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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







11 de abr. de 2012

FEITO PAPEL DE SEDA


Por falar em aniversário...

- Você prefere bolo de quê?
- De qualquer coisa.
- Qualquer coisa com cobertura, ou sem cobertura?
Ele desviou o olhar da revista que lia.  -Não quero bolo.
- Prefere torta?
-  ...
- Torta de chocolate? De maçã?
- Não gosto de doce.
Total desânimo.  Completar 40 anos de idade, isso merecia uma grande comemoração, uma festa, a reunião dos amigos, dos parentes, dos colegas do trabalho. Mas, ele não queria bolo, portanto não queria festa!
Há duas semanas tinha comprado o presente de aniversário dele, um relógio de pulso. Demorou horas pra escolher, entrou em todas as relojoarias do shopping. Por fim, escolheu um relógio clássico, a pulseira de couro marrom. Combinava com os ternos que ele usava pra trabalhar. Chique!
Desde as oito horas da manhã o telefone não parava de tocar. Ligou a sogra, a mãe, a tia, a irmã e o cunhado. Ligou também alguém que ele atendeu rapidamente, logo desligou. Ficou mal humorado.
- Zé, vamos sair, jantar fora?
- Não sei, acho que vai ter reunião com aquele cliente do Mato Grosso, devo chegar tarde em casa.
Resignada, ela buscou o pacote de presente e estendeu as mãos, mais com vontade de chorar do que de sorrir.
- Obrigado. Não precisava.
Agradecimento breve, sem um sorriso, sem um beijo ou abraço.
- Se você vier cedo, eu posso preparar aquele risoto que você gosta!
- Não precisa me esperar, não sei a que horas vou chegar, já disse isso.
Zé Maurício só voltou às quatro horas da manhã, cheirando a perfume de mulher e com hálito de cerveja.
Todos os anos, ano após ano, por mais que ela tentasse não recordar esse episódio, ele vinha à tona. Triste lembrança do dia em que descobriu:  seu relacionamento estava por um fio.
 Há doze anos ela não tinha notícias do Zé Maurício, se viram pela última vez quando assinaram o divórcio. Incrível, sete anos de casamento, tantos momentos juntos e se tornaram dois estranhos. Soube que ele voltou a se casar. Fuçou no Facebook, a atual se chama Andressa e tem 28 anos. Fez e refez as contas: 22 anos mais nova que ela, 24 anos mais nova que ele. Como pode? Ele nunca quis ter filhos, mas teve 2 filhos com a tal da Andressa. Gêmeos!
Todos os anos o mesmo ritual. Acorda, olha o calendário, lembra daquele dia, depois se deixa levar pela avalanche de lembranças amargas que resultaram na separação.  Por fim, enxuga as lágrimas e diz pra si mesma: - feliz aniversário, Zé!
Ah o amor...  Frágil, feito papel de seda.

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