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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







29 de mai. de 2012

O RELATÓRIO DE TERÇA-FEIRA


Ah, vai! Seu trabalho é “facinho”, a maior moleza! Você faz o seu horário, acorda na hora que quer, almoça em casa e ganha bem pra caramba.
Escutei essas palavras, ou melhor, engoli essas palavras como quem engole ácido sulfúrico. Caiu mal, muito mal. Pois eu posso contestar isso, posso provar que rapadura é doce, mas é dura!
Estava de salto alto caminhando apressada pela Avenida Paulista, pulando buracos da calçada e desviando de todo e qualquer desnível do piso. A pressa sempre foi a inimiga número 1 da perfeição. Eu precisei escolher, das duas uma: ou eu andava depressa, ou eu cuidava pra não cair. Escolhi a primeira alternativa e fui parar agarrada a um telefone público, vulgo orelhão. Abraçada ao dito cujo, quase fiz DDD para o raio que me partiu.
Mancando, danada da vida com o tropeção, a dor e o mal feito ao meu sapato novo, consegui chegar ao tal do endereço que procurava.  Descobri, repentinamente, que além de ter estragado o belo scarpin preto, eu tinha desfiado a meia calça, bem na altura da canela.
Torta, tentando me equilibrar sobre o salto quebrado e o tornozelo lesionado, retirei um envelope destinado a um tal de Sr. Nicolau e segui toda desconjuntada à estação do metrô. São Paulo tem gente demais em seu subterrâneo! Quase me sentei naquela cadeirinha azul, destinada aos deficientes físicos. Bem que precisava, afinal eu estava contundida. Metrô lotado ao meio-dia, isso é coisa que ninguém merece! Experimentei acomodar-me melhor, um pouco mais longe do adolescente que carregava a mochila que a toda hora cutucava minhas costelas. Fui pisada no outro pé, aquele que restava são e salvo.
Assim que desci no metrô Vila Mariana, eu não tinha chão, ou melhor, parecia não ter. Caminhei me arrastando,  vendo estrelas e resmungando uns nomes impublicáveis, até visualizar à distância um oásis, quero dizer, uma loja de calçados. Comprei uma sapatilha de tecido laranja, a única sem salto, mas ela não combinava muito com meu tailleur azul-marinho. Pés mais felizes, consegui seguir em frente.
Toquei a campainha da casa do Sr. Nicolau, destinatário do documento urgente que retirei no escritório da Avenida Paulista. Acho, o Sr. Nicolau estava ausente, quem me atendeu foi um sujeito que latia desesperadamente: um cão da raça rotweiller. Irritado, pulava no portão, como quem diz: vou pegar essas sapatilhas laranja pra mim! Creio que, possivelmente , o cachorrinho não gostou de ter sido acordado com o som da campainha. Sem sucesso na minha empreitada, arrastei-me de volta ao metrô. Eu e minhas sapatilhas de cor “cheguei!”.
A volta pro escritório foi dolorosa, sofrida, um verdadeiro calvário. Eu não consegui atravessar rapidamente o farol de pedestres, na esquina do escritório. No meio do caminho, a coisa ficou feia, um motoboy apressadinho deu a largada antes de eu chegar à calçada e por pouco, muito pouco, não passou por cima de mim.
Quando sentei na minha mesa, Dona Dolores, a secretária do chefe, com sorriso forçado, sem disfarçar seu prazer em me ferrar, entregou outro envelope urgente, que eu deveria protocolar na Vila Sorococó, zona leste da cidade. Isso deveria ser resolvido em menos de duas horas. Lá fui eu de volta pro metrô. Preciso dizer que viajei em pé, de lá até o outro lado da cidade?
Cheguei em casa, Divo cheio de saudade me perguntou: querida, vamos dar umas voltinhas no parque para entrarmos em forma?
Em forma? Eu em forma? Isso significava exatamente o quê? Que estou fora de forma?
Ainda emendou o seguinte: nossa, que sapatilha horrível! Onde você achou isso?
Pois é. O dia foi longo. Meu trabalho não é moleza não. Ainda bem que existe a hora do recreio, quando corro pro blog e sublimo todos os meus “ais”, rindo, chorando, fazendo rir, fazendo chorar. Como diria Roberto Carlos: são muitas emoções!
Quanto às sapatilhas laranja, elas são bem confortáveis, mas a cor é um tanto berrante. Ofereci a Bono Latívio, meu cãozinho, que desde sua chegada em minha casa, sonhava em roer algum sapato meu. Achou uma delícia!
Este é o meu relatório de terça-feira. Dia em que eu não deveria ter saído de casa. Ah, se eu adivinhasse! Poderia ter dormido até as tantas, acordado na hora do almoço e depois me jogado no sofá para assistir à sessão da tarde. Pena, não tenho bola de cristal.




