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A queixa é secular: homens costumam imaginar que nos enganam facilmente.
Minha avó, mulher carregada de muita sabedoria, andava na pontinha dos pés pra que meu avô imaginasse que ela não estava lhe dando a volta. Tudo ela sabia, tudo ele fazia exatamente do jeito que ela desejava. Controladora, mas demais habilidosa.
Nem todas somos assim, eu mesma sou capaz de fazer um longo discurso. No meio dele, se eu perguntar algo, ele vai balançar a cabeça fingindo ter escutado. Se o pescoço balançar na vertical, será SIM. Se eu disser: "como que sim?!", ele vai balançar a cabeça no sentido horizontal, sinalizando NÃO. Simples assim.
Homens escutam apenas as duas ou três primeiras frases que falamos. O assunto não é dinheiro, carro, futebol? Não ouvirá mais nada. Ligam o stand by, fingem estar presentes. Dê-lhe o controle remoto do televisor, ficará trocando os canais, enquanto você capricha na exposição de motivos e sentimentos.
Se você olhar dentro de seus olhos, ele pedirá algo: cerveja, batatinha frita, algo assim. Jamais falará: "querida, diga que me ama". E era exatamente isso o que gostaríamos de ouvir.
Há menos estrelas no firmamento que as incontáveis e inúmeras vezes que eu, Diva Latívia, fui chamada de louca por um exemplar do sexo masculino. Ser acusada de estar pressionando, isso é tão comum que deveria ser vendido na feira, em alguma barraquinha: promoção-relâmpago, compre uma dúzia de laranjas e ganhe de brinde uma tonelada de queixas sobre cobranças femininas.
Juram de pés juntinhos que podem nos administrar. Calam-se, naquele silêncio nosso sexto sentido entra em ação. Eles degustam, nós captamos o que há por detrás do sabor. Eles fingem que escutam, nós afiamos as nossas garras. Eles olham, nós temos a certeza do que existe por detrás de suas pupilas. Impossível enganar uma mulher.
Portanto, caras colegas de loucura, o ser masculino está pouco romântico, nada cavalheiro, subestima nossa inteligência e tornou-se tão óbvio que só muda o número do RG e o endereço, não muito mais que isso. Ouso dizer: são quase todos iguais.
Queremos um coração quente, derretido feito calda de açúcar. Um homem que tenha orgulho de nos apresentar ao universo. Mais fácil encontrar uma mosca branca com asinhas cor-de-rosa. Se uma de vocês tiver algo melhorzinho que isso ao seu lado, conserve-o. É sapo raro e em extinção.
Miopia combina com lentes de contato. Ah, quem me dera poder usar lentes de contato! Porém, alérgica até demais, preciso usar óculos de grau. Imagine, sou tão vaidosa! Óculos me deixam parecida com uma professora de literatura. Séria, ar de intelectual. Ouso dizer: parecida com a minha mãe.
Naquela manhã acordei com o estado da alma totalmente alterado. O melhor antídoto que conheço pra baixo astral é produzir-me da cabeça aos pés. Reuni forças, tentei captar uma onda energética mais positiva. Abri o guarda-roupa e escolhi um jeans apertadinho, camisetinha justa, sandália de salto alto. Peguei minha bolsa, coloquei meus óculos de sol. Não, eles não são de grau.
Fui a pé caminhar, minha visão totalmente limitada, mas eu apenas precisava do sol, do ar. Não queria ver, apenas queria sentir o dia entrar em meus poros. Parei na quitanda, comprei algumas frutas, depois deixei uma blusa na lavanderia.
No caminho de volta, vi aquele carro cor de prata, tão parecido com o dele. Diminuiu a velocidade e estacionou ao meu lado. Tirei os óculos de sol, caprichei no sorriso e balbuciei “bom dia”. Nem raciocinei, o que ele poderia estar fazendo ali, em dia útil e horário comercial?
O motorista, todo animado, desceu do veículo. Foi então que pude perceber: não era ele! Era um total estranho, um sujeito que me viu passando e deve ter apreciado a divina estampa desta blogueira eventual.
Apertei os olhos, tentando visualizar a criatura. Baixinho, gordinho, feinho, velhinho e atrevido. O gesto foi espelhado, também tirou os óculos escuros e encostou-se ao estilo propaganda de Marlboro na lataria do carro. – Quer uma carona?
Há quantos anos eu não paquero assim, na rua? Nem sei. Porém, estava totalmente fora de questão paquerar aquele tiozinho fora de forma e abaixo do meu padrão “anfíbio” de qualidade.
Toda vez que estou em uma situação embaraçosa começo a rir. Precisei apressar meus passos, saí o mais depressa que pude e gargalhando. Foi então que reparei, na pracinha tem o ponto de táxi, motoristas que me conhecem e também à minha família há mais de vinte anos. Os nobres trabalhadores foram a platéia daquela cena. Agarrei-me à sacola de compras e tentei me recompor.
- "Bom dia Dona Diva!". Um coro divertido, de quem praticamente ganhou o dia com a cena que protagonizei. Tentei disfarçar, mas imagino que agora eu sou “Diva, a conquistadora da pracinha”. Aliás, telefonei pro oftalmologista, a minha cegueira já virou piada, assim não dá!
Dizem que não será aqui, nesta vida e neste mundo, que provaremos o verdadeiro sentido da palavra “fraternidade”. Um mundo originalmente belo, natureza exuberante, mas que grita pedindo socorro. Tão lindo o sorriso de uma criança, uma flor que desabrocha, as ondas do mar arrebentando na areia.
Melhorar o mundo depende de cada um de nós. Depende de mim, depende de você. Enquanto existir egoísmo, miséria, guerras, crimes, discórdias, estaremos em um mundo muito longe daquele que desejamos pra nós e para os nossos filhos.
A música antiga, que foi gravada por diversos cantores, chama-se “He ain´t heavy, he is my brother”. A tradução é “ele não é um fardo pra mim, ele é meu irmão”. Assista ao vídeo e reflita comigo.
Escolhas equivocadas, possivelmente originadas no desejo imenso de ser feliz ao lado de alguém pra chamar de seu, isso pode levar a decepções imensas.
Família deveria se parecer com propaganda de margarina, todos sorrindo felizes sentados à mesa, os problemas abduzidos pelos reflexos do sol ao entrar pela janela da cozinha. Porém, não é bem assim que se toca o samba diário, não é mesmo?
Após a separação, isso há muitos anos atrás, em um domingo ela entrou em parafuso. Estava sozinha em casa, tinha escolhido não visitar a família naquele dia. Já tinha acordado estranha, sensação de vazio existencial. Não preparou seu almoço, nem saiu pra comprar algo pra comer. Ficou ali, estática, muitas horas sentada na sala, sem fazer nada e olhando pras paredes.
De repente, começou a escutar o vozerio dos vizinhos, que estavam recebendo visita. O aroma era de molho de macarrão. Risos, conversas ao longe, crianças brincando. Então, ela se sentiu a última criatura do planeta Terra. Dimensionou o fracasso que foi ter se casado, depois se divorciado, a dor de ter perdido não apenas o parceiro, mas tudo aquilo o que construiu: o seu sonho de felicidade a dois!
Alguns anos mais tarde, ela estava saindo dos escombros, torcendo pra que uma espécie de bomba inimiga não destruísse novamente seu longo processo de recuperação. E foi justamente nesse ponto que ela conheceu um novo alguém. Porém, mais de 40 anos, já tinha sido casada e ele idem. Não pretendiam formalizar a união e muito menos teriam filhos. Ficaram namorados.
Começo de relacionamento pode ser enroscado. Ela não queria que a família soubesse, tinha receio de ter problemas não apenas pra si, mas especialmente para seu novo amor. Ele tinha hábitos solitários, gostava de ler, caminhar sem ter com quem conversar. O namoro se arrastou até que ele conheceu uma garota de 25 anos, apaixonou-se, casou-se com ela na igreja, teve filhos.
E quanto à nossa amiga? Continua sozinha, mas agora está fazendo um novo curso de inglês, pratica ioga e começou uma faculdade de gastronomia. Sozinha, porém com o tempo e a energia preenchidos por afazeres que a impedem de voltar a sentir o aroma de molho de macarrão porta adentro aos domingos.
Amar é ótimo, mas pra quem sofreu um dia não é nada fácil. Sugiro aos corajosos reconstrutores de suas vidas que ousem, andem um passo além daquele que almejam. Pior do que sofrer a dor da separação é sentir-se um zero à esquerda, por nem sequer haver tentado. Abrace o sentimento, acredite no dia de amanhã. Pra ser feliz é preciso ter mais coragem do que juízo. Viver é uma aventura: curta o seu amor sem medo!
Doralice sentiu o sangue esfriar em suas veias quando acessou o computador. Não podia acreditar no que seus olhos viam. Somente ela e o marido, Astolfo, acessavam a internet. Quem teria, então, deixado ali no histórico de navegação visitas a um site de relacionamentos? Levantou-se, andou pela casa, tentou se acalmar. Então, voltou ao computador e entrou no tal do site.
Pra descobrir se Astolfo estava ali cadastrado, fez um perfil falso: uma loira de 30 anos, cabelos longos, olhos verdes e residente na zona Oeste da cidade de São Paulo. Fez a pesquisa de perfis de homens na faixa etária de Astolfo e com características físicas semelhantes. E lá estava ele, usando óculos escuros em uma foto e dizendo-se "casado à procura de momentos de prazer".
Desesperada, Doralice conteve as lágrimas e arriscou enviar uma mensagem a Astolfo: "Olá, meu nome é Margot, quero te conhecer". Passou o resto do dia atormentada, de tempos em tempos olhava a caixa de mensagens na ânsia de ler uma resposta.
