É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.

Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







25 de abr. de 2012

OLHOS DE JAPONESA

Os olhos de Luana pareciam olhos de japonesa: puxadinhos. Não, ela não era descendente de orientais. Seus olhos estavam assim, quase fechados, de tanto chorar.  O namoro com o Zé Renato durou exatamente oito meses, dois dias e vinte e três horas. No calendário ela olhava a data que se conheceram, de modo compulsivo, quase obsessivo. Queria voltar no tempo, no exato momento em que se viram pela primeira vez no bar em frente à faculdade.  Ficaram. Depois da quinta ficadinha, transaram. E ela, romântica assumida, achou que estivessem namorando.  Digo achou, porque só ela pensou assim.
Namoro, pro Zé Renato, era coisa pra casar e ele, aos 23 anos de idade, sequer sonhava com casamento. Por isso, ele preferia ficar, sem compromisso. Nem por isso desgostava da Luana, uma garota que considerava bonita, inteligente e super boa gente.
O problema é que, na falta de compromisso, o Zé não viu mal algum em exercitar sua habilidade para conquistar outras garotas. Além da Luana, ele saía com a Juliana, a Manu e a Mariana. Problema algum, afinal era só amizade com beijinhos, ou mesmo uma transa aqui, outra ali. O descompasso aconteceu porque a Luana pareceu não entender que o bom da vida estava em aproveitar o momento, sem se atirar a um passo do dia de hoje. Fez planos, quis exclusividade, queria o rótulo de “namorada”. Quando descobriu que havia outras garotas, Luana se descontrolou, falou pro Zé que aquilo era traição. Zé Renato declarou: você estragou tudo, melhor a gente ser apenas amigos, sem beijos, nem pegadas. E assim, acabou-se o que era doce. Luana entendeu que estava namorando sozinha, namorando sem namorado.
Dois dias chorando sem parar, seus olhos verdes contrastavam com a palidez de sua face. Dois dias sem postar nada no Facebook, sem sair do quarto.  Jurou: “daqui pra frente, os homens vão comer na minha mão”. Foi assim que brotou a sementinha de outra Luana, uma garota avessa a compromissos amorosos, detonadora de corações incautos.  Zé ainda telefonou pra saber como ela estava,  mas ela não atendeu. Nunca mais se viram.
Três anos depois o Zé conheceu a Fernanda, um ano depois se casou. Luana ficou solteira, mas diz pro mundo que é feliz. Até hoje seus olhos, às vezes, adormecem e amanhecem fechadinhos, parecidos com olhos de japonesa.

Nenhum comentário: