo a um jogo de futebol na TV e bebericando sua gelada cervejinha. Eu, que sequer desconfiava do mal feito, fui surpreendida pelo barulho de Clotilde a sacolejar irritadíssima. Abri a máquina e notei fiapos coloridos das toalhas de banho grudados nas meias sociais pretas. Notei também que havia tanta espuma de sabão que mais parecia propaganda daqueles produtos que lavam mais branco.  Respirei fundo, contei até dois e chamei Divo Latívio:
 - Divo, você ligou a máquina de lavar?
 – Hã?
 – Venha aqui!
 – Não posso. Diva, traz outra cerveja pra mim!
 – Divooooo! 
 – O que é?  Juiz ladrãoooo! Expulsa esse cara!
Por fim, desisti de chamá-lo e resolvi, eu mesma, tentar resolver o problema. Desliguei a Clotilde da tomada e retirei as peças de roupa de seu interior. O que era branco estava cinza, o que era preto estava cheio de fiapos coloridos. As toalhas estavam emboladas de um lado só do tambor. Minha vontade inicial foi de atirar tudo pela janela do apartamento.  Enxaguei todas as peças de roupa no tanque, uma a uma. Depois, removi  e lavei aquele compartimento plástico apropriado para receber sabão e amaciante de roupas. Escolhi as toalhas de banho para serem torcidas por Clotilde. Liguei a máquina na tomada, digitei o programa para centrifugar e... Nada aconteceu. Uma tentativa, duas, três... Divoooo! Quatro, cinco, vinte e oito... – Divoooooooooooo!!!
E ainda acham que mulher não gosta de futebol! – Diva, meu time está perdendo, o que você quer? A raiva era tanta que resolvi responder de modo malcriado: - Quero que seu time perca de 5x0!
Há homens que são capazes de aceitar quase todos os desaforos provenientes de uma mulher. Porém, rogar praga no seu time de futebol, isso pode ser imperdoável. O time de Divo perdeu de 4x1, o último gol quem marcou foi o Raimundinho, gol contra. 
Divo passou pela cozinha com ar de desprezo. Não disse boa noite e foi dormir, revoltado com minha falta de solidariedade.
Hoje, Clotilde foi consertada. O problema maior estava em uma peça que fica naquele cilindro da centrifugação. Uma meia soquete de Divo, de cor branca, tinha se enroscado e promovido todo o começo da confusão.
Agora, aqui em casa, a coisa funciona da seguinte forma: Divo só pode entrar na área de serviço com a minha autorização. Caso contrário, seu ingresso no recinto está proibido.
Ainda bem, Clotilde voltou a trabalhar do jeito que sempre prometeu: silenciosamente e com total eficiência!

18 de abr. de 2012

SUSPIRO INSPIRADOR


Um segundo coração pulsa fora de mim, fora do meu corpo. Um coração dentro de um quadradinho, exposto ao mundo. Nele deixo gravadas impressões, emoções, invenções. Esse coração às vezes acelera, às vezes tem arritmia. Hoje, está devagarzinho, calmo, sem muita agitação. Pasmaceira, pois não!
Ah, blog! Deliciosa praia sem água, sem sal, nem areia. Apenas letrinhas, imagens, remota lembrança de mim. Mergulhos na alma de quem se encontra nestas prosas.Deu nó! Nem sempre escrevo e, quando escrevo, até mesmo sobre isso falo: a falta de assunto!Diva Latívia na correria, cercada de gente, de vida, a desejar ter mil horas em cada segundo.Tempo, escasso tempo.
Inspiração é uma palavra mágica. Não sei de onde tirei isso, mas a palavra tem sabor de suspiros, aqueles feitos com claras de ovos batidas e raspinhas de limão. Doce feito o amor que aquece e reanima.
Aspiro a inspiração, que chega sem avisar. Parece ter feito morada neste espaço, depois bate as asas e desaparece. Longos dias de estiagem. Hoje,  este coração  cibernético está batendo fraquinho, mas vivo. Este é o meu blog, o meu Diva Latívia. Hoje estou sem a menor inspiração!


