Porque eu sou do tempo da enciclopédia! Barsa, Delta Larousse,
Enciclopédia Britânica com seus infindáveis volumes, todos enfileirados em
prateleiras. Livros e mais livros, papel, muito papel! O aroma gostoso de uma
biblioteca, afrodisíaco mental. Sou do tempo em que ninguém escrevia coisas
assim: blz, abs, bj. Do tempo em que as cartas de amor eram escritas com a mais
caprichada caligrafia. Eu colecionava papel de carta! Sou do tempo em que alguém me contou que a NASA
tinha computadores enormes, coisa fantástica, digna do seriado Perdidos no
Espaço. Pra sonhar com o futuro,
assistia ao desenho dos Jetsons e imaginava o quanto deveria ser bom ter um
telefone portátil, que poderia ser levado pra qualquer lugar.
O dia de hoje nada mais é que o amanhã de ontem. Na contramão, eu seria capaz de trocar o tablet
e o IPad pela simplicidade dos anos 70, ao som de Donna Summer e Bee Gees, os Embalos
de Sábado à Noite. Simples assim, sem a alta tecnologia, inocência quase
artesanal.
Hoje, minha caligrafia se transformou em garranchos
assustadores, digito letrinhas em um notebook, a caneta restou para assinaturas
ocasionais, ou breves anotações hieroglíficas. As enciclopédias deram lugar ao
mundo digital. Estamos no Google, caros leitores, experimentem digitar seus
nomes completos e terão gratas, ou ingratas surpresas. Nossas vidas cabem em
pendrives, nossos sorrisos em flashes das câmeras fotográficas com sei lá
quantos megapixels. Estamos no mundo e o mundo sabe muito sobre nós: Facebook,
Orkut, blog, MSN e tudo o mais que vier por aí.
O mundo mudou, mas nada mudou ao mesmo tempo, afinal continuo
sonhando com o futuro, um futuro de pés descalços, à beira de um riacho, plantando
sementes e colhendo flores do campo. É a
fuga da modernidade, o merecido prêmio depois de mais de trinta anos dedicados
ao trabalho diário, em meio ao trânsito, à poluição visual e sonora da grande
cidade de São Paulo. Esse futuro, por mim idealizado, se parece muito mais com
os episódios bucólicos de Os Waltons, outro seriado perdido no tempo, o mesmo
tempo que me perdeu e se distancia, em
preto e branco, refugiado na minha memória.
4 comentários:
liiiiiiiiiiiindo! e triste ao mesmo tempo!!!!!!! tb sinto falta,da simplicidade,do falar,do sentar na calçada em noites quentes,hj o isolamento tomou conta da nossa vida.........pena! paradoxo!
SUELI FIGUEIREDO.
Pretendo voltar a essa vidinha. Vou achar uma cidadezinha no meio do mato, mas em algum lugar que considere tão lindo quanto seguro. Férias merecidas desta vida louca.
Obrigada pelo comentário, Sueli.
Beijo
Essa semana minha família se desfez da Barsa. Doamos os livros a uma professora amiga dos meus pais. Acho que irão para alguma biblioteca de escola pública.
E o argumento, em consenso, foi o de que não se precisa mais de enciclopédia quando se tem... o Google!
Tomara que eles ainda sirvam para alguém.
Ulisses,
Acho que o problema atual começa na falta do hábito da leitura e se instala na falta de espaço físico para tantos livros, especialmente enciclopédias. Sou do tipo que prefere fotos impressas a fotos no computador. Prefiro livros para que eu os folheie, do que e-books. Ainda leio jornal impresso e escuto notícias no rádio. Antiquada, possivelmente. Porém, nada se compara ao toque dos dedos no papel, ao aroma de uma biblioteca, ao som do rádio.
Tomara sim que sirvam pra alguém, ainda bem que encontraram que quisesse a enciclopédia. Herdei dos meus pais muitos livros, não sei para quem doar a Delta Larousse. A Britânica, há muitos anos, foi comprada por um Sebo ( quem vendeu não fui eu!).
Uma pena...
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