27 de mai. de 2012

ARROXO BANCÁRIO


Ela estava em plena TPM, era insuportável a presença dos seres humanos sobre a face da Terra. Parecia que a vida, repentinamente, conspirava contra si. Os nervos fritos e à flor da pele. Tamanha irritação se repetia mês após mês, há anos e anos.  Já tinha experimentado remédios caseiros, naturais, homeopatia, praticava yoga e fazia os exercícios de relaxamento. Nada, absolutamente nada, parecia servir de paliativo para o seu mal. 
Eis que resolveu apelar para aquele conselho que leu em uma revista feminina:  uma cinta modeladora, dessas com um tal de acessório magnético, uns botõezinhos mais finos que uma moeda de um real, embutidos no forro do tecido. Aquilo apertava tanto a barriga que a fazia sentir-se dentro de um espartilho. Imaginou como se sentiam Julieta, Scarlet O´Hara e a Dama das Camélias. Um tanto estrangulada, coube com folga em seu tailleur e lá se foi, meio asfixiada, rumo ao trabalho.
O maior problema, durante a manhã, foi ir ao banheiro. Uma ginástica, um malabarismo para livrar-se da cinta e, depois, novamente vesti-la. Já estava arrependida. Na hora do almoço decidiu comer o mínimo, para não sentir-se ainda mais arroxada naquela amarração toda. Comeu pouco e resolveu ir ao banco. Assim que tentou passar pela porta eletrônica, a coisa travou e aquela voz anônima disse: - “Deixe todos os objetos metálicos no compartimento ao lado”.
Ela se livrou do relógio, das chaves, do celular, mas nada da porta ser liberada. Já estava ainda mais irritada, seria capaz de fazer um strip-tease para provar que não portava armas, que não era uma ladra e sim uma cliente desejosa, simplesmente, de falar com o gerente da agência.  Oito tentativas em vão, a fila de clientes atrás de si aumentava mais e mais. Formou-se um coro de reclamantes, todos apressados, sem tempo, afoitos para ingressar no banco. Por fim, o vigilante da agência disse: - "Senhora, tire todos os objetos metálicos!". Pensou alguns instantes e eis que concluiu: a cinta!
Já fazia quinze minutos que ali estava, travando o acesso de todos ao banco, um centro de atrações tragicômico, patético. Não hesitou, levantou a saia e contorcendo-se, revirando-se, sob aplausos, vaias e xingamentos, tirou a cinta e a depositou no tal compartimento destinado aos objetos metálicos. Finalmente, seu acesso à agência do banco foi liberado.  Tudo filmado e fotografado por celulares de clientes indignados, apaixonados, curiosos e atrasados para seus compromissos.
Nesse dia, ela conseguiu melhores taxas para aquele empréstimo que tanto desejava. O gerente, com olhar safado e um tanto  encantado para suas pernas, suspirava de vez em quando.  Ah, essa TPM! Ao menos foi encontrado um aspecto positivo para tamanho suplício. Quem diria que seu sofrimento mensal poderia causar a queda dos juros bancários e render um vídeo no Youtube, que já conta mais de cem mil acessos?

26 de mai. de 2012

SÓ... PRA QUEM ANDA DEVAGAR!


Tenho conversado com várias pessoas via e-mail e MSN. Sempre o tema é: amor, esse alienígena sem manual de funcionamento. Alguns sofrem porque o perderam. Outros, porque estão atravessando um problema no casamento, ou namoro. Tem aquelas pessoas que estão recém-separadas e, de tanto receio de repetir a dose, perdem a chance de ter o novo par. Há os solitários que tentam, mas não encontram esse bicho do outro planeta. Enfim, um abismo de desencontros sem fim.
Essa engenhoca complicada deveria ter um SAC, tal e qual as geladeiras, os computadores e automóveis. Mas, somente a experiência de vida pode nos ensinar a lidar com os vai-e-vem, os altos e baixos de um relacionamento amoroso. Não importa o estado civil, ou o tipo de relacionamento que alguém está vivendo. Nem se conheceu o par ontem ou há várias décadas. O amor é pra quem se dispõe a amar de peito aberto e sem medo de altura ou de velocidade. Acho que a grandiosidade desse sentimento é para os incautos, pra quem não anda devagar. Pra quem derruba a melhor taça de cristal e ri, olhando os caquinhos espalhados pelo chão.
 Nem em versos amor rima com distância. Tem que se fazer presente, para conjugar o verbo amar. Portanto, aos que estão sofrendo a dor, desejo que não tenham calma, que não andem devagar. Aos que encontraram o amor, desejo que jamais metam o pé no freio, especialmente, quando o par engatar a primeira marcha. Jamais relaxem! O desleixo afastará depressa o ser amado e resgatá-lo vai exigir demonstrações públicas de afeto. Trabalheira danada! Mesmo sem um manual de instruções, espero que o aprendizado aconteça até mesmo na ausência. Não existe a menor chance de alguém ser feliz sozinho. Portanto, coragem e boa sorte! Vamos à luta porque no amor só não vale a guerra!

Texto que publiquei há três anos no saudoso blog Janela das Loucas.

25 de mai. de 2012

VIVENDO PERIGOSAMENTE


Será que a distração é uma característica da minha personalidade, ou será que a dita cuja é meu defeito de fabricação? Quando cheguei a este mundo, já aportei no planeta atrapalhada. Em plena segunda-feira à tarde, quase nasci dentro de um táxi.  Daí em diante, a sucessão de confusões tornou-se inumerável.   Deve ser a conjunção dos astros, provavelmente. Troco o nome das pessoas, esqueço o celular em casa, perco tudo e não encontro nada. Sempre entro em confusão! 
A mais recente desventura aconteceu ontem à noite. Em casa, enquanto Divo assistia ao jogo de futebol na TV, peguei o cãozinho Bono e o levei comigo pra cozinha. Escolhi um chá de saquinho, uma xícara de porcelana antiga, mel para adoçar, limão para abençoar o sabor da bebida. Sentei-me confortavelmente na sala, o cãozinho carinhoso aos meus pés. Que mundo perfeito!
Eis que comecei a sentir um cheirinho de queimado, que rapidamente se intensificou. Da sala pude observar fumaça proveniente da cozinha. Corri, derramei o chá, o cãozinho cruzou meus pés e me fez tropeçar. Escorreguei no tapete da cozinha, bati a cabeça no batente da porta. Despertei sendo lambida por Bono, o cão carinhoso, enquanto ouvia Divo gritar “goooooooooooooool”! 
Não sei como que o apartamento não pegou fogo. Bono, nada bobo, lambeu todo o chá esparramado pelo chão. A xícara já era, desfez-se em dezenas de pedacinhos miúdos. Eu tinha esquecido a chaleira de água sobre o fogo brando do fogão, eis o motivo da fumaceira. Se Divo compareceu para me socorrer? Não, de modo algum. Sequer desconfiou deste episódio atrapalhado. Minha única testemunha tem quatro patas, pareceu preocupado comigo.  Quando voltei pra perto de Divo ele me disse: - Pega pra mim outra cerveja? Ele disse isso sem olhar pra mim.
O galo em minha testa está enorme. Hoje de manhã, Divo olhou na minha direção, finalmente, e fez a seguinte observação: - Amor, acho que você sujou seu rosto de maquiagem, está meio preto aqui, pertinho da sua sobrancelha.
Um tanto atrapalhada, esquecida, desligada. Ainda bem que agora eu tenho ao meu lado um valente protetor, meu fiel escudeiro: Bono Latívio, o cachorrinho. Quanto ao Divo, ele adora futebol. Que beleza!

