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Este é o meu último texto de 2010, um ano cheio de emoções, acontecimentos alegres e tristes, chegadas e partidas. Neste ano nasceu este blog, que já concorreu a prêmios, que já teve uma crônica selecionada e publicada em um livro que em breve indicarei a todos vocês. E o meu sucesso eu devo a cada um que acessa o blog e ri, comenta, participa.
Como você deve saber, voltei a escrever há pouco mais de um ano, incentivada pelo Abílio, que faleceu neste ano de 2010. Esta uma das notas tristes, porque amigos não morrem jamais, mas a saudade ficou e ficará enquanto eu respirar. Até hoje releio nossas conversas no MSN, guardei o histórico. Resolvi espiar o que conversamos há exatamente um ano. Falávamos do blog Janela das Loucas e estávamos escolhendo a mensagem de ano novo pros nossos leitores. Difícil pra mim, mas estou me recuperando aos poucos.
Em 2010 a grana foi curta. O trabalho foi árduo. A família deu aquele trabalho que somente nós, as mães e irmãs, podemos compreender. Irmãos, cunhadas, sobrinhos e o filho que teima em tornar-se um homem, apesar de eu ainda enxergá-lo como um menino. Fiz novos amigos, conheci novas pessoas, algo mudou completamente nos meus dias e refiz meus planos. Namorando, depois de um prolongado inverno solitário, começo a planejar 2011 muito bem acompanhada dele. Esse o acontecimento mais feliz e gratificante do ano que se despede.
E você leu tudo isso, é meu leitor, seguidor, chegou até aqui sem querer ou por costume. Anônimo ou velho conhecido meu, deparou-se com minhas letrinhas de final de ano.
Desejo a vocês todos alegrias imensas, tão grandes que possam transformar-se em crônicas que assinarei. Episódios divertidos ou sérios, mas com um toque de felicidade e um "happy end" ilustrado com corações e flores que escolherei carinhosamente nas imagens do Google.
Que essa união cibernética se fortaleça e que dentro de um ano estejamos reunidos ao redor desta telinha que nos informa, emociona, encurta distâncias e facilita nosso dia-a-dia. Obrigada por sua companhia em 2010 e sejam muito felizes em 2011. Feliz Natal e Feliz Ano Novo.
Um beijo da autora,
Cláudia
Quando as feridas do passado se abrem, difícil se torna o presente. O futuro fica mais distante e tudo isso se resume em falta de esperança. Quem já foi traída – a maioria das mulheres algum dia foi traída – dificilmente volta a recuperar-se 100% dessa amargura. Insegurança!
Homens apreciam a beleza feminina. Olham, discretamente ou não. Quando se reúnem em turma, em rodas de cerveja, o assunto costuma ser nada menos que nós, as mulheres.
Tanta vulgarização do corpo. O comportamento feminino mudou muito ao longo das últimas décadas. O sexo tornou-se banal, instrumento de conquista, algo prazeroso e sem culpa. Uma oferta que, antigamente, era reservada ao casamento. Hoje, transar é bom e não gera qualquer tipo de compromisso com o parceiro ou a parceira. Ter um relacionamento sério, comprometer-se com alguém, deveria ter um selo de total exclusividade sexual e afetiva. Um pra um, um pro outro.
Estava outro dia em uma igreja perto da minha casa. No final de um dia difícil decidi fazer uma oração e lá entrei. Quando saí, na praça em frente à igreja, havia um bando de pombas. Notei um casal, parecia beijar-se. Era tanto paparico, tanto mimo, tanto carinho. E, sabemos, quando um dos dois morre o outro permanece sozinho, apesar de continuar vivendo em bando.
Por que o ser humano não consegue ser assim? Por que os homens, em sua maioria, não conseguem ser exclusivos de suas parceiras? Com o passar do tempo todo o jogo da conquista torna-se velharia, algo jogado em algum canto. Cansaço, trabalho, problemas diários. Então, a gostosa da capa da revista torna-se fantasia e objeto de cobiça. A moça bonita que passou por ele na rua merece seu olhar e elogios. Escapadinhas, fugidinhas. E a namorada, esposa? Com sorte terá recebido um prêmio: boa companheira, quase uma irmã.
Perder o interesse pelo par. Deveria haver um alarme que tocasse alto quando isso começa a acontecer. Talvez aconteça esse sinal. Não sentir prazer, não desejar momentos a sós, não incluir a pessoa em planos futuros, o coração que já não pulsa acelerado. Esse é o alarme e, depois disso, tudo começa a cair em um abismo, ladeira abaixo.
Quem já se separou, se friamente analisar quando foi que isso tudo começou, quando foi que o cristal quebrou, vai lembrar que antes ocorreram sinais de perigo. Reuniões de trabalho além do horário habitual, clientes de última hora, viagens comerciais inventadas, invenções tantas e muitas. Isso de ambas as partes. Já era o tempo em que a mulher dizia que estava com dor de cabeça, hoje a dor de cabeça é masculina também.
O preço disso tudo é solidão. A troca constante de parceiros em busca do impossível. Não está em outrem aquilo o que se almeja, mas dentro de si. A felicidade reside dentro de nós mesmos e, compartilhando com alguém essa felicidade interior, nos tornamos realizados.
Ser fiel não é enfadonho, ser fiel não é tolice. É essencial pra quem busca um relacionamento sério. Escolha acertada de quem sabe quem quer e pra onde está caminhando. Livremente ser fiel.
Medo de compromisso, sinal de imaturidade. Amor é coisa pra gente grande. Moleques merecem brinquedos e não mulheres de verdade. Enxergar na companheira algo além de companhia, ver na esposa ou namorada a gostosa que está ao seu lado e valorizá-la por ser “sua”, isso alimenta o dia-a-dia e salva o relacionamento.
Que os alarmes toquem alto quando algo começar a sair errado. E que, no primeiro alarme, o casal acerte o passo. É o que desejo.
No último final de semana acompanhei meu namorado em uma confraternização de final de ano. Amigos se reuniram para celebrar a vida. Impressionante, garotos crescem, o tempo passa, mas continuam sendo garotos. A idade da turma está acima dos quarenta anos. Riam, brincavam, brindavam. Contagiante a alegria que reinava entre eles. A amizade masculina costuma carregar o selo de lealdade. Amigo que é amigo embarca no mesmo trem e segue lado-a-lado pra qualquer destino. Amigo homem não presta atenção em quem está mais gordo ou em quem vestiu-se com um modelito repetido. O importante é ser feliz.
Lá estávamos saboreando um delicioso churrasco quando fui apresentada a um dos presentes. Alguém que contou uma das mais belas histórias de amor que já ouvi. Casamentos costumam tornar-se complicados, chatos, enfadonhos. Assim acontece com muita gente. No entanto, nessa história, havia cumplicidade e muita harmonia. Felizes, depois de mais de trinta anos de casados. Porém, ela faleceu há alguns anos. E ele? Não, ele não foi pra balada, nem tratou de encontrar uma nova companheira. Lamenta a perda de seu par e fala de sua amada com os olhos marejados de lágrimas. Precisei disfarçar meu sentimento de solidariedade. Afinal, amor verdadeiro é incomparável. Escutei meu par sugerir a ele que tente encontrar uma namorada. Pensei o seguinte: é o mesmo que conseguir ganhar duas vezes na mega-sena acumulada. Um tanto difícil, não é mesmo?
Ímpar, assim ficou aquele homem. Disse que hoje agradece a Deus que foi ela quem morreu e não ele. Fiquei surpresa, então ele explicou o seguinte: prefiro ser eu a sofrer aqui na Terra sem ela, não desejaria a ela a dor que sinto agora.
Quanta gente está cheia do casamento? Quanta gente apenas consegue olhar pro próprio umbigo? E eles dois eram felizes, apesar de todas as dificuldades da vida. Lembrei dos casais de pássaros que, quando um dos dois morre, o outro permanece sozinho até o final da vida.
Não imagino o que seja sobreviver, restar na vida terrena, sem mais ter o companheiro de jornada. Nada pode ser mais triste e angustiante que perder sua metade. Sim, acredito em metades e não em dois inteiros que se unem.
Termino este texto pensando em você, que está atravessando um grave problema de saúde. Sua vida quase paralisada e girando em torno de médicos, hospitais, remédios e uma expectativa assustadora. A vida é tecida ponto a ponto, diariamente. Olhe pra trás e veja o quanto é bonita a sua história, apesar dos altos e baixos que lhe aconteceram. Ao seu lado o mais doce par que alguém poderia desejar. Tantos buscam, nem todos recebem a mesma graça. Essa é a verdadeira riqueza desta vida. Desejo a você saúde, pra celebrar a vida por muitas outras décadas.
Texto dedicado a você, Flávio, meu irmão querido. Com fé em Deus, a sua cirurgia vai ser um imenso sucesso e toda a dor, todo o sofrimento e medo desaparecerão. Parabéns pela parceria com a Renata, sua bela e querida companheira.
Acordei durante a madrugada. Olhei pro relógio: 04h00. Um barulho estranho vinha do quintal da minha casa. Fui até à janela, cismada que os vizinhos estavam acordados e promovendo alguma festa. Notei tudo escuro na casa ao lado, mas o quartinho dos fundos da minha casa estava com a luz acesa. Zezé, minha inestimável auxiliar, estava acordada e o barulhinho que me despertou eu pude identificar: sons de mensagens de texto de seu celular. Fiquei em silêncio olhando na direção do quarto quando a escutei soltar um gritinho: iupiiiiiii!!!
Fiquei intrigada. Zezé não tem muitos amigos, não tem namorado. Iupi? Por que? Mais alguns instantes e decidi voltar pra cama. Acordei novamente com Zezé dentro do meu quarto: - Dona Diva! Dona Diva! Pelo amor de Deus, acorda! Ganhei! Ganhei!
Sem entender nada, precisei afastar-me para dar espaço à criatura já sentada em minha cama, dando pulinhos de felicidade.
- Que coisa, Zezé. Isso é hora de me acordar?
- Ai! Que alegria! Ganhei!
- Ganhou? O que você ganhou?
- Um carro zerinho na promoção do torpedo premiado.
- Calma! Deixa eu ler isso.
Estava assim escrito: cliente da operadora XXX, parabéns, você ganhou um carro zero km na promoção do torpedo-vencedor do “Programa Uau”. Entre em contato conosco, telefone XXX-XXXX.
Precisei ir até à cozinha oferecer-lhe água com açúcar. Feliz, começou a fazer planos: venderia o carro e compraria uma casinha em Santa Maria do Vai e Volta, sua terrinha natal.
Depois de alguns minutos, menos sonolenta, comecei a raciocinar. Seria verdade aquilo? Liguei o computador e fiz uma busca. A tal operadora de celular não tinha uma promoção com aquele nome: torpedo-vencedor. Decidi telefonar pro número informado. Atendeu um sujeito, com forte sotaque de outro Estado. – "Tá feliz? Aqui é da operadora XXX! Você ganhou um carro zerinho, basta transferir $$$ pra conta XXXXX do Banco do Brejo e entregaremos o seu carro aí, na sua porta. Qual é o seu endereço?".
Finalmente entendi que Zezé tinha sido vítima de um golpe. Não soube como contar a ela a verdade, mas com o jeito de quem comunica que o gato subiu no telhado, pedi que esperasse amanhecer e cuidaríamos do assunto.
Voltei a dormir, acordei tarde, perdi a hora. Zezé não estava em casa. Telefonei pro seu celular, ela estava no banco tentando transferir um valor pra aquela conta bancária. Precisei falar sério, até mesmo brava: - Não faça isso e volte imediatamente pra casa.
Minutos depois, chegou Zezé. Arzinho de choro, olhar triste. Expliquei a ela que, nesta vida, ninguém ganha um prêmio sem ao menos participar de uma promoção. Que bandidos estão dispostos a promover esse tipo de maldade e a vítima pode ser qualquer pessoa.
Ainda está jururu, seu sonho durou poucas horas. Prometi que, se eu ganhar na loteria, ela vai ganhar um carrão zero quilômetros. Mas, já que eu não costumo jogar na loteria, acho que a Zezé vai ter que participar de promoções reais, de empresas sérias. Arriscar a sorte, afinal alguém tem que ganhar.
Este texto foi baseado em um fato verídico. Presenciei a alegria seguida da decepção de alguém muito simples que, por muito pouco, não transferiu seu dinheiro pra uma conta qualquer. Um golpe muito antigo, que envolve de modo fraudulento o nome de uma emissora de televisão séria e operadoras de celular também sérias. Ou as leis se tornam mais rígidas, as penas muito mais severas, ou não sei lhes dizer em que mundo iremos parar. Merecemos PAZ, merecemos JUSTIÇA e merecemos RESPEITO. Sinto muito, “Zezé”.
Um dos meus irmãos está com câncer. Só o nome dessa coisa já causa pavor. Em meio à dor, ao tratamento, aos médicos, cirurgia que se avizinha, chega o conforto dos amigos. Mensagens de esperança e carinho via e-mail, Orkut, MSN e no Facebook. Alguém muito bem definiu: é um "busão" lotado de gente que está unida, com muita fé em sua recuperação. Pensei em escrever algo sobre isso, mas a definição – busão – supera qualquer pensamento ou palavra. Absorvo sedenta cada mensagem que leio e recebo. É o meu alimento, que entrego a esse irmão com gratidão pelos muitos anos de amizade e pela honra de sermos companheiros de infância e juventude.
Quero agradecer a cada um de vocês. Alguns não conheço pessoalmente. Há pessoas que trabalham comigo, amigos de longa data, seguidores dos meus blogs, leitores anônimos. Façam uma prece, pra que tudo corra bem na cirurgia. Quando tudo isso passar, quero voltar aqui e dividir com vocês a felicidade de termos vencido juntos a batalha contra esse mal físico. Sim, o câncer tem cura!
Fica o vídeo, que chegou ao meu e-mail: Somewhere Over The Rainbow. Fica também o meu coração: obrigada, busão! Muito obrigada!
E sim, Cara! Eu sei que você leu isso tudo. Então, prepare-se: você é o motorista desse busão e eu também sou candidata a ser sua co-piloto. Depois daquela curva está a cura, mais um pouquinho e chegaremos lá!
Hoje, segunda-feira de novembro de 2010. No horário do almoço interrompi o meu trabalho e levei flores ao túmulo da minha mãe. Um ano. Parece que o pesadelo aconteceu ontem. Com dois vasinhos de crisântemos nas mãos, ajoelhei-me no gramado do Cemitério do Morumbi, sem me importar muito com a roupa que usava e sem me preocupar com a hora. Há vários meses evitava o local, talvez por egoísmo, talvez por questão de auto-estima. Não sei. Quis poupar-me daquele instante. Fiz uma prece, não pude conter o choro. A saudade pode transformar-se em algo similar ao desespero. Então, percebi pertinho de mim um pardalzinho, passarinho miúdo que parecia me observar. Elevei o olhar, notei o azul do céu entre nuvens. Suspirei resignada. Fui abençoada com uma momentânea sensação de silêncio e paz.
Mãe, querida. Onde agora você estiver, segue um texto de sua escritora maluquinha. Depois de você, seguiu pra essa viagem inexplicável o meu querido Abilinho. Capricho do destino, ele partiu exatamente sete meses depois de você, em um outro dia 29. Então, decidi riscar todos os dias 29 de todos os calendários. Rabisco um X em cada dia desses. Todos os meus meses pulam do dia 28 para o dia 30. Hoje, segunda feira de novembro de 2010. O dia não existe, não mais.
“Viver é celebrar a vida”. Prometo, vou me esforçar. Deixo aqui uma das músicas que você mais gostava: “Voa, Liberdade” ( Jessé). E que você, aí nessa misteriosa imensidão, esteja livre de toda dor, de todo o mal, no colo do Deus em quem você sempre tanto confiou.
Saudade da filha que tanto te ama,
Cláudia
Só tenho uma reclamação a fazer quanto à minha idade, 49 anos: não terei outros filhos biológicos. Se assim fosse possível, eu trataria de assustar umas... dez? vinte pessoas no mínimo, a começar pelo meu alvo amoroso, Mr. Divo Latívio. Posso imaginar parentes pálidos de espanto. Já que adoro causar... Surpresaaaaa! Parabéns, você foi contemplado! Porém, 49 anos. Netinhos serão bem-vindos!
Mãe de um filho único, irmã mais velha de uma ninhada de quatro irmãos. Não consigo imaginar como seria a minha vida, não fossem os três garotos que, feito uma escadinha, nasceram ano após ano depois da minha estréia nesta vida. As lembranças são muitas, a infância tão bela! Dificuldades muitas nos uniram tanto que podemos dizer: somos um só! E, nesse inteiro, que ri, chora e até sente as mesmas dores um do outro, temos que dar a mão à palmatória: não é que nossos pais, com todas as confusões que sempre aprontaram, conseguiram deixar um legado incomparável? Um por todos, todos por um. Já ouvi isso em algum lugar.
Não pude ou poderei dar ao meu filho ( o garotão já tem 23 anos!), um irmãozinho ou uma irmãzinha. Eis o meu mais profundo arrependimento nesta vida. Crescer sem irmãos, isso não tem a menor graça.
Certa vez, creio que tínhamos respectivamente 4 e 5 anos de idade, meu irmão Zeca e eu acompanhamos a Mami ao dentista. Certamente naquele dia ela estava com o juízo imperfeito, talvez perfeito, mas decidiu levar-nos em sua companhia. Deixou-nos sozinhos na sala de espera do consultório e lá estava, com aquele aparelho que serve para tirar o molde dos dentes. O dentista ocupadíssimo, ela sentada na cadeira e de costas pra nós. Antes de tudo começar, lembro da recomendação: fiquem quietinhos. Ganhamos um brinquedinho, como se isso pudesse nos aquietar e distrair: uma pequena bandeira, com uma haste de madeira. Dando sopa pro azar, um aquário bem equipado e com muitos peixinhos ornamentais. Olhamos, olhamos. Escolhemos aquele que seria pescado. A vara escolhida, claro: foi a bandeirinha!
Lá pelas tantas eis o nosso peixe! Pulando no chão. Gritei qualquer coisa do tipo: alguém salve o peixinho! Estávamos em uma encrenca e o castigo estava estampado na raiva do dentista e no desespero da minha mãe. Mas que ideia, deixar duas crianças pequenas sozinhas! Porém, agora já está feito. O Zeca, que nunca foi bobo, correu porta afora e desapareceu. O lugar era um conjunto comercial em Moema. Vários andares, muitos escritórios e consultórios. Sumiu. O dentista largou minha mãe naquele estado, levei uns tapas no traseiro daquela criatura cheia de ferros na boca, parecendo Hannibal. Seu olhar era do Incrível Hulk em plena transformação.
Meu irmão foi encontrado por mim, que também caí fora. Sentado em uma alfaiataria, conversando animadamente com o alfaiate. Fomos capturados, presos e torturados. Calma, nada que valha ser hoje punido senão com a lei da palmada. Aliás, se naquele tempo a lei da palmada estivesse em vigor, hoje minha mãe mudaria de endereço. Moraria em algum presídio, porque palmadas não faltaram.
Ficamos de castigo. E tudo isso não teria acontecido se eu tivesse perdido a melhor parte da minha vida, quando pouco a pouco meus irmãos foram chegando a este mundo, pra se unirem a mim, em travessuras, em alegrias, tristezas.
Quase cinqüenta anos de idade. Todos senhores de meia-idade. Um deles mora em Santa Catarina, o outro descobriu que está com câncer, o mais novo tem uma deficiência neurológica e pra sempre foi e será uma criança de três anos de idade. Vida complicada esta. Manos, ainda bem que temos essas lembranças e muitas histórias pra contar. Sem vocês, a vida não teria a menor graça!
Acordei cedo e assisti ao telejornal. A notícia de que Paul McCartney hoje cantará para milhares de pessoas em São Paulo foi o tapete mágico que me conduziu a uma viagem há trinta anos atrás.
Em 1980 o grupo Queen veio a São Paulo e cantou para uma plateia imensa no estádio do Morumbi. Na arquibancada, a autora deste texto, com apenas dezenove anos de idade. Fã que sou, pra mim o momento até hoje é especial. Doce lembrança, ao lado do irmão que sabe cantar todas aquelas melodias e arrisca alguns acordes no piano. Não foi tão fácil a empreitada. O frio, o estádio que balançava com os pulos do público (quem vai aos jogos futebol sabe como que é!), uma turminha que estava próxima de nós fumando algo com um cheiro horrível. Porém, valeu a pena. Anos depois, quando Freddie Mercury faleceu, fiz uma prece. Creio que essa gente vem ao mundo pra nos alegrar, considero-os anjos.
