Ela estava em plena TPM, era insuportável a presença dos seres
humanos sobre a face da Terra. Parecia que a vida, repentinamente, conspirava
contra si. Os nervos fritos e à flor da pele. Tamanha irritação se repetia mês
após mês, há anos e anos. Já tinha experimentado
remédios caseiros, naturais, homeopatia, praticava yoga e fazia os exercícios
de relaxamento. Nada, absolutamente nada, parecia servir de paliativo para o
seu mal.
Eis que resolveu apelar para aquele conselho que leu em uma revista
feminina: uma cinta modeladora, dessas com
um tal de acessório magnético, uns botõezinhos mais finos que uma moeda de um
real, embutidos no forro do tecido. Aquilo apertava tanto a barriga que a fazia
sentir-se dentro de um espartilho. Imaginou como se sentiam Julieta, Scarlet
O´Hara e a Dama das Camélias. Um tanto estrangulada, coube com folga em seu
tailleur e lá se foi, meio asfixiada, rumo ao trabalho.
O maior problema, durante a manhã, foi ir ao banheiro. Uma
ginástica, um malabarismo para livrar-se da cinta e, depois, novamente
vesti-la. Já estava arrependida. Na hora do almoço decidiu comer o mínimo, para
não sentir-se ainda mais arroxada naquela amarração toda. Comeu pouco e
resolveu ir ao banco. Assim que tentou passar pela porta eletrônica, a coisa
travou e aquela voz anônima disse: - “Deixe todos os objetos metálicos no
compartimento ao lado”.
Ela se livrou do relógio, das chaves, do celular, mas nada
da porta ser liberada. Já estava ainda mais irritada, seria capaz de fazer um
strip-tease para provar que não portava armas, que não era uma ladra e sim uma
cliente desejosa, simplesmente, de falar com o gerente da agência. Oito tentativas em vão, a fila de clientes
atrás de si aumentava mais e mais. Formou-se um coro de reclamantes, todos
apressados, sem tempo, afoitos para ingressar no banco. Por fim, o vigilante da
agência disse: - "Senhora, tire todos os objetos metálicos!". Pensou alguns
instantes e eis que concluiu: a cinta!
Já fazia quinze minutos que ali estava, travando o acesso de todos ao banco, um centro de atrações tragicômico, patético. Não hesitou, levantou a saia e contorcendo-se, revirando-se, sob aplausos, vaias e xingamentos, tirou a cinta e a depositou no tal compartimento destinado aos objetos metálicos. Finalmente, seu acesso à agência do banco foi liberado. Tudo filmado e fotografado por celulares de clientes indignados, apaixonados, curiosos e atrasados para seus compromissos.
Já fazia quinze minutos que ali estava, travando o acesso de todos ao banco, um centro de atrações tragicômico, patético. Não hesitou, levantou a saia e contorcendo-se, revirando-se, sob aplausos, vaias e xingamentos, tirou a cinta e a depositou no tal compartimento destinado aos objetos metálicos. Finalmente, seu acesso à agência do banco foi liberado. Tudo filmado e fotografado por celulares de clientes indignados, apaixonados, curiosos e atrasados para seus compromissos.
Nesse dia, ela conseguiu melhores taxas para aquele
empréstimo que tanto desejava. O gerente, com olhar safado e um tanto encantado para suas pernas, suspirava de vez
em quando. Ah, essa TPM! Ao menos foi
encontrado um aspecto positivo para tamanho suplício. Quem diria que seu
sofrimento mensal poderia causar a queda dos juros bancários e render um vídeo
no Youtube, que já conta mais de cem mil acessos?
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