24 de mai. de 2012

O AMOR EM MIM


Não sei amar mais ou menos, nem pela metade. Todo amor é incondicional. Amo incondicionalmente minha família, meu marido, meus amigos, meu cãozinho. Eu me amo de modo incondicional.
Amo a chuva fria que cai inclemente, tanto quanto amo os dias ensolarados, o tempo frio e o quente. A segunda-feira enjoadinha, essa eu amo tanto quanto a véspera do feriado e a noite de sexta-feira. Amo andar descalça,  amo o sabor do café, amo o silêncio e o burburinho de vozes ao redor da mesa do almoço de domingo. Amo o sorriso largo, o olhar indagativo, os gestos afetuosos, eu amo  rock, valsa e até forró aprendi a dançar. Amo o mar, a montanha, a cidade grande, eu amo trabalhar.
E amando tanto assim, amo escrever pra você que aqui chegou navegando por este mar cibernético. Leitor, seja lá quem você for, sinta-se amado por mim. De tanto amar perco a hora e rio de mim. Esta sou eu, eu sou assim.

23 de mai. de 2012

DELÍRIO FEBRIL


Após a vacina contra gripe, contraí a própria. Enfim, estou gripada, mas dizem que é reação da dita cuja: a tal vacina. Amanheci com o corpo dolorido, a garganta irritada, vontade de fazer nada. A cidade de São Paulo em pleno caos, devido à greve dos metroviários. O trânsito cruelmente travado. O povo sofre!
De pijama e pantufinhas preparei meu café da manhã, enquanto mimava meu novo filhote: Bono Latívio, o cãozinho. Com frio, enrolei-me no edredom e assisti ao telejornal da manhã. Somente meus olhinhos pra fora da coberta. Eu e Bono, um mundinho momentaneamente perfeito. Tudo lá fora pareceu alheio à nossa felicidade, ao nosso aconchego. Coisa boa que é viver, que delícia ter um refúgio quentinho e seguro (esta ideia eu dividi com meu cãozinho). Friozinho bom esse da febre!
Vacina contra gripe? Teria sido melhor pegar a própria em alguma madrugada, na balada, ou em um banho de chuva, descalça e desajuizada. É o que farei, para testar sua eficácia, essa vacina que me aguarde! Apanharei a garoa paulistana, sem levar capa de chuva ou casaco impermeável. Molharei meus pés, as meias. Tomarei sorvete a caminhar contra o vento gelado. E depois, se eu sequer espirrar, saberei que a injeção que tomei ontem não valeu a pena.  Será que valeu? Afinal essa moleza, essa preguiça viral me obrigou a cancelar os compromissos chatos deste dia inusitado.
Indisposta, despeço-me. Até o próximo texto, sem tantos delírios febris.

21 de mai. de 2012

MINHA VIDA DE CÃO ( sobrevivendo ao Pipi Dog)


Duas horas da manhã, o novo morador de minha casa ainda não tinha resolvido obedecer ao meu comando inócuo, pra ele incompreensível. Bono Latívio, o cãozinho, continuava saltitante e determinado a dormir sobre minha cama. Mãe é mãe. Meu dever é educá-lo. A primeira noite foi um fiasco, depois de três horas chorando sem parar, resolvi deixá-lo dormir no meu quarto, aos pés da minha cama. A segunda noite também foi caótica, ele dormiu um pouquinho, a seguir acordou e chorou baixinho pedindo colo. Zanguei-me, falei qualquer coisa sobre hot-dog com ele que, finalmente,  se convenceu a ir pra sua caminha. Adormeci exausta. No relógio marcava 04h16 quando despertei. Bono estava sentado no tapetinho beira de cama, no lado que dorme Divo. Olhava fixo para nós e chorava baixinho. Assim permaneceu de modo persistente, porque despertei novamente às 05h13 e lá estava ele a choramingar. Novamente às 07h01  ele ainda continuava no mesmo lugar.  Quanta persistência! Senti pena. PENA DE MIM!
Comecei o dia zoadíssima. Preparei o café e, ao mesmo tempo, ofereci água e ração ao pequenino. Agora a novidade é que ele aprendeu a comer a ração em minhas mãos, isso desde que minha cunhada, bondosamente, assim procedeu. Não mais quer saber da ração dentro da vasilha. Era só o que faltava!
Minha cabeça começou a doer. Aquelas gotinhas de analgésico surtem efeito, desde que eu as tome logo no início da crise de enxaqueca. Bono aos meus pés resmungando, ele queria colo. Colo eu também queria, estava cansada, carente, meio demente. Precisava dormir!
Peguei as gotinhas pra “dor de cabeça” e pinguei-as, ao todo dez gotas, em meio copo d´água. O sabor amargo, desagradável. Certamente, eu estava com problema no fígado, afinal o sabor daquelas gotinhas costuma ser adocicado.
Continuei minha tarefa. Peguei o tapetinho higiênico sujo, passei desinfetante em todo chão, troquei o tapetinho por outro limpo e busquei aquelas gotinhas para ajudar o cãozinho filhote a fazer xixi no lugar certo, o tal do Pipi Dog. Não encontrei. Procurei, procurei,  procurei e... Oh! O Pipi Dog estava sobre a pia da cozinha! Pude então compreender que eu tomei 10 gotas de Pipi Dog, ao invés de analgésico pra dor de cabeça. Pensei em telefonar pro meu médico, para perguntar se haveria algum efeito colateral, mas o medo do ridículo falou mais alto. Telefonei pro veterinário, que se matou de rir. Não pude fugir do ridículo, infelizmente.
E assim começa o terceiro dia de mãe de cachorro, essa coisa linda que causa várias confusões na minha vida, mas vale muito a pena. Preciso aprender a educá-lo, por enquanto ele está à frente no placar, uns 10x0 para o cãozinho. Bono está se transformando em meu dono e eu, com profundas olheiras de noites insones, começo a recordar episódios que passei com meu filho ( humano) quando ele veio da maternidade. Bebês, humanos ou de quatro patas, mudam a rotina da gente. Hoje, dia de consulta no veterinário. Penso em pedir  ao doutor um sonífero: pra mim!

18 de mai. de 2012

BONO LATÍVIO, MEU FILHO DE QUATRO PATAS


Sou alguém que não suporta o esquecimento. Por isso mesmo, antes que o dia 19 de maio chegasse, avisei a Divo Latívio: - meu bem, não esqueça que dia 19 será o nosso aniversário de casamento.
Ele pareceu ter escutado, porque me disse que sairíamos na véspera, sexta-feira. E eu, pelo sim, pelo não, tratei de preparar a comemoração a dois. Comprei champanhe, velas, flores. Não era pra macumba, quem pensou nisso?
Fui ao cabeleireiro e não fiz economia. Tintura, hidratação dos cabelos, escova, manicure, pedicure, depilação e maquiagem.  Eu não conseguia parar de pensar no que eu ganharia de presente. Uma viagem pra Buenos Aires? Um anel de brilhantes? Talvez, algo mais simples, afinal eu me contentaria com um tablet!
Voltei pra casa cheia de planos e sonhando alto, muito alto. O romantismo tinha batido à minha porta. Planejei pelo caminho o que eu vestiria à noite, talvez um vestido justo, preto, decotado. Um tanto “periguete” o visual, mas eu sabia que ele iria babar!
Cheguei ao nosso andar, coloquei a chave na fechadura e escutei um som de latido, que parecia vir do apartamento vizinho. Pensei: “Essa gente não aprende. Cães não deveriam morar em apartamentos”.
Assim que abri a porta de casa fui recebida com festa. Divo estava em casa e a festa quem fez foi um cãozinho miúdo, que de tão peludo parecia um novelo de lã.
O meu “anel de brilhantes” tem olhos castanhos e redondinhos, pelos macios, é carinhoso e parece sorrir. Um Shih-Tzu. Seu nome? Bono Ozzy Mercuri Jagger Presley... Latívio.
A minha “viagem pra Buenos Aires”, abanando o rabinho, me fez cancelar a celebração a dois, afinal agora somos três. Já era mais do que tempo de aumentarmos a família. Seja bem-vindo, meu filhinho de quatro patas!

17 de mai. de 2012

À DIVA DONNA SUMMER


O final da década de 70 e o começo da década de 80 assistiram à minha adolescência. A música daquela época marcou essa fase.  Momentos inesquecíveis. Os bailinhos de garagem, o primeiro beijo, a turma de amigos, os colegas de escola. Inesquecível!  A gente dançava solto, às vezes juntinho e de rosto coladinho.  
Exemplo dessa época  é o ator John Travolta e o filme Saturday Night Fever, a trilha sonora que até hoje guardo no antigo vinil. Sou colecionadora dos “bolachões”, ouvidos no moderno toca-discos estilo retrô.  Saudosista, talvez, mas aquele tempo eternizou seus segundos. Tudo era belo, inocente e as melodias eram contagiantes. Algo especial acontecia naquela fase: tudo era mágico, o mundo parecia perfeito.
Eu tinha uma cantora favorita, no primeiro acorde da canção “I Feel Love”, eu corria pra pista de dança. Donna Summer, sua voz perfeita, seu ritmo envolvente, era a intérprete dessa música.
Diva, esse o adjetivo que melhor define Donna Summer. Hoje, o Céu ganhou outra estrelinha e eu começo a desconfiar que, mais e mais, o coral de anjos está afinadíssimo. Talvez aconteça entre nuvens um bailinho celestial, com ritmo de discoteca, luzes negras, sequenciais, o infinito coberto de fumaça de gelo seco. Que festa!
Hoje, faleceu uma de minhas “divas” favoritas. Donna Summer, você deixará saudade.


 