O RATINHO QUE QUERIA A LUA


Tobias era um ratinho branco. Morava no quintal da casa de um menino chamado Rafael, que era dono de um  gato branco chamado Leo.
No quintal  da casa de Rafael  havia muitas coisas: árvores, flores, varal com roupas penduradas e a casinha do Sultão, um cão de guarda feroz que detestava gatos .
Em uma noite de lua cheia, Tobias, o ratinho, resolveu sair de sua toca para admirar a lua. Faminto, imaginou que a lua cheia e redondinha fosse um delicioso queijo.  Distraído, se esqueceu do Sultão, o cão, e despertou a atenção do gato Leo.
Gatos não gostam de ratos. Leo, o gato, começou a correr atrás de Tobias, o rato. Corre-corre! Sultão, Leo e Tobias derrubaram uma vassoura que estava encostada perto da porta da cozinha. Veio abaixo a roupa que estava pendurada no varal. Rafael, o menino, apareceu  no quintal para saber o que acontecia.
Sultão,  o cão, corria atrás de Leo, o gato. Leo, o gato, corria atrás de Tobias, o rato. Tobias, o rato, corria sem saber pra qual lado ir e tudo o que mais queria era alcançar o queijo redondinho que estava pendurado no céu!
Rafael , o menino, prendeu Sultão, o cão,  na coleira. Leo , o gato, correu pro telhado. Tobias,o rato, entrou na cozinha da casa de Rafael, o menino, e roubou um pedacinho de bolo. Voltou pra sua toca, de barriguinha cheia, e dormiu feliz.
Rafael, o menino, achou tudo isso uma grande confusão!
A lua, lá no céu, fez de conta que não viu nada e também foi dormir.

Dia 18 de abril, DIA NACIONAL DO LIVRO INFANTIL. Livros infantis são sementinhas boas em solo jovem e fértil. Incentivem seus filhos a ler!


13 de abr. de 2012

O ABACAXI DE CADA DIA


Não sou prendada, não gosto de cozinhar, abomino passar roupas e quem quiser me fazer sair correndo basta falar de assuntos ligados a produtos de limpeza, preços do supermercado,  querer trocar receitinhas de doces e salgados. Não é comigo isso! O problema eu terceirizo: Divo na cozinha e Zezé na faxina e lavanderia. Pra quê mais?
Porém, sou humana e preciso me alimentar. Comprei um suco de soja sabor abacaxi. Dizem, isso faz bem à saúde. Adoro abacaxi, mas detesto soja.  Engoli uma vez, duas, depois deixei lá, meio esquecido na geladeira. Hoje, lembrei e resolvi olhar a data de validade. Meio cega, não consegui ver a data, mas li o seguinte: depois de aberto, consumir em até 3 dias. Por isso, despejei o suco na pia e joguei a embalagem no lixo. Fiquei arrependida, afinal o aroma de abacaxi pareceu delicioso. Voltei à geladeira. Pra combinar com a dita cuja, literalmente gelei. Divo adora abacaxi. Ontem, depois de rodar alguns supermercados, encontrou seu suco de abacaxi longa vida e o trouxe, como quem carrega um troféu. Esqueça o troféu abacaxi. Não o ofereceu, bebeu e apertou bem a tampinha, lembro ter visto isso de relance, depois o guardou na prateleira do alto da geladeira.
Adivinhe qual suco de abacaxi despejei na pia? Você tem duas alternativas. Se disse o suco de abacaxi do Divo, acertou. Pois é, não sou muito chegada aos assuntos do lar e, pra piorar, sou meio cega e totalmente desligada.
Divo chegou do trabalho e foi direto pra cozinha.  Fui rápida: - Amor, está um calorão! Quer uma cervejinha? Uma caipirinha? Chá? Refrigerante? Água? Ele só queria o suco de abacaxi. Procurou, procurou, procurou. E eu bem quietinha. – Diva, você bebeu o suco de abacaxi? – Bebi. – Todo??? – É, eu estava com vontade...
Está sem falar comigo até agora. Imagine se ele soubesse que despejei o suco dentro da pia? Ah, o lar... doce lar...

