Duas horas da manhã, o novo morador de minha casa ainda não
tinha resolvido obedecer ao meu comando inócuo, pra ele incompreensível. Bono
Latívio, o cãozinho, continuava saltitante e determinado a dormir sobre minha
cama. Mãe é mãe. Meu dever é educá-lo. A primeira noite foi um fiasco, depois
de três horas chorando sem parar, resolvi deixá-lo dormir no meu quarto, aos
pés da minha cama. A segunda noite também foi caótica, ele dormiu um pouquinho,
a seguir acordou e chorou baixinho pedindo colo. Zanguei-me, falei qualquer
coisa sobre hot-dog com ele que, finalmente,
se convenceu a ir pra sua caminha. Adormeci exausta. No relógio marcava
04h16 quando despertei. Bono estava sentado no tapetinho beira de cama, no lado
que dorme Divo. Olhava fixo para nós e chorava baixinho. Assim permaneceu de modo persistente,
porque despertei novamente às 05h13 e lá estava ele a choramingar. Novamente às
07h01 ele ainda continuava no mesmo lugar. Quanta persistência! Senti pena. PENA DE MIM!
Comecei o dia zoadíssima. Preparei o café e, ao mesmo tempo,
ofereci água e ração ao pequenino. Agora a novidade é que ele aprendeu a comer
a ração em minhas mãos, isso desde que minha cunhada, bondosamente, assim
procedeu. Não mais quer saber da ração dentro da vasilha. Era só o que faltava!
Minha cabeça começou a doer. Aquelas gotinhas de analgésico
surtem efeito, desde que eu as tome logo no início da crise de enxaqueca. Bono
aos meus pés resmungando, ele queria colo. Colo eu também queria, estava
cansada, carente, meio demente. Precisava dormir!
Peguei as gotinhas pra “dor de cabeça” e pinguei-as, ao todo
dez gotas, em meio copo d´água. O sabor amargo, desagradável. Certamente, eu
estava com problema no fígado, afinal o sabor daquelas gotinhas costuma ser
adocicado.
Continuei minha tarefa. Peguei o tapetinho higiênico sujo,
passei desinfetante em todo chão, troquei o tapetinho por outro limpo e busquei
aquelas gotinhas para ajudar o cãozinho filhote a fazer xixi no lugar certo, o
tal do Pipi Dog. Não encontrei. Procurei, procurei, procurei e... Oh! O Pipi Dog estava sobre a
pia da cozinha! Pude então compreender que eu tomei 10 gotas de Pipi Dog, ao
invés de analgésico pra dor de cabeça. Pensei em telefonar pro meu médico, para
perguntar se haveria algum efeito colateral, mas o medo do ridículo falou mais
alto. Telefonei pro veterinário, que se matou de rir. Não pude fugir do
ridículo, infelizmente.
E assim começa o terceiro dia de mãe de cachorro, essa coisa
linda que causa várias confusões na minha vida, mas vale muito a pena. Preciso
aprender a educá-lo, por enquanto ele está à frente no placar, uns 10x0 para o
cãozinho. Bono está se transformando em meu dono e eu, com profundas olheiras
de noites insones, começo a recordar episódios que passei com meu filho (
humano) quando ele veio da maternidade. Bebês, humanos ou de quatro patas,
mudam a rotina da gente. Hoje, dia de consulta no veterinário. Penso em pedir ao doutor um sonífero: pra mim!
4 comentários:
Parabéns, muito show sua rotina! Me identifico claramente com isso.
Deusa,
Bono tem agora 2 anos, ele aprendeu a dormir na minha cama, aos meus pés. De amigo se tornou meu filho, meu companheiro, meu protetor, meu confidente ( sim, eu falo com ele sobre tudo). Pelo jeito, você também é mamãe de um cãozinho. Se estiver ensinando pra ele o lugar de fazer xixi, esqueça isso de pipi dog, não funciona. Obrigada pelo comentário e volte sempre!
Cláudia
Parabéns.... ri muito com a sua historia e me identifiquei muito com ela. muito bom!!!!!
Oi, Luciana!
Agora meu filhote cresceu, se tornou um grande amigo, muito carinhoso e muito leal. Que bom que gostou do texto, venha sempre ler as minhas histórias! Beijo.
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