Os Beatles, pra mim, têm jeitinho de infância. Eles lembram meus pais, lembram meus tios. Quando cheguei à adolescência os quatro integrantes: John, Paul, George e Ringo, haviam se separado. Não sou muito entendedora de música, mas meus ouvidos apreciam de Let It Be a Yesterday. Não irei ao show do Paul. Trinta anos de idade a mais, hoje pagaria pra ter conforto.
Aos corajosos quarentões, cinquentões, sessentões e daí por diante, já a postos para assistir ao show, desejo um momento mágico e tão inesquecível quanto aquela experiência que tive no passado, quando minha banda favorita ( Queen) gravou na minha alma um momento inesquecível.
Por falar nisso, ontem estava em uma loja escolhendo alguns dvds. Na bancada, alguns do Queen. Pois duas senhoras começaram a remexer na mercadoria, como quem escolhe laranjas na feira. De repente, uma das duas poluiu meus tímpanos com a seguinte heresia: - “Queen? Detesto isso, esses caras são péssimos”. Somado a isso, em uma peça de teatro em cartaz aqui em Sampa, uma das personagens diz que não sabe quem foi o Queen. Velharia ou não, coisa de gente do século passado ou não, considero abissal falta de bom senso esbravejar tamanha ignorância publicamente.
Aos mais jovens, deixo um vídeo para que reconheçam a banda da qual falei. Aos mais experientes (feito eu!), deixo um vídeo com a boa recordação. Senhoras e senhores, com vocês: We Will Rock You,Queen!
Nada mais chato que gente que se acha intelectual. O cara fala de tudo, mas não fala de nada. Pensa que é filósofo, pensa que é poeta, pensa que pensa, mas pensando bem, falta conteúdo naquela cabeça oca.
O coquetel de lançamento do produto estava marcado na minha agenda. Quis fugir, dar uma desculpa, em plena quinta-feira chuvosa eu queria mais era voltar pra casa, ficar descalça, preparar miojo e vestir meu pijama largo com o eslástico frouxo na cintura. Nada disso, precisei seguir à risca o compromisso assumido. De vestido pretinho básico e scarpin de salto alto, os meus pés reclamavam e as costas faziam coro com eles.
Passava das nove da noite quando pude escapar, não muito ilesa, depois de escutar blablablás sobre seguimentos econômicos, opiniões políticas e palpites jurídicos pra mim incompreensíveis. Fui de enfeite, por assim dizer. Quase uma penetra, porque o compromisso era de uma amiga, ela era a economista e eu o suporte técnico, a forcinha solidária pra que não fosse sozinha.
Mosquitos, malucos e "sapos" são ítens indispensáveis em eventos ao ar livre. Há meses não sei mais o que é visitar o site do "Brejo Perfeito". Comprometida com meu Mr. Divo Latívio, dispenso novos candidatos e evito tentações desnecessárias. Mas, o que fazer? Lá estava metade do "brejo", em formato de gente e fantasiados de executivos bem sucedidos. Altos, baixos, velhos, jovens, gordos, magros. Porém, anfíbios com carteirinha de sócios da "lagoa". Casados sem aliança, solteiros na caça.
- Mas, você é casada?
Olhei pro meu anular esquerdo. Não sei dizer porque, mas depois de tantos anos de divórcio, esse meu dedo ainda tem uma marquinha dos quase vinte anos que usei aliança de casamento.
- Sou sim.
- Ah, tá... Bobinha e mentirosa. Cadê a aliança?
Apontei pro meu coração. Aqui está a minha aliança. Não tem assinatura, não tem juramento em vão, não tem testemunhas e pra ele eu digo sim, mas em silêncio, em momentos sem solenidade.
Terminei o texto vestida com meu pijama listradinho. Suspirei e sorri pra tela do computador. Mais casada do que nunca!
Era madrugada quando despertei. Minha primeira atitude foi olhar para o alto. O rádio-relógio da casa dele projeta a hora no teto. Estiquei meu braço para o lado esquerdo da cama e ele não estava ali. Então, pude compreender: eu estava na minha casa. Minha cama ganhou dimensões imensas, tal e qual um latifúndio. Senti frio, muito frio. Virei para o outro lado, tentei me acomodar do jeito que pude. Embolei o travesseiro, puxei o edredom. O sono tinha fugido, restava somente a lembrança do que ocorreu na véspera.
Pela metade, liguei o abajur. Procurei em vão os meus óculos, pude encontrar o controle remoto da tv. Troquei os canais: canal de vendas, filme de terror, filme pornô, filme nacional, um jogo de futebol do campeonato europeu. Desliguei a tv. Resolvi ir até à cozinha, abri a geladeira tentando pensar. Peguei um copo de leite, aqueci e adocei, achei horrível, mas dizem que combate a insônia. Sentei-me à mesa e minhas lágrimas caíram sobre a toalhinha xadrez.
Voltei ao quarto, fui à janela e admirei a visão da pista do Aeroporto de Congonhas. Há quanto tempo não viajo? Uma vida árida, pálida. Não sei dizer onde guardei aquele catálogo da agência de viagens. Um sonho que engavetei. Olhei novamente pro relógio, quase 06h00. Decidi tomar um banho, me arrumar. Desci a escada, preparei meu café, consegui comer duas bolachinhas de água e sal e bebi meia xícara de café com leite.
07h00, fui trabalhar. Meus passos lentos, o pensamento tão perto e tão longe. O trânsito parado, aquela gente andando apressada. Ninguém olhava pro rosto de ninguém. A mulher sentada na calçada, mendiga, as mãos estendidas pedindo um trocado. O homem que estava fumando na porta da padaria. O carro que freou bruscamente. Os alunos do colégio com seu uniforme azul. E eu, com meus pensamentos, no meu universo, sem ter pra quem contar que meu peito era só tristeza! Quanta saudade de ser feliz!
São anos a fio dedicados à minha profissão: área jurídica, especializada em Direito de Família. No começo eu assistia ao drama alheio comovida, vez ou outra indignada com a falta de bom senso do ser humano. Famílias destruídas, gente que sofria, filhos envolvidos nas brigas dos pais. Lamentável isso.
Com o passar do tempo, passei a entender tudo isso sob o prisma de quem foi protagonista de um divórcio. Casa de ferreiro, espeto de pau. Velho ditado cheio de sabedoria popular. Todo o trâmite legal passava por mim feito capítulos de uma novela. Sofri. Muito! Passei a entender o que era aquilo sob a visão de quem está no olho de um furacão.
Não compreendo como que um casamento, depois de muitos anos, algumas décadas, pode terminar em confusão. Ninguém é obrigado a seguir a vida pra sempre ao lado de quem não ama, ou de quem não o ama. Porém, tem gente que prefere agarrar-se às pedras, aos tijolos, aos bens materiais. E é o que resta pra alguns, depois de tamanho desgaste, de tantos desapontamentos.
Ex-marido, ex-mulher. Ex. Quem merece ser ou ter um ex, uma ex? Ninguém se casa pensando em separação. Ser ex lembra algo finado, falecido. Cheira a podridão. Inerte, sem vida, morto! Somente restam as lembranças, algo que vai ficando amarelado pelo tempo. Um dia, a gente tenta lembrar o rosto da pessoa, se não correr e pegar uma foto de outrora, a memória não ajuda. A imagem daquele ser vai se diluindo pouco a pouco. Tudo vai se apagando, apagando... Menos a mágoa. Ah a mágoa! Sobrevivente e persistente, ela aponta um culpado sempre. Jamais somos nós os responsáveis, sempre o vilão é o EX par. E, pra ter certeza que aquele alguém não te esqueceu, ficam os recadinhos em lugares inusitados. Com amigos em comum ou no orkut, no facebook, na frase do MSN. Quem sabe ele leia? Quem sabe ela leia? Todo mundo lê, eis a questão.Não adianta imaginar que nada mais vai mudar, porque já mudou. Já era!
Já assisti aos divórcios, às separações sob todos os ângulos possíveis. De cabeça pra baixo e lado-a-lado. Agora, firme sobre meus pés e de cabeça erguida, aceito ser feliz novamente. Porém, resta entender quem está passando por tudo isso. Inevitável a lembrança de minha própria experiência . Tenho a sabedoria dos meus trinta anos de profissão, lidando com processos e dramas tristes de assistir.
Espero que você, se estiver passando por isso, seja forte. Não brigue por tolices, não caia nessa armadilha. O que passou, passou e, certamente, tudo isso vai levá-la(o) a um final muito mais feliz do que pode imaginar. Força e abaixe suas armas. Tijolos a gente compra tudo outra vez, não brigue por isso. Experiência própria: isso não vale a pena.
E, se tiver tido a sorte de ter encontrado um novo alguém, parabéns. Esse é o melhor presente que o destino poderia ter lhe oferecido. Pare de olhar pra trás, o minuto que passou não voltará. Quem é ex, não voltará também. E, como diz aquela musiquinha de Natal, o futuro já começou!
Dorinha acordou com um leve mal estar. Quando levantou-se da cama, sentiu um embrulho no estômago e o mundo girou. Tentou lembrar-se do dia anterior, concluiu que nada poderia ter causado um problema digestivo.
O resto do dia foi assim, de tempos em tempos uma indisposição inexplicável. Não podia sentir aromas fortes: café, perfumes adocicados, frituras e até mesmo olhar pro buffet de saladas na hora do almoço foi um verdadeiro suplício. Preocupada, telefonou pro médico. Marcou uma consulta pro final do dia.
E lá se foi, pensando em virose, em gastrite, qualquer coisa assim. A sala de espera do médico estava um tanto lotada. Depois de uma hora foi chamada pela recepcionista:
- Dona Isadora? A senhora pode entrar.
O doutor, médico que a acompanhava desde a juventude, era um desses bons médicos, que conseguia acertar o diagnóstico sem pedir muitos exames.
- Dorinha, você já completou 40 anos, certo?
- Sim, doutor.
- Está casada?
- Não, eu me separei faz 2 anos.
- Mas está namorando?
- É, estou.
- Gosta dele, Dorinha?
-...
- Fiz uma pergunta, mocinha. É namoro sério?
- Não sei, mas estamos juntos faz 8 meses.
- Querida, vou pedir um exame de sangue, pra você colher agora mesmo.
- É algo sério, doutor?
- Vamos esperar o resultado, certo?
Dorinha passou a noite acordada. Pensou em todas as doenças contagiosas e também naquelas outras doenças, as que podem matar alguém. Quando seu namorado, Heitor, telefonou, ela tentou disfarçar a angústia, mas seu tom de voz foi delator.
- Amor, estou com tanto medo, o médico não quis arriscar nenhum diagnóstico!
No dia seguinte nem foi pro escritório. Foi direto pro consultório do doutor e escutou o seguinte:
- Você não está doente.
- Ah, graças a Deus!
- Você está grávida.
-!!!
- Por isso eu perguntei se o seu namoro é sério, mas primeiro quis ter certeza do resultado.
- E agora, o que farei?
- Espero que faça o certo.
- Mas, não sou casada! E estou com 40 anos!
- Conte pro seu namorado e, se precisar, também falarei com ele.
O resto do dia foi um suplício. Dorinha não podia ver flores, sentia enjôo. Incrível, havia flores em todos os lugares. Depois de muito pensar, decidiu contar a verdade pro namorado. Engasgou, gaguejou. Por fim disparou de uma vez por todas: - vamos ter um bebê.
Hoje é o primeiro aniversário da Bruna, filhinha da Dorinha com o Heitor. Linda, olhinhos verdes e narizinho arrebitado. Eles dois se casaram logo depois daquela notícia e segue tudo bem na vidinha do casal.
Nem sempre aquilo o que planejamos acontece. Surpresas e inesperados mudam nosso rumo, algumas vezes isso muda o nosso destino. Filhos, benditos frutos! Seres bem-vindos que trazem novo sentido às nossas vidas!
De uns tempos pra cá, meu coração tem falhado. Não padeço de problemas cardíacos, mas tenho pagado um pato que não preparei, cozinhei ou almocei. No entanto, a louça engordurada está sobre a pia, pilhas imensas de pratos com restos de ossos e muito trabalho que terei pela frente. Vida dura a de quem deseja ser feliz, ainda que isso custe tempo, ainda que o resultado seja incerto.
Aos quarenta e nove anos, há quem imagine que vivi tanto que o que vier seja lucro. Ledo engano. Sou tão jovem quanto uma sonhadora garota de vinte anos. A idade cronológica não acompanha o desejo de felicidade.
Relacionamentos deveriam seguir leis daqueles países das duzentas chibatadas em praça pública. Prometeu e não cumpriu? Cem chibatadas! Traiu? Mais cem chibatadas! Não vai apresentar a moça à família? Dá-lhe uma bordoada pra ver se acorda!
Pra que um namoro tenha um final qualquer, ainda que feliz, é preciso ter maturidade. Ou fica tudo pela metade. Arrastar um fantasma de nome "ex" destrói qualquer possibilidade de ter um relacionamento bom e sério com outra pessoa.
Quanto tempo demora pra que alguém vomite sua culpa, suas dúvidas, suas mágoas e depois tome um banho de esperança? Não há tempo pra isso. O ideal seria que todos aqueles que ainda estão presos ao passado permanecessem sozinhos, sem arrastar pra dentro do seu redemoinho mais pessoas.
Eu amanheci triste, pensando na vida. No pato, nos pratos. Quarenta e nove anos e muito o que viver, muito o que sonhar, muito o que fazer. E sem tempo pra perder.
Que bom seria se a vida fosse uma propaganda de margarina! O sol entrando pela janela da cozinha, a mesa farta e apinhada de bolos e geleias irresistíveis. O maridão sorridente, o cachorro abanando o rabo e as crianças todas alegres e prontinhas pra ir pra escola. Felicidade total, harmonia geral. Incrível, fosse real aquilo ninguém estaria sentado à mesa. O marido estaria atrasado, a mulher estaria meio descabelada, o casal teria se despedido apressadamente, um dos dois lembraria que a prestação da casa própria venceria naquela data. As crianças estariam sonolentas e sem a menor vontade de ir pra aula. O cachorro já teria pulado na mesa e lambido a margarina do pão. Vida real é meio sem glamour, mas tem lá o seu encanto, afinal trata-se de uma família e isso tem sempre um lado bom... Ao menos às vezes.
Tem coisa mais engraçada que propaganda de banco? É todo mundo pedindo empréstimo, pagando contas e sorrindo pro gerente da agência bancária. Preciso dizer como é isso na vida real? E propaganda de carro? Confesso que confundo todos os modelos sedan, de todas as marcas. Jamais me importei com os carros. Fui ao salão do automóvel e só consigo mesmo é lembrar daquele robô e das modelos magérrimas com o sorriso congelado. Coitadinhas, aquilo deve ter lhes causado câimbra, dor no maxilar. Tinha uma delas, loira platinada. Estava com ares de morta de cansada. Quando um flash piscou, ela novamente sorriu. Eu não sabia se ria ou chorava de pena. Mulher que é mulher não se presta ao papel de acessório de veículo automotor. Porém, cada um faz o papel que bem entende.
Por falar em papel, tem as propagandas de papel higiênico. Bem macio e suave pra chuchu, aquela propaganda quis nos fazer rimar o chuchu com alguma outra coisa, que prefiro não mencionar. Será que é preciso fazer propaganda desse produto? É de primeira necessidade, a gente chega no supermercado e escolhe o de folha dupla, mas aquele que está em promoção, porque o dinheirinho é suado e sagrado. E tudo isso porque hoje é dia de pagar a fatura do meu cartão de crédito. Não irei ao banco sorrindo, não chegarei em um carrão reluzente, mas com toda a certeza pagarei a coisa em dia. O bom pagador vale por meia dúzia de maus pagadores. E tudo o que eu queria era um pãozinho com margarina, um dia ensolarado, um maridão que me olhasse apaixonado e não observasse meus cabelos desalinhados. Nada disso vende no shopping e nem no supermercado. Meu bolso agradece! Sonhar não custa nada...
Aqui estava eu, Diva Latívia, lendo e-mails e trocando breves mensagens com amigos no MSN quando apareceu online a minha sobrinha.
- “Titia, sabe aquela sua bolsa que você me emprestou?”.
Quando li isso senti uma espécie de calafrio. Mau pressentimento.
- “Sim, querida, lembro da minha bolsa de festa preferida”.
- “Sabe a chuva? Caiu na enxurrada quando eu desci da moto do Rodrigo”.
Fiquei alguns instantes totalmente analfabeta. Não podia ler e nem escrever palavra alguma. A bolsa era caríssima, usei apenas uma vez. Minha sobrinha pediu emprestada pra ir a uma festa de formatura.
Finalmente voltei a ler: - “Tia, prometo que vou te comprar outra igualzinha”.
Na hora calculei quantas mesadas ela terá que desembolsar pra cobrir o prejuízo.
- “Tia, tá paquerando, né? Por que não responde?”.
Queria encontrar no teclado a letra A, de arrependida, mas deu branco, esqueci onde ficava. Somente encontrei a letra B, de burra.
BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB!!!
- “Tia, tô indo aí na sua casa!!!”.
Finalmente reencontrei a letra A. Respondi: - “Agora não. Amanhã a gente conversa”.
- “Mas, Tia Diva, preciso ir aí pra pegar emprestada aquela sua sandália preta”.
Fiquei imaginando a criaturinha usando minha sandália preta, também caríssima, na garupa da moto do Rodrigo. Fiz minhas contas: bolsa 500 reais. Sandália 350 reais. Estava assim, tentando somar o prejuízo, quando li: - “Titia, empresta também aquele seu vestido?".
A visão que tive parece ter sido tão real! Meu vestidinho de grife voando ao vento em uma motocicleta. Pingos de chuva desbotando a sua cor. Continuei minha matemática. Vestido 1.200 reais. Bolsa 500 reais. Sandália 350 reais.
- “Tiaaaaaaa, para de namorar e responde!”.
Desliguei o computador sem ao menos dizer boa noite pra minha listinha de contatos do MSN. Fui tomar um chá de camomila. Dizem que acalma os nervos.
( Texto de minha autoria, publicado no blog Janela das Loucas em 2009).
A ideia de minha amiga Cleusa pareceu sensacional! Mr. Divo Latívio deveria ser chipado, vigiado, seus passos rastreados por satélite. Desliguei o MSN entusiasmada.
Quarta-feira, 16h00. O celular tocou e, como diria a vovó: “do outro lado do aparelho” estava meu algoz, digo, Mr. Divo Latívio: - Oi Diva. Tudo bem, meu amor? Hoje à noite vou sair com uns amigos, mas vou te telefonar quando sair do trabalho.
Engoli cada palavra. Ele não telefonou, mas saiu com os amigos. Pra onde? Com quem?
Quarta-feira, 23h00: A esta altura eu já tinha enlouquecido a Cleusa que, possivelmente, pra livrar-se de minhas lamúrias, sugeriu essa ideia fantástica.
Dormi muito mal. O que teria Divo aprontado?
Quinta-feira, 08h00: Parei no pet shop ao lado de casa. A veterinária me atendeu.
- Bom dia. Em que posso ajudá-la?
- Doutora, sei que alguns animais de estimação recebem um chip de identificação. É possível rastrear o animalzinho via satélite?
- Para o caso dele se perder?
- Simmmmmm!
- Podemos ver isso. É um cachorrinho?
- Mais ou menos.
- Um gatinho?
- É...
- Então, traga o bichano e verei o que é possível fazer.
Quinta-feira, 09h00: O celular tocou novamente. Era ele, Mr. Divo Latívio. – Bom dia, meu amor. Ontem cheguei tão tarde, perdi a hora tomando cerveja com o Sinfrônio e o Simplício. Não quis telefonar e te acordar. Dormiu bem?
Fiz que engoli, a vontade era de cospir marimbondos furiosos.
Quinta-feira, 10h30: Voltei ao pet shop. – Doutora, meu cachorrinho, digo, meu gatinho tem medo de sair de casa, sabe? Quero apenas comprar o chip.
- Mas isso é irregular. Pra implantar o chip é preciso uma micro-cirurgia e eu não venderei o material sem ter toda a garantia de que será implantado por um colega veterinário.
- Não por isso, meu irmão é veterinário.
- É mesmo? Em qual universidade ele estudou?
