Adormeci no sofá da sala. Noite mal dormida, esqueci aberta
a porta da sacada, o friozinho da madrugada acentuou-se e, com o meu torpor, não saí do sofá pra buscar um lençol, ou
cobertor. Entre um cochilo breve e outro, sonhei que eu era uma blogueira,
adjetivo claro, sucinto e antipático. Blog é diário? Blog é livro? Que raios?!
Blogueira é blogueira, escritora é escritora!
Minha cabeça rodava, girava e em ordem alfabética vinham as
questões sem resposta, todas a respeito do blog. Quantos leitores? Tem
comentários? Quais prêmios recebeu? Cadê seu livro? Uma espiral infinita de
perguntas sem resposta, um pesadelo angustiante.
Adormeci no sofá tentando encontrar o fiozinho da meada,
desfazer o emaranhado dos meus
sentimentos, puxar um fiapinho embolado da minha autoestima. Adormeci degustando a mais amarga das
conclusões: nada sou, nada sei, se eu
morrer amanhã me enterrarão, chorarão um bocadinho ( choradeira parcialmente
social) e depois deletarão o blog, ou o
deixarão ser corroído por vírus cibernéticos. Simples assim!
Adormeci no sofá querendo descobrir por que não me basto
sozinha. Ser ímpar é diferente de ser solitário. Há muita gente ímpar e feliz.
Por que não sei viver ímpar? Ao som do silêncio, olhos inchados de tanto
chorar, o coração espatifado, adormeci e sonhei com o blog. Páginas em branco,
tudo zerado. Nada!
Despertei no sofá da sala. A almofada, onde eu havia
recostado minha cabeça, estava caída no chão. Meu pescoço doía, minhas costas
estalaram assim que espreguicei. O pesadelo ainda latente, presente, tão real.
Tentei lembrar o que eu, afinal, fazia deitada no sofá da sala? Caminhei em
direção ao corredor, fui ao meu quarto. Lá estava ele, adormecido, indiferente à
noite mal dormida no sofá, ao pesadelo, ao blog, ao frio da madrugada, ao meu
torpor, ao fiozinho da meada, ao emaranhado dos meus sentimentos, à minha
embolada autoestima, às minhas amargas conclusões. Lá estava ele, adormecido. Por que não me
basto sozinha? Amanheci ímpar.
Observação: "blog não é diário" ( Abílio Manoel)
4 comentários:
Nem preciso dizer que chorei ao ler o texto.......
Beijão !!!!
Solidariedade não rima com solidão... Que eu nunca esteja sozinha, isso é tudo o que espero da vida. Você, Isis, é um presente bonito que o Abílio me deixou. Você e a Diva Latívia...
Te amo, maninha!
Eu tbém te amo muito....vc sabe e sente isso....afinal, somos maninhas...
Ah, essas declarações públicas de afeto, trocadas com a mulher maravilhosa que conheci na internet...rsrs... Quem diria que uma amiga virtual se tornaria a minha melhor amiga real? Mais que amiga, ela se tornou minha irmã!!! Eita vida moderna maravilhosa esta!!!
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