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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







5 de abr. de 2012

ESTILHAÇOS ( DÉJÀ VU)


O termo traduz a sensação que me invade há várias semanas: déjà vu. Talvez, a luminosidade, a temperatura do outono seja o tempero dos sentimentos que já senti, das lembranças que chegam sem antes avisar, de momentos que parece que já aconteceram antes.  As músicas, os aromas, os fatos, as fotos. Surpreendo-me  viajando a instantes remotos, em pensamento reencontro amigos de outrora, lembro e relembro, feito um quebra-cabeça com milhares de minúsculas peças. A imagem de mim se forma no tabuleiro de minha vida.
Coincidências existem?  Estilhaços da minha vida. Atraio encontros e reencontros inesperados, com pessoas que soltaram minha mão em algum quilômetro da estrada. Gente que partiu. Gente que também deixei, para sobreviver, ou simplesmente para ser feliz. Ligo o rádio, toca a velha canção. 
A frase que leio me faz refletir:  “ o dia de ontem passou, o dia de amanhã é incerto, por isso viva o presente”.  O passado, às vezes, dói! O passado me faz passar por louca, ele me faz rir e chorar, zangar-me comigo, zangar-me com luzes e sombras. Saudade entra no ingrediente e torna inteiro o que ficou despedaçado. Depois, eu me perdoo rapidamente e estendo esse perdão aos simplesmente humanos. 
Para curar as feridas, canto um trechinho da antiga canção, que os girassóis da floricultura me fizeram recordar. Visto azul, para combinar com o sabor da laranja docinha que provei de manhã.  Eu, sentada na cozinha da infância, a laranja do suco de frutas. Eu, apaixonada perdidamente e vestindo azul. Eu, admirando o quadro dos Girassóis de Van Gogh em uma tarde de solidão. Viro a página, vejo que horas são, meus passos apressados na calçada. Sensação de já ter vivido isso antes. Quando? 
Folhas secas sob meus pés, calor sob o sol, friozinho na sombra. Tricô! As agulhas a tricotar um casaquinho de bebê, a cor da lã que escolhi  lembra o aroma do pó de arroz que minha mãe usava: branco, chantilly sobre os morangos. Eu, brindando com vinho uma noite inesquecível. A música, a temperatura, as laranjas, os girassóis, os morangos, as fotografias, as folhas secas, Van Gogh, a solidão, o passado, o presente. Pedacinhos de mim. Déjà vu!

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