- Havard ( cruzes!).
- Senhora, esse chip somente pode ser usado em animais, tem ciência disso?
- Claro...
- Venderei, mas terá que assinar um termo de responsabilidade.
Assinei e escutei várias recomendações. Não implantar nada sem ter ao lado um veterinário habilitado. E se usasse o produto em humanos poderia ser processada por crime de lesão corporal dolosa. Em suma, coisa feia de se fazer com seres de duas patas, digo, de duas pernas.
Agora estou à procura: alguém aí entende de bichos? Digo, alguém aí é veterinário? Vai que algo sai errado, um bom profissional poderá fazer respiração boca-a-boca!
Quinta-feira,14h00: Lembrei que está ocorrendo o Salão do Automóvel. Juro, ele me deixou em casa tossindo, com gripe, e foi ver as modelos pirulonas de 1,90 de altura ao lado daquelas Ferraris coloridas. Na próxima desculpa saberei exatamente onde ele está. Implantarei o chip enquanto ele estiver dormindo. Se acordar, direi que uma abelhinha entrou no quarto, mas já matei a coitadinha. E depois poderei segui-lo pra todo lado. Adeus dúvidas, agora terei certezas! E “teje dito”.
Acho que este texto merece uma nota da autora. Trata-se de uma caricatura do que ocorre entre alguns casais, fala sobre a insegurança feminina, a desconfiança. A maioria de nós, mulheres, não acredita nos homens. São tantas as desculpas esfarrapadas de alguns deles, as mentiras que eles contam, a falta de consciência ao trair fisica e moralmente a companheira, que aprendemos desde o berçário a não confiar em homem algum. O texto é irreal, mas a cisma feminina é real. Se você, homem, deseja ter ao seu lado uma mulher que confia em você, não minta pra ela. Seja sincero, por maior que seja a confusão que ocorrerá. Mil vezes a verdade mais dolorida do que a mais doce das mentiras. A nossa desconfiança é atávica, ou seja, deve ser proveniente do tempo em que os homens deixavam as mulheres em cabanas e cavernas, iam caçar e guerrear. Voltavam anos depois, isso quando voltavam. Existe uma piada antiga, que conta a história do - desculpem o termo - do idiota que saiu de casa dizendo pra esposa que ia comprar cigarros. Voltou anos e anos depois, quando ela o viu começou a falar, falar, falar. E ele, então, disse: - putz, preciso sair de novo. Esqueci de comprar os fósforos.
Homens que não compreendem a mulher, não entendem a alma feminina, causam estragos irreparáveis. Deveriam saber permanecer sozinhos.
Diva Latívia
Eleger alguém para assumir o mais alto posto em nosso coração não é tarefa simples.
Tempo, calma, atitudes, detalhes. Tudo isso é somado lentamente e, feito semente, germina e se desenvolve. A paixão inicial se transforma, enraíza ou apodrece, depende...
Ir com sede ao pote induz a equívocos que sufocam e desgastam rapidamente o relacionamento. Cobranças absurdas, desconfiança, ciúme psicopata. Nada disso fortalece uma relação amorosa. Seriedade sim, comprometimento sim, mas asfixia jamais! Encontrar a dose certa. O que é cuidado e o que é excesso?
É preciso ter paciência. Eu mesma procuro dentro de mim essa qualidade que, confesso, está em falta no meu estoque. Conhecer alguém é algo que se faz diariamente e durante a vida toda. Minha avó dizia que é preciso que o casal, junto, coma um saco de sal pra que se conheça. Não sei quantos quilos pesa o tal do saco de sal, mas acredito que uma tonelada.
Surpresas. Surpreenda-me! Tão bom ser surpreendido. Surpresas agradáveis, claro. Descobrir que quebrou a cara, mas do jeito melhor possível. Que todas as dúvidas que existiam e causavam insegurança deram lugar a um plano de felicidade a dois. Surpresas. Quantas vezes tive surpresas terríveis? Pés no traseiro traiçoeiros, no momento que eu considerava o auge do relacionamento? Puxadas de tapete que deixaram lembranças sombrias. Isso traumatiza e dá-lhe sessões de terapia. Superação. Quantas vezes é preciso que o coração sangre? Não sei. O meu já foi atropelado e, bravamente, sobreviveu.
O que não mata, fortalece. É o que dizem. E cá estou divagando novamente. E cá estou às vésperas de completar seis meses de namoro. Quase um recorde. Quantos gramas de sal teremos comido juntos? Algo que cabe em uma pequena colher de chá. O suficiente pra saber que vale a pena esperar. E dá-lhe sal!
Tenho certeza: pior que diarreia normal é a diarreia mental. Burra nunca fui, mas aquela dor de barriga, certamente de origem emocional, estragou um momento romântico. Café da manhã a dois, feriado prolongado, sentados juntinhos no sofá da sala.
Parecia um bando de passarinhos em meu abdômen. Urubus, talvez? Algo breve, rápido. Flatulência não combina com juras de amor eterno. Minhas mãos geladas, suadas. Nãooooo! Eu precisava controlar algo dentro de mim e não eram os meus sentimentos nobres! Ele carinhoso, aconchegou-se mais pertinho. Afastou a franja que caía sobre minha testa. Apertei mais forte sua mão. O banheiro a dois metros de nós. Calculei a quantos milímetros o redentor wather closet, vulgo WC, fugia de mim. Tentei corresponder ao beijo suave em meus lábios. Gemi, entendeu que de prazer. Dentro de mim uma revolução, órgãos digestivos se rebelavam e tomavam posse da minha razão. Coração acelerado e alheio às minhas ordens. Intestino, obedeça minhas ordens: agora não! Não! Nãoooo! Sobrevivi à diarreia mental, sucumbi à diarreia habitual. Quando o olhei fixamente, ele disse: - tudo bem, isso acontece.
Culpei a mortadela e o salaminho que petiscamos na véspera. Depois, sublimei a culpa sem conseguir encará-lo, morta de vergonha. Odisseia hereditária, metade da família tem história pra contar. Corre-corre pra entrar em casa: - abreeeeee a portaaaaa que preciso ir ao banheirooooo! Pai, mãe, avós, irmãos. Todos com sua anedota real, mas ninguém tinha em seus braços o par romântico, a eleita fui eu. Sorte ou falta de, não sei exatamente, afinal tudo vira texto em minhas mãos. Vontade de escrever mas que &*%¨#... Vocês sabem o que! Ainda bem, os neurônios, apesar dos pesares, continuam ilesos. Resta apenas tentar esquecer.
Parei no caminho e dei meia-volta. Não fui ao cemitério depositar flores no túmulo de minha mãe. Em meu pensamento uma frase ecoava insistentemente, algo que ela dizia enquanto definhava gravemente enferma: viver é celebrar a vida. Confesso, nem todos os dias celebro a vida. Há dias nublados, apesar de o céu estar azul. Difícil o ensinamento generoso de minha mãe. Praticá-lo exige despojamento, generosidade, bondade.
Durante a última semana tive um sonho bonito. Ainda era criança e estava brincando no jardim com meus irmãos. Surgiu minha avó paterna e exclamou: “são tantos pra você cuidar!”. Então, perguntei: - “vó, por que eu?”. Ela respondeu: “por que não você?”.
E isso é a vida. Cuidar, enfrentar, assumir e não desanimar.
Hoje de manhã chorei. Senti saudade da infância povoada de adultos dignos de longas histórias, quase todos partiram nessa viagem misteriosa que é a morte física. Gente que veio do nordeste brasileiro e gente que veio da longínqua Europa. A mistura disso foi batizada pelo meu avô de “alemães paus-de-arara”. E é exatamente isso o que eu e meus irmãos somos: vira-latas. Aliás, aqui no Brasil, quase todos somos. Diz meu irmão, Flávio, que somos “baião de dois com chucrute”. Pois que seja, isso com farinha deve ser tudo de bom. Sim, leitor, ração nem pensar, vira-latas se satisfazem com “misturebas” inacreditáveis.
E o que tudo isso tem a ver com a data tão triste – Finados - que lembra as pessoas amadas que foram embora pro Céu? É uma homenagem, afinal estamos aqui, estamos vivos. Em um ano duas pessoas que eu amava profundamente faleceram: minha mãe e meu amigo Abílio. Enquanto a Mami piorava do câncer eu chorava no ombro do querido Abílio. Mal ela partiu, lá se foi meu amigo pras nuvens, de repente. Pensei que fosse enlouquecer de dor! O desespero uniu-se ao desamparo.
Eu poderia ter brigado com Deus, afinal a prepotência faz parte do pacote denominado “ser humano”. Quando voltei a me erguer, quando caiu a ficha e percebi o quanto era ridículo blasfemar e me revoltar, soube que alguém muito próximo de mim está doente. Nova revolta, novas blasfêmias. E eu não estava sozinha. Vocês estavam aqui, lendo meus textos. Fiz novos amigos, conheci meu namorado, não faltou pão em casa e eu não enxerguei azul por detrás das nuvens cinzentas. Errática, dramática, alguém que engatinha na estrada rumo à luz. Assim eu sou.
A beleza da vida está em nosso olhar. A felicidade, bem como a tristeza, é conseqüência de nossas atitudes. Ainda que a saudade dos que faleceram seja absurdamente dolorida. E que Deus tenha cada ser amado, os meus e os seus, no melhor lugar do Paraíso. Tenho certeza, um dia estaremos todos juntos novamente, sem dor e sem doenças.
A saudade me fez chorar, a esperança me fez escrever tudo isso pra você, leitor. Portanto, vamos tentar secar nossas lágrimas e seguir o valioso legado de minha mãe: celebremos a vida!
Estava cansadíssima. A semana mal havia começado e eu precisava de um longo final de semana pra descansar. Coisas de Diva versus os tempos modernos. Cheguei em casa, escolhi música pra ouvir, abri uma garrafinha de água com gás. Quando me preparei pra tomar banho tocou o telefone. Atendi.
- Boa noite. Por gentileza a Sra. Bárbara Germânia “se encontra”?
(Aqui devo aos meus leitores uma explicação. Bárbara Germânia é minha mãe, que foi embora pro Céu há quase um ano).
- Quem está falando?
- Por gentileza, quero falar com a Sra. Bárbara Germânia. Ela não está?
- Não está, acho.
- A senhora sabe a que horas ela vai "estar chegando"?
- Olha, moço, não sei dizer, mas eu tenho tido a impressão de que ela anda por perto.
- Ela tem o cartão Credicoisa?
- Acho que tinha sim.
- Mas, se ela tinha é porque não tem. Quero oferecer as vantagens e facilidades do cartão.
- Claro, se ela aparecer e, desde que eu não desmaie quando isso acontecer, darei a ela o seu recado.
- A senhora é parente dela?
- Sou filha. Moço, ela não mora mais aqui.
- Entendo. Pode me dar o novo endereço de sua mãe? Assim "estarei enviando" por correio as vantagens e facilidades.
Eu já estava começando a me divertir com essa conversa. Mami que me desculpe, mas o cara queria o endereço dela! Eis, finalmente, a minha chance de me vingar da turma do telemarketing!
- Prefere o endereço mais perto ou o endereço mais longe?
- Os dois, por favor.
- O perto é no Morumbi. O longe é mais complicado, fica no Paraíso.
- Ótimos bairros. Tem o endereço completo?
- Ah sim: No Morumbi é quadra X, lote XXX, sepultura n. XXXXX. E o Paraíso, não sei explicar exatamente onde ela está, mas dizem que está pouco a pouco compreendendo que desencarnou. Ela é muito teimosa, acho que está vindo aqui em casa. Mas eu não tenho medo então, por mim, zuzubem!
O cara desligou, ou melhor deve "estar desligando"!
Ele era jovem. Tinha prestado vestibular e começado a faculdade de engenharia. Nos finais de semana ia pra balada com os amigos, gostava de motos e tinha uma namorada.
Desde pequeno evitou ser o centro das atenções. Não gostava muito de falar, era um bom ouvinte. Segundo os pais, era um ótimo menino.
Parecia tudo perfeito, a família estava orgulhosa e despreocupada. Era o filho mais velho, depois dele nasceu uma irmã, 3 anos mais nova. Gente de classe média, o pai era arquiteto, a mãe lecionava inglês.
Quando os pais fizeram um esforço e compraram em 24 prestações um carro novo, motor 1.0, foi imensa a surpresa. O presente de aniversário mais desejado e melhor que recebeu em toda a vida. 19 anos e a vida boa, simples e confortável.
Um dia desapareceu de casa o Playstation 3. Primeiro desconfiaram da faxineira. Foi dispensada sem acusações, simplesmente a despediram. Semanas depois, sumiram duas canetas-tinteiro, algo de coleção e que tinha pertencido ao avô materno.
A mãe procurou pela casa toda, em vão. Intrigados, os pais não tinham mais de quem desconfiar. Qual dos filhos teria subtraído aqueles objetos?
Uma noite ele não voltou pra casa. A família desesperada, telefonaram muitas vezes para o celular que não atendia. Procuraram a namorada, que não sabia onde ele estava. Os amigos também nada sabiam. Depois de dois dias ele voltou pra casa e sem o carro.
Já desesperados, os pais imaginaram um assalto, seqüestro. Não deu explicações, trancou-se no quarto.
Confusos e aflitos, os pais não conseguiram falar com ele até muitas horas mais tarde, quando passou pelo corredor em direção ao banheiro, calado, a barba por fazer, descabelado.
Não explicou onde esteve, o que houve, onde estava o carro. Passou alguns dias assim, o comportamento estranho, às vezes agressivo. Os pais foram à delegacia e prestaram queixa do sumiço do veículo. E foi assim que tudo começou a vir à tona.
Pergunta vai, pergunta vem, o delegado cismou que o garoto poderia estar envolvido com algo que chamou de “barra pesada”: drogas.
Incrédulo e um tanto indignado, o casal deixou a delegacia sem dar ouvidos ao que consideraram um insulto. O filho, garoto bem criado, calouro da faculdade de engenharia, não faria isso. Não tinha amigos drogados, não freqüentava lugares de “gente desse tipo”.
Tentaram esquecer o episódio, apesar da perda patrimonial que sofreram.
Uma semana depois, sumiu o notebook do pai. Assim, sem mais nem menos. E foi aí que, finalmente, passaram a considerar possível que o filho estivesse envolvido com drogas. Estaria, talvez, furtando esses objetos para pagar um traficante.
Em sua ausência, entraram em seu quarto. Reviraram gavetas, bolsos, tentaram descobrir esconderijos. E foi dentro do bolso de uma jaqueta que encontraram o que procuravam. Um tubinho, algo minúsculo. Cocaína.
O céu pareceu ter desmoronado. Por que? Essa era a pergunta que os pais se fizeram. Como isso foi acontecer em sua família? Se eram felizes, se nada lhes faltava, então por que?
Quando o filho voltou da faculdade, não sabiam por onde começar a conversa. Limitaram-se a entregar-lhe o que encontraram. Prometeu não mais usar drogas, abraçaram-se e despreocuparam-se.
Ele ainda some ocasionalmente, fica dias e dias sem voltar pra casa. O tratamento médico e psicológico que começou parece dar resultados graduais. Recusou-se a ser internado, mas os pais não perdem a esperança de que poderão convencê-lo. Tudo depende apenas dele, uma escolha que pode levá-lo ao recomeço ou ao fim.
Trancou a matrícula na faculdade, terminou o namoro e alguns amigos de infância não mais o procuraram. Os pais deixaram de dormir tranquilos e a paz mudou de endereço.
Este texto é ficção. Não foi inspirado em fatos reais e não vivenciei nada parecido. Drogas, a escolha é de cada um e o sofrimento é de muitos, especialmente da família. Acho que quando acontece um problema, seja ele qual for, por maior que seja, a postura de quem está enfrentando a dificuldade é que pode começar a produzir mudanças. Se o dependente químico se ajudar, vai sim voltar à vida. Se você tem problemas com drogas, se alguém que você ama tem esse problema, deixo aqui alguns links de lugares onde você poderá encontrar mais informações e ajuda, o Narcóticos Anônimos e o grupo de apôio aos pais, parentes e amigos dos dependentes químicos, Nar-Anon. Espero que meu texto seja útil pra alguém, em algum lugar.
Narcóticos Anônimos: http://www.na.org.br/
Nar-Anon: http://www.naranon.org.br/
O notebook diante de si e ela praticamente paralisada, lendo e relendo o e-mail do ex.
Já tinha deletado “o criatura” de seu MSN, Orkut, Facebook e tirado seu e-mail da lista de contatos. Porém, lá estava a mensagem daquele que costumava chamar de “falecido”.
Ele apenas queria comunicar que iria se casar com aquela morena gordinha, baixinha, mais feia que a situação. E que iria viajar em lua-de-mel para a França, um mês inteirinho. Portanto, não poderia visitar as crianças, filhos da extinta união, durante esse período.
Pensou em responder, desejar que ele e aquela gorducha viajassem pro inferno, mas se conteve. E lá estava ela em estado catatônico, olhar fixo no nada, seus pensamentos pareciam ter congelado.
Há quanto tempo não conversavam? Desde que o filho menor caiu na escola, isso há oito meses. A pensão alimentícia ele pagava em dia, as crianças ele buscava em finais de semana alternados. Tocava o interfone, ela atendia, o porteiro avisava que ele estava lá embaixo e ela mandava a empregada levar os pequenos até o pai. Evitava um contato visual com ele, preferia ser a ex-mulher-invisível.
Ficou imaginando: como seria a cerimônia de casamento deles? A mocreia usaria vestido de noiva? Tentou imaginar a futura esposa de seu ex. Certamente ficaria parecida com uma couve-flor, gorducha e cheia de babados e rendas. Riu sozinha, depois sentiu vontade de chorar. França? A lua-de-mel que tiveram, há mais de dez anos, foi no apartamento de seus pais, em Santos. Não tinham dinheiro pra quase nada.
Dois meses depois, ele se casou com a tal da mulher-couve-flor. Não foi convidada, evidentemente. Quando vestiu os dois filhos torceu pra que as crianças não se comportassem durante a cerimônia, chamassem a madrasta de bruxa quando o padre perguntasse se havia alguém que soubesse de algum impedimento. Naquela noite, ela tomou todas. Abriu uma garrafa de vinho e depois mais outra. Dormiu no sofá com o televisor ligado no canal de filmes.
Acordou ao meio-dia, o sol entrando pela vidraça e batendo em seu rosto. A cabeça doía, as costas doíam. Meio cambaleante, aos poucos lembrou da realidade. Na cozinha a empregada já estava preparando o almoço. Os meninos tinham acabado de chegar, trazidos por algum parente.
Não resistiu, perguntou aos pequenos “como foi o casamento do papai”.
- Manhê, que demais, a gente tirou uma foto com o celular, quer ver?
Hesitou alguns instantes, buscou seus óculos de grau e, pasma, visualizou um casal de meia-idade, ela vestida de noiva, parecendo um repolho e não uma couve-flor, e ele com um smoking vermelho, algo que considerou ridículo e quase surreal.
Deu-se por satisfeita, mas já que ex é ex e a natureza é algo imutável, passou a torcer pra que Paris estivesse fria, cinzenta, pra que o elevador da Torre Eiffel sofresse alguma pane momentânea, pra que o corcunda de Notre Dame ressuscitasse inesperadamente e a lua-de-mel se transformasse em puro fel.
A última notícia que teve de seu ex foi na semana passada. Aos quarenta e cinco anos, a tal da fulana está grávida. Agora ela está imaginando com quem vai se parecer a criança. Espera que com a mãe, um pequenino repolho que futuramente vestirá smoking vermelho, igualzinho ao papai.
Por essas e outras, penso o seguinte: a maioria dos(as) ex deveria ser abduzida por alienígenas. Evaporar, sumir!
O telefone tocou e quando escutei a palavra “câncer” senti que meus pés saíram do chão. Lembro que meu pensamento viajou até junho de 1964, aquela manhã fria, o dia em que ele nasceu. Rechonchudo e com olhinhos muito verdes, meu irmão do meio veio ao mundo.
A vida nos tornou adultos e cada um seguiu seu rumo. Vidas paralelas com um laço forte de sangue e afeto. E eu escutei a palavra “câncer”.
No primeiro instante eu não soube o que fazer. Sentei no chão aos prantos. Acabamos de assistir à partida de nossa mãe pro Paraíso. Ela também foi vítima dessa palavra que repito aqui, pra amanhã não mais mencioná-la: câncer.
Acredito em milagres e acredito no amor. Acredito em Deus e acredito que Ele está assistindo a isso tudo.
Diva Latívia, ou Cláudia, esta que escreve pra vocês no Janela das Loucas e também neste blog, está sem inspiração. Minha energia está completamente voltada pra um pedido de cura e redenção. Cure meu irmão, Senhor!
Enquanto eu estiver ausente, ou enquanto minha inspiração falhar, peço a você que acompanha meus textos, que faça uma prece. Reze por mim, por ele, por todos nós.
Irmão é pedaço do corpo e da alma da gente. E esse irmão é pra mim um amor imensurável. Não estou apenas triste, estou partida em milhões de pedaços.
Mano, você vai sair dessa e eu vou estar o tempo todo pertinho de você. Juntos vamos vencer esse tal de “câncer”! Dar um pontapé no traseiro desse monstro! Eu te amo e vou cuidar de você!
Que me desculpe o protagonista desta história, mas escrever me ajuda a respirar e forma-se aqui uma corrente de pensamento positivo e muita fé!
Estava sentada na cozinha tomando uma xícara de café e pensando na vida.
O pensamento viajava pelos tópicos TOP-TOP: família, trabalho, grana ( falta de...), namorado que não apresenta a mãe nem com reza brava, o telhado da casa que precisa de reforma... Aí tudo recomeçava: família, trabalho... E, quando eu estava calculando quanto gastaria na reforma do telhado, escutei o seguinte de Maria José, minha cozinheira: - Xi, Dona Diva, isso é encosto!
Quase engasguei com o café. Já que tudo vira texto, quis saber detalhes sobre o tal do encosto. Quem sabe surgisse uma nova história para lhes contar?
- É a finada senhora sua mãe, Dona Diva, ela num qué que a senhora se case com seu Divo não!
Pobre Divo Latívio, sei que ele é um tanto complicado – homens são mesmo complicados -, mas a Mami não encostaria em mim, não dessa forma, claro.
- Sabe, Zezé, eu hoje não estou muito bem. Preocupada com as contas e com os problemas da casa.
- Isso é falta de sexo, Dona Diva. Seu Divo tá cumparicendo não?
- Que é isso Maria José? Te dei essa liberdade por acaso?
- Dona Diva, por que a senhora num participa daquele programa de televisão que dá uma casa nova?
A essa altura eu já tinha perdido as contas. Uma casa com quase 300 metros quadrados de área construída vezes milhares de telhas. O valor esqueci! Já estava com a calculadora em mãos quando fui novamente interrompida.
- Dona Diva?
- Diga Zezé.
- Sabe aquele médico que cuida de doente da cabeça?
- Psiquiatra?
- Esse mesmo. Por que a senhora não vai lá, deita naquele sofá e bota pra fora seus pobrema?
- Não estou doida, Zezé.
- Mas tá pobre, né Dona Diva?
Ela desapareceu da cozinha quando perdi a paciência.
Termino o texto com o diagnóstico feito pela Zezé. Sem dinheiro, sem conhecer a quase-futura-sogra, com o telhado pingando em mim, quiçá encostada pelo espírito de minha mãe. Pra completar tenho uma cozinheira que, além de preparar quitutes maravilhosos, recomendou um divã e um terreiro pra me livrar de encosto.
Creio que a solução ideal seria eu fazer macumba no telhado de casa.
Quanto tempo pode durar um namoro? Eis que amanheci pensando nisso. É tão farta a oferta de gente, de pretendentes, de facilidades! Somos tão estimulados a viver sem depender da companhia fixa de alguém! As tentações estão em toda a parte. Ao que parece, ter uma namorada ou um namorado está fora de moda. Tenho escutado com relativa frequência a seguinte pergunta: pra quê casar?
Faço então a mim mesma e a você, leitor que passa pelo mesmo dilema, a pergunta que martela em minha cabeça: então, pra quê namorar? Namoro deveria ser a ante-sala de um casamento. Quem precisa de mera companhia poderia contentar-se com um cão-guia, ou então com alguns amigos bebedores de cerveja no happy hour. Se não quer casar, não deveria perder tempo com isso.
Quanto tempo pode durar um namoro? Um mês? Dois? Aí a coisa começa a ficar mais séria, ela vai querer conhecer a senhora sua mãe. Ah, mas é possível protelar isso, ir levando numa boa. Três meses? Quatro? E o que fazer pra se desvencilhar de cobranças, pra que sonhos tolos de felicidade – felizes para sempre – não passem pela cabecinha romântica do incauto par? E dá-lhe baldes de água fria! Pra quê casamento? Isso não serve pra nada, não é mesmo? Tire da moça o sonho de ter um príncipe, um castelo, um cavalo branco. Comece a dizer que vai morar sozinho, que tem “pipas” pra resolver fora do horário de trabalho.
Pra quê casar? Todos nós sabemos morar sozinhos, pagamos nossas contas sozinhos, cuidamos de nossas vidas sozinhos. Pra quê casar? Casamento é uma tremenda dor de cabeça. E quem garante que, amanhã, ela não irá traí-lo? Trocá-lo por alguém com o dobro da sua conta bancária e a metade de sua idade? Quem garante que será fácil aturá-la ao seu lado na mesma cama durante anos a fio? É muito risco, muito aborrecimento. Separar-se de novo é impensável! Advogado, fórum, juiz, chateação. Então, pra quê casar-se?
Namoro deveria ser doce feito mel, suave feito brisa, tão belo quanto o amanhecer. Porém, ficar é bem mais fácil. Quem fica não precisa incluir a pessoa em sua família. Evita o vexame de ter que apresentar uma nova namorada a cada mês. E não perde o status de solteiro bem resolvido.
E tudo isso tem um preço muito alto, que nem sempre é estimado em tempo hábil: solidão. Depois, quando a idade chegar, não se queixe que a felicidade não bateu à sua porta. O que era doce, você dispensou. Pra quê casar, não é mesmo? E nesse egoísmo, de quem tem a pretensão de imaginar que tudo de bom já ofereceu a alguém, que a fonte se esgotou, perde-se a oportunidade de, talvez, ser feliz com alguém que vale a pena. Pra quê?
Este texto foi inspirado no desabafo de alguém, que depois de meses de namoro escutou do seu par esta pergunta: “pra quê casar”? E você, sabe pra quê?
Acho simplesmente o máximo isso! Procurei imagens para ilustrar os textos que publico e deparei-me com a imagem que aqui está. Uma senhorita, quiçá uma senhora? Pendurada em um poleiro ou poste. É a tal da pole-dance, ou dança do poste. Uma marca famosa de isqueiro tem essa ilustração. Vou procurar, quero um igual. Bola, rebola, se enrosca... E não é que na academia de ginástica estava assim escrito: “Parabéns Professora Fulaninha, campeã nacional de Pole-Dance”. Campeã?
Pois acabo de lavar quatro máquinas de roupa suja. Claro, eu primeiro esfrego a roupa à mão. Sabão no colarinho das camisas dele, sabão com carinho nas minhas blusas de lã. Quantas calorias devo ter eliminado? Sei lá! E o que isso tem a ver com a dança do poleiro? Não sei! Apenas me senti ultrajada. Campeã de pole-dance? Durante anos a fio estive em aulas de ballet. Algo forçado, não via a menor graça naquilo. Quando pude impor minha vontade, larguei aquilo.
Feito muitas garotas da minha geração, eu achava divino assistir às chacretes rebolando na Buzina do Chacrinha. Já imaginaram uma garota de classe média alta, filhinha-de-papai, transformar-se em bailarina da Hora da Buzina? Impossível. E foi assim que suportei sapatilha, tutu, fru-fru. Meus irmãos praticavam judô. Inveja boa! Era tudo o que eu queria.
E todo esse meu blá-blá-blá é só pra lhes contar que hoje assisti a uma matéria na TV na qual um médico afirmava categoricamente que nós, mulheres, não temos o menor senso de direção. Disse que, se mostrar-nos o mapa mundi, seremos capazes de apontar o Leste no lugar do Oeste. Vontade de entrar pela tela da TV e dizer poucas e boas ao doutor. Comparou os humanos aos macacos. E... Macacos me mordam, já falei demais. A roupa está agora no varal, as camisas dele secando ao sol. E que importa meus diplomas, meu título de doutora? Lavar roupa é, pra mim, tal e qual lavar a alma. Curto e relaxo. Amélia Latívia atacou novamente ou... Finalmente! Sem poste, mas feliz da vida à beira de um tanque. É mole ou querem mais?
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
15 de dez. de 2010
Feliz Natal e feliz 2011!
Este é o meu último texto de 2010, um ano cheio de emoções, acontecimentos alegres e tristes, chegadas e partidas. Neste ano nasceu este blog, que já concorreu a prêmios, que já teve uma crônica selecionada e publicada em um livro que em breve indicarei a todos vocês. E o meu sucesso eu devo a cada um que acessa o blog e ri, comenta, participa.
Como você deve saber, voltei a escrever há pouco mais de um ano, incentivada pelo Abílio, que faleceu neste ano de 2010. Esta uma das notas tristes, porque amigos não morrem jamais, mas a saudade ficou e ficará enquanto eu respirar. Até hoje releio nossas conversas no MSN, guardei o histórico. Resolvi espiar o que conversamos há exatamente um ano. Falávamos do blog Janela das Loucas e estávamos escolhendo a mensagem de ano novo pros nossos leitores. Difícil pra mim, mas estou me recuperando aos poucos.
Em 2010 a grana foi curta. O trabalho foi árduo. A família deu aquele trabalho que somente nós, as mães e irmãs, podemos compreender. Irmãos, cunhadas, sobrinhos e o filho que teima em tornar-se um homem, apesar de eu ainda enxergá-lo como um menino. Fiz novos amigos, conheci novas pessoas, algo mudou completamente nos meus dias e refiz meus planos. Namorando, depois de um prolongado inverno solitário, começo a planejar 2011 muito bem acompanhada dele. Esse o acontecimento mais feliz e gratificante do ano que se despede.
E você leu tudo isso, é meu leitor, seguidor, chegou até aqui sem querer ou por costume. Anônimo ou velho conhecido meu, deparou-se com minhas letrinhas de final de ano.
Desejo a vocês todos alegrias imensas, tão grandes que possam transformar-se em crônicas que assinarei. Episódios divertidos ou sérios, mas com um toque de felicidade e um "happy end" ilustrado com corações e flores que escolherei carinhosamente nas imagens do Google.
Que essa união cibernética se fortaleça e que dentro de um ano estejamos reunidos ao redor desta telinha que nos informa, emociona, encurta distâncias e facilita nosso dia-a-dia. Obrigada por sua companhia em 2010 e sejam muito felizes em 2011. Feliz Natal e Feliz Ano Novo.
Um beijo da autora,
Cláudia
10 de dez. de 2010
FIDELIDADE, REFLEXO DE AMOR
Quando as feridas do passado se abrem, difícil se torna o presente. O futuro fica mais distante e tudo isso se resume em falta de esperança. Quem já foi traída – a maioria das mulheres algum dia foi traída – dificilmente volta a recuperar-se 100% dessa amargura. Insegurança!
Homens apreciam a beleza feminina. Olham, discretamente ou não. Quando se reúnem em turma, em rodas de cerveja, o assunto costuma ser nada menos que nós, as mulheres.
Tanta vulgarização do corpo. O comportamento feminino mudou muito ao longo das últimas décadas. O sexo tornou-se banal, instrumento de conquista, algo prazeroso e sem culpa. Uma oferta que, antigamente, era reservada ao casamento. Hoje, transar é bom e não gera qualquer tipo de compromisso com o parceiro ou a parceira. Ter um relacionamento sério, comprometer-se com alguém, deveria ter um selo de total exclusividade sexual e afetiva. Um pra um, um pro outro.
Estava outro dia em uma igreja perto da minha casa. No final de um dia difícil decidi fazer uma oração e lá entrei. Quando saí, na praça em frente à igreja, havia um bando de pombas. Notei um casal, parecia beijar-se. Era tanto paparico, tanto mimo, tanto carinho. E, sabemos, quando um dos dois morre o outro permanece sozinho, apesar de continuar vivendo em bando.
Por que o ser humano não consegue ser assim? Por que os homens, em sua maioria, não conseguem ser exclusivos de suas parceiras? Com o passar do tempo todo o jogo da conquista torna-se velharia, algo jogado em algum canto. Cansaço, trabalho, problemas diários. Então, a gostosa da capa da revista torna-se fantasia e objeto de cobiça. A moça bonita que passou por ele na rua merece seu olhar e elogios. Escapadinhas, fugidinhas. E a namorada, esposa? Com sorte terá recebido um prêmio: boa companheira, quase uma irmã.
Perder o interesse pelo par. Deveria haver um alarme que tocasse alto quando isso começa a acontecer. Talvez aconteça esse sinal. Não sentir prazer, não desejar momentos a sós, não incluir a pessoa em planos futuros, o coração que já não pulsa acelerado. Esse é o alarme e, depois disso, tudo começa a cair em um abismo, ladeira abaixo.
Quem já se separou, se friamente analisar quando foi que isso tudo começou, quando foi que o cristal quebrou, vai lembrar que antes ocorreram sinais de perigo. Reuniões de trabalho além do horário habitual, clientes de última hora, viagens comerciais inventadas, invenções tantas e muitas. Isso de ambas as partes. Já era o tempo em que a mulher dizia que estava com dor de cabeça, hoje a dor de cabeça é masculina também.
O preço disso tudo é solidão. A troca constante de parceiros em busca do impossível. Não está em outrem aquilo o que se almeja, mas dentro de si. A felicidade reside dentro de nós mesmos e, compartilhando com alguém essa felicidade interior, nos tornamos realizados.
Ser fiel não é enfadonho, ser fiel não é tolice. É essencial pra quem busca um relacionamento sério. Escolha acertada de quem sabe quem quer e pra onde está caminhando. Livremente ser fiel.
Medo de compromisso, sinal de imaturidade. Amor é coisa pra gente grande. Moleques merecem brinquedos e não mulheres de verdade. Enxergar na companheira algo além de companhia, ver na esposa ou namorada a gostosa que está ao seu lado e valorizá-la por ser “sua”, isso alimenta o dia-a-dia e salva o relacionamento.
Que os alarmes toquem alto quando algo começar a sair errado. E que, no primeiro alarme, o casal acerte o passo. É o que desejo.
9 de dez. de 2010
MEU PRESENTE DE NATAL
Papai Noel é um encanto que se desfez quando eu tinha apenas oito anos de idade. No centro da cidade de São Paulo havia um grande magazine, se você esteve por aqui há muitos anos atrás, talvez tenha conhecido o Mappin. Não era fácil acompanhar os adultos, com seus interesses geralmente desinteressantes pra mim. Filas, pagamentos, longa demora. A recompensa costumava ser um presentinho, um lanche ou sorvete. Depois, voltávamos pra casa, no bairro de Moema. Quase sempre de bonde ou ônibus ou, como diziam os antigos, de condução. Minha avó decidiu fazer as compras natalinas em uma tarde ensolarada. Puxada por sua mão firme, lá estava eu. Meus olhos não se desgrudavam da boneca Suzi vestida de noiva. Sim, eu com oito anos já tinha essa mania de querer me casar. Depois da compra veio a esperada recompensa: fomos conversar com o Papai Noel. Decepção total! Vestido de azul escuro, magro, a barba presa com um elástico bastante visível. Fraude que minha avó insistia e teimava em reforçar: - veja, filhinha, este é o verdadeiro Papai Noel. Ele vai trazer a sua boneca, peça a ele! E eu desconfiada, traída e indignada. Dois mentirosos e, um deles, tinha o meu DNA. Vovó, anos mais tarde, chegou a pedir desculpas pela sacanagem, mas creio que o avanço da idade versus a pressa a fez perder a sensibilidade momentaneamente. Saí da loja com a certeza absoluta que Papai Noel não existia.
Dezembro de 2010. Cansada, apressada, sem muito tempo pra perder no horário do almoço fui ao shopping center resolver um problema de trabalho. Ao passar pelo personagem natalino, um senhor gordinho e fantasiado de bom velhinho, quase paralisei com a viagem que fiz no tempo. Voltei quarenta e um anos e lá estava eu novamente, com oito anos de idade. A retribuição ao meu olhar foi o sorriso encantador daquele senhor. Papai Noel! Hoje eu poderia fazer muitos pedidos, creio que nenhum presente seja comercializado. Saúde, amor, harmonia, paciência. Preciso de tudo isso e muito mais. Em 2010 conheci o Álvaro. Em meus textos ele ganhou o status e a grife latívia: Divo. Esse presente eu pedia há quarenta e nove anos: o meu par! E ele é o meu par. Não contem pra ele, mas um dia ele vai se casar comigo. Eis a compensação pra todo o dissabor que tive no Mappin, quando a Suzi vestida de noiva ficou pra trás, na prateleira. Não cheguei a pedi-la, os adultos sequer desconfiaram que aquele era o meu desejo. De presente ganhei qualquer coisa que não consigo lembrar.
Segunda-feira, dia 06 de dezembro de 2010. Ao passar pela portaria do prédio onde ele mora, fui chamada pelo porteiro. Havia uma caixa e a etiqueta dizia: notebook. Era uma encomenda para o Álvaro. Já que eu estava ali de visita, ou nem tanto porque tenho a chave e entro quando bem entendo, fiz a gentileza de levar o embrulho pro apartamento. Curiosa, li e reli a etiqueta da transportadora. Tremendo notebook, coisa finíssima. Enviei um torpedo pro celular dele: “ está rico? Chegou aqui seu notebook”. Instantes depois ele telefonou pra mim. – “Abra a caixa, o notebook é o seu presente de Natal”.
Para finalizar esta história, eis aqui o primeiro texto que escrevo no meu presente. A única recomendação que recebi foi a seguinte: continue escrevendo coisas lindas.
Meu Anjo querido, este texto, tanto quanto o meu coração, é todo seu.
Dezembro de 2010. Cansada, apressada, sem muito tempo pra perder no horário do almoço fui ao shopping center resolver um problema de trabalho. Ao passar pelo personagem natalino, um senhor gordinho e fantasiado de bom velhinho, quase paralisei com a viagem que fiz no tempo. Voltei quarenta e um anos e lá estava eu novamente, com oito anos de idade. A retribuição ao meu olhar foi o sorriso encantador daquele senhor. Papai Noel! Hoje eu poderia fazer muitos pedidos, creio que nenhum presente seja comercializado. Saúde, amor, harmonia, paciência. Preciso de tudo isso e muito mais. Em 2010 conheci o Álvaro. Em meus textos ele ganhou o status e a grife latívia: Divo. Esse presente eu pedia há quarenta e nove anos: o meu par! E ele é o meu par. Não contem pra ele, mas um dia ele vai se casar comigo. Eis a compensação pra todo o dissabor que tive no Mappin, quando a Suzi vestida de noiva ficou pra trás, na prateleira. Não cheguei a pedi-la, os adultos sequer desconfiaram que aquele era o meu desejo. De presente ganhei qualquer coisa que não consigo lembrar.
Segunda-feira, dia 06 de dezembro de 2010. Ao passar pela portaria do prédio onde ele mora, fui chamada pelo porteiro. Havia uma caixa e a etiqueta dizia: notebook. Era uma encomenda para o Álvaro. Já que eu estava ali de visita, ou nem tanto porque tenho a chave e entro quando bem entendo, fiz a gentileza de levar o embrulho pro apartamento. Curiosa, li e reli a etiqueta da transportadora. Tremendo notebook, coisa finíssima. Enviei um torpedo pro celular dele: “ está rico? Chegou aqui seu notebook”. Instantes depois ele telefonou pra mim. – “Abra a caixa, o notebook é o seu presente de Natal”.
Para finalizar esta história, eis aqui o primeiro texto que escrevo no meu presente. A única recomendação que recebi foi a seguinte: continue escrevendo coisas lindas.
Meu Anjo querido, este texto, tanto quanto o meu coração, é todo seu.
2 de dez. de 2010
AMOR VERDADEIRO
No último final de semana acompanhei meu namorado em uma confraternização de final de ano. Amigos se reuniram para celebrar a vida. Impressionante, garotos crescem, o tempo passa, mas continuam sendo garotos. A idade da turma está acima dos quarenta anos. Riam, brincavam, brindavam. Contagiante a alegria que reinava entre eles. A amizade masculina costuma carregar o selo de lealdade. Amigo que é amigo embarca no mesmo trem e segue lado-a-lado pra qualquer destino. Amigo homem não presta atenção em quem está mais gordo ou em quem vestiu-se com um modelito repetido. O importante é ser feliz.
