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Acordei nesta terça-feira, dia 05 de abril de 2011, desanimada. Olhei pro lado, Divo ainda dormindo. Mal havia amanhecido. O despertador sequer tinha disparado o alarme da alvorada. Estava deitada na pontinha da minha metade da cama, quase um precipício a meio metro do chão. Talvez, o primeiro pé que coloquei no chão tenha sido o esquerdo. Dizem que levantar com o pé esquerdo é tão negativo quanto dormir com o traseiro descoberto. A luta durante a noite foi por um palmo de edredom. Enrolado em panos, feito uma múmia, Divo “roubou” de mim a coberta. Não estava frio, mas despertei congelada.
Espirrando, dirigi-me ao banheiro. Descabelada, profundas olheiras. Enquanto tentava seguir meu roteiro matinal, meu cérebro parecia meio adormecido. Aquele ser tão amado apossou-se do meu território, metade de uma cama de casal. Para melhor acomodar-se, rescostou-se em meu travesseiro, seu cotovelo em minha cabeça. Com jeitinho tentei empurrá-lo de volta ao seu lugar, resmungou qualquer coisa, decidi deixar pra lá. Longa noite. Recordei-me do pernilongo. Acabou o verão, por que diabos pernilongos continuam a povoar o nosso espaço? Aquele som – bzzzzzzzzzzz – bem na orelha. Inseticida, aparelhinhos para repelir insetos estrategicamente deixados nas tomadas. Nada consegue afastar esses seres indesejáveis.
Acordei mal humorada. Para combater minha situação, tentei abrir o pote de vitaminas, com aquela tampa de segurança à prova de crianças. Não consegui. Crianças não podem abrir. Divo, ignorando sua parcela de culpa por minha insônia, riu. Decidi sair mais cedo, pra evitar pior situação.
Na portaria Zé Raimundo, porteiro folgado e folguista, entregou-me com olhar sarcástico a correspondência. O remetente era o Banco do Brejo, a fatura do cartão de crédito. Joguei o envelope dentro de minha bolsa, aquela que batizaram de “Capitão Caverna”. Ali tudo existe e nada se encontra. Na minha bolsa tem carretel de linha, tem batom sem tampa, bala com a validade vencida, tem lixa de unha, cartão de visitas de advogado, tem até carregador de celular. Por falar nisso, quando toca o celular não consigo encontrá-lo a tempo e preciso ainda buscar meus óculos de grau pra descobrir quem foi que telefonou.
Quanto mau humor! O dentista desmarcou a consulta, justamente no horário em que eu estava a caminho de seu consultório. Já não dá mais pra mastigar rapadura, quebra-queixo, resta a maria-mole. Mole feito eu, que penso estar acometida de dengue. Preguiça nesta terça-feira, véspera de quarta-feira e tão distante da sonhada sexta-feira, quando poderei sair do trabalho e sonhar com o final de semana.
Dividir a vida e dividir o espaço. Penso agora em adquirir uma cama king size, a maior que conseguir encontrar. Penso em colocar ao redor da cama aquele mosquiteiro de tule, para afastar todo e qualquer pernilongo noturno. Penso em dormir no lado oposto da cama, o que me obrigará a levantar-me com o pé direito. Penso em comprar novas vitaminas, com tampa que favoreça quem ainda está na infância. Penso em virar todo o conteúdo de minha bolsa, para descobrir o que há em seu interior. E de tanto pensar, perdi a hora, tenho que seguir meu roteiro de terça-feira. Que o trânsito esteja generoso, que o vento sopre desacompanhado da chuva. Que as horas passem e depressa chegue a noite, pra que eu durma sem disputar espaço ou cobertor. Bom dia, mau humor. Bom dia, amigo leitor!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
5 de abr. de 2011
BOM DIA, MAU HUMOR!
Acordei nesta terça-feira, dia 05 de abril de 2011, desanimada. Olhei pro lado, Divo ainda dormindo. Mal havia amanhecido. O despertador sequer tinha disparado o alarme da alvorada. Estava deitada na pontinha da minha metade da cama, quase um precipício a meio metro do chão. Talvez, o primeiro pé que coloquei no chão tenha sido o esquerdo. Dizem que levantar com o pé esquerdo é tão negativo quanto dormir com o traseiro descoberto. A luta durante a noite foi por um palmo de edredom. Enrolado em panos, feito uma múmia, Divo “roubou” de mim a coberta. Não estava frio, mas despertei congelada.
Espirrando, dirigi-me ao banheiro. Descabelada, profundas olheiras. Enquanto tentava seguir meu roteiro matinal, meu cérebro parecia meio adormecido. Aquele ser tão amado apossou-se do meu território, metade de uma cama de casal. Para melhor acomodar-se, rescostou-se em meu travesseiro, seu cotovelo em minha cabeça. Com jeitinho tentei empurrá-lo de volta ao seu lugar, resmungou qualquer coisa, decidi deixar pra lá. Longa noite. Recordei-me do pernilongo. Acabou o verão, por que diabos pernilongos continuam a povoar o nosso espaço? Aquele som – bzzzzzzzzzzz – bem na orelha. Inseticida, aparelhinhos para repelir insetos estrategicamente deixados nas tomadas. Nada consegue afastar esses seres indesejáveis.
Acordei mal humorada. Para combater minha situação, tentei abrir o pote de vitaminas, com aquela tampa de segurança à prova de crianças. Não consegui. Crianças não podem abrir. Divo, ignorando sua parcela de culpa por minha insônia, riu. Decidi sair mais cedo, pra evitar pior situação.
Na portaria Zé Raimundo, porteiro folgado e folguista, entregou-me com olhar sarcástico a correspondência. O remetente era o Banco do Brejo, a fatura do cartão de crédito. Joguei o envelope dentro de minha bolsa, aquela que batizaram de “Capitão Caverna”. Ali tudo existe e nada se encontra. Na minha bolsa tem carretel de linha, tem batom sem tampa, bala com a validade vencida, tem lixa de unha, cartão de visitas de advogado, tem até carregador de celular. Por falar nisso, quando toca o celular não consigo encontrá-lo a tempo e preciso ainda buscar meus óculos de grau pra descobrir quem foi que telefonou.
Quanto mau humor! O dentista desmarcou a consulta, justamente no horário em que eu estava a caminho de seu consultório. Já não dá mais pra mastigar rapadura, quebra-queixo, resta a maria-mole. Mole feito eu, que penso estar acometida de dengue. Preguiça nesta terça-feira, véspera de quarta-feira e tão distante da sonhada sexta-feira, quando poderei sair do trabalho e sonhar com o final de semana.
Dividir a vida e dividir o espaço. Penso agora em adquirir uma cama king size, a maior que conseguir encontrar. Penso em colocar ao redor da cama aquele mosquiteiro de tule, para afastar todo e qualquer pernilongo noturno. Penso em dormir no lado oposto da cama, o que me obrigará a levantar-me com o pé direito. Penso em comprar novas vitaminas, com tampa que favoreça quem ainda está na infância. Penso em virar todo o conteúdo de minha bolsa, para descobrir o que há em seu interior. E de tanto pensar, perdi a hora, tenho que seguir meu roteiro de terça-feira. Que o trânsito esteja generoso, que o vento sopre desacompanhado da chuva. Que as horas passem e depressa chegue a noite, pra que eu durma sem disputar espaço ou cobertor. Bom dia, mau humor. Bom dia, amigo leitor!
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