ESPIRAL


Adormeci no sofá da sala. Noite mal dormida, esqueci aberta a porta da sacada, o friozinho da madrugada acentuou-se  e, com o meu torpor,  não saí do sofá pra buscar um lençol, ou cobertor. Entre um cochilo breve e outro, sonhei que eu era uma blogueira, adjetivo claro, sucinto e antipático. Blog é diário? Blog é livro? Que raios?! Blogueira é blogueira, escritora é escritora!
Minha cabeça rodava, girava e em ordem alfabética vinham as questões sem resposta, todas a respeito do blog. Quantos leitores? Tem comentários? Quais prêmios recebeu? Cadê seu livro? Uma espiral infinita de perguntas sem resposta, um pesadelo angustiante.
Adormeci no sofá tentando encontrar o fiozinho da meada, desfazer o  emaranhado dos meus sentimentos, puxar um fiapinho embolado da minha autoestima.  Adormeci degustando a mais amarga das conclusões:  nada sou, nada sei, se eu morrer amanhã me enterrarão, chorarão um bocadinho ( choradeira parcialmente social)  e depois deletarão o blog, ou o deixarão ser corroído por vírus cibernéticos. Simples assim!
Adormeci no sofá querendo descobrir por que não me basto sozinha. Ser ímpar é diferente de ser solitário. Há muita gente ímpar e feliz. Por que não sei viver ímpar? Ao som do silêncio, olhos inchados de tanto chorar, o coração espatifado, adormeci e sonhei com o blog. Páginas em branco, tudo zerado. Nada!
Despertei no sofá da sala. A almofada, onde eu havia recostado minha cabeça, estava caída no chão. Meu pescoço doía, minhas costas estalaram assim que espreguicei. O pesadelo ainda latente, presente, tão real. Tentei lembrar o que eu, afinal, fazia deitada no sofá da sala? Caminhei em direção ao corredor, fui ao meu quarto. Lá estava ele, adormecido, indiferente à noite mal dormida no sofá, ao pesadelo, ao blog, ao frio da madrugada, ao meu torpor, ao fiozinho da meada, ao emaranhado dos meus sentimentos, à minha embolada autoestima, às minhas amargas conclusões.  Lá estava ele, adormecido. Por que não me basto sozinha? Amanheci ímpar.

Observação: "blog não é diário" ( Abílio Manoel)

DIA DO BEIJO


Beijo bom é beijo carregado de afeto. Beijo na face, seguido de um caloroso abraço. Beijo de chegada e beijo de partida. Triste beijar na despedida. Beijo sonhado pelos apaixonados, beijo na boca com o desejo de fusão de corpos. Tem o selinho, rapidinho, um estalinho ligeiro. Beijo com doce afeto. Beijo inesquecível. Beijo distraído. Beijo roubado. Beijo com química, beijo sem química. Beijos de outrora, respeitosos e na mão Beijinho e beijão. Beijo escancarado, no meio da multidão. Beijo escondidinho, no escurinho, beijos de montão.  Ah, o amor! Ah, a paixão!  O melhor beijo é o próximo beijo, aquele que nos espera na linha do horizonte. Beijo sonhado, idealizado, alimento da alma, beijo por vir. Beijos de contos de fadas, beijo que despertou a princesa do longo sono. Beijo no sapo. Beijo para ilustrar o final feliz. Ah os beijos. Ai, ai!
Deixo aqui para vocês, leitores, o meu beijo. Beijo carinhoso, sincero, em letrinhas, beijo moderno e digitado assim.
Feliz Dia do Beijo! 

11 de abr. de 2012

FEITO PAPEL DE SEDA


Por falar em aniversário...

- Você prefere bolo de quê?
- De qualquer coisa.
- Qualquer coisa com cobertura, ou sem cobertura?
Ele desviou o olhar da revista que lia.  -Não quero bolo.
- Prefere torta?
-  ...
- Torta de chocolate? De maçã?
- Não gosto de doce.
Total desânimo.  Completar 40 anos de idade, isso merecia uma grande comemoração, uma festa, a reunião dos amigos, dos parentes, dos colegas do trabalho. Mas, ele não queria bolo, portanto não queria festa!
Há duas semanas tinha comprado o presente de aniversário dele, um relógio de pulso. Demorou horas pra escolher, entrou em todas as relojoarias do shopping. Por fim, escolheu um relógio clássico, a pulseira de couro marrom. Combinava com os ternos que ele usava pra trabalhar. Chique!
Desde as oito horas da manhã o telefone não parava de tocar. Ligou a sogra, a mãe, a tia, a irmã e o cunhado. Ligou também alguém que ele atendeu rapidamente, logo desligou. Ficou mal humorado.
- Zé, vamos sair, jantar fora?
- Não sei, acho que vai ter reunião com aquele cliente do Mato Grosso, devo chegar tarde em casa.
Resignada, ela buscou o pacote de presente e estendeu as mãos, mais com vontade de chorar do que de sorrir.
- Obrigado. Não precisava.
Agradecimento breve, sem um sorriso, sem um beijo ou abraço.
- Se você vier cedo, eu posso preparar aquele risoto que você gosta!
- Não precisa me esperar, não sei a que horas vou chegar, já disse isso.
Zé Maurício só voltou às quatro horas da manhã, cheirando a perfume de mulher e com hálito de cerveja.
Todos os anos, ano após ano, por mais que ela tentasse não recordar esse episódio, ele vinha à tona. Triste lembrança do dia em que descobriu:  seu relacionamento estava por um fio.
 Há doze anos ela não tinha notícias do Zé Maurício, se viram pela última vez quando assinaram o divórcio. Incrível, sete anos de casamento, tantos momentos juntos e se tornaram dois estranhos. Soube que ele voltou a se casar. Fuçou no Facebook, a atual se chama Andressa e tem 28 anos. Fez e refez as contas: 22 anos mais nova que ela, 24 anos mais nova que ele. Como pode? Ele nunca quis ter filhos, mas teve 2 filhos com a tal da Andressa. Gêmeos!
Todos os anos o mesmo ritual. Acorda, olha o calendário, lembra daquele dia, depois se deixa levar pela avalanche de lembranças amargas que resultaram na separação.  Por fim, enxuga as lágrimas e diz pra si mesma: - feliz aniversário, Zé!
Ah o amor...  Frágil, feito papel de seda.

DOIS ANOS DO BLOG DIVA LATÍVIA


Eu te peguei em meus braços em sua primeira letrinha. Eram tantas informações, tantos procedimentos em um idioma incompreensível: informática! Copiar, colar, clicar aqui, não clicar ali, arrastar, soltar imagens. Precisei aprender o “beabá” de um mundo estranho, aparentemente frio e numérico. Horas a fio, movida pelo êxtase da curiosidade , aliada a uma pitadinha do temor da exposição pública dos meus sentimentos. Com jeitinho de rascunho, você nasceu, Diva Latívia.
A primeira publicação, uma poesia curtinha, sentida. Recém-nascida, olhinhos abertos, você pareceu sorrir pra mim. Meu blog, eu uma blogueira. Tudo pareceu tão estranho! Feinha, você estava desajeitada. Seu pai, Abílio Manoel, a pegou em seus braços, a embalou, ninou, mimou. Belo layout você ganhou de presente! O tempo foi passando, você foi crescendo, hoje é uma linda garotinha. Diva Latívia, ainda criança, completa hoje dois anos de idade. Menininha travessa, às vezes reflexiva, às vezes irreverente.  Diva Latívia, o meu refúgio com portas abertas para o mundo.
Hoje, este blog completa dois anos de existência. Abílio partiu rumo ao Céu e deixou este presente lindo que me devolveu o sorriso e a vontade de viver. Aqui eu reencontrei o fio da meada e divido, diariamente, minhas sensações, reações, emoções com leitores que cabem no mapa mundi.  Este dia, 11 de abril, é dia de celebração da vida. Diva, meu jeito de pulsar no coração do mundo. Diva, minha Diva!
Segue aqui a minha primeira publicação neste blog.  Escrevi assim que o blog foi ativado no dia 11 de abril de 2010. Dois anos, o tempo passou ligeiro! A vocês, leitores, deixo o meu carinho. Este blog é meu, mas é também de todos vocês. Muito obrigada!