Lá estávamos saboreando um delicioso churrasco quando fui apresentada a um dos presentes. Alguém que contou uma das mais belas histórias de amor que já ouvi. Casamentos costumam tornar-se complicados, chatos, enfadonhos. Assim acontece com muita gente. No entanto, nessa história, havia cumplicidade e muita harmonia. Felizes, depois de mais de trinta anos de casados. Porém, ela faleceu há alguns anos. E ele? Não, ele não foi pra balada, nem tratou de encontrar uma nova companheira. Lamenta a perda de seu par e fala de sua amada com os olhos marejados de lágrimas. Precisei disfarçar meu sentimento de solidariedade. Afinal, amor verdadeiro é incomparável. Escutei meu par sugerir a ele que tente encontrar uma namorada. Pensei o seguinte: é o mesmo que conseguir ganhar duas vezes na mega-sena acumulada. Um tanto difícil, não é mesmo?
Ímpar, assim ficou aquele homem. Disse que hoje agradece a Deus que foi ela quem morreu e não ele. Fiquei surpresa, então ele explicou o seguinte: prefiro ser eu a sofrer aqui na Terra sem ela, não desejaria a ela a dor que sinto agora.
Quanta gente está cheia do casamento? Quanta gente apenas consegue olhar pro próprio umbigo? E eles dois eram felizes, apesar de todas as dificuldades da vida. Lembrei dos casais de pássaros que, quando um dos dois morre, o outro permanece sozinho até o final da vida.
Não imagino o que seja sobreviver, restar na vida terrena, sem mais ter o companheiro de jornada. Nada pode ser mais triste e angustiante que perder sua metade. Sim, acredito em metades e não em dois inteiros que se unem.
Termino este texto pensando em você, que está atravessando um grave problema de saúde. Sua vida quase paralisada e girando em torno de médicos, hospitais, remédios e uma expectativa assustadora. A vida é tecida ponto a ponto, diariamente. Olhe pra trás e veja o quanto é bonita a sua história, apesar dos altos e baixos que lhe aconteceram. Ao seu lado o mais doce par que alguém poderia desejar. Tantos buscam, nem todos recebem a mesma graça. Essa é a verdadeira riqueza desta vida. Desejo a você saúde, pra celebrar a vida por muitas outras décadas.
Texto dedicado a você, Flávio, meu irmão querido. Com fé em Deus, a sua cirurgia vai ser um imenso sucesso e toda a dor, todo o sofrimento e medo desaparecerão. Parabéns pela parceria com a Renata, sua bela e querida companheira.
30 de nov. de 2010
O GOLPE DO FALSO TORPEDO PREMIADO
Acordei durante a madrugada. Olhei pro relógio: 04h00. Um barulho estranho vinha do quintal da minha casa. Fui até à janela, cismada que os vizinhos estavam acordados e promovendo alguma festa. Notei tudo escuro na casa ao lado, mas o quartinho dos fundos da minha casa estava com a luz acesa. Zezé, minha inestimável auxiliar, estava acordada e o barulhinho que me despertou eu pude identificar: sons de mensagens de texto de seu celular. Fiquei em silêncio olhando na direção do quarto quando a escutei soltar um gritinho: iupiiiiiii!!!
Fiquei intrigada. Zezé não tem muitos amigos, não tem namorado. Iupi? Por que? Mais alguns instantes e decidi voltar pra cama. Acordei novamente com Zezé dentro do meu quarto: - Dona Diva! Dona Diva! Pelo amor de Deus, acorda! Ganhei! Ganhei!
Sem entender nada, precisei afastar-me para dar espaço à criatura já sentada em minha cama, dando pulinhos de felicidade.
- Que coisa, Zezé. Isso é hora de me acordar?
- Ai! Que alegria! Ganhei!
- Ganhou? O que você ganhou?
- Um carro zerinho na promoção do torpedo premiado.
- Calma! Deixa eu ler isso.
Estava assim escrito: cliente da operadora XXX, parabéns, você ganhou um carro zero km na promoção do torpedo-vencedor do “Programa Uau”. Entre em contato conosco, telefone XXX-XXXX.
Precisei ir até à cozinha oferecer-lhe água com açúcar. Feliz, começou a fazer planos: venderia o carro e compraria uma casinha em Santa Maria do Vai e Volta, sua terrinha natal.
Depois de alguns minutos, menos sonolenta, comecei a raciocinar. Seria verdade aquilo? Liguei o computador e fiz uma busca. A tal operadora de celular não tinha uma promoção com aquele nome: torpedo-vencedor. Decidi telefonar pro número informado. Atendeu um sujeito, com forte sotaque de outro Estado. – "Tá feliz? Aqui é da operadora XXX! Você ganhou um carro zerinho, basta transferir $$$ pra conta XXXXX do Banco do Brejo e entregaremos o seu carro aí, na sua porta. Qual é o seu endereço?".
Finalmente entendi que Zezé tinha sido vítima de um golpe. Não soube como contar a ela a verdade, mas com o jeito de quem comunica que o gato subiu no telhado, pedi que esperasse amanhecer e cuidaríamos do assunto.
Voltei a dormir, acordei tarde, perdi a hora. Zezé não estava em casa. Telefonei pro seu celular, ela estava no banco tentando transferir um valor pra aquela conta bancária. Precisei falar sério, até mesmo brava: - Não faça isso e volte imediatamente pra casa.
Minutos depois, chegou Zezé. Arzinho de choro, olhar triste. Expliquei a ela que, nesta vida, ninguém ganha um prêmio sem ao menos participar de uma promoção. Que bandidos estão dispostos a promover esse tipo de maldade e a vítima pode ser qualquer pessoa.
Ainda está jururu, seu sonho durou poucas horas. Prometi que, se eu ganhar na loteria, ela vai ganhar um carrão zero quilômetros. Mas, já que eu não costumo jogar na loteria, acho que a Zezé vai ter que participar de promoções reais, de empresas sérias. Arriscar a sorte, afinal alguém tem que ganhar.
Este texto foi baseado em um fato verídico. Presenciei a alegria seguida da decepção de alguém muito simples que, por muito pouco, não transferiu seu dinheiro pra uma conta qualquer. Um golpe muito antigo, que envolve de modo fraudulento o nome de uma emissora de televisão séria e operadoras de celular também sérias. Ou as leis se tornam mais rígidas, as penas muito mais severas, ou não sei lhes dizer em que mundo iremos parar. Merecemos PAZ, merecemos JUSTIÇA e merecemos RESPEITO. Sinto muito, “Zezé”.
29 de nov. de 2010
BUSÃO DA ESPERANÇA
Um dos meus irmãos está com câncer. Só o nome dessa coisa já causa pavor. Em meio à dor, ao tratamento, aos médicos, cirurgia que se avizinha, chega o conforto dos amigos. Mensagens de esperança e carinho via e-mail, Orkut, MSN e no Facebook. Alguém muito bem definiu: é um "busão" lotado de gente que está unida, com muita fé em sua recuperação. Pensei em escrever algo sobre isso, mas a definição – busão – supera qualquer pensamento ou palavra. Absorvo sedenta cada mensagem que leio e recebo. É o meu alimento, que entrego a esse irmão com gratidão pelos muitos anos de amizade e pela honra de sermos companheiros de infância e juventude.
Quero agradecer a cada um de vocês. Alguns não conheço pessoalmente. Há pessoas que trabalham comigo, amigos de longa data, seguidores dos meus blogs, leitores anônimos. Façam uma prece, pra que tudo corra bem na cirurgia. Quando tudo isso passar, quero voltar aqui e dividir com vocês a felicidade de termos vencido juntos a batalha contra esse mal físico. Sim, o câncer tem cura!
Fica o vídeo, que chegou ao meu e-mail: Somewhere Over The Rainbow. Fica também o meu coração: obrigada, busão! Muito obrigada!
E sim, Cara! Eu sei que você leu isso tudo. Então, prepare-se: você é o motorista desse busão e eu também sou candidata a ser sua co-piloto. Depois daquela curva está a cura, mais um pouquinho e chegaremos lá!
SAUDADE, MAMI!
Hoje, segunda-feira de novembro de 2010. No horário do almoço interrompi o meu trabalho e levei flores ao túmulo da minha mãe. Um ano. Parece que o pesadelo aconteceu ontem. Com dois vasinhos de crisântemos nas mãos, ajoelhei-me no gramado do Cemitério do Morumbi, sem me importar muito com a roupa que usava e sem me preocupar com a hora. Há vários meses evitava o local, talvez por egoísmo, talvez por questão de auto-estima. Não sei. Quis poupar-me daquele instante. Fiz uma prece, não pude conter o choro. A saudade pode transformar-se em algo similar ao desespero. Então, percebi pertinho de mim um pardalzinho, passarinho miúdo que parecia me observar. Elevei o olhar, notei o azul do céu entre nuvens. Suspirei resignada. Fui abençoada com uma momentânea sensação de silêncio e paz.
Mãe, querida. Onde agora você estiver, segue um texto de sua escritora maluquinha. Depois de você, seguiu pra essa viagem inexplicável o meu querido Abilinho. Capricho do destino, ele partiu exatamente sete meses depois de você, em um outro dia 29. Então, decidi riscar todos os dias 29 de todos os calendários. Rabisco um X em cada dia desses. Todos os meus meses pulam do dia 28 para o dia 30. Hoje, segunda feira de novembro de 2010. O dia não existe, não mais.
“Viver é celebrar a vida”. Prometo, vou me esforçar. Deixo aqui uma das músicas que você mais gostava: “Voa, Liberdade” ( Jessé). E que você, aí nessa misteriosa imensidão, esteja livre de toda dor, de todo o mal, no colo do Deus em quem você sempre tanto confiou.
Saudade da filha que tanto te ama,
Cláudia
26 de nov. de 2010
Aspirando à inspiração
Estava aqui sentada, diante do computador. Comecei o texto: "Eles dois se conheceram na Lagoa lá do Brejo..."
Parei, paralisei, congelei. Busquei no teclado a próxima letra, em vão. Minutos se passaram, as ideias pareciam uma nuvem de algodão no azul do meu céu. Não sabia o que escrever.
Assisti à partida da inspiração, ela de mala e cuia embarcou naquela estação, onde tudo o que vai embora custa a voltar.
Tentei continuar o texto, a cada segundo mais distante de mim. Chamei, pedi, implorei. A inspiração não voltou e até zombou de mim, quando sugeriu que eu republicasse algo antigo para preencher o vazio nos meus blogs. Pensei no Natal e ano novo, em algum texto sobre as compras e os eventos de final de ano. Nem assim a danada atendeu ao meu apelo. Foi-se indiferente, sem olhar pra trás.
Enquanto a inspiração não volta, divago descaradamente. Peço ao leitor paciência com esta blogueira persistente e, se alguém encontrar a fugitiva por aí, avise-me.
23 de nov. de 2010
O TEMPERO DESTA VIDA
A gente planeja a vida, chegam os dias e tudo se modifica. Sonhos se transformam em realidade e, às vezes, em pesadelo. Aos quarenta e nove anos, tornei-me uma senhora de meia-idade com o sorriso e os ideais jovens. Os recursos estéticos ajudam, a qualidade de vida também ajuda. Quantos anos será que aparento? Não sei dizer, mas acho que uns quarenta, no máximo. Uma jovem senhora que, até o começo deste ano, procurava incansavelmente um bom companheiro para dizer adeus à solidão.
Há um ano minha mãe faleceu. Um novo e triste episódio, após um ano e dois meses voltada para os cuidados com essa mulher que eu tanto amei. Quando chegou o final, eu estava esgotada. Mal pude descansar: inventariante, herdeira, precisei assumir responsabilidades novas e gigantescas. Minhas férias dediquei à toda a burocracia que cerca os fóruns, cartórios, advogados, previdência. O ano de 2010, prestes a terminar, foi muito duro pra mim.
Divorciada há muitos anos, o sonho que acalentava era o meu refúgio, uma luz em meio à aridez dos meus dias. Um homem que eu teimava em dizer: ele existe e vou encontrá-lo! Quantos desenganos sofri durante a busca incansável? Não sei calcular.
A lembrança triste que eu trago é dos dias de domingo. O aroma do almoço das casas vizinhas, o burburinho das famílias, a alegria. E eu sozinha, cheguei a preparar miojo no almoço diversas vezes. Sem ânimo pra cozinhar, triste, a saudade dos tempos em que eu era novinha e minha família sentava-se à mesa animada, reunida.
O meu pedido aos Céus era o seguinte: o meu companheiro. Um homem que tivesse amor à família e que eu pudesse novamente ter o meu lar, ter os almoços de domingo. Quando conheci o meu namorado, notei o jeito sério dele. Falava de todos os seus entes queridos com afeto e uma certa reverência. Ponto positivo pro meu doce candidato. Demorou meses pra decidir-se, mas eis que fui apresentada aos parentes. Um almoço de domingo cercada de várias pessoas, gente simples e decente. Mesa lotada, cadeiras que vieram da sala, da cozinha. Pratos deliciosos, comidinha caseira. O tempero? Amor, muito amor há entre eles. Fui recebida com o respeito e o carinho que tanto almejava. A solidão se desfez sob o olhar doce do meu par. Solidão, velha companheira, despeço-me de você e agradeço o valioso ensinamento que me ofertou: família, o que existe de mais belo e sagrado nesta vida!
Há um ano minha mãe faleceu. Um novo e triste episódio, após um ano e dois meses voltada para os cuidados com essa mulher que eu tanto amei. Quando chegou o final, eu estava esgotada. Mal pude descansar: inventariante, herdeira, precisei assumir responsabilidades novas e gigantescas. Minhas férias dediquei à toda a burocracia que cerca os fóruns, cartórios, advogados, previdência. O ano de 2010, prestes a terminar, foi muito duro pra mim.
Divorciada há muitos anos, o sonho que acalentava era o meu refúgio, uma luz em meio à aridez dos meus dias. Um homem que eu teimava em dizer: ele existe e vou encontrá-lo! Quantos desenganos sofri durante a busca incansável? Não sei calcular.
A lembrança triste que eu trago é dos dias de domingo. O aroma do almoço das casas vizinhas, o burburinho das famílias, a alegria. E eu sozinha, cheguei a preparar miojo no almoço diversas vezes. Sem ânimo pra cozinhar, triste, a saudade dos tempos em que eu era novinha e minha família sentava-se à mesa animada, reunida.
O meu pedido aos Céus era o seguinte: o meu companheiro. Um homem que tivesse amor à família e que eu pudesse novamente ter o meu lar, ter os almoços de domingo. Quando conheci o meu namorado, notei o jeito sério dele. Falava de todos os seus entes queridos com afeto e uma certa reverência. Ponto positivo pro meu doce candidato. Demorou meses pra decidir-se, mas eis que fui apresentada aos parentes. Um almoço de domingo cercada de várias pessoas, gente simples e decente. Mesa lotada, cadeiras que vieram da sala, da cozinha. Pratos deliciosos, comidinha caseira. O tempero? Amor, muito amor há entre eles. Fui recebida com o respeito e o carinho que tanto almejava. A solidão se desfez sob o olhar doce do meu par. Solidão, velha companheira, despeço-me de você e agradeço o valioso ensinamento que me ofertou: família, o que existe de mais belo e sagrado nesta vida!
20 de nov. de 2010
UM TSUNAMI NA MINHA SALA!
Não sou decoradora, mas gosto de ajeitar minha casa, escolher objetos de decoração. Prefiro ambientes claros e com poucos móveis. Tudo “clean”.
Quando Mr. Divo Latívio aportou na minha praia, trouxe consigo uma aquarela que arrematou em um leilão. Minha parede, branca, estava nua. Jamais pendurei retratos, quadros. Quase um santuário, posso assim dizer. Algumas almofadas davam o toque feminino que enfeitava o meu apartamento. Nada de badulaques, esculturas ou enfeitinhos. Quando ele me contou que traria pra minha casa um quadro lindo, uma paisagem belíssima, imaginei algo abstrato, talvez ao estilo cubista de Picasso, que tanto me agrada. E lá estava o quadro enorme, impressionista e com moldura dourada. Tons pastéis, puxando para o amarelado e a assinatura de alguém famoso. Lembro que torci o nariz imediatamente.
Não me importo com nada de grife, muito menos com assinaturas ilustres. Coloquei meus óculos de grau e pude reparar naquele tom mais acinzentado ao fundo da paisagem ali pintada. Nuvens escuras se aproximavam de uma praia com barquinhos e pescadores. Batizei o quadro: tsunami.
Mr. Divo Latívio, a princípio indignado com minha ironia, discursou sobre o valor material da coisa. O fato é que não combina com o sofá e nem com o tapete. Por assim dizer, o tsunami devastou minha sala! Baixo astral, parece um aviso de que o mundo vai acabar a qualquer momento e alguém precisa avisar ao baixinho pintado à direita, ele está distraído!
Ontem Zezé, minha faxineira, telefonou pro meu trabalho.
- Dona Diva, eu já passei lustra móveis naquele quadro.
Gelei!
- Zezé, você está falando do quadro do Divo?
- Esse aí! Tá saindo a sujeira não!
- Zezé, você passou lustra móveis na parte dourada apenas ou também na parte da pintura?
- Passei pano úmido na pintura e lustra móveis no dourado. Tava preto de dar dó, muita poeira dona Diva!
- Zezé, você lavou o tsunami?
- Tsunami é aquele peixe que está no congelador?
- Deixa pra lá, Zezé.
Quando cheguei em casa, a posta de salmão que comprei estava descongelada. O tsunami tinha sido lavado e esfregado. Creio que o peixe, idem. Divo, quando chegou do trabalho, não percebeu nada, sequer olhou na direção do estrago. Apenas disse que preferia filés de peito de frango no jantar. Até hoje nada percebeu.
Quando Mr. Divo Latívio aportou na minha praia, trouxe consigo uma aquarela que arrematou em um leilão. Minha parede, branca, estava nua. Jamais pendurei retratos, quadros. Quase um santuário, posso assim dizer. Algumas almofadas davam o toque feminino que enfeitava o meu apartamento. Nada de badulaques, esculturas ou enfeitinhos. Quando ele me contou que traria pra minha casa um quadro lindo, uma paisagem belíssima, imaginei algo abstrato, talvez ao estilo cubista de Picasso, que tanto me agrada. E lá estava o quadro enorme, impressionista e com moldura dourada. Tons pastéis, puxando para o amarelado e a assinatura de alguém famoso. Lembro que torci o nariz imediatamente.
Não me importo com nada de grife, muito menos com assinaturas ilustres. Coloquei meus óculos de grau e pude reparar naquele tom mais acinzentado ao fundo da paisagem ali pintada. Nuvens escuras se aproximavam de uma praia com barquinhos e pescadores. Batizei o quadro: tsunami.
Mr. Divo Latívio, a princípio indignado com minha ironia, discursou sobre o valor material da coisa. O fato é que não combina com o sofá e nem com o tapete. Por assim dizer, o tsunami devastou minha sala! Baixo astral, parece um aviso de que o mundo vai acabar a qualquer momento e alguém precisa avisar ao baixinho pintado à direita, ele está distraído!
Ontem Zezé, minha faxineira, telefonou pro meu trabalho.
- Dona Diva, eu já passei lustra móveis naquele quadro.
Gelei!
- Zezé, você está falando do quadro do Divo?
- Esse aí! Tá saindo a sujeira não!
- Zezé, você passou lustra móveis na parte dourada apenas ou também na parte da pintura?
- Passei pano úmido na pintura e lustra móveis no dourado. Tava preto de dar dó, muita poeira dona Diva!
- Zezé, você lavou o tsunami?
- Tsunami é aquele peixe que está no congelador?
- Deixa pra lá, Zezé.
Quando cheguei em casa, a posta de salmão que comprei estava descongelada. O tsunami tinha sido lavado e esfregado. Creio que o peixe, idem. Divo, quando chegou do trabalho, não percebeu nada, sequer olhou na direção do estrago. Apenas disse que preferia filés de peito de frango no jantar. Até hoje nada percebeu.
19 de nov. de 2010
UM POR TODOS, TODOS POR UM!
Só tenho uma reclamação a fazer quanto à minha idade, 49 anos: não terei outros filhos biológicos. Se assim fosse possível, eu trataria de assustar umas... dez? vinte pessoas no mínimo, a começar pelo meu alvo amoroso, Mr. Divo Latívio. Posso imaginar parentes pálidos de espanto. Já que adoro causar... Surpresaaaaa! Parabéns, você foi contemplado! Porém, 49 anos. Netinhos serão bem-vindos!