16 de mai. de 2012

REFLEXÕES DE DIVA LATÍVIA


Faz alguns dias que, de repente, parei de escrever. Atribuí tamanha falta de inspiração à correria diária, aos muitos compromissos do dia-a-dia. Cá entre nós, parei de escrever no dia em que amanheci triste e sem a menor vontade de comentar o meu problema com alguém. Ensimesmada.
Dizem que a decepção não mata, que essa danada nos ensina a viver. Creio que aprender a viver sob o crivo da tristeza, isso não é um jeito bom de atravessar a existência.  Sobreviver não é o mesmo que viver e, penso assim, eu sobrevivi a muitas desilusões. Amigos deveriam ser irmãos sem laços de sangue. Às vezes, com um pouco mais de sorte, irmãos biológicos são amigos. Nos últimos dias a amizade, a lealdade, o respeito, a cumplicidade, e a falta disso, me levou a refletir e compreender que nem todo aquele  que considero amigo, realmente o é.  
Lembrei-me de minha avó, ao dizer do alto de sua sabedoria que nesta vida pode existir ex-patrão, ex-namorado, ex-marido,  ex-amigo, mas que não existirá jamais ex-filho, ex-mãe, ex-pai, ex-irmão, esses têm o DNA, os genes semelhantes aos nossos e, invariavelmente, nos acompanharão durante um período de nossas vidas, quer a gente queira, ou não. Tenho sorte com minha família, muita sorte. O mesmo sangue, o mesmo sorriso, as mesmas maluquices. Quando nos reunimos é para rirmos adoidado, por assim dizer.
Mas, e os amigos? Amigo real, que se tornou amigo virtual. Amigo que se limitou a enviar mensagens pelo Facebook, por exemplo?  Será que surgiu um novo tipo de amizade, a amizade que cabe em vários “gigas” de um pendrive? Eu mesma, não me conformo com essa modernidade gelada, cinzenta, ocasional. Não quero ter amigos virtuais, quero amigos REAIS, que me olham dentro dos olhos, sentados no sofá de minha sala. Enjoei da internet, sinceramente.
Ex-amigo. Dolorosa constatação, isso existe.  O preço que pago, devido a essa tristeza, é a falta de vontade de escrever. Preço altíssimo  pago por esta escritora amadora, preço pago à vista por Diva Latívia.
Enquanto reflito calada, leio o chamado dos meus leitores, o pedido de um novo texto. Descubro que gente anônima faz parte de minha família virtual. Uma família que se encontra online, que se identifica com as lágrimas, ou com as gargalhadas. Faca de dois gumes, posso dimensionar o risco de isolamento social, especialmente quando acontece o distanciamento do mundo real.
Minha missão é esta: não parar de escrever. Mas, hoje estou sem a menor vontade de digitar palavrinhas.   Amizade real que se tornou semi-virtual. Algo esquisito, que não combina com a minha alma que implora todos os sentidos de modo real.
Tento encontrar o fio da meada, voltar às boas com este blog. Até lá, leitores, peço desculpas. Pela primeira vez em vários anos, faltam palavras, falta o impulso mágico que fez de mim Diva Latívia. Talvez, seja este o momento de eu escrever o meu primeiro livro, diminuir o ritmo de minhas publicações neste blog ( textos diários). Estou em fase de reflexão, um tanto reclusa virtualmente. O meu sol está a brilhar longe do computador, para aqueles que me olham, me escutam, para os que me conhecem realmente. A virtualidade está em xeque... mate?
Voltarei em breve, quem sabe dentro de poucas horas? Talvez, dentro de alguns dias. Enquanto isso, que tal visitar minhas publicações anteriores? Há centenas de textos nos arquivos do blog e, estou certa disso, vocês se identificarão com alguns deles. Voltarei logo! Estejam certos de que, dessa incubação, surgirá novo ânimo e muitos novos textos.

Diva Latívia



15 de mai. de 2012

CASAMENTO: COMO EDUCAR O SEU MARIDO

Férias, coisa boa de viver! Especialmente quando merecidas e, principalmente, quando usufruídas em família, em dupla, bem acompanhado. A notícia chegou aos meus ouvidos, deu duas voltas na minha cabeça oca e, por fim, me deixou mal-humorada. Divo Latívio pediu férias, para ficar em casa, para assistir na TV à Sessão da Tarde, dormir em horário comercial, perambular pelo apartamento vestido com seu pijama de listras azuis, calçando chinelos com meias.
E eu?  Férias sem mim? Eu acordo em horário escravo, corro contra o tempo, para alcançar o ônibus da linha 0666, que passa de meia em meia-hora lotadíssimo, rumo ao centro da cidade. Trabalho o dia todo, depois volto pra casa com os pés doloridos, o esqueleto dando sinais de cansaço.
Outro dia, voltando do trabalho, abri a porta de casa e encontrei Divo jogando videogame, ouvindo música em volume altíssimo, comendo pipoca. A bagunça do apartamento me fez querer dar meia-volta e correr novamente pro escritório, ao menos naquele recinto eu poderia sentar-me em uma cadeira, sem ter que varrer, lavar, limpar a sujeira, recolher objetos espalhados pra todo o lado.
Ontem o dia foi longo e os compromissos profissionais me obrigaram a tomar chuva, involuntariamente. Minha cabeça doía terrivelmente. Encontrei Divo deitado no sofá da sala. Sobre a mesa de canto jazia um prato com restos de um sanduíche de salame. No chão, junto à poltrona lateral, um copo meio cheio ( ou meio vazio) contendo refrigerante. Meu edredom, aquele que voltou há poucos dias da lavanderia, estava no chão, sobre o tapete e sob um pacote de salgadinhos. Migalhas de pão ilustravam o veludo de cor esverdeada do sofá. Divo dormia profundamente, semblante sereno. Bati a porta da sala, tamanha a raiva que senti ao vê-lo tão sossegado, em meio àquela confusão.
Acordou sobressaltado. – Que horas são? – Boa noite, Divo. Agora é exatamente a hora de você levantar daí e limpar tudo o que sujou.
Ele nada respondeu.Passei direto pro quarto, sem olhar pra trás. Iradíssima. Tomei um banho demorado, depois voltei pra sala. Divo tinha voltado a dormir.
Na cozinha o cenário era ainda mais caótico. A frigideira contendo meia lata de óleo estava sobre o fogão. O fogão estava sujo, tinha cebola sobre um dos acendedores. No chão, cascas de dentes de alho, espalhadas sobre o tapetinho antiderrapante .  Seis panos de prato estavam em uso, dois deles sujos de molho de tomate, um queimado na beiradinha e dois totalmente engordurados. A pia estava lotada de louça pra lavar. Contabilizei: três pratos de sobremesa, dois pratos rasos, um prato fundo, duas travessas, duas panelas, quatro copos, uma xícara de chá, seis garfos, quatro facas, duas colheres e o escorredor de arroz.
Desisti de ser boazinha. Resolvi sair pra dar uma voltinha. Ao sair, bati novamente a porta da sala com força e, desta vez, abri novamente pra ter certeza que Divo tinha acordado. Achei pouco, abri e fechei a porta novamente, sem a menor compaixão. Divo acordou, escutei um resmungo qualquer a respeito do barulho.
Fui ao cinema, assisti a um filme lindo, uma história romântica e com final feliz. Depois, comi um lanche. Olhei meu celular, havia três chamadas de Divo, que não atendi.  Eram 23h30 quando voltei pra casa. A sala arrumada, a cozinha limpinha e Divo dormindo feito um anjinho no quarto.  Creio, aprendeu a lição. Educar um marido não é fácil, mas essa missão é possível!

13 de mai. de 2012

À MINHA MÃE

Hoje, Dia das Mães.
Amanheci admirando as flores que recebi do meu filho. Sentei-me em uma cadeira da sala de jantar, toquei as pétalas das rosas vermelhas miudinhas, delicadas. Meus olhos tentaram permanecer aqui, neste plano, mas meu coração viajou pra muito longe daqui.
Saudade é o mais complexo de todos os sentimentos. Saudade de alguém que partiu pro infinito é a mais triste de todas as sensações que já provei nesta existência.Saudade de minha Mami, com quem eu celebrava este domingo, todos os anos. Saudade daquela que me conhecia tão bem, de quem eu não conseguia ocultar absolutamente nada. De seu abraço protetor, indulgente, quente. A sensação de desamparo me fez chorar. Orfandade.Mães deveriam ser eternas. Ora, o que estou dizendo? Mães são eternas!
Mami, querida, segue aqui mais uma homenagem. Este dia, apenas uma data. Outra data que celebro sem sua presença física, mas com a certeza que um dia, um lindo dia, de novo estaremos juntas e celebrando a vida. Eternamente. Saudade!

9 de mai. de 2012

DIA DAS MÃES

Mãe, você não está mais aqui, mas seu perfume continua na casa. Seus ensinamentos eu tento realizar. Seu amor jamais esquecerei. Sinto sua falta, tanta que se eu pudesse voltaria no tempo só pra, de novo, te abraçar. Vejo as fotos e volto à infância. O aroma de bolo vindo da cozinha, seu riso, sua voz. O que você me diria? O que aconselharia? Tento conectá-la e a encontro dentro do meu coração. Mãe, saudade! Deixo aqui a minha homenagem.
A  todas vocês, mães, Feliz Dia das Mães.

5 de mai. de 2012

Já que o blog é meu... UMA DECLARAÇÃO DE AMOR!


Aquilo o que me faz feliz brilha nos olhos seus! E eu, feito espelho, tento ajeitar a franja na minha testa, ao ver-me refletida no seu olhar. Seu sorriso inspira o meu sorriso. 
Suspiro, sem sequer me dar conta do por que. Ah, você!  O beijo mais doce que provei.  O abraço que me protegeu. Nós. Conjugar todos os verbos na primeira pessoa do plural.  
Não posso passar mais nenhum dia sem você. Viva! Finalmente, eu sou feliz!


AQUILO O QUE "FAZ-ME RIR", INFELIZMENTE!


Assistir ao noticiário televisivo, ler notícias nos jornais, na internet, ouvi-las no rádio. Isso se tornou, pra mim, uma espécie de sacrifício que exige resistência emocional e até física. Meu estômago tem dado voltas e mais voltas, especialmente quando o tema é a falta de consciência, de respeito ao próximo, quando a origem da questão é o desamor.  Difícil recebermos uma notícia animadora, positiva. O desvio de dinheiro público, políticos que prometem o que jamais irão cumprir, acidentes trágicos, crimes diversos, injustiças muitas. A miséria, a fome, a dor. Onde encontrar a solução pra tamanho caos em nossa sociedade?Se cada um é responsável pelo resultado que temos agora, então eu tenho minha parcela de culpa em tudo isso. E você, leitor, leitora, infelizmente também é parcialmente responsável, afinal sua arma é o VOTO. 
Outro dia, estava saindo de uma agência bancária aqui, na minha cidade. Uma senhora idosa, idade aproximada de minha avó, caiu em um buraco na calçada, deixado por trabalhadores da companhia de água e esgoto. Um serviço que estava em andamento, de modo desleixado, lerdo e mal feito ( pra variar).  Ferida, foi auxiliada por mim e outros transeuntes.  E eu pensei no mundo que só piora, ao invés de melhorar. O que custava a aqueles trabalhadores terem deixado o entulho da obra encostado em um cantinho da calçada, colocado um alerta para orientar os pedestres? Falta de treinamento, talvez. Mas, acima de tudo, falta de consciência e civilidade. Desde o gesto simples de quem atira um papel no chão da rua, até atravessar o semáforo fechado, isso tudo é total falta de respeito ao próximo. Quantas situações ruins podem ser evitadas, desde que cada um de nós respeite normas simples de convivência? 
Perto de minha casa funciona um estabelecimento comercial clandestino, um bar. Nesse recinto, durante as noites dos finais de semana e feriados, comparecem conjuntos musicais e são muitos os frequentadores do local. Barulho que começa às 19h00 e segue até a madrugada. O volume do som, bem como o volume da cantoria, dos risos, gritos e brigas dos frequentadores, tudo isso impede o descanso daqueles que residem nas imediações desse bar. Resolvi denunciar o estabelecimento à prefeitura do meu município. Surpresa! Para denunciar ao “Psiu”, ou Programa de Silêncio Urbano, teria eu que me identificar, com nome, RG, telefone, endereço. E, para completar, esse comerciante irregular saberia quem sou. A medição do desrespeitoso ruído seria feito a partir de minha casa. E eu estaria à mercê da ira de alguém que, a princípio, é um péssimo cidadão, alguém que não recolhe impostos por ser clandestino, alguém que não se importa com a coletividade e que, talvez, poderia querer vingar-se de mim e de minha família.  Essa denúncia não pode ser feita anonimamente, isso antigamente era feito de modo anônimo, mas foi modificado.  É preciso dizer que essa mudança de regra favorece a um grupo reduzido, trata-se de uma jogada que beneficia meia-dúzia de interessados?
Tentei resolver isso falando com outros moradores, com vizinhos, mas o medo de ser identificado é geral. É o mal vencendo o bem. Ser correto, ser honesto é o mesmo que ser um “babaca”, sou exemplo disso.  Para dormir, tenho usado protetores de ouvido, aquelas bolinhas de silicone acopladas às orelhas. Incômodo, muito! Ando cansada, as noites têm sido mal dormidas. E, enquanto isso, nós, os cidadãos do bem, acordamos cedo para trabalhar e pagar os nossos impostos. Por essas e outras, as notícias têm chegado aos meus sentidos de modo agressivo.  Em quem confiar, se as leis são feitas sob medida para proteger quem trabalha de modo irregular, quem infringe leis e normas básicas de convivência?  Farta da falta de respeito, da falta de punidade, da falta de humanidade. Eu, cidadã, refletirei muito antes de votar neste, ou naquele candidato à Prefeitura e à Câmara Municipal de São Paulo. O meu voto será para quem demonstrar seriedade e capacidade de mudar minha cidade para melhor. Se esse candidato não existir, meu voto será NULO.  Sim, leitor, leitora, amanheci mal-humorada. A noite foi longa, ao ritmo de pagode, axé e música sertaneja. Ritmos que respeito, sem preconceito. Para dormir, mereço o silêncio. Eu mereço e você, que dá um duro danado todos os dias, merece também! E se a Prefeitura do Município de São Paulo dispuser-se a resolver a questão, basta entrar em contato comigo, que ANONIMAMENTE denunciarei o estabelecimento infrator. Leitores, sabem quando eles vão se preocupar comigo, ou com tudo isso? Isso faz-me rir, infelizmente.

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/zeladoria/psiu/index.php?p=8831

4 de mai. de 2012

DESVENTURA MATINAL


Desde que eu era criança nada parecido ocorria. Era muito cedo quando acordei e, quando acordo, pareço sonâmbula. Mal sei quem sou, onde estou, ou pra onde vou.  Levantei-me e fui ao banheiro.  Lembro que acionei o botão da descarga do vaso sanitário, lavei as mãos e o rosto, depois fui à cozinha preparar um café forte. Liguei o rádio na minha estação preferida: música dos anos 80. Deixei a mesa do café da manhã posta e resolvi tomar um banho. Adorava minhas pantufinhas cor-de-rosa, elas eram tão quentinhas e aconchegantes! Senti um certo desconforto ao escutar algo mais ou menos assim: shlept, shlept, shlept! Zoadíssima, meio dormindo, deixei isso pra lá. 
Quando entrei no banheiro, a descarga continuava acionada, aquele sachê perfumado tinha caído dentro do vaso sanitário e restado apenas o ganchinho de plástico transparente, que o prendia à tampa do vaso. Mau sinal: onde teria parado o artefato perfumoso?  Péssimo sinal. Dei uns tapas no botão da descarga, que pareceu gostar muito de apanhar. Masoquista, continuou disparado.  Aquela água com xixi vazava até o chão do banheiro. Comecei a acordar! Talvez, a privada tivesse engolido o sachê. Possivelmente, ela estava entupida! Passei a procurar o registro do banheiro, eu tinha que cortar aquela cachoeira! Minhas pantufinhas cor-de-rosa, pude descobrir naquele momento, soltavam tinta. A barra da calça do meu pijama, outrora amarelinho, estava alaranjada.  
Desliguei um registro meio emperrado, mas a descarga continuou disparada e indiferente ao meu suplício. Lá no alto, bem na penúltima fileira de azulejos, havia outro registro. Por exclusão, tinha que ser aquele! Lá fui eu pela casa, à procura de um banquinho, escada, algo que me ajudasse a alcançar o dito registro da descarga. Já descalça e com o pijama dobrado até à altura dos joelhos, eu tremia com o frio de 12 graus, que só piorava ainda mais a minha situação.  Não encontrei a escada, que provavelmente não tinha sido devolvida pela vizinha do apartamento 32, a Raimundinha. Assim, escolhi aquele banquinho da cozinha, o mesmo que estava com as perninhas um pouquinho arqueadas, devido ao peso de Divo Latívio. 
A água já tinha invadido meu quarto, o tapetinho beira-de-cama com estampa imitando tapete persa já era! Mais do que depressa, subi no banquinho e rosqueei o registro pra direita, sentido obrigatório para fechar uma torneira. Girei, girei e ... créc! O banquinho arriou, me segurei no registro e a coisa emperrou. 
Sem mais saber o que fazer, peguei o interfone e chamei a portaria. Atendeu o Severino, porteiro. Expliquei o ocorrido, ele prometeu subir para resolver o problema, porém demorou uns quinze minutos. A água já tinha alcançado a sala. Perguntou se eu tinha um grifo, devo ter feito cara de burra, porque essas coisas eu não tenho em casa! A essa altura, o vizinho do apartamento 31 apareceu na minha porta e tentou ajudar. E eu, doida, ensopada e de pijama, com um rodo a puxar a água pra qualquer lado. A água invadiu o corredor, desceu pelo elevador e deixou nada menos que 200 moradores a pé, pela escadaria.  O relógio marcava 08h30 quando resolveram fechar a água do prédio todo. Sem elevador, sem água e eu atrasada pra ir pro trabalho. 
O conserto foi feito, precisei mandar trocar o registro do banheiro, consertar a descarga,  desentupir a privada, chamar a faxineira para limpar o apartamento, mandar os tapetes pra lavanderia e jogar no lixo minha querida pantufinha cor-de-rosa. Ufa! Quando o encanador mostrou o que havia caído dentro do vaso sanitário, fiquei admirada! O sachê perfumoso estava acompanhado de um vidro de desodorante, que tinha caído de uma prateleira que fica sobre o vaso sanitário. E eu, que sempre saio da cama parecendo uma zumbi, cheguei a imaginar que aquilo fosse um pesadelo, mas era real e custou caro, muito caro! Uma desventura matinal, coisa natural na vida de Diva Latívia.