Diva Latívia


ERRÁTICA E GRAMÁTICA ( 11.04.2010)

Quando ela se fartou, decidiu dar fim a tantas reticências...
Entre vírgulas o chamou. Surgiu um ponto de interrogação.
Em negrito e letras maiúsculas proferiu seu ultimato: ele deveria definir-se.
Abriu aspas e pontuou as entrelinhas.
O travessão foi bem colocado entre uma frase e outra.
Incrédula, escutou uma exclamação, ele não queria ser cobrado.
Abriu parêntesis e definiu os limites do relacionamento.
Buscou um adjetivo que traduzisse seu desapontamento.
Dor talvez fosse antônimo de amor.
Desligou o celular e, sem despedir-se, atirou o objeto direto na parede.
O sujeito, agora sem muitos predicados, silenciou.
Sentimento singular, ao seu lado na cama um espaço vazio.
Lembrou-se dos momentos plurais.
Conjugou o verbo chorar e, quando secou a última lágrima, colocou um ponto final.
Foi adeus.

9 de abr. de 2012

RONCO? DURMA COM ESSE BARULHO!


O horário do almoço costuma ser divertido, ainda que seja segunda-feira.  Vim ao computador, espiar o blog, verificar os e-mails. Passei pelo Facebook.  Minha ideia inicial era apenas ler as publicações recentes e, rapidamente, voltar ao trabalho. Porém, essas propagandas não solicitadas, aquelas janelinhas que aparecem no mural do Facebook, deveriam conter os seguintes dizeres: “atenção, estas propagandas podem causar textos”.  Tudo começou quando vi a propaganda do aparelho anti-ronco.
As noites jamais foram as mesmas desde que Divo começou a roncar. Dizem  os parentes que ele roncava anteriormente, mas não lembro de ter ouvido o seu ronco até alguns meses atrás. Desde então, as noites têm sido embaladas pela roncadeira que parece a melodia do capeta. Tento conter meus piores instintos. Vã tentativa de adormecer em paz!
A princípio eu o chamava carinhosamente: - “querido, você está roncando, vire pra lá, meu amor”.  Ele resmungava qualquer coisa, também em tom carinhoso e pronto, voltávamos a dormir. Conforme o tempo foi passando, minhas noites se tornaram mal dormidas. A irritação pareceu vencer meu romantismo. – “Divo, vire pra lá, você está roncando!”.  Ele responde algo mais ou menos assim: - "Quê? Hã? Não tô roncando! Pô!".  De cutucões a reclamações, resolvi tomar uma providência. Fui à farmácia e comprei protetores de ouvidos, que coloco em minhas orelhas na hora de dormir. Moral da história: de manhã, o despertador toca e eu não o escuto. Perco a hora quase todos os dias.
E eis que li a propaganda do aparelho anti-ronco,  então resolvi clicar para saber o que era. A propaganda era um vírus que invadiu o meu computador.  Eu sei que não é recomendável clicar em links desconhecidos, principalmente aqueles com os dizeres “clique aqui”. Aliás, deveria ser: “clique aqui, sua trouxa!”. Tola que fui, ávida por soluções permanentes, arrumei um problema que precisava ser imediatamente solucionado. Uma hora, foi esse o tempo que o programa antivírus demorou para detectar o trojan e removê-lo da máquina. E eu, que já tinha começado o dia atrasada - afinal eu não escuto ronco, nem despertador - , precisei terminar correndo este texto para voltar ao trabalho. Melhor eu me acostumar a dormir com aquele barulho.  Se ele não roncasse, eu não estaria atrasada! Por que será que o amor não é surdo?