Mãe de um filho único, irmã mais velha de uma ninhada de quatro irmãos. Não consigo imaginar como seria a minha vida, não fossem os três garotos que, feito uma escadinha, nasceram ano após ano depois da minha estréia nesta vida. As lembranças são muitas, a infância tão bela! Dificuldades muitas nos uniram tanto que podemos dizer: somos um só! E, nesse inteiro, que ri, chora e até sente as mesmas dores um do outro, temos que dar a mão à palmatória: não é que nossos pais, com todas as confusões que sempre aprontaram, conseguiram deixar um legado incomparável? Um por todos, todos por um. Já ouvi isso em algum lugar.
Não pude ou poderei dar ao meu filho ( o garotão já tem 23 anos!), um irmãozinho ou uma irmãzinha. Eis o meu mais profundo arrependimento nesta vida. Crescer sem irmãos, isso não tem a menor graça.
Certa vez, creio que tínhamos respectivamente 4 e 5 anos de idade, meu irmão Zeca e eu acompanhamos a Mami ao dentista. Certamente naquele dia ela estava com o juízo imperfeito, talvez perfeito, mas decidiu levar-nos em sua companhia. Deixou-nos sozinhos na sala de espera do consultório e lá estava, com aquele aparelho que serve para tirar o molde dos dentes. O dentista ocupadíssimo, ela sentada na cadeira e de costas pra nós. Antes de tudo começar, lembro da recomendação: fiquem quietinhos. Ganhamos um brinquedinho, como se isso pudesse nos aquietar e distrair: uma pequena bandeira, com uma haste de madeira. Dando sopa pro azar, um aquário bem equipado e com muitos peixinhos ornamentais. Olhamos, olhamos. Escolhemos aquele que seria pescado. A vara escolhida, claro: foi a bandeirinha!
Lá pelas tantas eis o nosso peixe! Pulando no chão. Gritei qualquer coisa do tipo: alguém salve o peixinho! Estávamos em uma encrenca e o castigo estava estampado na raiva do dentista e no desespero da minha mãe. Mas que ideia, deixar duas crianças pequenas sozinhas! Porém, agora já está feito. O Zeca, que nunca foi bobo, correu porta afora e desapareceu. O lugar era um conjunto comercial em Moema. Vários andares, muitos escritórios e consultórios. Sumiu. O dentista largou minha mãe naquele estado, levei uns tapas no traseiro daquela criatura cheia de ferros na boca, parecendo Hannibal. Seu olhar era do Incrível Hulk em plena transformação.
Meu irmão foi encontrado por mim, que também caí fora. Sentado em uma alfaiataria, conversando animadamente com o alfaiate. Fomos capturados, presos e torturados. Calma, nada que valha ser hoje punido senão com a lei da palmada. Aliás, se naquele tempo a lei da palmada estivesse em vigor, hoje minha mãe mudaria de endereço. Moraria em algum presídio, porque palmadas não faltaram.
Ficamos de castigo. E tudo isso não teria acontecido se eu tivesse perdido a melhor parte da minha vida, quando pouco a pouco meus irmãos foram chegando a este mundo, pra se unirem a mim, em travessuras, em alegrias, tristezas.
Quase cinqüenta anos de idade. Todos senhores de meia-idade. Um deles mora em Santa Catarina, o outro descobriu que está com câncer, o mais novo tem uma deficiência neurológica e pra sempre foi e será uma criança de três anos de idade. Vida complicada esta. Manos, ainda bem que temos essas lembranças e muitas histórias pra contar. Sem vocês, a vida não teria a menor graça!
AUMENTE O SOM!
Acordei cedo e assisti ao telejornal. A notícia de que Paul McCartney hoje cantará para milhares de pessoas em São Paulo foi o tapete mágico que me conduziu a uma viagem há trinta anos atrás.
Em 1980 o grupo Queen veio a São Paulo e cantou para uma plateia imensa no estádio do Morumbi. Na arquibancada, a autora deste texto, com apenas dezenove anos de idade. Fã que sou, pra mim o momento até hoje é especial. Doce lembrança, ao lado do irmão que sabe cantar todas aquelas melodias e arrisca alguns acordes no piano. Não foi tão fácil a empreitada. O frio, o estádio que balançava com os pulos do público (quem vai aos jogos futebol sabe como que é!), uma turminha que estava próxima de nós fumando algo com um cheiro horrível. Porém, valeu a pena. Anos depois, quando Freddie Mercury faleceu, fiz uma prece. Creio que essa gente vem ao mundo pra nos alegrar, considero-os anjos.
Os Beatles, pra mim, têm jeitinho de infância. Eles lembram meus pais, lembram meus tios. Quando cheguei à adolescência os quatro integrantes: John, Paul, George e Ringo, haviam se separado. Não sou muito entendedora de música, mas meus ouvidos apreciam de Let It Be a Yesterday. Não irei ao show do Paul. Trinta anos de idade a mais, hoje pagaria pra ter conforto.
Aos corajosos quarentões, cinquentões, sessentões e daí por diante, já a postos para assistir ao show, desejo um momento mágico e tão inesquecível quanto aquela experiência que tive no passado, quando minha banda favorita ( Queen) gravou na minha alma um momento inesquecível.
Por falar nisso, ontem estava em uma loja escolhendo alguns dvds. Na bancada, alguns do Queen. Pois duas senhoras começaram a remexer na mercadoria, como quem escolhe laranjas na feira. De repente, uma das duas poluiu meus tímpanos com a seguinte heresia: - “Queen? Detesto isso, esses caras são péssimos”. Somado a isso, em uma peça de teatro em cartaz aqui em Sampa, uma das personagens diz que não sabe quem foi o Queen. Velharia ou não, coisa de gente do século passado ou não, considero abissal falta de bom senso esbravejar tamanha ignorância publicamente.
Aos mais jovens, deixo um vídeo para que reconheçam a banda da qual falei. Aos mais experientes (feito eu!), deixo um vídeo com a boa recordação. Senhoras e senhores, com vocês: We Will Rock You,Queen!
18 de nov. de 2010
O QUE VEM DO CORAÇÃO
Nada mais chato que gente que se acha intelectual. O cara fala de tudo, mas não fala de nada. Pensa que é filósofo, pensa que é poeta, pensa que pensa, mas pensando bem, falta conteúdo naquela cabeça oca.
O coquetel de lançamento do produto estava marcado na minha agenda. Quis fugir, dar uma desculpa, em plena quinta-feira chuvosa eu queria mais era voltar pra casa, ficar descalça, preparar miojo e vestir meu pijama largo com o eslástico frouxo na cintura. Nada disso, precisei seguir à risca o compromisso assumido. De vestido pretinho básico e scarpin de salto alto, os meus pés reclamavam e as costas faziam coro com eles.
Passava das nove da noite quando pude escapar, não muito ilesa, depois de escutar blablablás sobre seguimentos econômicos, opiniões políticas e palpites jurídicos pra mim incompreensíveis. Fui de enfeite, por assim dizer. Quase uma penetra, porque o compromisso era de uma amiga, ela era a economista e eu o suporte técnico, a forcinha solidária pra que não fosse sozinha.
Mosquitos, malucos e "sapos" são ítens indispensáveis em eventos ao ar livre. Há meses não sei mais o que é visitar o site do "Brejo Perfeito". Comprometida com meu Mr. Divo Latívio, dispenso novos candidatos e evito tentações desnecessárias. Mas, o que fazer? Lá estava metade do "brejo", em formato de gente e fantasiados de executivos bem sucedidos. Altos, baixos, velhos, jovens, gordos, magros. Porém, anfíbios com carteirinha de sócios da "lagoa". Casados sem aliança, solteiros na caça.
- Mas, você é casada?
Olhei pro meu anular esquerdo. Não sei dizer porque, mas depois de tantos anos de divórcio, esse meu dedo ainda tem uma marquinha dos quase vinte anos que usei aliança de casamento.
- Sou sim.
- Ah, tá... Bobinha e mentirosa. Cadê a aliança?
Apontei pro meu coração. Aqui está a minha aliança. Não tem assinatura, não tem juramento em vão, não tem testemunhas e pra ele eu digo sim, mas em silêncio, em momentos sem solenidade.
Terminei o texto vestida com meu pijama listradinho. Suspirei e sorri pra tela do computador. Mais casada do que nunca!
16 de nov. de 2010
MEUS PASSOS NA CALÇADA
Era madrugada quando despertei. Minha primeira atitude foi olhar para o alto. O rádio-relógio da casa dele projeta a hora no teto. Estiquei meu braço para o lado esquerdo da cama e ele não estava ali. Então, pude compreender: eu estava na minha casa. Minha cama ganhou dimensões imensas, tal e qual um latifúndio. Senti frio, muito frio. Virei para o outro lado, tentei me acomodar do jeito que pude. Embolei o travesseiro, puxei o edredom. O sono tinha fugido, restava somente a lembrança do que ocorreu na véspera.
Pela metade, liguei o abajur. Procurei em vão os meus óculos, pude encontrar o controle remoto da tv. Troquei os canais: canal de vendas, filme de terror, filme pornô, filme nacional, um jogo de futebol do campeonato europeu. Desliguei a tv. Resolvi ir até à cozinha, abri a geladeira tentando pensar. Peguei um copo de leite, aqueci e adocei, achei horrível, mas dizem que combate a insônia. Sentei-me à mesa e minhas lágrimas caíram sobre a toalhinha xadrez.
Voltei ao quarto, fui à janela e admirei a visão da pista do Aeroporto de Congonhas. Há quanto tempo não viajo? Uma vida árida, pálida. Não sei dizer onde guardei aquele catálogo da agência de viagens. Um sonho que engavetei. Olhei novamente pro relógio, quase 06h00. Decidi tomar um banho, me arrumar. Desci a escada, preparei meu café, consegui comer duas bolachinhas de água e sal e bebi meia xícara de café com leite.
07h00, fui trabalhar. Meus passos lentos, o pensamento tão perto e tão longe. O trânsito parado, aquela gente andando apressada. Ninguém olhava pro rosto de ninguém. A mulher sentada na calçada, mendiga, as mãos estendidas pedindo um trocado. O homem que estava fumando na porta da padaria. O carro que freou bruscamente. Os alunos do colégio com seu uniforme azul. E eu, com meus pensamentos, no meu universo, sem ter pra quem contar que meu peito era só tristeza! Quanta saudade de ser feliz!
11 de nov. de 2010
AOS EX
São anos a fio dedicados à minha profissão: área jurídica, especializada em Direito de Família. No começo eu assistia ao drama alheio comovida, vez ou outra indignada com a falta de bom senso do ser humano. Famílias destruídas, gente que sofria, filhos envolvidos nas brigas dos pais. Lamentável isso.
Com o passar do tempo, passei a entender tudo isso sob o prisma de quem foi protagonista de um divórcio. Casa de ferreiro, espeto de pau. Velho ditado cheio de sabedoria popular. Todo o trâmite legal passava por mim feito capítulos de uma novela. Sofri. Muito! Passei a entender o que era aquilo sob a visão de quem está no olho de um furacão.
Não compreendo como que um casamento, depois de muitos anos, algumas décadas, pode terminar em confusão. Ninguém é obrigado a seguir a vida pra sempre ao lado de quem não ama, ou de quem não o ama. Porém, tem gente que prefere agarrar-se às pedras, aos tijolos, aos bens materiais. E é o que resta pra alguns, depois de tamanho desgaste, de tantos desapontamentos.
Ex-marido, ex-mulher. Ex. Quem merece ser ou ter um ex, uma ex? Ninguém se casa pensando em separação. Ser ex lembra algo finado, falecido. Cheira a podridão. Inerte, sem vida, morto! Somente restam as lembranças, algo que vai ficando amarelado pelo tempo. Um dia, a gente tenta lembrar o rosto da pessoa, se não correr e pegar uma foto de outrora, a memória não ajuda. A imagem daquele ser vai se diluindo pouco a pouco. Tudo vai se apagando, apagando... Menos a mágoa. Ah a mágoa! Sobrevivente e persistente, ela aponta um culpado sempre. Jamais somos nós os responsáveis, sempre o vilão é o EX par. E, pra ter certeza que aquele alguém não te esqueceu, ficam os recadinhos em lugares inusitados. Com amigos em comum ou no orkut, no facebook, na frase do MSN. Quem sabe ele leia? Quem sabe ela leia? Todo mundo lê, eis a questão.Não adianta imaginar que nada mais vai mudar, porque já mudou. Já era!
Já assisti aos divórcios, às separações sob todos os ângulos possíveis. De cabeça pra baixo e lado-a-lado. Agora, firme sobre meus pés e de cabeça erguida, aceito ser feliz novamente. Porém, resta entender quem está passando por tudo isso. Inevitável a lembrança de minha própria experiência . Tenho a sabedoria dos meus trinta anos de profissão, lidando com processos e dramas tristes de assistir.
Espero que você, se estiver passando por isso, seja forte. Não brigue por tolices, não caia nessa armadilha. O que passou, passou e, certamente, tudo isso vai levá-la(o) a um final muito mais feliz do que pode imaginar. Força e abaixe suas armas. Tijolos a gente compra tudo outra vez, não brigue por isso. Experiência própria: isso não vale a pena.
E, se tiver tido a sorte de ter encontrado um novo alguém, parabéns. Esse é o melhor presente que o destino poderia ter lhe oferecido. Pare de olhar pra trás, o minuto que passou não voltará. Quem é ex, não voltará também. E, como diz aquela musiquinha de Natal, o futuro já começou!
10 de nov. de 2010
FILHOS, BENDITOS FRUTOS!
Dorinha acordou com um leve mal estar. Quando levantou-se da cama, sentiu um embrulho no estômago e o mundo girou. Tentou lembrar-se do dia anterior, concluiu que nada poderia ter causado um problema digestivo.
O resto do dia foi assim, de tempos em tempos uma indisposição inexplicável. Não podia sentir aromas fortes: café, perfumes adocicados, frituras e até mesmo olhar pro buffet de saladas na hora do almoço foi um verdadeiro suplício. Preocupada, telefonou pro médico. Marcou uma consulta pro final do dia.
E lá se foi, pensando em virose, em gastrite, qualquer coisa assim. A sala de espera do médico estava um tanto lotada. Depois de uma hora foi chamada pela recepcionista:
- Dona Isadora? A senhora pode entrar.
O doutor, médico que a acompanhava desde a juventude, era um desses bons médicos, que conseguia acertar o diagnóstico sem pedir muitos exames.
- Dorinha, você já completou 40 anos, certo?
- Sim, doutor.
- Está casada?
- Não, eu me separei faz 2 anos.
- Mas está namorando?
- É, estou.
- Gosta dele, Dorinha?
-...
- Fiz uma pergunta, mocinha. É namoro sério?
- Não sei, mas estamos juntos faz 8 meses.
- Querida, vou pedir um exame de sangue, pra você colher agora mesmo.
- É algo sério, doutor?
- Vamos esperar o resultado, certo?
Dorinha passou a noite acordada. Pensou em todas as doenças contagiosas e também naquelas outras doenças, as que podem matar alguém. Quando seu namorado, Heitor, telefonou, ela tentou disfarçar a angústia, mas seu tom de voz foi delator.
- Amor, estou com tanto medo, o médico não quis arriscar nenhum diagnóstico!
No dia seguinte nem foi pro escritório. Foi direto pro consultório do doutor e escutou o seguinte:
- Você não está doente.
- Ah, graças a Deus!
- Você está grávida.
-!!!
- Por isso eu perguntei se o seu namoro é sério, mas primeiro quis ter certeza do resultado.
- E agora, o que farei?
- Espero que faça o certo.
- Mas, não sou casada! E estou com 40 anos!
- Conte pro seu namorado e, se precisar, também falarei com ele.
O resto do dia foi um suplício. Dorinha não podia ver flores, sentia enjôo. Incrível, havia flores em todos os lugares. Depois de muito pensar, decidiu contar a verdade pro namorado. Engasgou, gaguejou. Por fim disparou de uma vez por todas: - vamos ter um bebê.
Hoje é o primeiro aniversário da Bruna, filhinha da Dorinha com o Heitor. Linda, olhinhos verdes e narizinho arrebitado. Eles dois se casaram logo depois daquela notícia e segue tudo bem na vidinha do casal.
Nem sempre aquilo o que planejamos acontece. Surpresas e inesperados mudam nosso rumo, algumas vezes isso muda o nosso destino. Filhos, benditos frutos! Seres bem-vindos que trazem novo sentido às nossas vidas!
NA SUA ESTANTE ( Pitty)
A música "Na Sua Estante", cantada por Pitty. Combina com o meu texto abaixo.
QUEM VAI PAGAR O PATO?
De uns tempos pra cá, meu coração tem falhado. Não padeço de problemas cardíacos, mas tenho pagado um pato que não preparei, cozinhei ou almocei. No entanto, a louça engordurada está sobre a pia, pilhas imensas de pratos com restos de ossos e muito trabalho que terei pela frente. Vida dura a de quem deseja ser feliz, ainda que isso custe tempo, ainda que o resultado seja incerto.
Aos quarenta e nove anos, há quem imagine que vivi tanto que o que vier seja lucro. Ledo engano. Sou tão jovem quanto uma sonhadora garota de vinte anos. A idade cronológica não acompanha o desejo de felicidade.
Relacionamentos deveriam seguir leis daqueles países das duzentas chibatadas em praça pública. Prometeu e não cumpriu? Cem chibatadas! Traiu? Mais cem chibatadas! Não vai apresentar a moça à família? Dá-lhe uma bordoada pra ver se acorda!
Pra que um namoro tenha um final qualquer, ainda que feliz, é preciso ter maturidade. Ou fica tudo pela metade. Arrastar um fantasma de nome "ex" destrói qualquer possibilidade de ter um relacionamento bom e sério com outra pessoa.
Quanto tempo demora pra que alguém vomite sua culpa, suas dúvidas, suas mágoas e depois tome um banho de esperança? Não há tempo pra isso. O ideal seria que todos aqueles que ainda estão presos ao passado permanecessem sozinhos, sem arrastar pra dentro do seu redemoinho mais pessoas.
Eu amanheci triste, pensando na vida. No pato, nos pratos. Quarenta e nove anos e muito o que viver, muito o que sonhar, muito o que fazer. E sem tempo pra perder.
9 de nov. de 2010
SONHAR NÃO CUSTA NADA
Que bom seria se a vida fosse uma propaganda de margarina! O sol entrando pela janela da cozinha, a mesa farta e apinhada de bolos e geleias irresistíveis. O maridão sorridente, o cachorro abanando o rabo e as crianças todas alegres e prontinhas pra ir pra escola. Felicidade total, harmonia geral. Incrível, fosse real aquilo ninguém estaria sentado à mesa. O marido estaria atrasado, a mulher estaria meio descabelada, o casal teria se despedido apressadamente, um dos dois lembraria que a prestação da casa própria venceria naquela data. As crianças estariam sonolentas e sem a menor vontade de ir pra aula. O cachorro já teria pulado na mesa e lambido a margarina do pão. Vida real é meio sem glamour, mas tem lá o seu encanto, afinal trata-se de uma família e isso tem sempre um lado bom... Ao menos às vezes.
Tem coisa mais engraçada que propaganda de banco? É todo mundo pedindo empréstimo, pagando contas e sorrindo pro gerente da agência bancária. Preciso dizer como é isso na vida real? E propaganda de carro? Confesso que confundo todos os modelos sedan, de todas as marcas. Jamais me importei com os carros. Fui ao salão do automóvel e só consigo mesmo é lembrar daquele robô e das modelos magérrimas com o sorriso congelado. Coitadinhas, aquilo deve ter lhes causado câimbra, dor no maxilar. Tinha uma delas, loira platinada. Estava com ares de morta de cansada. Quando um flash piscou, ela novamente sorriu. Eu não sabia se ria ou chorava de pena. Mulher que é mulher não se presta ao papel de acessório de veículo automotor. Porém, cada um faz o papel que bem entende.
