O termo traduz a sensação que me invade há várias semanas:
déjà vu. Talvez, a luminosidade, a temperatura do outono seja o tempero dos
sentimentos que já senti, das lembranças que chegam sem antes avisar, de
momentos que parece que já aconteceram antes.
As músicas, os aromas, os fatos, as fotos. Surpreendo-me viajando a instantes remotos, em pensamento
reencontro amigos de outrora, lembro e relembro, feito um quebra-cabeça com
milhares de minúsculas peças. A imagem de mim se forma no tabuleiro de minha
vida.
Coincidências existem? Estilhaços da
minha vida. Atraio encontros e reencontros inesperados, com pessoas que
soltaram minha mão em algum quilômetro da estrada. Gente que partiu. Gente que
também deixei, para sobreviver, ou simplesmente para ser feliz. Ligo o rádio,
toca a velha canção.
A frase que leio me faz refletir: “ o dia de ontem passou, o dia de amanhã é
incerto, por isso viva o presente”. O
passado, às vezes, dói! O passado me faz passar por louca, ele me faz rir e chorar,
zangar-me comigo, zangar-me com luzes e sombras. Saudade entra no ingrediente e
torna inteiro o que ficou despedaçado. Depois, eu me perdoo rapidamente e
estendo esse perdão aos simplesmente humanos.
Para curar as feridas, canto um
trechinho da antiga canção, que os girassóis da floricultura me fizeram recordar.
Visto azul, para combinar com o sabor da laranja docinha que provei de manhã. Eu, sentada na cozinha da infância, a laranja
do suco de frutas. Eu, apaixonada perdidamente e vestindo azul. Eu, admirando o
quadro dos Girassóis de Van Gogh em uma tarde de solidão. Viro a página, vejo
que horas são, meus passos apressados na calçada. Sensação de já ter vivido
isso antes. Quando?
Folhas secas sob meus pés, calor sob o sol, friozinho na
sombra. Tricô! As agulhas a tricotar um casaquinho de bebê, a cor da lã que
escolhi lembra o aroma do pó de arroz
que minha mãe usava: branco, chantilly sobre os morangos. Eu, brindando com
vinho uma noite inesquecível. A música, a temperatura, as laranjas, os girassóis,
os morangos, as fotografias, as folhas secas, Van Gogh, a solidão, o passado, o
presente. Pedacinhos de mim. Déjà vu!
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