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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







29 de mai. de 2012

O RELATÓRIO DE TERÇA-FEIRA


Ah, vai! Seu trabalho é “facinho”, a maior moleza! Você faz o seu horário, acorda na hora que quer, almoça em casa e ganha bem pra caramba.
Escutei essas palavras, ou melhor, engoli essas palavras como quem engole ácido sulfúrico. Caiu mal, muito mal. Pois eu posso contestar isso, posso provar que rapadura é doce, mas é dura!
Estava de salto alto caminhando apressada pela Avenida Paulista, pulando buracos da calçada e desviando de todo e qualquer desnível do piso. A pressa sempre foi a inimiga número 1 da perfeição. Eu precisei escolher, das duas uma: ou eu andava depressa, ou eu cuidava pra não cair. Escolhi a primeira alternativa e fui parar agarrada a um telefone público, vulgo orelhão. Abraçada ao dito cujo, quase fiz DDD para o raio que me partiu.
Mancando, danada da vida com o tropeção, a dor e o mal feito ao meu sapato novo, consegui chegar ao tal do endereço que procurava.  Descobri, repentinamente, que além de ter estragado o belo scarpin preto, eu tinha desfiado a meia calça, bem na altura da canela.
Torta, tentando me equilibrar sobre o salto quebrado e o tornozelo lesionado, retirei um envelope destinado a um tal de Sr. Nicolau e segui toda desconjuntada à estação do metrô. São Paulo tem gente demais em seu subterrâneo! Quase me sentei naquela cadeirinha azul, destinada aos deficientes físicos. Bem que precisava, afinal eu estava contundida. Metrô lotado ao meio-dia, isso é coisa que ninguém merece! Experimentei acomodar-me melhor, um pouco mais longe do adolescente que carregava a mochila que a toda hora cutucava minhas costelas. Fui pisada no outro pé, aquele que restava são e salvo.
Assim que desci no metrô Vila Mariana, eu não tinha chão, ou melhor, parecia não ter. Caminhei me arrastando,  vendo estrelas e resmungando uns nomes impublicáveis, até visualizar à distância um oásis, quero dizer, uma loja de calçados. Comprei uma sapatilha de tecido laranja, a única sem salto, mas ela não combinava muito com meu tailleur azul-marinho. Pés mais felizes, consegui seguir em frente.
Toquei a campainha da casa do Sr. Nicolau, destinatário do documento urgente que retirei no escritório da Avenida Paulista. Acho, o Sr. Nicolau estava ausente, quem me atendeu foi um sujeito que latia desesperadamente: um cão da raça rotweiller. Irritado, pulava no portão, como quem diz: vou pegar essas sapatilhas laranja pra mim! Creio que, possivelmente , o cachorrinho não gostou de ter sido acordado com o som da campainha. Sem sucesso na minha empreitada, arrastei-me de volta ao metrô. Eu e minhas sapatilhas de cor “cheguei!”.
A volta pro escritório foi dolorosa, sofrida, um verdadeiro calvário. Eu não consegui atravessar rapidamente o farol de pedestres, na esquina do escritório. No meio do caminho, a coisa ficou feia, um motoboy apressadinho deu a largada antes de eu chegar à calçada e por pouco, muito pouco, não passou por cima de mim.
Quando sentei na minha mesa, Dona Dolores, a secretária do chefe, com sorriso forçado, sem disfarçar seu prazer em me ferrar, entregou outro envelope urgente, que eu deveria protocolar na Vila Sorococó, zona leste da cidade. Isso deveria ser resolvido em menos de duas horas. Lá fui eu de volta pro metrô. Preciso dizer que viajei em pé, de lá até o outro lado da cidade?
Cheguei em casa, Divo cheio de saudade me perguntou: querida, vamos dar umas voltinhas no parque para entrarmos em forma?
Em forma? Eu em forma? Isso significava exatamente o quê? Que estou fora de forma?
Ainda emendou o seguinte: nossa, que sapatilha horrível! Onde você achou isso?
Pois é. O dia foi longo. Meu trabalho não é moleza não. Ainda bem que existe a hora do recreio, quando corro pro blog e sublimo todos os meus “ais”, rindo, chorando, fazendo rir, fazendo chorar. Como diria Roberto Carlos: são muitas emoções!
Quanto às sapatilhas laranja, elas são bem confortáveis, mas a cor é um tanto berrante. Ofereci a Bono Latívio, meu cãozinho, que desde sua chegada em minha casa, sonhava em roer algum sapato meu. Achou uma delícia!
Este é o meu relatório de terça-feira. Dia em que eu não deveria ter saído de casa. Ah, se eu adivinhasse! Poderia ter dormido até as tantas, acordado na hora do almoço e depois me jogado no sofá para assistir à sessão da tarde. Pena, não tenho bola de cristal.




4 comentários:

Srª Ribeiro disse...

E ai dona Diva, andei sumida mas tô de volta, tava adquirindo informações importantíssimas para sustentar meus textos...rsrsrsrs..
Enfim, adorooooooooo esse seu drama cômico! Eu me cansei só de ler, já vivi um dia de cão desses, e vivo ainda vez ou outra. Adorei, ri demais, minha garganta ta numa inflamação só e enquanto eu ria, tossia tbm...credo!
Tava com saudade disso aqui! beijos!

Cláudia Cavalcanti disse...

Glenda,

Coisa boa tê-la novamente aqui!
Não deixe mais de escrever, garota! A vida sempre deixa um convitinho pra que façamos dela poesia, piada, textos no blog. Senti saudade!

Beijo

Deborah Spadotto disse...

Ai Diva que dia dificil essa terça-feira cinzenta, hein? O pior de tudo é que a tal da D. Dolores que deveria dar uma força prefere "cutucar a ferida"! Meio sádica a malvada, não?!! Mas não se preocupe, de acordo com a lei de MUrphi amanhã será pior!! Ahaha...bricadeirinha Bj

Cláudia Cavalcanti disse...

Débora,

E ainda voltei do escritório e precisei socorrer meu cãozinho que estava passando mal. Enfim, a lei de Murphy já caiu sobre mim, feito uma bombaaaaaaa...kkkk
Obrigada pelo comentário e... Não esqueça: ambas temos o mesmo destino...:-)))))))))
Beijo