Por falar em papel, tem as propagandas de papel higiênico. Bem macio e suave pra chuchu, aquela propaganda quis nos fazer rimar o chuchu com alguma outra coisa, que prefiro não mencionar. Será que é preciso fazer propaganda desse produto? É de primeira necessidade, a gente chega no supermercado e escolhe o de folha dupla, mas aquele que está em promoção, porque o dinheirinho é suado e sagrado. E tudo isso porque hoje é dia de pagar a fatura do meu cartão de crédito. Não irei ao banco sorrindo, não chegarei em um carrão reluzente, mas com toda a certeza pagarei a coisa em dia. O bom pagador vale por meia dúzia de maus pagadores. E tudo o que eu queria era um pãozinho com margarina, um dia ensolarado, um maridão que me olhasse apaixonado e não observasse meus cabelos desalinhados. Nada disso vende no shopping e nem no supermercado. Meu bolso agradece! Sonhar não custa nada...
7 de nov. de 2010
A TIA NO MSN
Aqui estava eu, Diva Latívia, lendo e-mails e trocando breves mensagens com amigos no MSN quando apareceu online a minha sobrinha.
- “Titia, sabe aquela sua bolsa que você me emprestou?”.
Quando li isso senti uma espécie de calafrio. Mau pressentimento.
- “Sim, querida, lembro da minha bolsa de festa preferida”.
- “Sabe a chuva? Caiu na enxurrada quando eu desci da moto do Rodrigo”.
Fiquei alguns instantes totalmente analfabeta. Não podia ler e nem escrever palavra alguma. A bolsa era caríssima, usei apenas uma vez. Minha sobrinha pediu emprestada pra ir a uma festa de formatura.
Finalmente voltei a ler: - “Tia, prometo que vou te comprar outra igualzinha”.
Na hora calculei quantas mesadas ela terá que desembolsar pra cobrir o prejuízo.
- “Tia, tá paquerando, né? Por que não responde?”.
Queria encontrar no teclado a letra A, de arrependida, mas deu branco, esqueci onde ficava. Somente encontrei a letra B, de burra.
BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB!!!
- “Tia, tô indo aí na sua casa!!!”.
Finalmente reencontrei a letra A. Respondi: - “Agora não. Amanhã a gente conversa”.
- “Mas, Tia Diva, preciso ir aí pra pegar emprestada aquela sua sandália preta”.
Fiquei imaginando a criaturinha usando minha sandália preta, também caríssima, na garupa da moto do Rodrigo. Fiz minhas contas: bolsa 500 reais. Sandália 350 reais. Estava assim, tentando somar o prejuízo, quando li: - “Titia, empresta também aquele seu vestido?".
A visão que tive parece ter sido tão real! Meu vestidinho de grife voando ao vento em uma motocicleta. Pingos de chuva desbotando a sua cor. Continuei minha matemática. Vestido 1.200 reais. Bolsa 500 reais. Sandália 350 reais.
- “Tiaaaaaaa, para de namorar e responde!”.
Desliguei o computador sem ao menos dizer boa noite pra minha listinha de contatos do MSN. Fui tomar um chá de camomila. Dizem que acalma os nervos.
( Texto de minha autoria, publicado no blog Janela das Loucas em 2009).
5 de nov. de 2010
ACOMPANHADOS, PORÉM SÓS
Histórias felizes não têm final. Amor de verdade não termina. Gente que é gente pra valer não se transforma pra pior com o passar do tempo.
Decepções. Acho que somente nos decepcionamos quando depositamos esperança vã em um projeto ou em alguém. Ilusão. O faz de conta que está bem... Quem sabe isso mude? Quem sabe aquele alguém mude? A peneira na frente do sol. E, um dia, quando tudo aquilo o que foi sonhado se desfaz, vem o final infeliz.
Relacionar-se a dois só faz sentido se houver total cumplicidade. Não ver sentido em divertir-se longe daquele alguém. Não me refiro à individualidade que temos, ao mínimo de privacidade que todos precisamos ter, ainda que dentro de um namoro ou casamento. Eu me refiro à alegria de viver, ao pouco tempo que sobra em um final de semana, feriado, noites, férias. Difícil entender como que alguém prefere divertir-se sozinho ou com amigos e exclui seu par. Não entendo, porque eu não sou assim!
A correria da semana, o trabalho, família, afazeres tantos. Chega a sexta-feira e o que sobra, além do cansaço, é a oportunidade de aproveitar até domingo. É decepcionante passar um final de semana praticamente sozinho, ainda que casado ou namorando. E o par, cadê? Inventou algo pra fazer bem longe, ou até pertinho, mas sozinho ou sei lá com quem, mas sem você. E disso faz uma rotina, diversão é algo que não te inclui.
Recebo e-mails de leitores que enviam relatos, histórias pessoais. Inspiração pra novos textos. Nem sempre consigo escrever algo a partir desses desabafos e revelações muitas. Porém, algumas vezes eu vejo o filme da minha vida passar diante de mim, ao ler esses depoimentos todos. Quantos finais de semana passei sozinha? Quantos dias, noites, quantas horas? E me sinto muito solitária e triste quando entendo que ter um par é mais que dizer-se acompanhada. É ter um cúmplice na vida, que sem você não encontra graça.
Decepção é o resultado do excesso de expectativa. Ter os pés no chão e não esperar muito é o antídoto. Missão difícil que endurece o coração e torna a alma triste e com vontade de voar. Assim é a vida para os solitários ( ainda que acompanhados) e que buscam uma história sem final e muito feliz.
Decepções. Acho que somente nos decepcionamos quando depositamos esperança vã em um projeto ou em alguém. Ilusão. O faz de conta que está bem... Quem sabe isso mude? Quem sabe aquele alguém mude? A peneira na frente do sol. E, um dia, quando tudo aquilo o que foi sonhado se desfaz, vem o final infeliz.
Relacionar-se a dois só faz sentido se houver total cumplicidade. Não ver sentido em divertir-se longe daquele alguém. Não me refiro à individualidade que temos, ao mínimo de privacidade que todos precisamos ter, ainda que dentro de um namoro ou casamento. Eu me refiro à alegria de viver, ao pouco tempo que sobra em um final de semana, feriado, noites, férias. Difícil entender como que alguém prefere divertir-se sozinho ou com amigos e exclui seu par. Não entendo, porque eu não sou assim!
A correria da semana, o trabalho, família, afazeres tantos. Chega a sexta-feira e o que sobra, além do cansaço, é a oportunidade de aproveitar até domingo. É decepcionante passar um final de semana praticamente sozinho, ainda que casado ou namorando. E o par, cadê? Inventou algo pra fazer bem longe, ou até pertinho, mas sozinho ou sei lá com quem, mas sem você. E disso faz uma rotina, diversão é algo que não te inclui.
Recebo e-mails de leitores que enviam relatos, histórias pessoais. Inspiração pra novos textos. Nem sempre consigo escrever algo a partir desses desabafos e revelações muitas. Porém, algumas vezes eu vejo o filme da minha vida passar diante de mim, ao ler esses depoimentos todos. Quantos finais de semana passei sozinha? Quantos dias, noites, quantas horas? E me sinto muito solitária e triste quando entendo que ter um par é mais que dizer-se acompanhada. É ter um cúmplice na vida, que sem você não encontra graça.
Decepção é o resultado do excesso de expectativa. Ter os pés no chão e não esperar muito é o antídoto. Missão difícil que endurece o coração e torna a alma triste e com vontade de voar. Assim é a vida para os solitários ( ainda que acompanhados) e que buscam uma história sem final e muito feliz.
4 de nov. de 2010
DESCONFIANÇA ATÁVICA
A ideia de minha amiga Cleusa pareceu sensacional! Mr. Divo Latívio deveria ser chipado, vigiado, seus passos rastreados por satélite. Desliguei o MSN entusiasmada.
Quarta-feira, 16h00. O celular tocou e, como diria a vovó: “do outro lado do aparelho” estava meu algoz, digo, Mr. Divo Latívio: - Oi Diva. Tudo bem, meu amor? Hoje à noite vou sair com uns amigos, mas vou te telefonar quando sair do trabalho.
Engoli cada palavra. Ele não telefonou, mas saiu com os amigos. Pra onde? Com quem?
Quarta-feira, 23h00: A esta altura eu já tinha enlouquecido a Cleusa que, possivelmente, pra livrar-se de minhas lamúrias, sugeriu essa ideia fantástica.
Dormi muito mal. O que teria Divo aprontado?
Quinta-feira, 08h00: Parei no pet shop ao lado de casa. A veterinária me atendeu.
- Bom dia. Em que posso ajudá-la?
- Doutora, sei que alguns animais de estimação recebem um chip de identificação. É possível rastrear o animalzinho via satélite?
- Para o caso dele se perder?
- Simmmmmm!
- Podemos ver isso. É um cachorrinho?
- Mais ou menos.
- Um gatinho?
- É...
- Então, traga o bichano e verei o que é possível fazer.
Quinta-feira, 09h00: O celular tocou novamente. Era ele, Mr. Divo Latívio. – Bom dia, meu amor. Ontem cheguei tão tarde, perdi a hora tomando cerveja com o Sinfrônio e o Simplício. Não quis telefonar e te acordar. Dormiu bem?
Fiz que engoli, a vontade era de cospir marimbondos furiosos.
Quinta-feira, 10h30: Voltei ao pet shop. – Doutora, meu cachorrinho, digo, meu gatinho tem medo de sair de casa, sabe? Quero apenas comprar o chip.
- Mas isso é irregular. Pra implantar o chip é preciso uma micro-cirurgia e eu não venderei o material sem ter toda a garantia de que será implantado por um colega veterinário.
- Não por isso, meu irmão é veterinário.
- É mesmo? Em qual universidade ele estudou?
- Havard ( cruzes!).
- Senhora, esse chip somente pode ser usado em animais, tem ciência disso?
- Claro...
- Venderei, mas terá que assinar um termo de responsabilidade.
Assinei e escutei várias recomendações. Não implantar nada sem ter ao lado um veterinário habilitado. E se usasse o produto em humanos poderia ser processada por crime de lesão corporal dolosa. Em suma, coisa feia de se fazer com seres de duas patas, digo, de duas pernas.
Agora estou à procura: alguém aí entende de bichos? Digo, alguém aí é veterinário? Vai que algo sai errado, um bom profissional poderá fazer respiração boca-a-boca!
Quinta-feira,14h00: Lembrei que está ocorrendo o Salão do Automóvel. Juro, ele me deixou em casa tossindo, com gripe, e foi ver as modelos pirulonas de 1,90 de altura ao lado daquelas Ferraris coloridas. Na próxima desculpa saberei exatamente onde ele está. Implantarei o chip enquanto ele estiver dormindo. Se acordar, direi que uma abelhinha entrou no quarto, mas já matei a coitadinha. E depois poderei segui-lo pra todo lado. Adeus dúvidas, agora terei certezas! E “teje dito”.
Acho que este texto merece uma nota da autora. Trata-se de uma caricatura do que ocorre entre alguns casais, fala sobre a insegurança feminina, a desconfiança. A maioria de nós, mulheres, não acredita nos homens. São tantas as desculpas esfarrapadas de alguns deles, as mentiras que eles contam, a falta de consciência ao trair fisica e moralmente a companheira, que aprendemos desde o berçário a não confiar em homem algum. O texto é irreal, mas a cisma feminina é real. Se você, homem, deseja ter ao seu lado uma mulher que confia em você, não minta pra ela. Seja sincero, por maior que seja a confusão que ocorrerá. Mil vezes a verdade mais dolorida do que a mais doce das mentiras. A nossa desconfiança é atávica, ou seja, deve ser proveniente do tempo em que os homens deixavam as mulheres em cabanas e cavernas, iam caçar e guerrear. Voltavam anos depois, isso quando voltavam. Existe uma piada antiga, que conta a história do - desculpem o termo - do idiota que saiu de casa dizendo pra esposa que ia comprar cigarros. Voltou anos e anos depois, quando ela o viu começou a falar, falar, falar. E ele, então, disse: - putz, preciso sair de novo. Esqueci de comprar os fósforos.
Homens que não compreendem a mulher, não entendem a alma feminina, causam estragos irreparáveis. Deveriam saber permanecer sozinhos.
Diva Latívia
SURPREENDA-ME!
Eleger alguém para assumir o mais alto posto em nosso coração não é tarefa simples.
Tempo, calma, atitudes, detalhes. Tudo isso é somado lentamente e, feito semente, germina e se desenvolve. A paixão inicial se transforma, enraíza ou apodrece, depende...
Ir com sede ao pote induz a equívocos que sufocam e desgastam rapidamente o relacionamento. Cobranças absurdas, desconfiança, ciúme psicopata. Nada disso fortalece uma relação amorosa. Seriedade sim, comprometimento sim, mas asfixia jamais! Encontrar a dose certa. O que é cuidado e o que é excesso?
É preciso ter paciência. Eu mesma procuro dentro de mim essa qualidade que, confesso, está em falta no meu estoque. Conhecer alguém é algo que se faz diariamente e durante a vida toda. Minha avó dizia que é preciso que o casal, junto, coma um saco de sal pra que se conheça. Não sei quantos quilos pesa o tal do saco de sal, mas acredito que uma tonelada.
Surpresas. Surpreenda-me! Tão bom ser surpreendido. Surpresas agradáveis, claro. Descobrir que quebrou a cara, mas do jeito melhor possível. Que todas as dúvidas que existiam e causavam insegurança deram lugar a um plano de felicidade a dois. Surpresas. Quantas vezes tive surpresas terríveis? Pés no traseiro traiçoeiros, no momento que eu considerava o auge do relacionamento? Puxadas de tapete que deixaram lembranças sombrias. Isso traumatiza e dá-lhe sessões de terapia. Superação. Quantas vezes é preciso que o coração sangre? Não sei. O meu já foi atropelado e, bravamente, sobreviveu.
O que não mata, fortalece. É o que dizem. E cá estou divagando novamente. E cá estou às vésperas de completar seis meses de namoro. Quase um recorde. Quantos gramas de sal teremos comido juntos? Algo que cabe em uma pequena colher de chá. O suficiente pra saber que vale a pena esperar. E dá-lhe sal!
3 de nov. de 2010
E TUDO VIRA TEXTO!
Tenho certeza: pior que diarreia normal é a diarreia mental. Burra nunca fui, mas aquela dor de barriga, certamente de origem emocional, estragou um momento romântico. Café da manhã a dois, feriado prolongado, sentados juntinhos no sofá da sala.
Parecia um bando de passarinhos em meu abdômen. Urubus, talvez? Algo breve, rápido. Flatulência não combina com juras de amor eterno. Minhas mãos geladas, suadas. Nãooooo! Eu precisava controlar algo dentro de mim e não eram os meus sentimentos nobres! Ele carinhoso, aconchegou-se mais pertinho. Afastou a franja que caía sobre minha testa. Apertei mais forte sua mão. O banheiro a dois metros de nós. Calculei a quantos milímetros o redentor wather closet, vulgo WC, fugia de mim. Tentei corresponder ao beijo suave em meus lábios. Gemi, entendeu que de prazer. Dentro de mim uma revolução, órgãos digestivos se rebelavam e tomavam posse da minha razão. Coração acelerado e alheio às minhas ordens. Intestino, obedeça minhas ordens: agora não! Não! Nãoooo! Sobrevivi à diarreia mental, sucumbi à diarreia habitual. Quando o olhei fixamente, ele disse: - tudo bem, isso acontece.
Culpei a mortadela e o salaminho que petiscamos na véspera. Depois, sublimei a culpa sem conseguir encará-lo, morta de vergonha. Odisseia hereditária, metade da família tem história pra contar. Corre-corre pra entrar em casa: - abreeeeee a portaaaaa que preciso ir ao banheirooooo! Pai, mãe, avós, irmãos. Todos com sua anedota real, mas ninguém tinha em seus braços o par romântico, a eleita fui eu. Sorte ou falta de, não sei exatamente, afinal tudo vira texto em minhas mãos. Vontade de escrever mas que &*%¨#... Vocês sabem o que! Ainda bem, os neurônios, apesar dos pesares, continuam ilesos. Resta apenas tentar esquecer.
2 de nov. de 2010
VIVER É CELEBRAR A VIDA ( frase de minha mãe)
Parei no caminho e dei meia-volta. Não fui ao cemitério depositar flores no túmulo de minha mãe. Em meu pensamento uma frase ecoava insistentemente, algo que ela dizia enquanto definhava gravemente enferma: viver é celebrar a vida. Confesso, nem todos os dias celebro a vida. Há dias nublados, apesar de o céu estar azul. Difícil o ensinamento generoso de minha mãe. Praticá-lo exige despojamento, generosidade, bondade.
Durante a última semana tive um sonho bonito. Ainda era criança e estava brincando no jardim com meus irmãos. Surgiu minha avó paterna e exclamou: “são tantos pra você cuidar!”. Então, perguntei: - “vó, por que eu?”. Ela respondeu: “por que não você?”.
E isso é a vida. Cuidar, enfrentar, assumir e não desanimar.
Hoje de manhã chorei. Senti saudade da infância povoada de adultos dignos de longas histórias, quase todos partiram nessa viagem misteriosa que é a morte física. Gente que veio do nordeste brasileiro e gente que veio da longínqua Europa. A mistura disso foi batizada pelo meu avô de “alemães paus-de-arara”. E é exatamente isso o que eu e meus irmãos somos: vira-latas. Aliás, aqui no Brasil, quase todos somos. Diz meu irmão, Flávio, que somos “baião de dois com chucrute”. Pois que seja, isso com farinha deve ser tudo de bom. Sim, leitor, ração nem pensar, vira-latas se satisfazem com “misturebas” inacreditáveis.
E o que tudo isso tem a ver com a data tão triste – Finados - que lembra as pessoas amadas que foram embora pro Céu? É uma homenagem, afinal estamos aqui, estamos vivos. Em um ano duas pessoas que eu amava profundamente faleceram: minha mãe e meu amigo Abílio. Enquanto a Mami piorava do câncer eu chorava no ombro do querido Abílio. Mal ela partiu, lá se foi meu amigo pras nuvens, de repente. Pensei que fosse enlouquecer de dor! O desespero uniu-se ao desamparo.
Eu poderia ter brigado com Deus, afinal a prepotência faz parte do pacote denominado “ser humano”. Quando voltei a me erguer, quando caiu a ficha e percebi o quanto era ridículo blasfemar e me revoltar, soube que alguém muito próximo de mim está doente. Nova revolta, novas blasfêmias. E eu não estava sozinha. Vocês estavam aqui, lendo meus textos. Fiz novos amigos, conheci meu namorado, não faltou pão em casa e eu não enxerguei azul por detrás das nuvens cinzentas. Errática, dramática, alguém que engatinha na estrada rumo à luz. Assim eu sou.
A beleza da vida está em nosso olhar. A felicidade, bem como a tristeza, é conseqüência de nossas atitudes. Ainda que a saudade dos que faleceram seja absurdamente dolorida. E que Deus tenha cada ser amado, os meus e os seus, no melhor lugar do Paraíso. Tenho certeza, um dia estaremos todos juntos novamente, sem dor e sem doenças.
A saudade me fez chorar, a esperança me fez escrever tudo isso pra você, leitor. Portanto, vamos tentar secar nossas lágrimas e seguir o valioso legado de minha mãe: celebremos a vida!
29 de out. de 2010
PASSARINHOS NOS FIOS
Em plena primavera na cidade grande, acordei hoje muito cedo. Despertei com a algazarra de uma família de sabiás no telhado próximo à janela do meu quarto. Eles piavam canções bem entoadas, em alto e bom som. Não entendo muito bem o motivo disso, mas agora os passarinhos estão construindo ninhos, chocando ovinhos. Os bichinhos estão dando cria.
É sabido que coincidências não existem. Existe a famosa lei da atração. Estava lendo meus e-mails quando abri a mensagem de uma amiga. O conteúdo era este vídeo que aqui deixo publicado. O compositor, Jarbas Agnelli, viu uma foto com passarinhos pousados em fios elétricos. Algo parecido com a partitura de uma música. Leu essa pauta e eis a composição delicada, algo que remeteu meu pensamento aos anjos.
A poesia está dentro de nós, faz parte dos nossos sentidos. Senti-la e expressá-la é questão de postura e generosidade perante o próximo. Portanto, sejamos poetas!
Compartilho com vocês esse vídeo e repito a frase que minha mãe sempre dizia: VIVER É CELEBRAR A VIDA.
É sabido que coincidências não existem. Existe a famosa lei da atração. Estava lendo meus e-mails quando abri a mensagem de uma amiga. O conteúdo era este vídeo que aqui deixo publicado. O compositor, Jarbas Agnelli, viu uma foto com passarinhos pousados em fios elétricos. Algo parecido com a partitura de uma música. Leu essa pauta e eis a composição delicada, algo que remeteu meu pensamento aos anjos.