No final do dia, veio a resposta gentil de Astolfo. Sugeriu um café com Margot e pediu fotos. Doralice abriu o Google e escolheu fotos de uma loira norueguesa. Enviou junto com a resposta aceitando o convite para o café no dia seguinte, em um shopping perto de sua casa. Veio nova mensagem de Astolfo elogiando a beleza de Margot e declarando sua ansiedade para encontrá-la.
Quando Astolfo chegou do trabalho, Doralice fez o possível pra disfarçar o ódio que sentia. Serviu o jantar, assistiu à novela, foi se deitar como se nada estivesse acontecendo.
Chegou o grande dia, Doralice chegou ao shopping no horário marcado. Lá estava ele, sentado e esperando Margot. A princípio, sentiu-se paralisada. Agora o sangue fervia e parecia que o cérebro estava em ebulição. Foi então se aproximando, passos hesitantes, trêmula. Quando Astolfo viu a esposa diante de si ficou pálido de espanto. Mal conseguiu balbuciar que estava ali esperando um cliente.
- "Margot é sua cliente, Astolfo?". O homem não podia crer no que se passava. Como ela foi descobrir? E o que fazer quanto à linda Margot, prestes a chegar? - "Querida, não sei do que você está falando! Você está louca!".
Foi então que Margot realmente enlouqueceu. Tirou os sapatos, subiu na mesa do café e gritou pra quem estivesse ali ouvir: - " Atenção, gente! Este aqui é o Astolfo, o canalha com quem me casei. Ele marcou encontro com uma loira boazuda da internet, uma tal de Margot. Ela está pra chegar a qualquer momento!". Juntou uma plateia ao redor. Tinha gente tirando fotos com o celular, veio até segurança.
Margot se recusava a descer da mesa, sob risos, aplausos e vaias da multidão. Astolfo ficou encolhido junto à uma loja, quase se agarrando à vitrine. Doralice apontava pra Astolfo e berrava: - "É aquele ali! Vem aqui se for homem, Astolfo!".
Por fim, após 20 minutos, Doralice desistiu do protesto. Desceu da mesa, calçou os sapatos e disse ao marido: - "Vá procurar a Margot e peça a ela que lave suas roupas, prepare sua comida, escute seu ronco e suporte o seu chulé!". E foi embora com passos de general.
Essa foi a penúltima vez que Astolfo viu Doralice. A última foi na audiência de separação litigiosa, que Doralice ganhou, com direito a receber a metade dos bens que compraram durante o casamento.
Astolfo tentou diversas vezes encontrar Margot. Deixou 15 mensagens pra ela, todas sem resposta. Agora deixou no perfil a seguinte frase de chamada: "Procuro Margot, que não sai do meu pensamento!".
( Texto publicado em 2009 no blog Janela das Loucas)
Toda princesa sonha com um sapo que, ao ser beijado, se transforme em garboso príncipe. Tem que chegar montado em seu cavalo branco e estar mais do que disposto a resgatá-la da torre do castelo.
Estávamos na região do Parque do Ibirapuera. Sentada ao lado do motorista da Puma GTB 77, de cor preta – que foi batizada de Bandida - disfarcei ao máximo a timidez. Impossível transitar naquele carro e não atiçar a curiosidade e até a cobiça dos transeuntes.
Era um tal de sermos observados, apontados. Se nem todos perceberam o passeio da felina, muita gente notou e até reduziu a velocidade pra melhor admirá-la Quem entende de carros acha aquele antigo possante o máximo. A cada curva um novo rugido do motor, um novo sorriso de satisfação do piloto. E eu ali, afundada no banco, sem saber ao certo se fazia de conta não notar o “auê” causado com a nossa passagem, ou se aproveitava e curtia logo uma tarde de perua.
Na dúvida, afiei minhas garras. Empinei o traseiro, caprichei no melhor sorriso, usei o espelhinho retrovisor pra retocar o meu batom. Acho, foi nesse momento que a Bandida resolveu me desafiar. Enciumada, não permitiu que eu abrisse a janela do lado do passageiro. Um gesto temperamental, mas significativo pra mim.
Chegamos ao nosso destino: uma sessão de fotos e filmagem, aquele carro chama muito mais a atenção que uma melancia amarrada no pescoço! Sentada sob uma árvore, permaneci quieta e atenta, enquanto os flashes se voltavam pra sua lataria. Carros não têm rabo, mas parece que ela abanava o rabinho pra parecer mais sexy. Já convencida que estava paranóica e com ciúme de um carro, decidi fazer com a Bandida um acordo: você fica quietinha, tente não causar problemas e eu prometo não mais te fazer de espelhinho pra retocar maquiagem.
Parece, ela entendeu bem. Ao menos até chegarmos em casa. Quando saltei de seu interior, senti que era por ela observada. Seus faróis brilhavam em tom enfurecido.
Duas ciumentas, um só piloto. E ainda dizem que carros são objetos inanimados. Posso provar: ela tem sentimentos, quer que ele volte a ser sapo e eu volte pra torre do castelo a pé!
Casamento. Essa palavra costuma gerar reações em temperaturas extremas: muito quentes ou muito frias. Este final de semana ensolarado, calor de quase 30ºC na cidade de São Paulo. Lá estávamos os dois, um par que se formou há alguns meses. Namoro mais ou menos assumido, amor declarado em prosa e versos, algumas briguinhas ocasionais e muita paixão em período integral. Porém, quem arrisca batizar o relacionamento com algum adjetivo? É namoro, mas um casal na faixa etária acima dos quarenta anos pode aparentar ser casado. Começou então uma série interminável de situações que podemos chamar de “saia justa”. No estacionamento, o manobrista me chamou de “esposa” do meu namorado. Nós dois nos olhamos sem graça, preferimos ouvir calados sem tecer qualquer comentário. Pra quê complicar?
Entramos na academia de ginástica, a intenção era conhecer o local. Quando pedimos informação sobre preços, a recepcionista sugeriu: - “ Pra vocês, que são casados, existe um plano com desconto especial”. Duas vezes em menos de quinze minutos, pareceu demais pra nós. Acho, fizemos cara de espanto, especialmente eu quando escutei a resposta dele: - “Ela é quase esposa”.
Passei o resto do dia matutando, tentando entender o que ele quis dizer com “quase esposa”. Sou namorada, então sou pra ele uma “quase esposa”? Ou estou pra receber uma promoção? Ah, ele estava de gozação comigo, era isso, tinha que ser.
Mais ou menos refeita dessas muitas emoções, decidimos buscar uns DVDs em uma vídeo-locadora. Precisamos fazer uma ficha de inscrição. Adivinhe só o que aconteceu de novo? A recepcionista da locadora parece ter combinado com a recepcionista da academia, que por sua vez tinha parte com o manobrista do estacionamento. Aquela foi a terceira vez no mesmo dia que vesti a saia justa: – “É sua esposa?”. E lá veio a resposta novamente:- “Não, mas é quase”. De tudo fiz pra não mais pensar nisso. Entretida com o filme, com o jantarzinho, mas já tramando um novo texto sobre o tema, fui dormir sem mais pensar no assunto. Quase é algo que não aconteceu por pouco. Por exemplo, bola na trave é um quase gol! Terei eu batido na trave?
Amanheceu um lindo dia de domingo, fomos juntinhos à igreja assistir à missa. O padre: - “Esta missa é dedicada a todos os casais, venham ao altar aqueles que querem renovar os votos matrimoniais”. Olhamos um pro outro, ambos tentando dissimular o desconforto da sina que nos afligia desde a véspera. O tema “casamento” nos perseguia. Quando fomos embora, na minha cabeça martelava a lembrança de algo que sempre acreditei muito: coincidências não existem!
Parei na banca de jornal, escolhi uma promoção: leve o jornal e a revista e pague R$9,90. A caminho do carro, resolvi dar uma olhadinha. Pois é, a revista Veja desta semana fala sobre o quanto pode ser bom casar-se, tudo em cor-de-rosa e com um casal de noivos na capa. O que será que está acontecendo? Será a conjunção dos astros ou Cupido resolveu voltar das longas férias?
Ah, Santo Antônio, meu santinho querido! Assim vamos assustar o quase marido, digo, o moço! Socorro! Alguém aí sabe explicar o que significa “quase esposa”?
Quando abri meus olhos logo cedo, estiquei o braço tentando encontrar o corpo quentinho deitado ao meu lado. Escutei algo parecido com um grunhido, ou será que ursos rosnam? Ele se virou pro outro lado, puxou o cobertor como quem protesta contra a minha existência e começou a ressonar em alto e bom som.
Já acordada, meu cérebro foi invadido por pensamentos que alimentaram minhocas de todo o tipo. Todas as manhãs eu era abraçada “de conchinha”, agora lá estava a criatura com o traseiro virado na minha direção e sentindo-se incomodado com o pouco espaço que eu estava ocupando ao seu lado na cama. A minhoca chefe me disse: “ele se cansou da sua companhia”. As minhoquinhas filhotes começaram a reinar indisciplinadas. Em coro elas caçoavam da minha aflição: “perdeu, mana! Ele já arrumou outra!”.
Totalmente paranóica, decidi me levantar. Incauta, coloquei o pé esquerdo no chão, coisa que minha bisavó dizia que não se deve fazer, sob pena de começar o dia com o pé errado. Caminhei na pontinha dos pés, mal respirava. A maçaneta da porta do quarto fez barulho. Ele emitiu um novo rugido, moveu-se na cama e ficou espalhado em formato de X. Tentei não fazer qualquer tipo de ruído e entrei no banheiro. “Filhadamãe” da descarga do vaso sanitário só faltou explodir, tamanho o barulho que fez. Voltei pro quarto, novo rangido da maçaneta. Não havia lugar pra eu me deitar. Com jeito, fiquei encolhidinha, metade da bunda pra fora da cama.
Domingo, dia pra dormir até não querer mais. Perdi o sono, as minhocas estavam agora promovendo uma festa de arromba: ele estava farto da minha presença, era isso! Eu precisava levantar novamente, vestir minha roupa e ir embora, talvez deixar um bilhetinho assim escrito: “Caro Zé Colmeia, parti!”.
