Por falar em aniversário...
- Você prefere bolo de quê?
- De qualquer coisa.
- Qualquer coisa com cobertura, ou sem cobertura?
Ele desviou o olhar da revista que lia. -Não quero bolo.
- Prefere torta?
- ...
- Torta de chocolate? De maçã?
- Não gosto de doce.
Total desânimo.
Completar 40 anos de idade, isso merecia uma grande comemoração, uma
festa, a reunião dos amigos, dos parentes, dos colegas do trabalho. Mas, ele
não queria bolo, portanto não queria festa!
Há duas semanas tinha comprado o presente de aniversário
dele, um relógio de pulso. Demorou horas pra escolher, entrou em todas as
relojoarias do shopping. Por fim, escolheu um relógio clássico, a pulseira de
couro marrom. Combinava com os ternos que ele usava pra trabalhar. Chique!
Desde as oito horas da manhã o telefone não parava de tocar.
Ligou a sogra, a mãe, a tia, a irmã e o cunhado. Ligou também alguém que ele
atendeu rapidamente, logo desligou. Ficou mal humorado.
- Zé, vamos sair, jantar fora?
- Não sei, acho que vai ter reunião com aquele cliente do
Mato Grosso, devo chegar tarde em casa.
Resignada, ela buscou o pacote de presente e estendeu as
mãos, mais com vontade de chorar do que de sorrir.
- Obrigado. Não precisava.
Agradecimento breve, sem um sorriso, sem um beijo ou abraço.
- Se você vier cedo, eu posso preparar aquele risoto que
você gosta!
- Não precisa me esperar, não sei a que horas vou chegar, já
disse isso.
Zé Maurício só voltou às quatro horas da manhã, cheirando a
perfume de mulher e com hálito de cerveja.
Todos os anos, ano após ano, por mais que ela tentasse não
recordar esse episódio, ele vinha à tona. Triste lembrança do dia em que descobriu:
seu relacionamento estava por um fio.
Há doze anos ela não
tinha notícias do Zé Maurício, se viram pela última vez quando assinaram o
divórcio. Incrível, sete anos de casamento, tantos momentos juntos e se
tornaram dois estranhos. Soube que ele voltou a se casar. Fuçou no Facebook, a
atual se chama Andressa e tem 28 anos. Fez e refez as contas: 22 anos mais nova
que ela, 24 anos mais nova que ele. Como pode? Ele nunca quis ter filhos, mas
teve 2 filhos com a tal da Andressa. Gêmeos!
Todos os anos o mesmo ritual. Acorda, olha o calendário,
lembra daquele dia, depois se deixa levar pela avalanche de lembranças amargas
que resultaram na separação. Por fim,
enxuga as lágrimas e diz pra si mesma: - feliz aniversário, Zé!
Ah o amor... Frágil,
feito papel de seda.
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