A poesia está dentro de nós, faz parte dos nossos sentidos. Senti-la e expressá-la é questão de postura e generosidade perante o próximo. Portanto, sejamos poetas!
Compartilho com vocês esse vídeo e repito a frase que minha mãe sempre dizia: VIVER É CELEBRAR A VIDA.
28 de out. de 2010
ALÔ, ALÔ!
Estava cansadíssima. A semana mal havia começado e eu precisava de um longo final de semana pra descansar. Coisas de Diva versus os tempos modernos. Cheguei em casa, escolhi música pra ouvir, abri uma garrafinha de água com gás. Quando me preparei pra tomar banho tocou o telefone. Atendi.
- Boa noite. Por gentileza a Sra. Bárbara Germânia “se encontra”?
(Aqui devo aos meus leitores uma explicação. Bárbara Germânia é minha mãe, que foi embora pro Céu há quase um ano).
- Quem está falando?
- Por gentileza, quero falar com a Sra. Bárbara Germânia. Ela não está?
- Não está, acho.
- A senhora sabe a que horas ela vai "estar chegando"?
- Olha, moço, não sei dizer, mas eu tenho tido a impressão de que ela anda por perto.
- Ela tem o cartão Credicoisa?
- Acho que tinha sim.
- Mas, se ela tinha é porque não tem. Quero oferecer as vantagens e facilidades do cartão.
- Claro, se ela aparecer e, desde que eu não desmaie quando isso acontecer, darei a ela o seu recado.
- A senhora é parente dela?
- Sou filha. Moço, ela não mora mais aqui.
- Entendo. Pode me dar o novo endereço de sua mãe? Assim "estarei enviando" por correio as vantagens e facilidades.
Eu já estava começando a me divertir com essa conversa. Mami que me desculpe, mas o cara queria o endereço dela! Eis, finalmente, a minha chance de me vingar da turma do telemarketing!
- Prefere o endereço mais perto ou o endereço mais longe?
- Os dois, por favor.
- O perto é no Morumbi. O longe é mais complicado, fica no Paraíso.
- Ótimos bairros. Tem o endereço completo?
- Ah sim: No Morumbi é quadra X, lote XXX, sepultura n. XXXXX. E o Paraíso, não sei explicar exatamente onde ela está, mas dizem que está pouco a pouco compreendendo que desencarnou. Ela é muito teimosa, acho que está vindo aqui em casa. Mas eu não tenho medo então, por mim, zuzubem!
O cara desligou, ou melhor deve "estar desligando"!
26 de out. de 2010
DROGAS!
Ele era jovem. Tinha prestado vestibular e começado a faculdade de engenharia. Nos finais de semana ia pra balada com os amigos, gostava de motos e tinha uma namorada.
Desde pequeno evitou ser o centro das atenções. Não gostava muito de falar, era um bom ouvinte. Segundo os pais, era um ótimo menino.
Parecia tudo perfeito, a família estava orgulhosa e despreocupada. Era o filho mais velho, depois dele nasceu uma irmã, 3 anos mais nova. Gente de classe média, o pai era arquiteto, a mãe lecionava inglês.
Quando os pais fizeram um esforço e compraram em 24 prestações um carro novo, motor 1.0, foi imensa a surpresa. O presente de aniversário mais desejado e melhor que recebeu em toda a vida. 19 anos e a vida boa, simples e confortável.
Um dia desapareceu de casa o Playstation 3. Primeiro desconfiaram da faxineira. Foi dispensada sem acusações, simplesmente a despediram. Semanas depois, sumiram duas canetas-tinteiro, algo de coleção e que tinha pertencido ao avô materno.
A mãe procurou pela casa toda, em vão. Intrigados, os pais não tinham mais de quem desconfiar. Qual dos filhos teria subtraído aqueles objetos?
Uma noite ele não voltou pra casa. A família desesperada, telefonaram muitas vezes para o celular que não atendia. Procuraram a namorada, que não sabia onde ele estava. Os amigos também nada sabiam. Depois de dois dias ele voltou pra casa e sem o carro.
Já desesperados, os pais imaginaram um assalto, seqüestro. Não deu explicações, trancou-se no quarto.
Confusos e aflitos, os pais não conseguiram falar com ele até muitas horas mais tarde, quando passou pelo corredor em direção ao banheiro, calado, a barba por fazer, descabelado.
Não explicou onde esteve, o que houve, onde estava o carro. Passou alguns dias assim, o comportamento estranho, às vezes agressivo. Os pais foram à delegacia e prestaram queixa do sumiço do veículo. E foi assim que tudo começou a vir à tona.
Pergunta vai, pergunta vem, o delegado cismou que o garoto poderia estar envolvido com algo que chamou de “barra pesada”: drogas.
Incrédulo e um tanto indignado, o casal deixou a delegacia sem dar ouvidos ao que consideraram um insulto. O filho, garoto bem criado, calouro da faculdade de engenharia, não faria isso. Não tinha amigos drogados, não freqüentava lugares de “gente desse tipo”.
Tentaram esquecer o episódio, apesar da perda patrimonial que sofreram.
Uma semana depois, sumiu o notebook do pai. Assim, sem mais nem menos. E foi aí que, finalmente, passaram a considerar possível que o filho estivesse envolvido com drogas. Estaria, talvez, furtando esses objetos para pagar um traficante.
Em sua ausência, entraram em seu quarto. Reviraram gavetas, bolsos, tentaram descobrir esconderijos. E foi dentro do bolso de uma jaqueta que encontraram o que procuravam. Um tubinho, algo minúsculo. Cocaína.
O céu pareceu ter desmoronado. Por que? Essa era a pergunta que os pais se fizeram. Como isso foi acontecer em sua família? Se eram felizes, se nada lhes faltava, então por que?
Quando o filho voltou da faculdade, não sabiam por onde começar a conversa. Limitaram-se a entregar-lhe o que encontraram. Prometeu não mais usar drogas, abraçaram-se e despreocuparam-se.
Ele ainda some ocasionalmente, fica dias e dias sem voltar pra casa. O tratamento médico e psicológico que começou parece dar resultados graduais. Recusou-se a ser internado, mas os pais não perdem a esperança de que poderão convencê-lo. Tudo depende apenas dele, uma escolha que pode levá-lo ao recomeço ou ao fim.
Trancou a matrícula na faculdade, terminou o namoro e alguns amigos de infância não mais o procuraram. Os pais deixaram de dormir tranquilos e a paz mudou de endereço.
Este texto é ficção. Não foi inspirado em fatos reais e não vivenciei nada parecido. Drogas, a escolha é de cada um e o sofrimento é de muitos, especialmente da família. Acho que quando acontece um problema, seja ele qual for, por maior que seja, a postura de quem está enfrentando a dificuldade é que pode começar a produzir mudanças. Se o dependente químico se ajudar, vai sim voltar à vida. Se você tem problemas com drogas, se alguém que você ama tem esse problema, deixo aqui alguns links de lugares onde você poderá encontrar mais informações e ajuda, o Narcóticos Anônimos e o grupo de apôio aos pais, parentes e amigos dos dependentes químicos, Nar-Anon. Espero que meu texto seja útil pra alguém, em algum lugar.
Narcóticos Anônimos: http://www.na.org.br/
Nar-Anon: http://www.naranon.org.br/
25 de out. de 2010
EX!
O notebook diante de si e ela praticamente paralisada, lendo e relendo o e-mail do ex.
Já tinha deletado “o criatura” de seu MSN, Orkut, Facebook e tirado seu e-mail da lista de contatos. Porém, lá estava a mensagem daquele que costumava chamar de “falecido”.
Ele apenas queria comunicar que iria se casar com aquela morena gordinha, baixinha, mais feia que a situação. E que iria viajar em lua-de-mel para a França, um mês inteirinho. Portanto, não poderia visitar as crianças, filhos da extinta união, durante esse período.
Pensou em responder, desejar que ele e aquela gorducha viajassem pro inferno, mas se conteve. E lá estava ela em estado catatônico, olhar fixo no nada, seus pensamentos pareciam ter congelado.
Há quanto tempo não conversavam? Desde que o filho menor caiu na escola, isso há oito meses. A pensão alimentícia ele pagava em dia, as crianças ele buscava em finais de semana alternados. Tocava o interfone, ela atendia, o porteiro avisava que ele estava lá embaixo e ela mandava a empregada levar os pequenos até o pai. Evitava um contato visual com ele, preferia ser a ex-mulher-invisível.
Ficou imaginando: como seria a cerimônia de casamento deles? A mocreia usaria vestido de noiva? Tentou imaginar a futura esposa de seu ex. Certamente ficaria parecida com uma couve-flor, gorducha e cheia de babados e rendas. Riu sozinha, depois sentiu vontade de chorar. França? A lua-de-mel que tiveram, há mais de dez anos, foi no apartamento de seus pais, em Santos. Não tinham dinheiro pra quase nada.
Dois meses depois, ele se casou com a tal da mulher-couve-flor. Não foi convidada, evidentemente. Quando vestiu os dois filhos torceu pra que as crianças não se comportassem durante a cerimônia, chamassem a madrasta de bruxa quando o padre perguntasse se havia alguém que soubesse de algum impedimento. Naquela noite, ela tomou todas. Abriu uma garrafa de vinho e depois mais outra. Dormiu no sofá com o televisor ligado no canal de filmes.
Acordou ao meio-dia, o sol entrando pela vidraça e batendo em seu rosto. A cabeça doía, as costas doíam. Meio cambaleante, aos poucos lembrou da realidade. Na cozinha a empregada já estava preparando o almoço. Os meninos tinham acabado de chegar, trazidos por algum parente.
Não resistiu, perguntou aos pequenos “como foi o casamento do papai”.
- Manhê, que demais, a gente tirou uma foto com o celular, quer ver?
Hesitou alguns instantes, buscou seus óculos de grau e, pasma, visualizou um casal de meia-idade, ela vestida de noiva, parecendo um repolho e não uma couve-flor, e ele com um smoking vermelho, algo que considerou ridículo e quase surreal.
Deu-se por satisfeita, mas já que ex é ex e a natureza é algo imutável, passou a torcer pra que Paris estivesse fria, cinzenta, pra que o elevador da Torre Eiffel sofresse alguma pane momentânea, pra que o corcunda de Notre Dame ressuscitasse inesperadamente e a lua-de-mel se transformasse em puro fel.
A última notícia que teve de seu ex foi na semana passada. Aos quarenta e cinco anos, a tal da fulana está grávida. Agora ela está imaginando com quem vai se parecer a criança. Espera que com a mãe, um pequenino repolho que futuramente vestirá smoking vermelho, igualzinho ao papai.
Por essas e outras, penso o seguinte: a maioria dos(as) ex deveria ser abduzida por alienígenas. Evaporar, sumir!
22 de out. de 2010
CÂNCER!
O telefone tocou e quando escutei a palavra “câncer” senti que meus pés saíram do chão. Lembro que meu pensamento viajou até junho de 1964, aquela manhã fria, o dia em que ele nasceu. Rechonchudo e com olhinhos muito verdes, meu irmão do meio veio ao mundo.
A vida nos tornou adultos e cada um seguiu seu rumo. Vidas paralelas com um laço forte de sangue e afeto. E eu escutei a palavra “câncer”.
No primeiro instante eu não soube o que fazer. Sentei no chão aos prantos. Acabamos de assistir à partida de nossa mãe pro Paraíso. Ela também foi vítima dessa palavra que repito aqui, pra amanhã não mais mencioná-la: câncer.
Acredito em milagres e acredito no amor. Acredito em Deus e acredito que Ele está assistindo a isso tudo.
Diva Latívia, ou Cláudia, esta que escreve pra vocês no Janela das Loucas e também neste blog, está sem inspiração. Minha energia está completamente voltada pra um pedido de cura e redenção. Cure meu irmão, Senhor!
Enquanto eu estiver ausente, ou enquanto minha inspiração falhar, peço a você que acompanha meus textos, que faça uma prece. Reze por mim, por ele, por todos nós.
Irmão é pedaço do corpo e da alma da gente. E esse irmão é pra mim um amor imensurável. Não estou apenas triste, estou partida em milhões de pedaços.
Mano, você vai sair dessa e eu vou estar o tempo todo pertinho de você. Juntos vamos vencer esse tal de “câncer”! Dar um pontapé no traseiro desse monstro! Eu te amo e vou cuidar de você!
Que me desculpe o protagonista desta história, mas escrever me ajuda a respirar e forma-se aqui uma corrente de pensamento positivo e muita fé!
21 de out. de 2010
NO DIVÃ OU NO TERREIRO?
Estava sentada na cozinha tomando uma xícara de café e pensando na vida.
O pensamento viajava pelos tópicos TOP-TOP: família, trabalho, grana ( falta de...), namorado que não apresenta a mãe nem com reza brava, o telhado da casa que precisa de reforma... Aí tudo recomeçava: família, trabalho... E, quando eu estava calculando quanto gastaria na reforma do telhado, escutei o seguinte de Maria José, minha cozinheira: - Xi, Dona Diva, isso é encosto!
Quase engasguei com o café. Já que tudo vira texto, quis saber detalhes sobre o tal do encosto. Quem sabe surgisse uma nova história para lhes contar?
- É a finada senhora sua mãe, Dona Diva, ela num qué que a senhora se case com seu Divo não!
Pobre Divo Latívio, sei que ele é um tanto complicado – homens são mesmo complicados -, mas a Mami não encostaria em mim, não dessa forma, claro.
- Sabe, Zezé, eu hoje não estou muito bem. Preocupada com as contas e com os problemas da casa.
- Isso é falta de sexo, Dona Diva. Seu Divo tá cumparicendo não?
- Que é isso Maria José? Te dei essa liberdade por acaso?
- Dona Diva, por que a senhora num participa daquele programa de televisão que dá uma casa nova?
A essa altura eu já tinha perdido as contas. Uma casa com quase 300 metros quadrados de área construída vezes milhares de telhas. O valor esqueci! Já estava com a calculadora em mãos quando fui novamente interrompida.
- Dona Diva?
- Diga Zezé.
- Sabe aquele médico que cuida de doente da cabeça?
- Psiquiatra?
- Esse mesmo. Por que a senhora não vai lá, deita naquele sofá e bota pra fora seus pobrema?
- Não estou doida, Zezé.
- Mas tá pobre, né Dona Diva?
Ela desapareceu da cozinha quando perdi a paciência.
Termino o texto com o diagnóstico feito pela Zezé. Sem dinheiro, sem conhecer a quase-futura-sogra, com o telhado pingando em mim, quiçá encostada pelo espírito de minha mãe. Pra completar tenho uma cozinheira que, além de preparar quitutes maravilhosos, recomendou um divã e um terreiro pra me livrar de encosto.
Creio que a solução ideal seria eu fazer macumba no telhado de casa.
19 de out. de 2010
PRA QUÊ CASAR?
Quanto tempo pode durar um namoro? Eis que amanheci pensando nisso. É tão farta a oferta de gente, de pretendentes, de facilidades! Somos tão estimulados a viver sem depender da companhia fixa de alguém! As tentações estão em toda a parte. Ao que parece, ter uma namorada ou um namorado está fora de moda. Tenho escutado com relativa frequência a seguinte pergunta: pra quê casar?
Faço então a mim mesma e a você, leitor que passa pelo mesmo dilema, a pergunta que martela em minha cabeça: então, pra quê namorar? Namoro deveria ser a ante-sala de um casamento. Quem precisa de mera companhia poderia contentar-se com um cão-guia, ou então com alguns amigos bebedores de cerveja no happy hour. Se não quer casar, não deveria perder tempo com isso.
Quanto tempo pode durar um namoro? Um mês? Dois? Aí a coisa começa a ficar mais séria, ela vai querer conhecer a senhora sua mãe. Ah, mas é possível protelar isso, ir levando numa boa. Três meses? Quatro? E o que fazer pra se desvencilhar de cobranças, pra que sonhos tolos de felicidade – felizes para sempre – não passem pela cabecinha romântica do incauto par? E dá-lhe baldes de água fria! Pra quê casamento? Isso não serve pra nada, não é mesmo? Tire da moça o sonho de ter um príncipe, um castelo, um cavalo branco. Comece a dizer que vai morar sozinho, que tem “pipas” pra resolver fora do horário de trabalho.
Pra quê casar? Todos nós sabemos morar sozinhos, pagamos nossas contas sozinhos, cuidamos de nossas vidas sozinhos. Pra quê casar? Casamento é uma tremenda dor de cabeça. E quem garante que, amanhã, ela não irá traí-lo? Trocá-lo por alguém com o dobro da sua conta bancária e a metade de sua idade? Quem garante que será fácil aturá-la ao seu lado na mesma cama durante anos a fio? É muito risco, muito aborrecimento. Separar-se de novo é impensável! Advogado, fórum, juiz, chateação. Então, pra quê casar-se?
Namoro deveria ser doce feito mel, suave feito brisa, tão belo quanto o amanhecer. Porém, ficar é bem mais fácil. Quem fica não precisa incluir a pessoa em sua família. Evita o vexame de ter que apresentar uma nova namorada a cada mês. E não perde o status de solteiro bem resolvido.
E tudo isso tem um preço muito alto, que nem sempre é estimado em tempo hábil: solidão. Depois, quando a idade chegar, não se queixe que a felicidade não bateu à sua porta. O que era doce, você dispensou. Pra quê casar, não é mesmo? E nesse egoísmo, de quem tem a pretensão de imaginar que tudo de bom já ofereceu a alguém, que a fonte se esgotou, perde-se a oportunidade de, talvez, ser feliz com alguém que vale a pena. Pra quê?
Este texto foi inspirado no desabafo de alguém, que depois de meses de namoro escutou do seu par esta pergunta: “pra quê casar”? E você, sabe pra quê?
17 de out. de 2010
ESTRADA NOVA ( Oswaldo Montenegro)
Oswaldo Montenegro, um compositor-poeta que muito bem retrata sensações, sentimentos. Nesta música sinto em seus versos a solidão que me invade, talvez que também já tenha lhes tocado. Bela música! Deixo aqui o vídeo, espero que gostem!
16 de out. de 2010
POLE-TANQUE
Acho simplesmente o máximo isso! Procurei imagens para ilustrar os textos que publico e deparei-me com a imagem que aqui está. Uma senhorita, quiçá uma senhora? Pendurada em um poleiro ou poste. É a tal da pole-dance, ou dança do poste. Uma marca famosa de isqueiro tem essa ilustração. Vou procurar, quero um igual. Bola, rebola, se enrosca... E não é que na academia de ginástica estava assim escrito: “Parabéns Professora Fulaninha, campeã nacional de Pole-Dance”. Campeã?
Pois acabo de lavar quatro máquinas de roupa suja. Claro, eu primeiro esfrego a roupa à mão. Sabão no colarinho das camisas dele, sabão com carinho nas minhas blusas de lã. Quantas calorias devo ter eliminado? Sei lá! E o que isso tem a ver com a dança do poleiro? Não sei! Apenas me senti ultrajada. Campeã de pole-dance? Durante anos a fio estive em aulas de ballet. Algo forçado, não via a menor graça naquilo. Quando pude impor minha vontade, larguei aquilo.
Feito muitas garotas da minha geração, eu achava divino assistir às chacretes rebolando na Buzina do Chacrinha. Já imaginaram uma garota de classe média alta, filhinha-de-papai, transformar-se em bailarina da Hora da Buzina? Impossível. E foi assim que suportei sapatilha, tutu, fru-fru. Meus irmãos praticavam judô. Inveja boa! Era tudo o que eu queria.
E todo esse meu blá-blá-blá é só pra lhes contar que hoje assisti a uma matéria na TV na qual um médico afirmava categoricamente que nós, mulheres, não temos o menor senso de direção. Disse que, se mostrar-nos o mapa mundi, seremos capazes de apontar o Leste no lugar do Oeste. Vontade de entrar pela tela da TV e dizer poucas e boas ao doutor. Comparou os humanos aos macacos. E... Macacos me mordam, já falei demais. A roupa está agora no varal, as camisas dele secando ao sol. E que importa meus diplomas, meu título de doutora? Lavar roupa é, pra mim, tal e qual lavar a alma. Curto e relaxo. Amélia Latívia atacou novamente ou... Finalmente! Sem poste, mas feliz da vida à beira de um tanque. É mole ou querem mais?
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