Eram 9h00, ele abriu os olhos. Como quem não sabe onde está, nem se lembra mais quem eu sou, levantou-se sem ao menos dizer “bom dia”. Saiu do quarto, largou a porta aberta, foi até o banheiro, fez muito mais barulho do que eu fiz. Acendeu um cigarro, entrou na cozinha e colocou a chaleira de água no fogo pra fazer café. A zoeira era de uma escola de samba! O minhocário caiu na gargalhada e disse: “burra! Burra! Burra!”.
Tentei desfazer o feitiço do “pé esquerdo”, sorri tentando disfarçar minha loucura, abracei-o carinhosamente. Inerte! Não reagiu. As lágrimas começaram a embaçar meus olhos. Foi então que ele resmungou: “eu acordo de mau humor!”.
Dizia minha avó que existe um ótimo remédio pra neurastenia: banho gelado no inverno! Eis o lado ruim de algo bom: lidar com o mau humor do par, isso sem brigar, é uma verdadeira arte. Antes de voltar pro aconchego do meu lar, olhei-me no espelho e contei até 1.000.000! Jurei deixá-lo de castigo, ficou sem conchinha o resto da semana. Ainda bem, amanhã é sexta-feira e, espero, terei ao meu redor melhor astral. Tomara!
Almoço em casa em pleno domingo. Metade da família gripada, a outra metade enrolada em cobertores. Um frio que ninguém merece. Deveria nevar, penso em começar um protesto: se é pra congelar, que seja ao estilo “white Christmas”!
Tocou o celular, deu uma preguiça enorme de atender. Depois de dez minutos tocou novamente, deixei a manta quentinha de lado e fui até à estante pegar o aparelho. Chamada perdida da minha amiga – não menos perdida – Alice.
Recebi um convite de última hora pro aniversário do filho menor dela. Pensei um pouco, calculei: nada pra fazer, eu em casa de gorrinho de lã, luvas e cobertor. Pensei mais um pouco e aceitei. Caprichei na pranchinha, vesti aquele casaco de lã que trouxe de minha viagem. Feliz, lá fui eu rumo à festinha. Já estava sonhando com brigadeiros.
Imaginei que encontraria seres humanos, em sua maioria, na faixa etária de cinco anos de idade. Que escutaria as músicas da Xuxa e teria que rir das graças sem graça de algum palhaço. Parcialmente acertei, havia um palhaço fazendo graça sem graça: o ex da Alice.
Incrível alguém tomar todas e ficar zuzubem em uma festinha de criança, mas o que esperar de um ex, não é mesmo? Lá estava o sujeito: trêbado! Primeiro ato: olhou pra mim e veio em minha direção. Com aquele bafo que derrubaria até um airbus, ele me abraçou esfuziante e disse: “Xe tá uma gata, Xoninha!”. Quis corrigi-lo, dizer que meu nome é Diva, mas achei melhor não contrariá-lo. Segundo ato: saiu me puxando pela mão, fui praticamente empurrada até a piscina de bolinhas e apresentada à mãe dele, que estava lá tomando conta dos netinhos. – “Mãe, exaki é a Xoninha, minha paixão de adolexênxia”. Fiquei estática, comecei a procurar com o olhar onde estava a Alice, só ela poderia me socorrer. Tanta gente, tantos infantes correndo pra todo lado, não conseguia encontrar a minha amiga!
Depois de aceitar uma dose de whisky, de sorrir com vontade de chorar, tive ainda que dançar não o “ilarilariê”, que eu previa escutar, mas sim rock dos anos 60, arrastada pelas mãos do dito cujo. A essa altura, Alice já tinha me visto e foi com grande alívio que consegui me desvencilhar de seu ex etílico. O resto da festinha foi tentando fugir do apaixonado pela “Xoninha”. Arrumei um cantinho e engrenei papo furado com os tios-avós da Alice, até já sei qual é o melhor chá pra combater reumatismo. Voltei ainda agora pra casa, morta de frio e de fome. Não consegui comer um só brigadeirinho e, pior, continuo sem beijinho!
Amanheceu um dia nublado e muito frio aqui na cidade de São Paulo. Mal abri meus olhos, ainda tonta de sono, murmurei: “oba, hoje é sábado!”. Ao meu lado, o meu par ainda adormecido. Cama quentinha, um convite pra continuarmos abraçados de conchinha.
Isso me fez lembrar minha mãe. Ano passado ela resolveu descobrir o que era, afinal de contas, essa história de “dormir de conchinha”. Com os óculos de grau na pontinha do nariz, endireitou-se na poltrona, interrompeu a leitura de uma revista e me perguntou: “dormir de conchinha é dormir profundamente?”. Rimos muito quando eu expliquei o significado. Mami ficou em silêncio uns instantes, acredito eu que lembrando o quanto era bom dormir de conchinha com meu pai.
O frio nos convida ao recolhimento, ao aconchego de nossos lares. Um filme na TV, um bom vinho. Existe algo mais romântico que namorar diante da lareira?
Aqui, enrolada em um xale de lã, termino o texto com os meus dedos congelados. E dá-lhe conchinha pra aquecer este dia, que promete temperatura baixa lá na rua e o calor da paixão aquecendo nossos corações.
Desde o dia que estreei minhas botas de salto altíssimo que eu não sentia tanta dor nos pés. Caminhamos durante mais de três horas pelos corredores daquela imensa loja de materiais de construção. A ideia inicial era comprar uma nova torneira pro banheiro dele.
Quando ele pegou o carrinho de compras imenso, maior que aquele do hipermercado, suspirei resignada. Mais de meia hora pra escolher um escorredor de pratos, precisei me conter pra não aplaudir a escolha – péssima, por sinal – de um kit que continha escorredor, rodinho de pia e porta-detergente. Comprou capacho pra porta de entrada, lâmpada pra cozinha, escada de três degraus, tábua de passar roupas. Meus pés pediam socorro. Quando passamos pelo setor de jardinagem, não pude resistir. Sentei em um banco de jardim com os seguintes dizeres “ proibido sentar”.
Comecei a observar os itens ali expostos: vasos, sementes, terra, adubo, folhagens. Encontrei uma plaquinha, aquelas bonitinhas de fincar no gramado. Assim estava escrito: “A felicidade reside nas pequenas coisas”. Enquanto isso, ele continuou as compras e, compreensivo, me deixou ali sentada e na espera.
Nesse dia ganhei de presente quatro pacotinhos de sementes, pra que eu começasse a minha horta no fundo do quintal: alface, manjericão, salsinha e alho-poró. Hoje amanheceu um belo dia e notei que a alface brotou, pra alegria dos sabiás que a todo instante pousam na jardineira. Creio, em breve terei uma saladinha sem agrotóxicos, adubada com titica de passarinho. E tem coisa melhor?
Um dia após o outro. Plantando e colhendo. Assim é a vida, assim é o amor.
- Ai, Fernandinho, não me estressa!
- Gata, desliga o MSN que isso é vírus!
- Mas eu não cliquei em nenhum arquivo que acaba em “exe”.
- Paty, não precisa clicar em nada, basta navegar na net.
- Quem te disse isso? Não é vírus.
- Se um hacker capturar sua senha, vai espalhar o vírus pra toda sua lista de contatos.
- Contatos de onde?
- Uai! Do Orkut, do MSN e etc, etc, etc.
- Tá com medo, é? Não tenho vírus, Fernandinho!
- Não tô falando de você, mas do seu computador.
- Desencana, Fê!
- E se for um programa espião que te mandaram?
- ...
- Pensaí, Paty, e se teu ex mandou naquela petição de divórcio um arquivo espião?
- Eu quero que meu ex pegue fogo e falte água!
- Li um artigo sobre espionagem online.
- É crime, né? Isso dá cadeia!
- Se liga, Paty, desde quando quem espiona vai preso?
- Hackers não vão presos?
- Hahahahahahaha!
- Pô, Fernandinho, fala sério!!!
- Terminou de passar o antivírus?
- Sim.
- E?
- Era vírus, um cavalo de tróia.
- Tá vendo? Era seu ex dentro do cavalo.
- Fê?
- Fala.
- Cansei. Fui!
- Bjssss
- Bjk!
Lá estava ela no ponto de ônibus. Em uma das mãos segurava o guarda-chuva, que já tinha virado do avesso várias vezes devido à ventania. Na outra mão estava a bolsa, que agarrava com força e, vez ou outra, fazia a inútil tentativa de arrumar os cabelos. Adeus pranchinha, seu visual estava mais pro Rei Leão do que pra Cinderela.
Quando o ônibus chegou, parou a mais de um metro de distância da calçada. Descabelada, maquiagem borrada, roupa encharcada e colada no corpo, precisou naufragar os pés em uma corredeira de água pluvial. Foi assim que perdeu a sandália rasteirinha, o pé esquerdo.
Sentou-se mal acomodada e do jeito que pôde. Ao seu lado uma senhora gorda, que ocupava quase todo o espaço disponível. O ônibus sacolejava, o trânsito estava lento. Um homem passou pela catraca e esbarrou a pasta de trabalho em seu ombro. Não pediu desculpas.
Uma hora de trajeto, a chuva tinha apertado. Saltou no ponto que ficava próximo à padaria, em suas mãos a anotação que encontrou na bolsa, aquele era o endereço combinado. Caminhou quatro quarteirões, a essa altura já tinha desistido de abrir o guarda-chuva, preferiu deixar a chuva molhar.
Quando entrou no café, lá estava ele sentado. Respirou fundo, afastou a franja que caía sobre a testa e, lentamente, aproximou-se. Diante de si iluminou-se um sorriso de cumplicidade. Ele pareceu muito mais bonito pessoalmente do que nas fotos que enviou. Foi assim que eles se conheceram, esse foi o primeiro encontro dos dois.