50.000 VISITAS!



Dia 11 de abril é o aniversário deste blog. 
Dois anos de Diva Latívia. Justamente nesta mesma semana, alcançamos um número muito bonito: 50.000 visitas.
Deixo o meu agradecimento a você, meu leitor, minha leitora. É pra vocês que escrevo!
Obrigada!


Diva Latívia ( Cláudia)

5 de abr. de 2012

D, DE DIVA!


O questionário era longo, eu precisava atualizar os dados para aquele órgão público detalhista, que volta e meia quer saber o meu atual endereço. Eram tantas perguntas, que senti minha privacidade bisbilhotada. Aliás, duas vezes bisbilhotada, porque a fuxiqueira da Silvinha estava bem ao meu lado, esperando ansiosa para também preencher o formulário. Olhos de lince, atrás dos meus ombros ela podia ler tudo o que eu lançava no papel. Dei uma encarada séria, ela não se mancou,  ou fez de conta que não se mancou. 
Endereço novo informado. Deveria ser o suficiente. A próxima pergunta foi tão contundente quanto um golpe de baixo pra cima, igual àqueles golpes das lutas de UFC: estado civil. Pulei essa e parti pra resposta seguinte: número de filhos. Minha prole é reduzida, porém mais do que satisfatória: um!  A pergunta seguinte, sobre os novos cursos que fiz. Vontade de lançar no papel o curso de fotografia, as aulas de tricô e a minha vasta leitura a respeito da configuração do blog. Por fim, assinar “Diva Latívia”. Certamente, eu perderia o emprego. Tratei de parar de rir sozinha, o sujeito do tal do órgão público, vestido com um terno preto dessas lojas populares, suava em bicas e parecia burramente sem paciência para me esperar.
Entreguei o formulário, torcendo pra que ele não me perguntasse sobre o estado civil. Não adiantou nada.- “A senhora não preencheu uma das questões. Qual é o seu estado civil?”.  Ai que raiva! Perguntou isso com aquela voz desafinada, rouca, parecida com a voz do Pato Donald.  Silvinha deve ter tido um orgasmo de satisfação, porque soltou um gritinho histérico: - “Aiiiii! Ela é casada, né? Casou de novo, né? Tá casada, né?”.  A cada “né” eu me sentia sendo desnudada, um strip-tease da minha vida pessoal, assunto que só diz respeito a mim!
Silvinha, Maria Tereza, Lucineide, Regiane, Glorinha. Um galinheiro se formou ao meu redor. Cacarejavam ansiosas. Um prato cheio de milho lançado no terreiro em que se transformou minha sala de trabalho.
Inventar um dado, para um órgão público, oficial, é crime de falsidade. Portanto, eu estava em uma rua sem saída, encostada em uma parede, encurralada por uma turma de mulheres ávidas por informações de minha vida.
– Casada.
Reboliço ao meu redor. – Viu? Não disse que ela casou? – Casouuuuu? – Mas, pensei que ela morava com ele, só isso! – Uhuhuhu! – Cócócócó! – Casou de novo? – Corajosa, heim? – Nossa, que sorte!

