O leão rugiu, o tempo urgiu. Tirei uns dias de folga, fuga
pura e simples da correria paulistana. Aproveitei o feriado prolongado pra
tentar descansar. Na malinha roupas de meia-estação, afinal costuma fazer calor
naquela bucólica cidadezinha interiorana. Eis que a temperatura caiu tanto que,
para aquecer-me, passei a vestir todas as camisetas, todas as blusinhas de
manga comprida, arrumações sobrepostas. Parecida com a abominável mulher de São Paulo,
pois sim! Não caiu neve, mas meus ossinhos ficaram doloridos devido à friagem.
Sair para comprar um casaco, isso pareceu pouco econômico, afinal meu salário
ainda não chegou.
Chegadas e partidas, voltando ao leão que rugiu, declarar o
imposto de renda me deixou tão estressada que abri uma garrafa de vinho, me
embrulhei em uma mantinha de lã xadrez, e tratei de esquecer o quanto dói uma
mordida, bem na altura do bolso traseiro da calça.
Quatro dias de pretenso
descanso, admirando as montanhas, ouvindo o canto dos passarinhos e tentando
afastar todos os pensamentos numéricos que me assombravam. Cantarolei algo antigo
que dizia: “tem que pagar pra nascer, tem que pagar pra viver, tem que pagar
pra morrer”.
O feriado voou a jato. Quarta-feira louca, corrida, eu com minha
echarpe de seda a voar pelas ruas da cidade. Passos rápidos contra os minutos
do relógio. Saudade dos passarinhos, das montanhas, do cobertorzinho! No abraço aconchegante de Divo reencontrei a serenidade neste começo de noite de quarta-feira. Amor, o melhor antídoto contra todo e qualquer desassossego.
Nenhum comentário:
Postar um comentário