Hoje os temporais continuam a cair, mas estão debaixo do mesmo teto, pegando o mesmo ônibus e caminhando na mesma direção.
Este texto é pra você que me perguntou sobre o que eu escreveria sobre o Dia dos Pais. A data foi comemorada ontem e o meu texto poderia ser intitulado “the day after”.
Sou de uma geração que é filha da “moçada” dos anos 60. Diz a letra de uma música que de 20 em 20 anos aparece uma coisa nova, mas é de 40 em 40 que as coisas se repetem. Eu sempre fui muito careta, estilo garota certinha, primeira aluna da classe, tímida. Um tipo de garota que combina perfeitamente bem com as minhas avós. Meu pai foi um homem muito bonito, charmoso, personalidade sedutora. Hoje eu acrescentaria um adjetivo muito moderno: baladeiro.
Qualquer pessoa sensível, que hoje não tem consigo o pai (o meu já foi embora pro andar de cima), sabe que essas datas especiais, se não forem comemoradas alegremente e em família, nos deixam na pior das fossas. Fiquei triste no Dia das Mães e no Natal. Olhar ao redor e não mais ver as pessoas que amamos, isso é doloroso.
Domingo eu me fechei no quarto. Não consegui escrever o texto, nem tive vontade de ligar o computador. Lembrei da infância, daquele homem que tocava piano, juntava amigos ao seu redor, dizia coisas engraçadas e tornou-se meu herói-vilão. A cada ausência do meu pai, eu sofria absurdamente. O pior sofrimento veio quando ele morreu, há alguns anos atrás.
Diva não tem mais idade pra ter filhos, o meu único filho poderá um dia me dar de presente um neto. Essa a esperança que acalento, mas dificilmente confesso. De novo ter momentos banais, porém felizes.
A você que também está órfão, especialmente você, Manuela, que recentemente viu seu pai, Abílio, ir embora pra um lugar que nos ensinam que é o Céu. Pra você que, feito eu, ontem sentiu tristeza e saudade, eu digo que eu gostaria de morar em uma casa tão grande que nela coubessem todas as pessoas que estavam chorando, ainda que em silêncio e com um forçado sorriso nos lábios.
Hoje é segunda-feira. Dia de secar as lágrimas e mergulhar de cabeça no trabalho. Quem partiu não voltará. Nós estamos aqui, temos ainda a vida pra tocar adiante. Com muita força, muita coragem, devemos viver com alegria no coração.
Seu filho não telefonou pra você? Faça você mesmo isso, ligue pra ele. Seu pai não te procurou? Calma, porque um dia ele o fará. O elo que une pais e filhos é muito forte, coisa de almas.
Quero acrescentar que hoje é Dia dos Pais, hoje é Dia das Mães, hoje é Dia dos Namorados, hoje é Natal! Não é uma data comercial, instituída pra acelerar as vendas no comércio, que torna um dia especial pra quem ama.
Este um texto que fala de mim, algo que costumo evitar fazer, mas serve pra você, especialmente pra você, que feito eu, sentiu o coração partir em milhões de pedacinhos no domingo que passou. É de caquinhos que se faz um belo mosaico. Corações que lembram vitrais, assim devem ser os nossos. Quebramos, choramos, mas transformamos essa tristeza e dor em algo belo.
Feliz Natal, Feliz Dia dos Namorados, Feliz Dia das Mães... Feliz Dia dos Pais! Hoje, amanhã e sempre!
Não sei explicar se foi meu instinto maternal ou a minha carência amorosa - algo a ser descoberto por Diva em algum divã, provavelmente – o que despertou minhas habilidades domésticas. Explico: lavar pratos, tirar o pó, organizar diversos copinhos delicados de cristal, catar aquele fiapinho minúsculo de linha caído sobre o tapete. Tanto esmero, até emagreci. Santa academia que pode ser o lar... Alheio!
O olhar que me fitava lembrava um cãozinho basset hound. Sabem como é? Olhinhos tristes, meio caidinhos. Aqueles “faróis baixos” davam vontade de niná-lo, cantando “nana, neném”.
Não lembro quantas vezes me abaixei e levantei, guardando panelas sob o armário da pia da cozinha. No final, a vontade era de tirar uma foto e colocar em um porta-retratos: “a cozinha modelo decorada pela namorada exemplar”.
O cúmulo aconteceu quando ele saiu pra trabalhar e eu, sonolenta, saí uma hora depois. Tinha muitos compromissos, mas antes disso eu passei a camisa social dele, branquíssima, afinal eu mesma a lavei com estas mãos que aqui escrevem este texto. Passei cada dobrinha, cada partezinha, como quem assim removesse todas as mágoas, toda a insegurança e alisasse o amarrotado das muitas dúvidas.
No final do dia ele telefonou. Falou de tudo, menos da camisa. Por fim, disse: “pra quê passou minha camisa? Não precisava”. Imediatamente lembrei do dia em que, no meu horário de almoço, lavei todos os tapetes da casa dele. Todos, menos um. E ele reclamou quando chegou em casa e notou que eu esqueci um!
Nessa noite ele não me viu. Nem na noite seguinte. Nem na outra. Perdeu o impulso, eu já estava conquistada, descabelada e com a vassoura na mão. Foi então que eu aproveitei aquele apetrecho e voei!
Sapo que é sapo, não gosta de Cinderela e muito menos de Gata Borralheira. Mulher tem que aprender a não se esborrachar de tanto cuidar de homem. A camisa está amassada? Que fique amassada ou mande pra lavanderia. A comida está fria? Sorvete de feijão é uma delícia, sirva frio! A louça está suja? Jogue pela janela!
A isso eu chamo de “transformação”. Conseguiram transformar uma princesa em potencial em bruxa essencial. É assim que se faz o amor moderno. Agora sim, eu sou uma mulher de verdade!
Chegou o convitinho simpático na minha caixa de mensagens do hotmail. Li umas duas ou três vezes, incrédula! Se ele não entende muito de internet, como podia ter criado um perfil no facebook?
Cliquei no link, apesar disso não ser recomendado pelo técnico do meu computador. Apareceu uma página que pedia meus dados para o cadastro no site. Quem disse que eu queria me cadastrar no facebook? Porém, meu namorado tinha um perfil e, mais que isso, ali dizia que tinha 5 amigos.
Pensei, pensei. Não pensei, não pensei. Por fim, preenchi o perfil. Cheguei à conclusão que isso não tiraria pedaço de ninguém.
Equívoco número um: imaginar que alguém entende tão pouco de informática que não saberá criar um perfil primário em um site muito simples.
Equívoco número dois: acreditar que é tão esperto em assuntos cibernéticos que facilmente poderá criar um perfil no facebook.
Quando percebi, eu já estava incluída na lista de "amigos" dele. Não queria isso, apenas pensei em entrar e olhar o perfil. Curiosa, talvez. Danada da vida com o equívoco número um, provavelmente.
Quis apagar, sair, mas ali estavam meus traços, a minha passagem ficou registrada. O que fazer? Voltei ao e-mail onde recebi o convitinho. Vi que tinha mais pessoas da minha lista de contatos do hotmail, todas em fotos sorridentes no facebook. Incauta, cliquei em mais alguém. Oh, não! Adicionei outra pessoa e mais outra. Pensei: paciência, vamos em frente, coragem Diva!
Preenchi o perfil. Relacionamento: solteira, casada, noiva, relacionamento sério, enrolada... Ops, achei, tô mesmo enrolada! Foi aí que lembrei, meu filho talvez visse, melhor mudar. Escrevi: relacionamento sério. E tome! Porque se tem facebook é bom que se lembre que o relacionamento é sério.
Caprichei no perfil, recebi até algumas mensagens dos "amigos" que acidentalmente adicionei. Que maravilha, tudo ao alcance de um simples clic.
Resta agora eu compreender pra quê preciso de facebook, se já tenho orkut, msn, blog, celular, twitter e todos os meios de comunicação possíveis.
Todo bolo merece uma cereja sobre a cobertura. Telefonei para o príncipe encantado e disse: se tinha facebook por que não me avisou?
Moral da história, tenho agora um perfil naquele site, com um único amigo. Meu bico está maior que o de um pelicano ( quando me zango faço bico).
Ainda dizem que amar é a coisa mais simples e bela desta vida! Creio que os poetas do século XIX não sabiam o quanto pode ser difícil ter que administrar a vida real e não se descuidar do que ocorre no mundo virtual. Duplo trabalho, sufoco dobrado. Isso ninguém merece!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
30 de ago. de 2010
O BICHO HOMEM
A queixa é secular: homens costumam imaginar que nos enganam facilmente.
Minha avó, mulher carregada de muita sabedoria, andava na pontinha dos pés pra que meu avô imaginasse que ela não estava lhe dando a volta. Tudo ela sabia, tudo ele fazia exatamente do jeito que ela desejava. Controladora, mas demais habilidosa.
Nem todas somos assim, eu mesma sou capaz de fazer um longo discurso. No meio dele, se eu perguntar algo, ele vai balançar a cabeça fingindo ter escutado. Se o pescoço balançar na vertical, será SIM. Se eu disser: "como que sim?!", ele vai balançar a cabeça no sentido horizontal, sinalizando NÃO. Simples assim.
Homens escutam apenas as duas ou três primeiras frases que falamos. O assunto não é dinheiro, carro, futebol? Não ouvirá mais nada. Ligam o stand by, fingem estar presentes. Dê-lhe o controle remoto do televisor, ficará trocando os canais, enquanto você capricha na exposição de motivos e sentimentos.
Se você olhar dentro de seus olhos, ele pedirá algo: cerveja, batatinha frita, algo assim. Jamais falará: "querida, diga que me ama". E era exatamente isso o que gostaríamos de ouvir.
Há menos estrelas no firmamento que as incontáveis e inúmeras vezes que eu, Diva Latívia, fui chamada de louca por um exemplar do sexo masculino. Ser acusada de estar pressionando, isso é tão comum que deveria ser vendido na feira, em alguma barraquinha: promoção-relâmpago, compre uma dúzia de laranjas e ganhe de brinde uma tonelada de queixas sobre cobranças femininas.
Juram de pés juntinhos que podem nos administrar. Calam-se, naquele silêncio nosso sexto sentido entra em ação. Eles degustam, nós captamos o que há por detrás do sabor. Eles fingem que escutam, nós afiamos as nossas garras. Eles olham, nós temos a certeza do que existe por detrás de suas pupilas. Impossível enganar uma mulher.
Portanto, caras colegas de loucura, o ser masculino está pouco romântico, nada cavalheiro, subestima nossa inteligência e tornou-se tão óbvio que só muda o número do RG e o endereço, não muito mais que isso. Ouso dizer: são quase todos iguais.
Queremos um coração quente, derretido feito calda de açúcar. Um homem que tenha orgulho de nos apresentar ao universo. Mais fácil encontrar uma mosca branca com asinhas cor-de-rosa. Se uma de vocês tiver algo melhorzinho que isso ao seu lado, conserve-o. É sapo raro e em extinção.
27 de ago. de 2010
UM PALMO ADIANTE DO NARIZ
Miopia combina com lentes de contato. Ah, quem me dera poder usar lentes de contato! Porém, alérgica até demais, preciso usar óculos de grau. Imagine, sou tão vaidosa! Óculos me deixam parecida com uma professora de literatura. Séria, ar de intelectual. Ouso dizer: parecida com a minha mãe.
Naquela manhã acordei com o estado da alma totalmente alterado. O melhor antídoto que conheço pra baixo astral é produzir-me da cabeça aos pés. Reuni forças, tentei captar uma onda energética mais positiva. Abri o guarda-roupa e escolhi um jeans apertadinho, camisetinha justa, sandália de salto alto. Peguei minha bolsa, coloquei meus óculos de sol. Não, eles não são de grau.
Fui a pé caminhar, minha visão totalmente limitada, mas eu apenas precisava do sol, do ar. Não queria ver, apenas queria sentir o dia entrar em meus poros. Parei na quitanda, comprei algumas frutas, depois deixei uma blusa na lavanderia.
No caminho de volta, vi aquele carro cor de prata, tão parecido com o dele. Diminuiu a velocidade e estacionou ao meu lado. Tirei os óculos de sol, caprichei no sorriso e balbuciei “bom dia”. Nem raciocinei, o que ele poderia estar fazendo ali, em dia útil e horário comercial?
O motorista, todo animado, desceu do veículo. Foi então que pude perceber: não era ele! Era um total estranho, um sujeito que me viu passando e deve ter apreciado a divina estampa desta blogueira eventual.
Apertei os olhos, tentando visualizar a criatura. Baixinho, gordinho, feinho, velhinho e atrevido. O gesto foi espelhado, também tirou os óculos escuros e encostou-se ao estilo propaganda de Marlboro na lataria do carro. – Quer uma carona?
Há quantos anos eu não paquero assim, na rua? Nem sei. Porém, estava totalmente fora de questão paquerar aquele tiozinho fora de forma e abaixo do meu padrão “anfíbio” de qualidade.
Toda vez que estou em uma situação embaraçosa começo a rir. Precisei apressar meus passos, saí o mais depressa que pude e gargalhando. Foi então que reparei, na pracinha tem o ponto de táxi, motoristas que me conhecem e também à minha família há mais de vinte anos. Os nobres trabalhadores foram a platéia daquela cena. Agarrei-me à sacola de compras e tentei me recompor.
- "Bom dia Dona Diva!". Um coro divertido, de quem praticamente ganhou o dia com a cena que protagonizei. Tentei disfarçar, mas imagino que agora eu sou “Diva, a conquistadora da pracinha”. Aliás, telefonei pro oftalmologista, a minha cegueira já virou piada, assim não dá!
26 de ago. de 2010
ELE NÃO É UM FARDO PRA MIM, ELE É MEU IRMÃO!
Dizem que não será aqui, nesta vida e neste mundo, que provaremos o verdadeiro sentido da palavra “fraternidade”. Um mundo originalmente belo, natureza exuberante, mas que grita pedindo socorro. Tão lindo o sorriso de uma criança, uma flor que desabrocha, as ondas do mar arrebentando na areia.
Melhorar o mundo depende de cada um de nós. Depende de mim, depende de você. Enquanto existir egoísmo, miséria, guerras, crimes, discórdias, estaremos em um mundo muito longe daquele que desejamos pra nós e para os nossos filhos.
A música antiga, que foi gravada por diversos cantores, chama-se “He ain´t heavy, he is my brother”. A tradução é “ele não é um fardo pra mim, ele é meu irmão”. Assista ao vídeo e reflita comigo.
DIVINA LUA
Ontem voltei pra casa no começo da noite. Recebi, então, uma mensagem de texto no celular: - "Olhe pro céu e veja a Lua! Tem um recado pra você lá!".
Fui então à janela. Linda, crescente, tão branquinha! Quando eu era criança, me contaram que era feita de queijo. Um dia ela foi de mel. Agora foi portadora de um recado pra mim.
A noite paulistana estava quente. As luzes da cidade escondiam o brilho das estrelas. E lá estava ela, reinando absoluta! Faceira, sorriu pra mim com seu rosto redondinho. Fiquei em estado divinal. O recadinho que ela trazia falava sobre a esperança de encontrar um novo amor. Um sonho de luar.
A romântica Lua guarda consigo mistérios e segredos nossos. Bela confidente, graciosa mensageira. Hoje abram suas janelas e olhem pro céu. A Lua tem um recado pra você!
Texto que publiquei no blog Janela das Loucas em 2009.
Fui então à janela. Linda, crescente, tão branquinha! Quando eu era criança, me contaram que era feita de queijo. Um dia ela foi de mel. Agora foi portadora de um recado pra mim.
A noite paulistana estava quente. As luzes da cidade escondiam o brilho das estrelas. E lá estava ela, reinando absoluta! Faceira, sorriu pra mim com seu rosto redondinho. Fiquei em estado divinal. O recadinho que ela trazia falava sobre a esperança de encontrar um novo amor. Um sonho de luar.
A romântica Lua guarda consigo mistérios e segredos nossos. Bela confidente, graciosa mensageira. Hoje abram suas janelas e olhem pro céu. A Lua tem um recado pra você!
Texto que publiquei no blog Janela das Loucas em 2009.
24 de ago. de 2010
RECONSTRUINDO O AMOR
Escolhas equivocadas, possivelmente originadas no desejo imenso de ser feliz ao lado de alguém pra chamar de seu, isso pode levar a decepções imensas.
Família deveria se parecer com propaganda de margarina, todos sorrindo felizes sentados à mesa, os problemas abduzidos pelos reflexos do sol ao entrar pela janela da cozinha. Porém, não é bem assim que se toca o samba diário, não é mesmo?
Após a separação, isso há muitos anos atrás, em um domingo ela entrou em parafuso. Estava sozinha em casa, tinha escolhido não visitar a família naquele dia. Já tinha acordado estranha, sensação de vazio existencial. Não preparou seu almoço, nem saiu pra comprar algo pra comer. Ficou ali, estática, muitas horas sentada na sala, sem fazer nada e olhando pras paredes.
De repente, começou a escutar o vozerio dos vizinhos, que estavam recebendo visita. O aroma era de molho de macarrão. Risos, conversas ao longe, crianças brincando. Então, ela se sentiu a última criatura do planeta Terra. Dimensionou o fracasso que foi ter se casado, depois se divorciado, a dor de ter perdido não apenas o parceiro, mas tudo aquilo o que construiu: o seu sonho de felicidade a dois!
Alguns anos mais tarde, ela estava saindo dos escombros, torcendo pra que uma espécie de bomba inimiga não destruísse novamente seu longo processo de recuperação. E foi justamente nesse ponto que ela conheceu um novo alguém. Porém, mais de 40 anos, já tinha sido casada e ele idem. Não pretendiam formalizar a união e muito menos teriam filhos. Ficaram namorados.
Começo de relacionamento pode ser enroscado. Ela não queria que a família soubesse, tinha receio de ter problemas não apenas pra si, mas especialmente para seu novo amor. Ele tinha hábitos solitários, gostava de ler, caminhar sem ter com quem conversar. O namoro se arrastou até que ele conheceu uma garota de 25 anos, apaixonou-se, casou-se com ela na igreja, teve filhos.
E quanto à nossa amiga? Continua sozinha, mas agora está fazendo um novo curso de inglês, pratica ioga e começou uma faculdade de gastronomia. Sozinha, porém com o tempo e a energia preenchidos por afazeres que a impedem de voltar a sentir o aroma de molho de macarrão porta adentro aos domingos.
Amar é ótimo, mas pra quem sofreu um dia não é nada fácil. Sugiro aos corajosos reconstrutores de suas vidas que ousem, andem um passo além daquele que almejam. Pior do que sofrer a dor da separação é sentir-se um zero à esquerda, por nem sequer haver tentado. Abrace o sentimento, acredite no dia de amanhã. Pra ser feliz é preciso ter mais coragem do que juízo. Viver é uma aventura: curta o seu amor sem medo!
23 de ago. de 2010
A VINGANÇA DE DORALICE
Doralice sentiu o sangue esfriar em suas veias quando acessou o computador. Não podia acreditar no que seus olhos viam. Somente ela e o marido, Astolfo, acessavam a internet. Quem teria, então, deixado ali no histórico de navegação visitas a um site de relacionamentos? Levantou-se, andou pela casa, tentou se acalmar. Então, voltou ao computador e entrou no tal do site.
Pra descobrir se Astolfo estava ali cadastrado, fez um perfil falso: uma loira de 30 anos, cabelos longos, olhos verdes e residente na zona Oeste da cidade de São Paulo. Fez a pesquisa de perfis de homens na faixa etária de Astolfo e com características físicas semelhantes. E lá estava ele, usando óculos escuros em uma foto e dizendo-se "casado à procura de momentos de prazer".
Desesperada, Doralice conteve as lágrimas e arriscou enviar uma mensagem a Astolfo: "Olá, meu nome é Margot, quero te conhecer". Passou o resto do dia atormentada, de tempos em tempos olhava a caixa de mensagens na ânsia de ler uma resposta.
No final do dia, veio a resposta gentil de Astolfo. Sugeriu um café com Margot e pediu fotos. Doralice abriu o Google e escolheu fotos de uma loira norueguesa. Enviou junto com a resposta aceitando o convite para o café no dia seguinte, em um shopping perto de sua casa. Veio nova mensagem de Astolfo elogiando a beleza de Margot e declarando sua ansiedade para encontrá-la.
Quando Astolfo chegou do trabalho, Doralice fez o possível pra disfarçar o ódio que sentia. Serviu o jantar, assistiu à novela, foi se deitar como se nada estivesse acontecendo.
Chegou o grande dia, Doralice chegou ao shopping no horário marcado. Lá estava ele, sentado e esperando Margot. A princípio, sentiu-se paralisada. Agora o sangue fervia e parecia que o cérebro estava em ebulição. Foi então se aproximando, passos hesitantes, trêmula. Quando Astolfo viu a esposa diante de si ficou pálido de espanto. Mal conseguiu balbuciar que estava ali esperando um cliente.
- "Margot é sua cliente, Astolfo?". O homem não podia crer no que se passava. Como ela foi descobrir? E o que fazer quanto à linda Margot, prestes a chegar? - "Querida, não sei do que você está falando! Você está louca!".
Foi então que Margot realmente enlouqueceu. Tirou os sapatos, subiu na mesa do café e gritou pra quem estivesse ali ouvir: - " Atenção, gente! Este aqui é o Astolfo, o canalha com quem me casei. Ele marcou encontro com uma loira boazuda da internet, uma tal de Margot. Ela está pra chegar a qualquer momento!". Juntou uma plateia ao redor. Tinha gente tirando fotos com o celular, veio até segurança.
Margot se recusava a descer da mesa, sob risos, aplausos e vaias da multidão. Astolfo ficou encolhido junto à uma loja, quase se agarrando à vitrine. Doralice apontava pra Astolfo e berrava: - "É aquele ali! Vem aqui se for homem, Astolfo!".
Por fim, após 20 minutos, Doralice desistiu do protesto. Desceu da mesa, calçou os sapatos e disse ao marido: - "Vá procurar a Margot e peça a ela que lave suas roupas, prepare sua comida, escute seu ronco e suporte o seu chulé!". E foi embora com passos de general.
Essa foi a penúltima vez que Astolfo viu Doralice. A última foi na audiência de separação litigiosa, que Doralice ganhou, com direito a receber a metade dos bens que compraram durante o casamento.
Astolfo tentou diversas vezes encontrar Margot. Deixou 15 mensagens pra ela, todas sem resposta. Agora deixou no perfil a seguinte frase de chamada: "Procuro Margot, que não sai do meu pensamento!".
( Texto publicado em 2009 no blog Janela das Loucas)
CIÚME AUTOMOTOR
Toda princesa sonha com um sapo que, ao ser beijado, se transforme em garboso príncipe. Tem que chegar montado em seu cavalo branco e estar mais do que disposto a resgatá-la da torre do castelo.
Estávamos na região do Parque do Ibirapuera. Sentada ao lado do motorista da Puma GTB 77, de cor preta – que foi batizada de Bandida - disfarcei ao máximo a timidez. Impossível transitar naquele carro e não atiçar a curiosidade e até a cobiça dos transeuntes.
Era um tal de sermos observados, apontados. Se nem todos perceberam o passeio da felina, muita gente notou e até reduziu a velocidade pra melhor admirá-la Quem entende de carros acha aquele antigo possante o máximo. A cada curva um novo rugido do motor, um novo sorriso de satisfação do piloto. E eu ali, afundada no banco, sem saber ao certo se fazia de conta não notar o “auê” causado com a nossa passagem, ou se aproveitava e curtia logo uma tarde de perua.
Na dúvida, afiei minhas garras. Empinei o traseiro, caprichei no melhor sorriso, usei o espelhinho retrovisor pra retocar o meu batom. Acho, foi nesse momento que a Bandida resolveu me desafiar. Enciumada, não permitiu que eu abrisse a janela do lado do passageiro. Um gesto temperamental, mas significativo pra mim.
Chegamos ao nosso destino: uma sessão de fotos e filmagem, aquele carro chama muito mais a atenção que uma melancia amarrada no pescoço! Sentada sob uma árvore, permaneci quieta e atenta, enquanto os flashes se voltavam pra sua lataria. Carros não têm rabo, mas parece que ela abanava o rabinho pra parecer mais sexy. Já convencida que estava paranóica e com ciúme de um carro, decidi fazer com a Bandida um acordo: você fica quietinha, tente não causar problemas e eu prometo não mais te fazer de espelhinho pra retocar maquiagem.
Parece, ela entendeu bem. Ao menos até chegarmos em casa. Quando saltei de seu interior, senti que era por ela observada. Seus faróis brilhavam em tom enfurecido.
Duas ciumentas, um só piloto. E ainda dizem que carros são objetos inanimados. Posso provar: ela tem sentimentos, quer que ele volte a ser sapo e eu volte pra torre do castelo a pé!
22 de ago. de 2010
A QUASE ESPOSA
Casamento. Essa palavra costuma gerar reações em temperaturas extremas: muito quentes ou muito frias. Este final de semana ensolarado, calor de quase 30ºC na cidade de São Paulo. Lá estávamos os dois, um par que se formou há alguns meses. Namoro mais ou menos assumido, amor declarado em prosa e versos, algumas briguinhas ocasionais e muita paixão em período integral. Porém, quem arrisca batizar o relacionamento com algum adjetivo? É namoro, mas um casal na faixa etária acima dos quarenta anos pode aparentar ser casado. Começou então uma série interminável de situações que podemos chamar de “saia justa”. No estacionamento, o manobrista me chamou de “esposa” do meu namorado. Nós dois nos olhamos sem graça, preferimos ouvir calados sem tecer qualquer comentário. Pra quê complicar?
Entramos na academia de ginástica, a intenção era conhecer o local. Quando pedimos informação sobre preços, a recepcionista sugeriu: - “ Pra vocês, que são casados, existe um plano com desconto especial”. Duas vezes em menos de quinze minutos, pareceu demais pra nós. Acho, fizemos cara de espanto, especialmente eu quando escutei a resposta dele: - “Ela é quase esposa”.
Passei o resto do dia matutando, tentando entender o que ele quis dizer com “quase esposa”. Sou namorada, então sou pra ele uma “quase esposa”? Ou estou pra receber uma promoção? Ah, ele estava de gozação comigo, era isso, tinha que ser.
Mais ou menos refeita dessas muitas emoções, decidimos buscar uns DVDs em uma vídeo-locadora. Precisamos fazer uma ficha de inscrição. Adivinhe só o que aconteceu de novo? A recepcionista da locadora parece ter combinado com a recepcionista da academia, que por sua vez tinha parte com o manobrista do estacionamento. Aquela foi a terceira vez no mesmo dia que vesti a saia justa: – “É sua esposa?”. E lá veio a resposta novamente:- “Não, mas é quase”. De tudo fiz pra não mais pensar nisso. Entretida com o filme, com o jantarzinho, mas já tramando um novo texto sobre o tema, fui dormir sem mais pensar no assunto. Quase é algo que não aconteceu por pouco. Por exemplo, bola na trave é um quase gol! Terei eu batido na trave?
Amanheceu um lindo dia de domingo, fomos juntinhos à igreja assistir à missa. O padre: - “Esta missa é dedicada a todos os casais, venham ao altar aqueles que querem renovar os votos matrimoniais”. Olhamos um pro outro, ambos tentando dissimular o desconforto da sina que nos afligia desde a véspera. O tema “casamento” nos perseguia. Quando fomos embora, na minha cabeça martelava a lembrança de algo que sempre acreditei muito: coincidências não existem!
Parei na banca de jornal, escolhi uma promoção: leve o jornal e a revista e pague R$9,90. A caminho do carro, resolvi dar uma olhadinha. Pois é, a revista Veja desta semana fala sobre o quanto pode ser bom casar-se, tudo em cor-de-rosa e com um casal de noivos na capa. O que será que está acontecendo? Será a conjunção dos astros ou Cupido resolveu voltar das longas férias?
Ah, Santo Antônio, meu santinho querido! Assim vamos assustar o quase marido, digo, o moço! Socorro! Alguém aí sabe explicar o que significa “quase esposa”?
19 de ago. de 2010
O LADO RUIM DAS COISAS BOAS
Quando abri meus olhos logo cedo, estiquei o braço tentando encontrar o corpo quentinho deitado ao meu lado. Escutei algo parecido com um grunhido, ou será que ursos rosnam? Ele se virou pro outro lado, puxou o cobertor como quem protesta contra a minha existência e começou a ressonar em alto e bom som.
Já acordada, meu cérebro foi invadido por pensamentos que alimentaram minhocas de todo o tipo. Todas as manhãs eu era abraçada “de conchinha”, agora lá estava a criatura com o traseiro virado na minha direção e sentindo-se incomodado com o pouco espaço que eu estava ocupando ao seu lado na cama. A minhoca chefe me disse: “ele se cansou da sua companhia”. As minhoquinhas filhotes começaram a reinar indisciplinadas. Em coro elas caçoavam da minha aflição: “perdeu, mana! Ele já arrumou outra!”.
Totalmente paranóica, decidi me levantar. Incauta, coloquei o pé esquerdo no chão, coisa que minha bisavó dizia que não se deve fazer, sob pena de começar o dia com o pé errado. Caminhei na pontinha dos pés, mal respirava. A maçaneta da porta do quarto fez barulho. Ele emitiu um novo rugido, moveu-se na cama e ficou espalhado em formato de X. Tentei não fazer qualquer tipo de ruído e entrei no banheiro. “Filhadamãe” da descarga do vaso sanitário só faltou explodir, tamanho o barulho que fez. Voltei pro quarto, novo rangido da maçaneta. Não havia lugar pra eu me deitar. Com jeito, fiquei encolhidinha, metade da bunda pra fora da cama.
Domingo, dia pra dormir até não querer mais. Perdi o sono, as minhocas estavam agora promovendo uma festa de arromba: ele estava farto da minha presença, era isso! Eu precisava levantar novamente, vestir minha roupa e ir embora, talvez deixar um bilhetinho assim escrito: “Caro Zé Colmeia, parti!”.
Eram 9h00, ele abriu os olhos. Como quem não sabe onde está, nem se lembra mais quem eu sou, levantou-se sem ao menos dizer “bom dia”. Saiu do quarto, largou a porta aberta, foi até o banheiro, fez muito mais barulho do que eu fiz. Acendeu um cigarro, entrou na cozinha e colocou a chaleira de água no fogo pra fazer café. A zoeira era de uma escola de samba! O minhocário caiu na gargalhada e disse: “burra! Burra! Burra!”.
Tentei desfazer o feitiço do “pé esquerdo”, sorri tentando disfarçar minha loucura, abracei-o carinhosamente. Inerte! Não reagiu. As lágrimas começaram a embaçar meus olhos. Foi então que ele resmungou: “eu acordo de mau humor!”.
Dizia minha avó que existe um ótimo remédio pra neurastenia: banho gelado no inverno! Eis o lado ruim de algo bom: lidar com o mau humor do par, isso sem brigar, é uma verdadeira arte. Antes de voltar pro aconchego do meu lar, olhei-me no espelho e contei até 1.000.000! Jurei deixá-lo de castigo, ficou sem conchinha o resto da semana. Ainda bem, amanhã é sexta-feira e, espero, terei ao meu redor melhor astral. Tomara!
15 de ago. de 2010
SEM BRIGADEIROS E SEM BEIJINHOS!
Almoço em casa em pleno domingo. Metade da família gripada, a outra metade enrolada em cobertores. Um frio que ninguém merece. Deveria nevar, penso em começar um protesto: se é pra congelar, que seja ao estilo “white Christmas”!
Tocou o celular, deu uma preguiça enorme de atender. Depois de dez minutos tocou novamente, deixei a manta quentinha de lado e fui até à estante pegar o aparelho. Chamada perdida da minha amiga – não menos perdida – Alice.
Recebi um convite de última hora pro aniversário do filho menor dela. Pensei um pouco, calculei: nada pra fazer, eu em casa de gorrinho de lã, luvas e cobertor. Pensei mais um pouco e aceitei. Caprichei na pranchinha, vesti aquele casaco de lã que trouxe de minha viagem. Feliz, lá fui eu rumo à festinha. Já estava sonhando com brigadeiros.
Imaginei que encontraria seres humanos, em sua maioria, na faixa etária de cinco anos de idade. Que escutaria as músicas da Xuxa e teria que rir das graças sem graça de algum palhaço. Parcialmente acertei, havia um palhaço fazendo graça sem graça: o ex da Alice.
Incrível alguém tomar todas e ficar zuzubem em uma festinha de criança, mas o que esperar de um ex, não é mesmo? Lá estava o sujeito: trêbado! Primeiro ato: olhou pra mim e veio em minha direção. Com aquele bafo que derrubaria até um airbus, ele me abraçou esfuziante e disse: “Xe tá uma gata, Xoninha!”. Quis corrigi-lo, dizer que meu nome é Diva, mas achei melhor não contrariá-lo. Segundo ato: saiu me puxando pela mão, fui praticamente empurrada até a piscina de bolinhas e apresentada à mãe dele, que estava lá tomando conta dos netinhos. – “Mãe, exaki é a Xoninha, minha paixão de adolexênxia”. Fiquei estática, comecei a procurar com o olhar onde estava a Alice, só ela poderia me socorrer. Tanta gente, tantos infantes correndo pra todo lado, não conseguia encontrar a minha amiga!
Depois de aceitar uma dose de whisky, de sorrir com vontade de chorar, tive ainda que dançar não o “ilarilariê”, que eu previa escutar, mas sim rock dos anos 60, arrastada pelas mãos do dito cujo. A essa altura, Alice já tinha me visto e foi com grande alívio que consegui me desvencilhar de seu ex etílico. O resto da festinha foi tentando fugir do apaixonado pela “Xoninha”. Arrumei um cantinho e engrenei papo furado com os tios-avós da Alice, até já sei qual é o melhor chá pra combater reumatismo. Voltei ainda agora pra casa, morta de frio e de fome. Não consegui comer um só brigadeirinho e, pior, continuo sem beijinho!
14 de ago. de 2010
PORQUE HOJE É SÁBADO
Amanheceu um dia nublado e muito frio aqui na cidade de São Paulo. Mal abri meus olhos, ainda tonta de sono, murmurei: “oba, hoje é sábado!”. Ao meu lado, o meu par ainda adormecido. Cama quentinha, um convite pra continuarmos abraçados de conchinha.
Isso me fez lembrar minha mãe. Ano passado ela resolveu descobrir o que era, afinal de contas, essa história de “dormir de conchinha”. Com os óculos de grau na pontinha do nariz, endireitou-se na poltrona, interrompeu a leitura de uma revista e me perguntou: “dormir de conchinha é dormir profundamente?”. Rimos muito quando eu expliquei o significado. Mami ficou em silêncio uns instantes, acredito eu que lembrando o quanto era bom dormir de conchinha com meu pai.
O frio nos convida ao recolhimento, ao aconchego de nossos lares. Um filme na TV, um bom vinho. Existe algo mais romântico que namorar diante da lareira?
Aqui, enrolada em um xale de lã, termino o texto com os meus dedos congelados. E dá-lhe conchinha pra aquecer este dia, que promete temperatura baixa lá na rua e o calor da paixão aquecendo nossos corações.
12 de ago. de 2010
PLANTAR E COLHER
Desde o dia que estreei minhas botas de salto altíssimo que eu não sentia tanta dor nos pés. Caminhamos durante mais de três horas pelos corredores daquela imensa loja de materiais de construção. A ideia inicial era comprar uma nova torneira pro banheiro dele.
Quando ele pegou o carrinho de compras imenso, maior que aquele do hipermercado, suspirei resignada. Mais de meia hora pra escolher um escorredor de pratos, precisei me conter pra não aplaudir a escolha – péssima, por sinal – de um kit que continha escorredor, rodinho de pia e porta-detergente. Comprou capacho pra porta de entrada, lâmpada pra cozinha, escada de três degraus, tábua de passar roupas. Meus pés pediam socorro. Quando passamos pelo setor de jardinagem, não pude resistir. Sentei em um banco de jardim com os seguintes dizeres “ proibido sentar”.
Comecei a observar os itens ali expostos: vasos, sementes, terra, adubo, folhagens. Encontrei uma plaquinha, aquelas bonitinhas de fincar no gramado. Assim estava escrito: “A felicidade reside nas pequenas coisas”. Enquanto isso, ele continuou as compras e, compreensivo, me deixou ali sentada e na espera.
Nesse dia ganhei de presente quatro pacotinhos de sementes, pra que eu começasse a minha horta no fundo do quintal: alface, manjericão, salsinha e alho-poró. Hoje amanheceu um belo dia e notei que a alface brotou, pra alegria dos sabiás que a todo instante pousam na jardineira. Creio, em breve terei uma saladinha sem agrotóxicos, adubada com titica de passarinho. E tem coisa melhor?
Um dia após o outro. Plantando e colhendo. Assim é a vida, assim é o amor.
11 de ago. de 2010
PAPO NO MSN
- Ai, Fernandinho, não me estressa!
- Gata, desliga o MSN que isso é vírus!
- Mas eu não cliquei em nenhum arquivo que acaba em “exe”.
- Paty, não precisa clicar em nada, basta navegar na net.
- Quem te disse isso? Não é vírus.
- Se um hacker capturar sua senha, vai espalhar o vírus pra toda sua lista de contatos.
- Contatos de onde?
- Uai! Do Orkut, do MSN e etc, etc, etc.
- Tá com medo, é? Não tenho vírus, Fernandinho!
- Não tô falando de você, mas do seu computador.
- Desencana, Fê!
- E se for um programa espião que te mandaram?
- ...
- Pensaí, Paty, e se teu ex mandou naquela petição de divórcio um arquivo espião?
- Eu quero que meu ex pegue fogo e falte água!
- Li um artigo sobre espionagem online.
- É crime, né? Isso dá cadeia!
- Se liga, Paty, desde quando quem espiona vai preso?
- Hackers não vão presos?
- Hahahahahahaha!
- Pô, Fernandinho, fala sério!!!
- Terminou de passar o antivírus?
- Sim.
- E?
- Era vírus, um cavalo de tróia.
- Tá vendo? Era seu ex dentro do cavalo.
- Fê?
- Fala.
- Cansei. Fui!
- Bjssss
- Bjk!
UMA HISTÓRIA DE AMOR E TEMPORAL
Lá estava ela no ponto de ônibus. Em uma das mãos segurava o guarda-chuva, que já tinha virado do avesso várias vezes devido à ventania. Na outra mão estava a bolsa, que agarrava com força e, vez ou outra, fazia a inútil tentativa de arrumar os cabelos. Adeus pranchinha, seu visual estava mais pro Rei Leão do que pra Cinderela.
Quando o ônibus chegou, parou a mais de um metro de distância da calçada. Descabelada, maquiagem borrada, roupa encharcada e colada no corpo, precisou naufragar os pés em uma corredeira de água pluvial. Foi assim que perdeu a sandália rasteirinha, o pé esquerdo.
Sentou-se mal acomodada e do jeito que pôde. Ao seu lado uma senhora gorda, que ocupava quase todo o espaço disponível. O ônibus sacolejava, o trânsito estava lento. Um homem passou pela catraca e esbarrou a pasta de trabalho em seu ombro. Não pediu desculpas.
Uma hora de trajeto, a chuva tinha apertado. Saltou no ponto que ficava próximo à padaria, em suas mãos a anotação que encontrou na bolsa, aquele era o endereço combinado. Caminhou quatro quarteirões, a essa altura já tinha desistido de abrir o guarda-chuva, preferiu deixar a chuva molhar.
Quando entrou no café, lá estava ele sentado. Respirou fundo, afastou a franja que caía sobre a testa e, lentamente, aproximou-se. Diante de si iluminou-se um sorriso de cumplicidade. Ele pareceu muito mais bonito pessoalmente do que nas fotos que enviou. Foi assim que eles se conheceram, esse foi o primeiro encontro dos dois.
Hoje os temporais continuam a cair, mas estão debaixo do mesmo teto, pegando o mesmo ônibus e caminhando na mesma direção.
9 de ago. de 2010
HOJE SEMPRE É O NOSSO DIA!
Este texto é pra você que me perguntou sobre o que eu escreveria sobre o Dia dos Pais. A data foi comemorada ontem e o meu texto poderia ser intitulado “the day after”.
Sou de uma geração que é filha da “moçada” dos anos 60. Diz a letra de uma música que de 20 em 20 anos aparece uma coisa nova, mas é de 40 em 40 que as coisas se repetem. Eu sempre fui muito careta, estilo garota certinha, primeira aluna da classe, tímida. Um tipo de garota que combina perfeitamente bem com as minhas avós. Meu pai foi um homem muito bonito, charmoso, personalidade sedutora. Hoje eu acrescentaria um adjetivo muito moderno: baladeiro.
Qualquer pessoa sensível, que hoje não tem consigo o pai (o meu já foi embora pro andar de cima), sabe que essas datas especiais, se não forem comemoradas alegremente e em família, nos deixam na pior das fossas. Fiquei triste no Dia das Mães e no Natal. Olhar ao redor e não mais ver as pessoas que amamos, isso é doloroso.
Domingo eu me fechei no quarto. Não consegui escrever o texto, nem tive vontade de ligar o computador. Lembrei da infância, daquele homem que tocava piano, juntava amigos ao seu redor, dizia coisas engraçadas e tornou-se meu herói-vilão. A cada ausência do meu pai, eu sofria absurdamente. O pior sofrimento veio quando ele morreu, há alguns anos atrás.
Diva não tem mais idade pra ter filhos, o meu único filho poderá um dia me dar de presente um neto. Essa a esperança que acalento, mas dificilmente confesso. De novo ter momentos banais, porém felizes.
A você que também está órfão, especialmente você, Manuela, que recentemente viu seu pai, Abílio, ir embora pra um lugar que nos ensinam que é o Céu. Pra você que, feito eu, ontem sentiu tristeza e saudade, eu digo que eu gostaria de morar em uma casa tão grande que nela coubessem todas as pessoas que estavam chorando, ainda que em silêncio e com um forçado sorriso nos lábios.
Hoje é segunda-feira. Dia de secar as lágrimas e mergulhar de cabeça no trabalho. Quem partiu não voltará. Nós estamos aqui, temos ainda a vida pra tocar adiante. Com muita força, muita coragem, devemos viver com alegria no coração.
Seu filho não telefonou pra você? Faça você mesmo isso, ligue pra ele. Seu pai não te procurou? Calma, porque um dia ele o fará. O elo que une pais e filhos é muito forte, coisa de almas.
Quero acrescentar que hoje é Dia dos Pais, hoje é Dia das Mães, hoje é Dia dos Namorados, hoje é Natal! Não é uma data comercial, instituída pra acelerar as vendas no comércio, que torna um dia especial pra quem ama.
Este um texto que fala de mim, algo que costumo evitar fazer, mas serve pra você, especialmente pra você, que feito eu, sentiu o coração partir em milhões de pedacinhos no domingo que passou. É de caquinhos que se faz um belo mosaico. Corações que lembram vitrais, assim devem ser os nossos. Quebramos, choramos, mas transformamos essa tristeza e dor em algo belo.
Feliz Natal, Feliz Dia dos Namorados, Feliz Dia das Mães... Feliz Dia dos Pais! Hoje, amanhã e sempre!
4 de ago. de 2010
AMÉLIA LATÍVIA
Não sei explicar se foi meu instinto maternal ou a minha carência amorosa - algo a ser descoberto por Diva em algum divã, provavelmente – o que despertou minhas habilidades domésticas. Explico: lavar pratos, tirar o pó, organizar diversos copinhos delicados de cristal, catar aquele fiapinho minúsculo de linha caído sobre o tapete. Tanto esmero, até emagreci. Santa academia que pode ser o lar... Alheio!
O olhar que me fitava lembrava um cãozinho basset hound. Sabem como é? Olhinhos tristes, meio caidinhos. Aqueles “faróis baixos” davam vontade de niná-lo, cantando “nana, neném”.
Não lembro quantas vezes me abaixei e levantei, guardando panelas sob o armário da pia da cozinha. No final, a vontade era de tirar uma foto e colocar em um porta-retratos: “a cozinha modelo decorada pela namorada exemplar”.
O cúmulo aconteceu quando ele saiu pra trabalhar e eu, sonolenta, saí uma hora depois. Tinha muitos compromissos, mas antes disso eu passei a camisa social dele, branquíssima, afinal eu mesma a lavei com estas mãos que aqui escrevem este texto. Passei cada dobrinha, cada partezinha, como quem assim removesse todas as mágoas, toda a insegurança e alisasse o amarrotado das muitas dúvidas.
No final do dia ele telefonou. Falou de tudo, menos da camisa. Por fim, disse: “pra quê passou minha camisa? Não precisava”. Imediatamente lembrei do dia em que, no meu horário de almoço, lavei todos os tapetes da casa dele. Todos, menos um. E ele reclamou quando chegou em casa e notou que eu esqueci um!
Nessa noite ele não me viu. Nem na noite seguinte. Nem na outra. Perdeu o impulso, eu já estava conquistada, descabelada e com a vassoura na mão. Foi então que eu aproveitei aquele apetrecho e voei!
Sapo que é sapo, não gosta de Cinderela e muito menos de Gata Borralheira. Mulher tem que aprender a não se esborrachar de tanto cuidar de homem. A camisa está amassada? Que fique amassada ou mande pra lavanderia. A comida está fria? Sorvete de feijão é uma delícia, sirva frio! A louça está suja? Jogue pela janela!
A isso eu chamo de “transformação”. Conseguiram transformar uma princesa em potencial em bruxa essencial. É assim que se faz o amor moderno. Agora sim, eu sou uma mulher de verdade!
3 de ago. de 2010
FACE...BOOK?!
Chegou o convitinho simpático na minha caixa de mensagens do hotmail. Li umas duas ou três vezes, incrédula! Se ele não entende muito de internet, como podia ter criado um perfil no facebook?
Cliquei no link, apesar disso não ser recomendado pelo técnico do meu computador. Apareceu uma página que pedia meus dados para o cadastro no site. Quem disse que eu queria me cadastrar no facebook? Porém, meu namorado tinha um perfil e, mais que isso, ali dizia que tinha 5 amigos.
Pensei, pensei. Não pensei, não pensei. Por fim, preenchi o perfil. Cheguei à conclusão que isso não tiraria pedaço de ninguém.
Equívoco número um: imaginar que alguém entende tão pouco de informática que não saberá criar um perfil primário em um site muito simples.
Equívoco número dois: acreditar que é tão esperto em assuntos cibernéticos que facilmente poderá criar um perfil no facebook.
Quando percebi, eu já estava incluída na lista de "amigos" dele. Não queria isso, apenas pensei em entrar e olhar o perfil. Curiosa, talvez. Danada da vida com o equívoco número um, provavelmente.
Quis apagar, sair, mas ali estavam meus traços, a minha passagem ficou registrada. O que fazer? Voltei ao e-mail onde recebi o convitinho. Vi que tinha mais pessoas da minha lista de contatos do hotmail, todas em fotos sorridentes no facebook. Incauta, cliquei em mais alguém. Oh, não! Adicionei outra pessoa e mais outra. Pensei: paciência, vamos em frente, coragem Diva!
Preenchi o perfil. Relacionamento: solteira, casada, noiva, relacionamento sério, enrolada... Ops, achei, tô mesmo enrolada! Foi aí que lembrei, meu filho talvez visse, melhor mudar. Escrevi: relacionamento sério. E tome! Porque se tem facebook é bom que se lembre que o relacionamento é sério.
Caprichei no perfil, recebi até algumas mensagens dos "amigos" que acidentalmente adicionei. Que maravilha, tudo ao alcance de um simples clic.
Resta agora eu compreender pra quê preciso de facebook, se já tenho orkut, msn, blog, celular, twitter e todos os meios de comunicação possíveis.
Todo bolo merece uma cereja sobre a cobertura. Telefonei para o príncipe encantado e disse: se tinha facebook por que não me avisou?
Moral da história, tenho agora um perfil naquele site, com um único amigo. Meu bico está maior que o de um pelicano ( quando me zango faço bico).
Ainda dizem que amar é a coisa mais simples e bela desta vida! Creio que os poetas do século XIX não sabiam o quanto pode ser difícil ter que administrar a vida real e não se descuidar do que ocorre no mundo virtual. Duplo trabalho, sufoco dobrado. Isso ninguém merece!
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