Menti! Menti por falta de privacidade. Menti pra me vingar delas, do sujeito do terno preto, da vida e de mim.
Permaneci na sala, fingindo trabalhar, até o sujeito esboçar um cumprimento pálido, disse qualquer coisa parecida com “boa tarde” e rumou em direção à saída. Levantei-me da mesa rapidamente e o alcancei antes de entrar no elevador.
 – Senhor? A respeito do formulário que eu preenchi. Creio que uma das informações que forneci está equivocada.
Fui olhada de cima abaixo. Novamente desnuda. Resolvi atacar: - minhas informações pessoais não dizem respeito a todos, não são de domínio público! Respondi algo por constrangimento, preciso corrigir a informação.
Ele respondeu qualquer coisa em tom irado.
Contra-ataquei: - os seus superiores saberão que fui humilhada pelo senhor!
Peguei pesado, sei disso.
O cara abriu a pasta surrada onde guardava vários papéis. Lambeu o dedo e começou a folhear um a um. Encontrou o meu formulário e perguntou: - O que a senhora respondeu errado? 
- Eu sou divorciada!
- Então a senhora não é casada?
- Não senhor.
- Inventou isso para me enganar, senhora?
- Não senhor!
- Pensa que tenho tempo para perder, senhora?
Eu queria mandá-lo para aquele lugar que a luz não alcança, mas precisava pensar no meu emprego.
- Fiquei constrangida, esse formulário deveria ser preenchido de modo confidencial.
- Façamos o seguinte, senhora, colocarei aqui uma pequena observação. Farei de conta que houve um equívoco no preenchimento. A senhora pode rubricar abaixo?
Minha rubrica, um D. Tanto faz se é diferente daquilo o que assino. Deixei ali um D, de Diva. Diva, minha Diva. Diva que habita em mim, que me faz cometer loucuras reais, que me acompanha e pulsa dentro de mim e causa muitas confusões. Diva doida, alter ego,  meu lado D!






ESTILHAÇOS ( DÉJÀ VU)


O termo traduz a sensação que me invade há várias semanas: déjà vu. Talvez, a luminosidade, a temperatura do outono seja o tempero dos sentimentos que já senti, das lembranças que chegam sem antes avisar, de momentos que parece que já aconteceram antes.  As músicas, os aromas, os fatos, as fotos. Surpreendo-me  viajando a instantes remotos, em pensamento reencontro amigos de outrora, lembro e relembro, feito um quebra-cabeça com milhares de minúsculas peças. A imagem de mim se forma no tabuleiro de minha vida.
Coincidências existem?  Estilhaços da minha vida. Atraio encontros e reencontros inesperados, com pessoas que soltaram minha mão em algum quilômetro da estrada. Gente que partiu. Gente que também deixei, para sobreviver, ou simplesmente para ser feliz. Ligo o rádio, toca a velha canção. 
A frase que leio me faz refletir:  “ o dia de ontem passou, o dia de amanhã é incerto, por isso viva o presente”.  O passado, às vezes, dói! O passado me faz passar por louca, ele me faz rir e chorar, zangar-me comigo, zangar-me com luzes e sombras. Saudade entra no ingrediente e torna inteiro o que ficou despedaçado. Depois, eu me perdoo rapidamente e estendo esse perdão aos simplesmente humanos. 
Para curar as feridas, canto um trechinho da antiga canção, que os girassóis da floricultura me fizeram recordar. Visto azul, para combinar com o sabor da laranja docinha que provei de manhã.  Eu, sentada na cozinha da infância, a laranja do suco de frutas. Eu, apaixonada perdidamente e vestindo azul. Eu, admirando o quadro dos Girassóis de Van Gogh em uma tarde de solidão. Viro a página, vejo que horas são, meus passos apressados na calçada. Sensação de já ter vivido isso antes. Quando? 
Folhas secas sob meus pés, calor sob o sol, friozinho na sombra. Tricô! As agulhas a tricotar um casaquinho de bebê, a cor da lã que escolhi  lembra o aroma do pó de arroz que minha mãe usava: branco, chantilly sobre os morangos. Eu, brindando com vinho uma noite inesquecível. A música, a temperatura, as laranjas, os girassóis, os morangos, as fotografias, as folhas secas, Van Gogh, a solidão, o passado, o presente. Pedacinhos de mim. Déjà vu!

4 de abr. de 2012

FELIZ PÁSCOA!


2 de abr. de 2012

COELHINHO DA PÁSCOA, O QUE TRAZES PRA MIM?


Resolvi aproveitar o horário do almoço para buscar a encomenda que fiz ao Coelhinho da Páscoa: ovos de chocolate para uma lista imensa de sobrinhos. Assim que cheguei à loja, senti total desânimo. Assim estava escrito: TOCA DO COELHINHO. Bonitinho, certo? Mas, a quantidade de gente dentro da loja, isso somado às filas imensas nos caixas, era digno de desistir da Páscoa e ir direto ao Natal. Querido tempo:  pule essa parte e vamos logo “pros finalmente”!
Apressada, a agenda lotada de compromissos, não tive saída: entrei na loja e encarei a multidão de consumidores ávidos por esse delicioso presente pascal. Aliás, quem não gosta de chocolate?
Conseguir um carrinho de compras foi a primeira tarefa dessa gincana-chocólatra. Assim que vi um deles sobrando, apressei os passinhos e, praticamente, o agarrei. Uma fração de segundo antes de uma senhora gorda que me olhou de modo pouco simpático.
Subi a rampa da loja até o primeiro andar. Naquele setor, o céu parecia salpicado de ovos de Páscoa coloridos, todos pendurados a mais de três metros de altura. Cena bonita de assistir. Foi dada a largada para a segunda  tarefa da gincana. Alcançar os ovinhos era impossível, ainda que eu me esticasse na pontinha dos pés e desse uns pulinhos. Cadê você, meu São Longuinho? Na  falta de ajuda de algum funcionário ( todos ocupadíssimos), eu me estiquei e... créc. Estalou algo, achei que dentro de mim.  Não foi o pescoço, nem foi a coluna. O que estalou foi o fecho do meu sutiã, que abriu. Sem saber exatamente o que fazer, pendurei minha bolsa no pescoço, deixando-a sobre o meu abdome. Tudo bem, eu fiquei parecendo a mamãe-canguru: ridícula. 
Vi passar uma vendedora, praticamente supliquei: - Moça, por favor, me ajude!  A escolha dos ovos de Páscoa desobedeceu a listinha que eu tinha levado. Nada de ovo de time de futebol pra um, ovo com brinquedinho pra outro. Foi tudo igual, da mesma marca, do jeito que foi possível.  Sinto muito se os meninos vão ganhar ovos de Páscoa da Barbie.  Saí da loja carregando duas caixas de papelão. Bom demais pra disfarçar os peitos livres, leves e soltos.
Quando cheguei à portaria do prédio onde moro, as mãos carregadas,  começou a terceira parte da gincana do chocolate: empurrei a portão da entrada com o pé, mas logo atrás de mim vinha um casal idoso. Precisei segurar o portão com o traseiro, esperar que eles caminhassem lentamente e passassem por mim. Sorriram e agradeceram. O mesmo  ocorreu no elevador,  onde ficaram me olhando como quem depois, em casa, iriam tirar o maior sarro da minha cara: “HAHAHA, aquela loira estava com o sutiã arrebentado”.
Assim que entrei em casa, passei pelo espelho da sala e pude observar minha figura patética. O sutiã todo danado e o zíper da calça totalmente aberto. Difícil explicar a Divo Latívio que os ovos de Páscoa não foram o álibi que usei para ocultar alguma molecagem que eu tinha aprontado.  Não tenho culpa se penduraram os ovos tão altos, a ponto de eu me desgraçar daquela forma.  Divo continua cismado, mas o culpado é o Coelhinho da Páscoa, foi ele quem me deixou naquele estado. Juro!