3 de mai. de 2012

AVISO IMPORTANTE: ESTA CONVERSA PODERÁ SER GRAVADA, PARA A SUA SEGURANÇA...

 - Oi, sou a charmosinha39 do Brejo Perfeito!
- Prazer, sou o Sânscrito.
- Me chamo Dileide e você?
- Alberto.
- Ai que nome de rei... Mora em Sampa?
- Sim, sou da cidade de São Paulo e você?
- Também sou de Sampa, centro,conhece?
- Conheço de nome...rs...
- Quantos anos você tem?
- 52 e você?
- 27!!!
- Não escreveu no site que tem 39?
- Eu aparento 27. Tem foto sua?
- Tenho esta foto que você está vendo aqui.
- Manda agora?
- Assim que possível, agora estou trabalhando.
- A essa hora?????
- Pois é.
- O que você gosta de fazer quando não está no trampo?
- Escrevo, leio, ando de bicicleta, vou ao cinema, fico em casa sem fazer nada. E você?
- Não faço nada também. No que você trabalha?
- Oficial da marinha.
- Marinha? Que chique! Você é general?
- Não, sou capitão.
- De navio?
- Vou lhe dizer a verdade. Sou jornalista.
- Jornalista? Muito punk isso!!!!! Da Globo???????
- Não, trabalho em um jornal.
- Fala sério! Conhece a Globo, né?
- Conheço, tenho televisor em casa.
- Conhece algum artista famoso?
- Conheço sim, vejo um todos os dias de manhã quando faço a barba
- Legal! atualmente tá escrevendo pro Jornal Nacional?
- Já te disse. Darlene preciso sair, estou ocupado escrevendo pro meu blog.
- Blog? TÔ BEGE! Me passa? Meu nome é Dileideeeeee!!!
- Pois não, anote o link do blog.
- Nossaaaaa!!!! Que blog maravilhoso de lindo!!!! Esse na foto é você?
- Não, é um cantor cubano, o nome dele é Hermógenes Lagreca.
- Ele canta tango?
- Não.
- Você entrevistou o cara?
- Não.
-Faço qualquer coisa pra entrar na Globo! - Sou fã do Luciano Huck! - Conhece a Angélica? - Fala a verdade pra mim, você é o Pedro Bial e não quer que eu descubra! Tô loka pra ir pro BBB!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! - Eu curto a Ana Maria Braga, ela é muito linda, né? - Oi, psiu, tá aí ainda? - Quando encontrar o José Mayer diz pra ele que eu amo ele! Não esquece que eu quero ir pro BBB, dá uma força viu? Tá aí? Psiuuuuu!!!!

Alerta do MSN: “Sânscrito parece estar offline. As mensagens serão entregues quando esse contato entrar”.

 Há três anos, no blog Janela das Loucas, Abílio Manoel e eu nos divertíamos reunindo histórias provenientes dos sites de relacionamentos. A maioria dessas histórias era capturada no "Brejo Perfeito", este o apelido que encontramos para um conhecido site de namoro. Sapos, rãs, pererecas e muitas risadas madrugada afora, foi assim a nossa experiência no saudoso blog, com o saudoso Abílio. Lembranças, saudade e muitos textos, esse o saldo que trago comigo. Hoje encontrei este texto, uma dupla que se conheceu no "Brejo" e resolveu prosear no MSN. Resolvi publicar novamente, dividir com vocês um pouquinho do Janela das Loucas. 

2 de mai. de 2012

DESASSOSSEGO


O leão rugiu, o tempo urgiu. Tirei uns dias de folga, fuga pura e simples da correria paulistana. Aproveitei o feriado prolongado pra tentar descansar. Na malinha roupas de meia-estação, afinal costuma fazer calor naquela bucólica cidadezinha interiorana. Eis que a temperatura caiu tanto que, para aquecer-me, passei a vestir todas as camisetas, todas as blusinhas de manga comprida, arrumações sobrepostas. Parecida com a abominável mulher de São Paulo, pois sim! Não caiu neve, mas meus ossinhos ficaram doloridos devido à friagem. Sair para comprar um casaco, isso pareceu pouco econômico, afinal meu salário ainda não chegou. 
Chegadas e partidas, voltando ao leão que rugiu, declarar o imposto de renda me deixou tão estressada que abri uma garrafa de vinho, me embrulhei em uma mantinha de lã xadrez, e tratei de esquecer o quanto dói uma mordida, bem na altura do bolso traseiro da calça. 
Quatro dias de pretenso descanso, admirando as montanhas, ouvindo o canto dos passarinhos e tentando afastar todos os pensamentos numéricos que me assombravam. Cantarolei algo antigo que dizia: “tem que pagar pra nascer, tem que pagar pra viver, tem que pagar pra morrer”. 
O feriado voou a jato. Quarta-feira louca, corrida, eu com minha echarpe de seda a voar pelas ruas da cidade. Passos rápidos contra os minutos do relógio. Saudade dos passarinhos, das montanhas, do cobertorzinho! No abraço aconchegante de Divo reencontrei a serenidade neste começo de noite de quarta-feira. Amor, o melhor antídoto contra todo e qualquer desassossego.